
Hoje, na série de portugueses pelo mundo, vamos até a Buenos Aires pela mão da Mariana Barbosa. A Mariana é jornalista e está a viver em Buenos Aires desde abril de 2013 – para fazer um mestrado, agora prestes a terminar. Convidei-a a partilhar connosco as suas sugestões de dicas e roteiros de Buenos Aires.
É um olhar diferente e mais rico sobre Buenos Aires – o de quem vive por dentro o dia-a-dia da cidade, estando simultaneamente fora da sua “zona de conforto”, deslocado, como acontece a todos os viajantes. A Mariana alimenta um blog chamado Mabíssima, onde se fala muito de Buenos Aires. Este é o 17º post de uma série inspirada no programa de televisão “Portugueses pelo Mundo”.
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Em Buenos Aires com a Mariana Barbosa (entrevista)
- Define Buenos Aires numa palavra.
- Buenos Aires é uma cidade boa para viver? Fala-nos das expectativas que tinhas antes de chegar, e se a realidade que encontraste bateu certo com a ideia preconcebida que trazias.
- E o que mais te marca em Buenos Aires?
- Como caracterizas os porteños?
- Como terminarias esta frase: “Não podem sair de Buenos Aires sem…”
- Vamos complicar a conversa e tentar fazer um roteiro de 3 dias em Buenos Aires. Indica-nos as coisas que, na tua opinião, sejam “obrigatórias” ver ou fazer.
- Tens algumas dicas para se poupar dinheiro em Buenos Aires?
- Falemos de comida. Que especialidades gastronómicas temos mesmo de provar?
- Imagina que queremos experimentar comidas locais. Gostamos de tascas, botecos, lugares tradicionais com boa comida e se possível barato. Onde vamos jantar?
- Como é a movida em Buenos Aires? O que sugeres a quem queira sair à noite?
- Escolhe um café e um museu.
- Uma das decisões críticas para quem viaja é escolher onde ficar. Em que bairro nos aconselhas a procurar hotel em Buenos Aires?
- Tens alguma sugestão para quem quiser fazer compras em Buenos Aires?
- Antes de te despedires, partilha o teu “segredo” de Buenos Aires; pode ser uma loja, um barzinho, um restaurante, um parque, uma galeria de arte, algo que seja mesmo “a tua cara”.
- Guia prático
Em Buenos Aires com a Mariana Barbosa (entrevista)
Define Buenos Aires numa palavra.
Quilombo, que quer dizer barafunda, confusão, problema, caos. E, às vezes, por consequência, surpresa, energia, diversão. A propósito dos termos, e apesar de falarem castelhano, os argentinos têm uma série de termos que os espanhóis não percebem à primeira. Há um livro muito bom que pode ser descarregado online e que fala disso mesmo: é um guia de calão argentino, “Che Boludo”.
Buenos Aires é uma cidade boa para viver? Fala-nos das expectativas que tinhas antes de chegar, e se a realidade que encontraste bateu certo com a ideia preconcebida que trazias.
Aterrei em Buenos Aires para viver pouco mais de um ano depois de ter visitado a cidade pela primeira vez. À primeira vista, Buenos Aires pareceu-me uma boa cidade para visitar mas muito melhor para viver. Apesar de ser uma cidade gigante, acolhe. Há sempre o que fazer, muito para ver e visitar.
Buenos Aires não é só boa para a check list turística: é ótima para passeios demorados, cafés saborosos. Para sentar e apreciar. Beber uma Quilmes, comer uma empanada de jamón y queso e ficar a olhar para os kioskos a cada esquina (lojas que vendem tabaco, bebidas, chocolates que nasceram sobretudo durante a crise de 2001), para as floristas a cada quarteirão e para as pessoas. Reparar no sotaque tão diferente do castelhano de Espanha. E nas expressões, boludo!
E o que mais te marca em Buenos Aires?
A vida porteña. Os autocarros coloridos, as esplanadas cheias, as filas de espera para as exposições e para o cinema. Os mercados e as feiras, os táxis e o mercado negro de câmbio. As grandes avenidas, os jardins com tantas sombras. Os jacarandás em flor, em novembro. A humidade e as altas temperaturas, em janeiro. A carne e o vinho.
Como caracterizas os porteños?
Chamucheras (uma versão mais soft de um pantomineiro, um charme enganador, digamos). Comunicativas, interessadas, buena onda! Em geral, o porteño recebe e despede-se com muita dedicação e energia. Há gente antipática, como há em todo o lado e, particularmente, em todas as grandes cidades. Mas, regra geral, as pessoas de Buenos Aires são disponíveis, prestáveis, ajudam no que for preciso, orientam e até fazem perguntas quando notam que são estrangeiros que estão com dúvidas.
Como terminarias esta frase: “Não podem sair de Buenos Aires sem…”
… ir à feira de San Telmo. É obrigatória pela diversidade de culturas, nacionalidades, de coisas para ver e para comprar.
… comer numa parrilla. Bife de chorizo, provoleta grelhada, papas fritas, choripan. E tudo o resto a que se tem direito.
… dançar tango. Adaptar-se a uma postura inclinada é uma prova de fogo superada por quem se deixa ir na dança e nas subtilezas do par.
… beber mate. É um hábito que se cria vivendo em Buenos Aires. Mas passa a fazer parte das coisas normais pouco tempo depois da chegada. O mate é como o café em Portugal, com a diferença de que é partilhado. Toda a gente bebe do mesmo, à vez. Há um sebador, quem serve e distribui o mate. A pessoa que bebe tem que beber até ao fim e só depois passa o mate com a yerba mate ao sebador, para ele continuar a distribuir.
Vamos complicar a conversa e tentar fazer um roteiro de 3 dias em Buenos Aires. Indica-nos as coisas que, na tua opinião, sejam “obrigatórias” ver ou fazer.
Dia 1: Pequeno-almoço / brunch na Plaza Armenia (brunch no Santos Sabores ou no Bartola), bicicleta grátis na Plaza Itália, pedalar pela Avenida Sarmiento até aos bosques de Palermo, visitar o Rosedal (jardim só de rosas), beber mate no lago. Pedalar pela Avenida Del Libertador, visitar o Jardim Japonês, passar para a Figueroa Alcorta, almoçar no Malba, visitar a exposição permanente e a temporária (a próxima, a partir de 15 de marco, é a In Your Face de Mario Testino). Passar pela Biblioteca Nacional, dar uma volta pelo Cemitério da Recoleta, comer um Freddo de chocolate amargo e dulce de leche, passar pela Faculdade de Direito e fotografar a flor que abre e fecha consoante a hora do dia. Jantar empanadas na La Casona ou uma pizza no Kentuckys.
Dia 2: Pequeno-almoço de faturas (nos bairros porteños há pastelarias que só vendem pão e doces: medialunas -uma espécie de croissants feitos com massa brioche -, bolos recheados com dulce de leche, entre outras coisas) e passar a manhã no bairro La Boca. Passeio por parte do antigo Porto de Buenos Aires, café com vista no último andar da Fundação Proa (souvenirs no Caminito, passeio a pé até à La Bombonera, o estádio do Boca Juniors, onde jogou Maradona. De autocarro, ir até à Plaza de Mayo e entrar na Casa Rosada, sede do Governo argentino, Catedral de Buenos Aires e Puerto Madero. Passeio pela Avenida de Mayo, 9 de Julho, Obelisco. O check nos pontos mais básicos de Buenos Aires. Visita guiada ao Teatro Colón e fim de tarde na livraria mais bonita de Buenos Aires, a Ateneo Grand Splendid, num antigo teatro.
Dia 3 (será domingo): Começar o dia na Plaza de Mayo para rapidamente passar ao que interessa: o mercado de San Telmo. Percorrer demoradamente a Calle Defensa do princípio até à Plaza Dorrego. Demorar no mercado antigo de ferro onde se vendem frutas, legumes e velharias. Ver com atenção as lojinhas do bairro, a casa mais estreita, o prédio onde vivia Quino, o pai da famosa Mafalda (que também espera pelas fotografias com os turistas, sentadinha num banco de rua).
Provar um alfajor na Havana da Plaza Dorrego, acompanhar com um café ou uma Quilmes no Café Dorrego (a cerveja vem sempre com um prato de amendoins) e almoçar na praça, num dos cafezinhos da Pasaje de la Defensa ou numa parrilla de rua, para comer um choripan (pão com salsicha fresca assada na brasa). Outra opção é um bife de chorizo corte mariposa no El Desnivel – atenção às filas! -, ou comer um hambúrguer no Perez-H, ambos já no regresso.
Voltar a Palermo à tarde para lanchar no Coco Marie. Noite de tango na Catedral del Tango, no bairro de Almagro. Há aula de tango para principiantes a partir das 20h. As milongas que se seguem também são imperdíveis, mesmo para quem nunca dançou. Outra alternativa é a La Viruta, em Palermo.
Tens algumas dicas para se poupar dinheiro em Buenos Aires?
A melhor dica é trazer moedas mais fortes do que o peso argentino. Trocar o essencial no aeroporto, só para o transporte, e trocar o resto no mercado negro, o “blue”, como eles chamam. Tanto o dólar como o euro (e até o real) estão bem cotados em relação ao peso (ainda que o valor varie muito), e é sempre vantajoso trocar moeda no mercado negro, que tem um valor muito acima do do mercado oficial. Um passeio em Buenos Aires pode custar metade do preço se trocarmos dinheiro no mercado negro, nos famosos “arbolitos” do microcentro porteño.
Um truque que também serve para poupar dinheiro com transportes é o site Mapa Buenos Aires, um mapa que apresenta todas as alternativas de transporte para chegar de um ponto ao outro da cidade, com os respetivos tempos de passeio.
Falemos de comida. Que especialidades gastronómicas temos mesmo de provar?
Empanadas (as de espinafres e ricotta do Las Cabras, as de fiambre e queijo do Desnível).
Choripan, em qualquer esquina de Buenos Aires há uma parrilla onde se pode comer.
Chimichurri, o molho mais tradicional da parrilla que existe em todos os restaurantes mas que, se não se pedir, muitas vezes não trazem. Regra geral não é muito picante mas… pode haver surpresas.
Bife de chorizo, o meu favorito. A punto, no limbo entre o jugoso e o bien hecho. No ponto.
Chocotorta, basicamente um bolo de chocolate feito em camadas com um bónus: é recheado com dulce de leche. A provar.
Mediaslunas, são os croissants tipicamente argentinos. Há de “manteca”, mais doces, e “de grasa”, mais estaladiços Tanto no primeiro como no segundo caso, é difícil comer só um. Ficam uma delícia com um bocadinho de dulce de leche.
Malbec, a casta de vinho mais conhecida na Argentina. É francesa mas foi por cá que ganhou um novo fôlego. Vale a pena provar para acompanhar um bom bife.
Fernet com Cola: é a bebida sensação (a par do Campari) e à qual os argentinos são mais fieis. Beber Fernet com Coca-Cola é, para os argentinos, o mais normal, tanto nas prévias (encontros depois do jantar e antes dos bares) como durante toda a noite.
Alfajores, outro dos doces argentinos. Há simples, duplos, recheados com doce de leite, banhados com chocolate, só de maizena e doce, de Oreo… basicamente de tudo. Perfeito acompanhamento de um mate no parque. Deve dividir-se para não enjoar.
Imagina que queremos experimentar comidas locais. Gostamos de tascas, botecos, lugares tradicionais com boa comida e se possível barato. Onde vamos jantar?
Em San Telmo, no El Desnível. Há parrilla, bons bifes, boa música e muita gente diferente. Lá vai o estrangeiro acabado de chegar e o bairrista que adora aquela provoleta grelhada ou o chimichurri caseiro (o molho que os argentinos põem na carne grelhada).
Em Palermo, o La Cabrera. A carne é a especialidade. Vale a pena ir à happy hour (todos os dias das 19h às 20h): há 40% de desconto na conta, vinhos incluídos.
Na cidade inteira, a Uggis: pizza com mozzarela e tomate sem sofisticação nem cerimónias. Cada pizza tem oito fatias e custa – neste momento – 28 pesos (3€). O preço – atenção – varia de pouco em pouco tempo. Gracias, inflación.
As melhores pizzas da cidade, no Cuartito.
Como é a movida em Buenos Aires? O que sugeres a quem queira sair à noite?
Uma prévia na Catedral del Tango, que inclui aula de tango e jantar de empanadas e vinho argentino. Em alternativa, uma noite no Konex, um clube cultural que no verão tem espetáculos ao ar livre. A música ao vivo e os grafittis que brilham no escuro do Quetzal (Palermo), o fernet, a multidão e o quilombo do Álamo, com pizza grátis até às 21h. A cerveja artesanal do Shangai Dragon, a mistura de línguas do Soria e os cocktails do Frank’s.
Escolhe um café e um museu.
Um café: o Tortoni, um dos que fazem parte da rede de cafés históricos da cidade. Tem tango ao fim da tarde e é um ponto turístico fundamental para quem visita a cidade.
Um museu: Espacio Memoria y Derechos Humanos, ex-ESMA, um dos locais mais emblemáticos de prisão, tortura e extermínio da ditadura argentina.
Uma das decisões críticas para quem viaja é escolher onde ficar. Em que bairro nos aconselhas a procurar hotel em Buenos Aires?
Palermo, pela proximidade com outros bairros e pela facilidade de transportes para todos os pontos da cidade é o bairro que eu aconselho para passar uns dias em Buenos Aires. Além disso, se apetecer estar só num sítio, Palermo oferece tudo: boas lojas, bons restaurantes, esplanadas e ruas em que apetece passear. Há muitas opções.
Procurar hotéis em Buenos Aires
Tens alguma sugestão para quem quiser fazer compras em Buenos Aires?
Buenos Aires ainda vive muito de comércio tradicional e pouco de centros comerciais. Por isso, em qualquer bairro há probabilidade de encontrar lojas lindas com preços acessíveis. Palermo é, mais uma vez, o meu bairro favorito para fazer compras. Não resisto a entrar na livraria Libros del Pasaje, perco-me com os cadernos da Tintha, com as peças originais da Trippin e não descanso enquanto não passo para ver as mochilas da Gorrion. E Buenos Aires tem outra vantagem: quanto mais se anda, mais lojas lindas se descobrem. A Plaza Serrano, no centro do bairro, é uma boa opção aos sábados e domingos. Fazem-se muito boas compras.
Além das lojas de rua, um dos centros comerciais mais bonitos – e também mais caros – é o das Galerias Pacífico. Apesar dos preços quase proibitivos, vale a pena uma visita. Nem que seja para ver o edifício.
Antes de te despedires, partilha o teu “segredo” de Buenos Aires; pode ser uma loja, um barzinho, um restaurante, um parque, uma galeria de arte, algo que seja mesmo “a tua cara”.
O Coco Marie. Descobri este café ainda antes de me mudar para Buenos Aires, através de um blog local que já acompanhava. É uma espécie de quintal urbano, nasceu como marca – e loja – de biquínis e roupa de praia e cresceu para um conceito café-restaurante que é lindo e confortável em todas as épocas do ano.
No inverno, a esplanada fecha-se numa espécie de estufa envidraçada para abrigar do frio. No verão, dá para ficar nas cadeiras de ferro pintadas de azul claro até ao anoitecer, e ver o sol a pôr-se e as lanternas penduradas nas árvores a acenderem-se.
As heras nas paredes de tijolo, as cadeiras pintadas de azul claro, as mesas com tampo de mármore, a música baixinha, os scones quentes com o capuccino ou uma salada com uma limonada marroquí a acompanhar compõem o ramalhete. Se só pudesse ir a um sítio, era lá.
Guia prático
Hospedagem em Buenos Aires
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