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Maputo por quem lá vive: Tânia Pinho

Por Filipe Morato Gomes
A Tânia Pinho no Bilene, Moçambique

Hoje, na série de portugueses pelo mundo, vamos até Maputo pela mão da Tânia Pinho. A Tânia tem 35 anos, é gestora e está a viver em Maputo há quase 10 anos. Desafiei-a a partilhar connosco as suas experiências na capital de Moçambique, bem como sugestões e dicas para quem quiser visitar Maputo e conhecer um pouco melhor a cidade.

É um olhar diferente e mais rico sobre Maputo – o de quem vive por dentro o dia-a-dia da maior cidade de Moçambique, estando simultaneamente fora da sua “zona de conforto”, deslocado, como acontece a todos os viajantes. Este é o 47º post de uma série inspirada no programa de televisão “Portugueses pelo Mundo”.

Conteúdos do Artigo

Em Maputo com a Tânia Pinho (entrevista)

Define Maputo numa palavra.

Sorrisos / Amor / Emoção / Paixão.

Maputo é uma cidade boa para viver? Fala-nos das expectativas que tinhas antes de chegar, e se a realidade que encontraste bateu certo com a ideia preconcebida que trazias.

Maputo é uma boa cidade para viver. A minha expectativa não era muito elevada, tinha ouvido falar de Maputo e confesso que fiquei agradavelmente surpreendida com a cidade quando cheguei. Maputo é uma cidade muito bonita, apesar de ter mudado muito ao longo destes últimos 10 anos, principalmente no que toca ao trânsito e a nível estrutural (muitas vivendas foram demolidas para dar lugar a prédios enormes). É uma cidade onde é muito fácil uma pessoa se orientar e onde é bastante agradável andar a pé nas ruas.

Maputo é uma cidade calma e segura. É claro que é necessário ter alguns cuidados, como em qualquer parte do Mundo, porque há o chamado “roubo de oportunidade”. Mas, em termos globais e com o devido cuidado, é perfeitamente pacífico circular na rua.

Maputo é uma cidade agitada no dia a dia, ao ritmo dos chapas (transporte coletivo de pessoas, carrinhas Hiace de 16 lugares). Costumo dizer que é “o caos organizado”.

E o que mais te marcou em Maputo?

Viver em Maputo: Fortaleza
Fortaleza em Maputo

A beleza da cidade e as pessoas. Maputo “primeiro estranha-se, depois entranha-se” mas, no meu caso entranhou-se logo.

Como caracterizas os moçambicanos?

São pessoas de sorriso fácil, simpáticos, amigáveis e muito “festeiros”.

Como é um dia “normal” em Maputo?

Os dias começam cedo em Maputo. Um dia normal, para mim, será acordar cerca das 6:30; às 7:00 estou na piscina a fazer o exercício matinal (vantagem de viver em Maputo e poder nadar numa piscina sem ser coberta, praticamente durante o ano inteiro); por volta das 8:00 tomo o pequeno-almoço (em casa ou num dos diversos cafés da cidade); e começo a trabalhar pelas 8:30.

Almoço preferencialmente sempre em casa, entre as 12:30 e as 14:00; o facto de termos empregada doméstica diariamente ajuda.

Normalmente, depois do trabalho há sempre um encontro social; um café, uma cerveja, um petisco nalgum lado. Principalmente no verão.

Como terminarias esta frase: “Não podem sair de Maputo sem…”

Pôr-do-sol no Cardoso, Maputo
Pôr-do-sol no Hotel Cardoso, Maputo

Terminaria de várias formas:

  • experimentar a gastronomia local;
  • ir ao bazar central;
  • comprar caju;
  • comprar capulanas;
  • ver o pôr-do-sol no Cardoso.

Quanto ao turismo, vamos tentar fazer um roteiro de 3 dias em Maputo. Indica-nos as coisas que, na tua opinião, sejam “obrigatórias” ver ou fazer.

Maputo, por incrível que pareça, não está muito adaptada para o turista. Há pouca informação e, na verdade, não há assim tanto que ver ou fazer. A melhor forma de conhecer Maputo é estar com alguém que vive cá e pode dar algumas dicas. Vou por isso deixar aqui o roteiro que costumo fazer com os meus amigos turistas.

Estação de caminhos-de-ferro de Maputo
Estação de caminhos-de-ferro de Maputo, da autoria de Gustave Eiffel

Dia 1

Tomar o pequeno-almoço na Estufa (fica na zona da Sommerchield). É um café simples, dentro de uma estufa, que tem um chá maravilhoso de balacate e uma tostas de queijo deliciosas, entre outras coisas.

Depois, sair a pé e andar pela Kim Il Sung; ir à Fundação Fernando Couto ver a exposição do momento; visitar a Igreja da Polana e o Hotel Polana; passar na FEIMA – Feira de Artesanato, Flores e Gastronomia de Maputo para ver o artesanato local. Nesta feira há um sem número de batiques, estatuetas de madeira, bolsinhas de palha, bolsas de capulana. A FEIMA é um mundo sem fim e vale a pena visitar com paciência para negociar.

Almoçar no restaurante Moçambicano, na FEIMA, e comer frango à zambeziana, mucapata e arroz de coco, matapa de caranguejo e acabar com um matoritori (doce de amendoim, coco e açúcar) para sobremesa.

Circular a pé na Avenida Julius Nyerer e entrar na Frederich Engels, uma avenida com miradouro e vista de mar onde todas as manhãs e fins de dia as pessoas se exercitam; há pessoas a correr, a treinar com os seus PT’s, há aulas de grupo – é um ginásio low cost.

Depois, ir até ao Jardim dos Namorados. Se for sexta-feira, poderá ver as noivas a tirar as suas fotografias e há sempre movimento. Vale também a pena passar pelo Palácio dos Casamentos (Julius Nyerer), onde são celebrados os casamentos civis e religiosos.

O Museu de História Natural justifica a visita pelo edifício. Por dentro está a precisar de manutenção, mas ainda assim vale a pena visitar. Depois, seguir para o Hotel Cardoso para ver o pôr-do-sol (famoso em Maputo) acompanhado de um gin tónico ou de uma 2M (cerveja local).

Todo este percurso pode ser feito a pé, tranquilamente.

Depois do Cardoso, voltar até à zona do museu para uma experiência mais local. Existem várias barracas e tasquinhas; é um sitio que poucos turistas frequentam, mas que vale a pena pela experiência.

Dia 2

Conselho Municipal de Maputo
Conselho Municipal de Maputo

Pequeno-almoço no Café Continental, que fica na Baixa de Maputo. Percorrer a zona a pé e visitar a Fortaleza de Maputo, o Museu das Pescas, o Museu da Moeda e o Mercado Central (comprar piri-piri, caju, achar de limão e de manga). Ir conhecer ainda a Casa Elefante (para capulanas), a Mesquita da Baixa e a Rua do Bagamoio (que durante o dia é uma rua normal, mas à noite é a red light district). Sem esquecer, claro, a estação de caminhos-de-ferro, uma das mais bonitas do mundo, da autoria de Gustave Eiffel.

Depois, começar a subir em direção ao Conselho Municipal, visitar o Jardim Tunduro, ver a Casa de Ferro, ir ao Centro Cultural Franco-Moçambicano ver a exposição do momento e aproveitar para almoçar. Come-se muito bem no centro cultural mas, se preferir almoçar com vista para o mar, aconselho a apanhar um txopela e a fazer a marginal até aos restaurantes Miramar ou Sagres e almoçar marisco acompanhado de cerveja.

A seguir ao almoço, sugiro fazer a nova marginal de txopela até à Costa do Sol, parando para comprar água de coco ou sucana (sumo de cana de açúcar) e aproveitar para banhar os pés no Índico, em frente ao shopping Marés com vista para Inhaca e Xefina.

Para jantar, aconselho o restaurante O Coqueiro, na Feira Popular. Serve comida tradicional moçambicana e se for quinta-feira ou fim-de-semana, pode ficar depois na Feira a beber uns copos no 21, Bamboo, Pantera – tudo bares locais alternativos, mas com boa onda.

Dia 3

Visitar o Jardim dos Madjermans e tomar lá o pequeno-almoço. Passar no Mercado Estrela, de carro, para ver a agitação do mercado de venda de peças roubadas. Depois fazer o tour do bairro da Mafalala e almoçar no Mercado Janet (Carapau com Xima). Por fim, aproveitar a tarde para as últimas compras.

Tens algumas dicas para poupar dinheiro em Maputo?

Praia do Bilene
Praia do Bilene, a 180 quilómetros de Maputo

Fugir dos sítios “para turista ver”, principalmente restaurantes. Deve procurar os restaurantes mais locais, as barraquinhas de rua, as roulottes – há muito boa comida na rua e nos mercados. Podem fazer-se refeições entre 80-150MTN nestes locais menos turísticos, enquanto que num restaurante tradicional nunca se gasta menos de 400-600MTN.

Assim como as cervejas, ficam mais em conta na barraca do que nos bares e cafés.

Sou grande apreciador da gastronomia em viagem. Na tua opinião, que especialidades gastronómicas temos mesmo de provar em Maputo?

Os meus pratos preferidos são: Mucapata (prato típico da Zambézia preparado essencialmente com arroz, feijão soroco e coco); Frango à Zambeziana (este frango no forno deve o seu sabor à combinação de ingredientes que compõem o molho); Matoritori (é um doce de coco popular em Moçambique, muito semelhante à cocada); Matapa de caranguejo (prato feito com a folha da mandioca pilada, cozinhada num molho à base de amendoim pilado e leite-de-coco); e Caril de Amendoim.

Imagina que queremos experimentar comidas locais. Gostamos de tascas, botecos, lugares tradicionais com boa comida e se possível barato. Onde vamos jantar?

  • Restaurante O Coqueiro, na Feira Popular;
  • Mercado Janet;
  • Lolas na Malhangalene;
  • Barracas do museu.

Uma das decisões críticas para quem viaja é escolher onde ficar. No caso de Maputo, em que zona nos aconselhas a procurar hotel?

Entre as avenidas Julius Nyerer e Vladimir Lenine, e entre a 24 de Julho e a Keneth Kaunda (bairro Polana Cimento / bairro Central / Summerchield).

A propósito, andar de transportes públicos em Maputo não é fácil. Normalmente, anda-se de táxi, ou txopela; os chapas andam sempre a abarrotar e a experiência pode não ser a mais agradável.

Procurar hotéis em Maputo

Escolhe um café e um museu.

O Café Estufa e o Museu de História Natural.

Falemos de diversão. O que sugeres a quem queira sair à noite em Maputo?

  • Terças-feiras: karaoke com banda no Gil Vicente a partir das 22:00.
  • Quintas e sextas-feiras: Associação dos Músicos a partir das 18:00 (música ao vivo);
  • Quinta a Domingo: Xima Bar e Madjeje (ambos em Alto Maé) (Xima na sexta e no sábado, com música ao vivo);
  • Quintas à noite: karaoke no Robson bar;
  • Para quem gostar de dançar kizomba: Face to Face;
  • Sítios mais alternativos na Feira Popular: Pantera cor de rosa, 21 e Bamboo.

Tens alguma sugestão para quem pretender fazer compras em Maputo? O que comprar?

Caju, amendoim, piri-piri, artesanato de madeira, coisas feitas com capulanas.

Antes de te despedires, partilha o maior “segredo” de Maputo; pode ser uma loja, um barzinho, um restaurante, um parque, uma galeria de arte, algo que seja mesmo “a tua cara”.

A Estufa e o Café Sol.

Obrigado, Tânia. Vemo-nos numa próxima viagem a Maputo.

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Filipe Morato Gomes
Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.