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Nairobi por quem lá vive: Donzília Batista

Por Filipe Morato Gomes
O que fazer em Nairobi: visitar Parque Nacional
Parque Nacional Nairobi

Hoje, na série de portugueses pelo mundo, vamos até Nairobi pela mão da Donzília Batista. A Donzília tem 44 anos, é Urbanista e está a trabalhar e a viver em Nairobi há dois anos. Desafiei-a a partilhar connosco as suas experiências na maior cidade do Quénia; bem como sugestões e dicas para quem quiser visitar Nairobi e conhecer um pouco melhor a cidade.

É um olhar diferente e mais rico sobre Nairobi – o de quem vive por dentro o dia-a-dia da capital queniana, estando simultaneamente fora da sua “zona de conforto”, deslocado, como acontece a todos os viajantes. Este é o 64º post de uma série inspirada no programa de televisão “Portugueses pelo Mundo”.

Conteúdos do Artigo

Em Nairobi com a Donzília Batista (entrevista)

Define Nairobi numa palavra.

Cidade Verde, conhecida como “Green City in the Sun”.

Nairobi é uma boa cidade para viver? Fala-nos das expectativas que tinhas antes de chegar ao Quénia, e se a realidade que encontraste bateu certo com a ideia preconcebida que trazias.

Nairobi é uma cidade boa para se viver se o salário/rendimento permitir ter acesso a condições de habitabilidade e de saúde dignas, porque é uma cidade muito cara. Nairobi, como quase todas as cidades africanas é caracterizada por ter zonas de grande pobreza com uma ocupação predominantemente informal.

Cerca de 2,5 milhões de pessoas, que representam aproximadamente 60% da população total, vivem em 200 bairros informais numa área que ocupa 6% da cidade. Kibera é o maior bairro informal de África com cerca de 250.000 habitantes. Existem pelos menos três projetos portugueses de intervenção social em Kibera. Para quem estiver interessado em saber mais sobre o trabalho desenvolvido e até mesmo contribuir, deixo endereços: From Kibera With Love, Art Kids Foundation e ADDHU.

Nairobi, situa-se a cerca de 1.800 metros de altitude e é capital do país desde 1899, atendendo à sua centralidade e à quase ausência de malária devido às baixas temperaturas que se fazem sentir, raramente inferiores a 10°C. A estação das chuvas é longa, de outubro a maio, embora a ocorrência de chuva e sol no mesmo dia seja muito frequente, o que faz com que Nairobi tenha uma vegetação muito densa e seja muito arborizada.

É uma cidade moderna considerada o principal polo comercial/industrial de África do Leste, com um centro financeiro bem definido e uma vasta periferia de vocação residencial onde predomina a ocupação de baixa densidade, com moradias agrupadas em condomínios fechados.

Com um clima ameno e um enquadramento paisagístico fantástico, Nairobi é um local onde é bom viver, principalmente para famílias com crianças. Embora resida nas imediações próximas do centro da cidade, devido às características de ocupação do território não temos um quotidiano urbano. A dependência do automóvel é muito grande, as distâncias não permitem deslocações a pé e a vivência é mais rural do que urbana, daí ser um sítio bom para as crianças crescerem; a liberdade de brincar na rua com outras crianças e o contacto com a natureza é uma mais-valia.

A cidade é multicultural com influências de culturas africanas distintas, marcadas pela presença de diferentes grupos étnicos africanos, asiáticos, principalmente indianos e paquistaneses, somalis e europeus. A fusão de culturas torna Nairobi muito interessante.

A cidade e o país têm um nível de desenvolvimento superior ao que inicialmente esperava.

E o que mais te marcou em Nairobi?

A natureza presente na cidade. Na primeira casa em que morámos, um aluguer de curta duração, quase no centro da cidade ao lado do Parque Arboretum, as janelas tinham de estar fechadas, porque os macacos entravam no apartamento, comiam o que apanhavam e desorientados por não encontrarem a saída, partiam tudo! Ao fim de uns dias percebemos porque havia fisgas nas varandas! A diversidade de aves é incrível, de todas as cores e tamanhos e fazem sons fantásticos. Facilmente nos cruzamos com répteis: cobras, camaleões, lagartos; borboletas, árvores gigantes, flores; muitas flores. A natureza presente em toda a cidade é realmente muito marcante.

Mas é igualmente marcante o desempenho em algumas áreas tecnológicas, como a velocidade e cobertura da internet em todo o território nacional, disponível a preços acessíveis à população em geral; serviços de pagamentos móveis como o M-Pesa, 3 anos e meio após o lançamento do serviço, mais de 70% das famílias no Quénia e, mais importante, mais de 50% das populações pobres, sem contas bancárias e de meios rurais usa o serviço para realizar transações monetárias; a qualidade dos serviços em geral e dos produtos nacionais: alimentares, mobiliário, têxtil, artigos em pele e em destaque as marcas contemporâneas de artesanato e design nacionais que têm surgido nos últimos anos.

Como caracterizas os quenianos?

A população do Quénia é constituída por grupos étnicos diversos provenientes de todo o continente com mais de oitenta dialetos e cerca de setenta comunidades étnicas distintas, unificados pelo sentimento representado na bandeira do Quénia cujas cores (verde, preto e vermelho) pretendem simbolizar a terra, a cor das pessoas e a luta pela liberdade. A unidade nacional está realmente presente na vida dos quenianos, razão pela qual a política assume uma importância muito grande no quotidiano e as eleições são momentos de tensão nacional.

Todos os quenianos têm uma opinião política formada, os grupos étnicos assumem tendências políticas distintas. É quase ofensivo não se estar ao corrente dos factos políticos atuais. Como tal, as notícias são seguidas e os jornais diários lidos. Arriscaria dizer que a política é o motivo de maior discordância entre quenianos.

Em termos percentuais os Kikuyos são dominantes, 22%, seguindo-se os Luhya 14%, Luo 13%, Kelenjin 12%, Kamba 12%, Kisii 11%, e Meru 6%. A tribo com maior reconhecimento internacional são os Maasai, muitas vezes imagem de marketing do Quénia, por manterem um estilo de vida com base em tradições ancestrais, que se centra na recolha de água necessária às atividades diárias e no pastoreio do gado; continuam por isso mesmo, seminómadas. Os kikuyos, que vivem na envolvência do Monte Kenya, tiveram um papel marcante no processo de independência do país e continuam a marcar a atualidade política; o primeiro presidente, Jomo Kenyatta, era kikuyo, assim como os três que se seguiram. São os grandes produtores agrícolas, tal como têm um papel muito representativo no sector comercial e industrial do país.

Os habitantes do litoral são os suaílis, não integram nenhuma tribo e são o resultado de séculos de ocupações por povos distintos: persas, portugueses e do sultanato de Omã. Este território tem uma cultura própria marcada pela literatura, arte, arquitetura e gastronomia que o distingue do resto do país. Outra marca desta ocupação são os barcos à vela, dhows, lindíssimos com esculturas em madeira decorativas incorporadas nas embarcações. A gastronomia é uma fusão de sabores onde se privilegia a utilização das especiarias: coco, lima, coentros e o chili. Delícia!

Mas independentemente do grupo ou religião os quenianos são muito amáveis, prestáveis, simpáticos; uns grandes anfitriões!

Como terminarias esta frase: “Não podem sair de Nairobi sem…”

Ir aos mercados locais (há dois que eu gosto bastante de frequentar). O City Park Market é um mercado de produtos agrícolas e possibilita ver a diversidade de produtos que o Quénia tem, que é imensa, é um sítio seguro e apesar de ter muita gente é um sítio fácil.

O Toi Market, é grande e pode encontrar-se de tudo um pouco; muitas das roupas e calçado são usados. É um sítio com muita gente e aqui é necessário reforçar a atenção à nossa carteira, mas é seguro. Numa das pequenas ruas junto à entrada da Ngong Rd, situa-se a loja de uma conhecida marca nacional a Blackfly Designs onde pode ver e comprar malas, bolsas e roupa de senhora; vale a pena. As malas são feitas a partir de peles e tecidos reciclados e têm um excelente acabamento.

Vamos tentar fazer um roteiro de três dias em Nairobi. Indica-nos as coisas que, na tua opinião, sejam “obrigatórias” ver ou fazer.

Dia 1: Centro da Cidade

Passear na Market St. e entrar no mercado. É um mercado formal que se situa num edifício no centro da cidade, onde se vende: vegetais, carne, peixe, flores e artesanato. Os preços são negociáveis, sugiro oferecer sempre metade do valor pedido. Se procura artesanato tradicional, pode encontrar: esculturas de madeira, máscaras, utensílios, animais de madeira esculpidos, tecidos, roupa, trabalhos de cestaria, cabaças decorativas, trabalhos em pedra-sabão, muita bijuteria em cobre e missangas, quadros com motivos africanos entre muitas outras coisas. Passear na Biashara St., perpendicular à Market St., onde também há lojas com produtos locais tradicionais e a preços mais ajustados.

Ainda no centro da cidade, o Go Down Arts Centre, um espaço destinado à criação artística e media criado em 2003, numa antiga oficina automóvel. Este espaço é reconhecido pelo apoio e reconhecimento aos artistas locais promovendo o encontro entre várias disciplinas e lugares do mundo. Ocasionalmente realizam-se concertos e exposições polémicas que não encontram outro local expositivo; é necessário estar atento à programação. Neste espaço existem galerias temporárias onde é possível ver e comprar o que está exposto.

Para terminar o dia, o Alchemist é indicado para beber e comer qualquer coisa num espaço informal onde se pode ouvir música ao vivo; mas nem sempre, é necessário ver a programação. E às terças-feiras há cinema; com sorte é uma terça de Lusophone Film Fest que apresenta sempre uma seleção de filmes interessante.

Dia 2: Outro dia em Nairobi

Uma visita ao Museu Nacional de Nairobi vale a pena; é um museu tradicional que carece de modernização tanto dos espaços expositivos como dos conteúdos, mas acaba por ser interessante visitar; principalmente se existirem crianças no grupo porque tem um jardim envolvente muito agradável.

Tomar um brunch no K1 Klub House é uma experiência, porque aos domingos se realiza uma venda de vários produtos de artesanato e design nacionais, sofisticados e bonitos!

Ir passear, correr ou andar de bicicleta na floresta Karura é uma atividade que faz parte do quotidiano dos quenianos. Tem um apoio/restaurante bem localizado onde se pode comer/beber e com sorte pode ainda cruzar-se com dikdiks, esquilos e macacos.

Dia 3: Karen, um subúrbio rural ou um dia no Nairobi National Park

Karen, cujo nome tem origem na escritora dinamarquesa, Karen Blixen, autora do romance Out of Africa, que ficou conhecido pelo filme com o mesmo nome de Sydney Pollack com Meryl Streep e Robert Redford, é um dos subúrbios de Nairobi. A quinta onde outrora se produziu café é hoje uma área fracionada ocupada por moradias dispersas em lotes de considerável dimensão. Para além da Casa Museu de Karen Blixen pode visitar-se o Giraffe Centre e o David Sheldrick Wildlife Trust.

Nesta zona há um espaço simpático para se fazer compras e tomar café: o Langata Links Shops; se for a Karen, recomendo a passagem. Ainda em Karen há uma fábrica de missangas cerâmicas que se chama Kazuri Beads; pode visitar-se a fábrica e conhecer o projeto social que tem por objetivo a criação de emprego e apoio a mães solteiras.

Se estiver de passagem em Nairobi e sem possibilidade de fazer uma viagem pelo país recomendo passar um dia no Nairobi National Park, fica a cerca de 20 minutos de carro do centro da cidade. É uma reserva natural com cerca de 117 km2, onde pode ter a sorte de ver: rinocerontes, leões, girafas, búfalos, hipopótamos, zebras, impalas, entre muitas outras espécies das 100 identificadas como presentes; e muitas aves. Pode-se fazer um piquenique, existem locais apropriados. As entradas são 43USD/adulto e 22USD/criança.

Por falar em turismo, fala-nos dos parques que conheces e dos melhores locais para fazer um safari no Quénia.

O Quénia é um país muito bonito; safari, significa viagem e viajar pelo país é uma experiência muito gratificante. Os parques mais emblemáticos são: Masai Mara e Amboseli, e são os dois sítios a não perder. Masai, pela facilidade de se avistar animais, principalmente felinos.

Masai Mara

Elefantes em Masai Mara
Elefantes em Masai Mara

Masai Mara tem uma paisagem diversificada marcada pelos rios: Mara, Talek, Olare Orok e Sand e vastas planícies onde surgem massas rochosas, escarpas, planaltos, uma paisagem que nos permite deambular pelas fantasias que criamos sobre as paisagens africanas; mas é sobretudo nas planícies pontuadas por acácias e nas zonas arbustivas que se avistam os felinos.

Para além dos leões, chitas, leopardos, estes mais tímidos e mais difíceis de serem vistos, há elefantes, rinocerontes pretos, hipopótamos, búfalos, zebras, girafas, babuínos e nas grandes migrações que ocorrem entre maio e setembro, centenas de gnus. Estas são as espécies mais emblemáticas, mas muitas outras estão presentes em Masai Mara; e aves, muitas e lindíssimas!

É possível dormir fora ou dentro do parque, nas imediações; é possível ficar em alojamentos caríssimos e muito sofisticados ou acampar na própria tenda. Grande parte dos alojamentos em Masai Mara dispõe de veículos para realizar as saídas, mas aconselho a analisar a possibilidade de alugar um carro para fazer a viagem.

Amboseli National Park

O Amboseli National Park é conhecido pelo enquadramento cénico, o Kilimanjaro com o cume coberto de neve num plano mais recuado e grupos de elefantes a atravessar a planície bem perto de nós. Ver o nascer ou o pôr do sol em Amboseli é um programa a não perder. É mais arborizado e por isso mais difícil de se verem outros animais.

Outros parques igualmente interessantes são: Mount Kenya, Kerio Valley e Samburo. Não se veem tantos animais, dificilmente se veem felinos, mas a paisagem é lindíssima e muito diferente. Nakuru, pela possibilidade de se verem rinocerontes brancos. Naivasha e Hell´s Gate pela proximidade a Nairobi. Atendendo à proximidade geográfica, se dispuser apenas de uma semana para viajar no Quénia, pode fazer Masai Mara, Naivasha e Nakuru; é uma viagem de fácil concretização e muito bonita.

A costa do Quénia também é lindíssima e quem gosta de praia não deve deixar de passar uns dias em Diani; mergulhar nas águas cristalinas e quentes, fazer snorkelling e ver peixinhos coloridos e estrelas-do-mar, caminhar na infinita praia de areia branca, beber água de coco. Para os amantes de mergulho, no mês de fevereiro, ter a possibilidade de se cruzar com um tubarão baleia de cortar a respiração; e claro ir a Mombaça ver o Forte Jesus.

Mombaça

Rua de Mombaça, Quénia
Rua de Mombaça, Quénia

A cidade de Mombaça, mais propriamente o centro histórico, que seria a zona mais interessante para se visitar, está completamente devoluta; mas eu gostei de conhecer. É uma cidade com uma grande presença muçulmana e, por isso, com muitas mesquitas. Para quem se sente confortável com aglomerações e confusão sugiro que apanhe um tuk-tuk e vá até ao mercado; é uma experiência!

Para sul, existe a possibilidade de se fazer a viagem de comboio a partir de Nairobi (também pode considerar fazer apenas o regresso de comboio; o voo de Nairobi – Ukunda dura apenas 50 minutos, enquanto que a viagem de comboio são 5 horas e é necessário estar duas horas antes da partida do comboio). É uma viagem que vale a pena, são 450 km que atravessam o Tsavo National Park, e onde é possível ver elefantes e tirar lindas fotos do Kilimanjaro.

Lamu

Praia de Shela, Quénia
Praia de Shela, Quénia

Se ainda houver tempo para mais uns dias na costa, a partir de Mombaça ir até Lamu de avião (são aproximadamente 40 minutos). Lamu é o nome do arquipélago de quatro ilhas, da ilha mais desenvolvida e da cidade capital, integrada pela UNESCO na lista de Património Mundial no Quénia. É a cidade suaíli mais antiga e mais bem preservada de África Oriental, mantendo as suas funções tradicionais.

Nas construções utiliza-se a pedra de coral e madeira de mangal onde se destacam as portas ornamentadas. Os terraços e as coberturas em colmo marcam a arquitetura local e os pátios interiores caracterizam as casas mais nobres. A estrutura labiríntica da cidade, de ruas pedonais estreitas e longas encontram-se na frente marítima, onde os dhows continuam a ser o principal meio de transporte de mercadorias e pessoas entre as várias ilhas. Não existem automóveis em Lamu.

Lamu é ainda o centro dos principais festivais religiosos muçulmanos desde o século XIX e tornou-se um importante centro de estudo das culturas islâmica e suaíli. Para além das várias mesquitas em Lamu é ainda possível visitar: o Museu Etnográfico, o Forte construído em 1814 pelo último sultão, o Museu dos Correios Germânicos e a Casa Museu Suaíli do séc. 18, recentemente restaurada.

Lamu é um local intemporal de uma atmosfera mágica, onde o calor intenso, o som alto e estridente das cigarras, do zurrar dos burros, da chamada muçulmana para a oração e das crianças a brincar na rua podem ser apreciados de um terraço de uma casa local como uma das experiências mais autênticas no Quénia.

Eu prefiro ficar num alojamento local em Shela, pela proximidade à maravilhosa praia de dunas enormes que se estende por 12 km. Ter ainda a possibilidade de ir jantar ao Hotel Peponi de onde se pode ver a noite a chegar e sentir a brisa refrescante enquanto se assiste à passagem dos dhows com turistas encantados pelo pôr de sol mais lindo a que assistiram nos últimos tempos!

Tens algumas dicas para se poupar dinheiro em Nairobi?

Nairobi é uma cidade cara, e onde há muita coisa bonita para comprar, mas o gasto associado às refeições pode representar uma parte significativa das despesas. Por isso, recomendo a compra de comida em supermercados e fazer piqueniques nas florestas e parques da cidade. O Museu Nacional de Nairobi tem um Jardim Botânico muito apropriado, assim como o The Nairobi Arboretum, e a Karura forest.

As deslocações na cidade podem ser feitas em matatus, transporte privado comum, que asseguram as principais ligações na cidade e arredores; os preços variam entre 50 Kes e 100 Kes, dependendo da hora, da deslocação e do tráfego que se fizer sentir na cidade, o que grosseiramente equivale a 0,50 cêntimos de USD e 1 USD, respetivamente. Uma vez que a rede de transportes é precária, pode-se recorrer à utilização do táxi/UBER. As deslocações no interior de Nairobi rondam os 5 USD, para os trajetos curtos.

O alojamento local e as guesthouses são uma alternativa possível, já há uma rede de casas significativa e geralmente são equipadas, permitindo a realização de refeições. Acampar em Nairobi também é uma possibilidade, embora não haja nenhum parque de campismo no centro da cidade. Existem duas possibilidades nas imediações, o Paradise Lost, fica a 10 km de Nairobi, perto de Kiambu, numa quinta de produção de café, onde passar a noite custa 1.000 Kes. A outra possibilidade é em Karen, um dos subúrbios de Nairobi, na Oloolua Forest, 3000 Kes/noite.

Uma das decisões críticas para quem viaja é escolher onde ficar. Em que zona nos aconselhas a procurar hotel em Nairobi?

A oferta de alojamento é grande e para todos os preços, no centro da cidade localizam-se algumas das grandes cadeias de hotéis como o Hilton, Intercontinental, etc. Acontece que o trânsito no centro da cidade é complicado e não existe muito movimento a partir das 18:00, hora a que fecham as lojas.

Na minha opinião, acaba por ser mais interessante ficar em Westlands ou Riverside pela centralidade, há várias opções para jantar e é seguro. Outras áreas um pouco mais periféricas, mas também seguras são: Lavington, Kilimani, Kileleswa, Brookside. O recurso a um Uber ou táxi para as deslocações noturnas é inevitável.

Pesquisar hotéis em Nairobi

Falemos de comida. Que especialidades gastronómicas temos mesmo de provar em Nairobi?

Não considero a gastronomia local particularmente interessante. Em Nairobi abundam os restaurantes italianos, asiáticos, etíopes, fast food, mexicanos, brasileiros entre muitos outros. A comida indiana marca presença e as chamuças, assim como o chapati, são considerados iguarias locais. Como estamos no interior do país não existe o hábito de comer peixe, sendo que o mais apreciado é o tilápia, peixe de água doce proveniente dos lagos Naivasha e Vitória.

Os pratos de carne são essencialmente guisados e churrasco, a carne de cabra é a eleita dos quenianos para churrasco que faz parte de qualquer celebração; não há festa sem churrasco de cabra. O acompanhamento dos guisados é o chapati e ugali, farinha de milho cozinhada com água.

Na rua, em vários sítios da cidade é possível encontrar vendas onde há sempre ugali, chapati, guisado de frango, vaca ou peixe e chai. Em todo o país se bebe chai, é uma bebida quente de leite e água, chá e muito açúcar. Toma-se a qualquer hora do dia, mas principalmente ao pequeno-almoço acompanhado de chapati, mandazi, fritos parecidos com os nossos sonhos e filhós, batata doce assada e espigas de milho assadas ou cozidas. Para um português que adora o mar e comer peixe, marisco e afins, considero esta realidade gastronómica pouco interessante.

No entanto, na costa do Quénia podemos encontrar pratos ótimos de comida suaíli, mas muito picantes. Particularmente considero a não perder: sopa de manga picante, mchuzi na kamba, tarte de lima e gengibre, camarões e lulas masala entre muitas outras coisas. Mchuzi significa picante e kamba refogado de caril utilizado como base na confeção de carne, frango, vegetais e camarão; normalmente é servido com arroz de coco e chapati.

Para terminar falo da cerveja local, que é ótima: Tusker e White Cap são as mais conhecidas. Os quenianos não bebem muito álcool, mesmo em festas dão preferência aos refrigerantes e chai.

Imagina que queremos experimentar comidas locais. Gostamos de tascas, botecos, lugares tradicionais com boa comida e se possível barato. Onde vamos jantar?

As vendas de rua são o sítio para experienciar a comida local. No centro de Nairobi – Biashara St. e Market St. – há vários locais restaurantes/tascas onde se pode comer guisado, ugali e chapati. Não conheço nenhum sítio particularmente recomendável.

Para provar a tilápia frita recomendo o Mama Oliech, na Marcus Garvey Road, é um restaurante cuja especialidade é o peixe frito, para almoço.

Para a experiência de um churrasco de carne de cabra, Roadhouse Grill, na Denis Pritt Road, de preferência numa sexta-feira à noite.

Em Karen há um restaurante, Talisman, ótimo e tem pratos de cozinha suaíli; as chamuças de queijo feta com coentros são uma delícia entre muitas outras coisas. É um restaurante caro, mas pode ser considerada a extravagância das férias e vale mesmo a pena.

Outra especialidade queniana é a Koroga, designação dada a uma refeição que é feita ao ar livre para um grupo de pessoas, havendo alguém do grupo que cozinha ou um cozinheiro que assume a confeção do jantar. Ao chegar ao local escolhe-se os ingredientes que se quer comer e é confecionado ao momento; quem cozinha está ao centro e o grupo observa, conversa-se e vão-se comendo entradas e bebidas disponíveis. No centro, um fogareiro a carvão onde se prepara a comida indiana; a Koroga é de origem indiana, mas apenas se realiza no Quénia, um dos pratos mais populares é chicken curry, caril de galinha.

Escolhe um café e um museu.

O Museu Nacional de Nairobi é um museu tradicional que pretende dar uma perspetiva da cultura e da história do país, assim como da biodiversidade presente em território nacional, e tem também uma mostra de arte contemporânea. No exterior passeia-se no Jardim Botânico e pode visitar-se o reptilário. O museu tem ainda um auditório onde ocasionalmente se pode assistir a concertos e documentários no âmbito de um evento específico, existe uma programação que será necessário consultar previamente.

Em Nairobi existem vários espaços para uma paragem, o conceito de café é diferente do nosso, mas existem sítios muito agradáveis na sua maioria com espaço exterior arborizado e zona de recreio para crianças.

Não espere encontrar uma esplanada na rua, estes espaços situam-se entre muros ou sebes vegetais e normalmente são moradias renovadas multifuncionais onde se pode tomar uma refeição ligeira ou um café ou comprar diversos produtos locais e plantas ornamentais e aromáticas.

Duas cadeias presentes no país são a ArtCaffé e a Java, ambas agradáveis para um café e mais. Recomendo uma paragem no The Arbor, em Lavington e no Wasp and Sprout, em Loresho, para um brunch.

Falemos de diversão. O que sugeres a quem queira sair à noite?

Eu não saio à noite com frequência, mas já tive oportunidade de ir a alguns sítios em Nairobi. Como quase todos servem refeições, acaba por ser uma saída para um jantar tardio com música e um ambiente mais descontraído. Deixo uma lista de lugares possíveis, espero que se divirtam!

  • J’s Fresh Bar & Kitchen (entretanto encerrado), com música ao vivo às quintas-feiras, tem umas pizzas excelentes.
  • Brew Bistro, conhecido pela diversidade de cervejas disponíveis e pela comida sofisticada, tem um espaço com terraço agradável.
  • Havana Bar & Restaurant, é o sítio da saída ao sábado à noite.
  • Klub House K1 – destacam-se as noites de reggie às terças-feiras.
  • Kengeles Bar & Restaurant, o melhor sítio para se ver um grande jogo de futebol. Ambiente descontraído com restaurante onde se pode optar por comida mexicana, asiática ou africana.
  • Bar do Hotel Ibis, localizado no topo do edifício tem uma vista e ambiente muito agradável, é uma boa opção.

Para terminar, e para quem quer dançar até ao romper do dia, a discoteca Black Diamond, é conhecida por ser o último sítio a fechar em Nairobi; e pela qualidade da música.

Tens alguma sugestão para quem quiser fazer compras em Nairobi? O que trazer?

Há várias possibilidades para fazer compras em Nairobi; os mercados Maasai que acontecem semanalmente em diferentes sítios da cidade são uma delas. Deve levar moeda local, e negociar o preço inicialmente pedido.

  1. Terça-feira: Kijabe St. Park e Prestige Plaza (Ngong rd);
  2. Quarta-feira: Capital Center (Mombasa rd);
  3. Quinta-feira: The Function Mall (Ngong rd);
  4. Sexta-feira: The Village Market (Limuru rd) e no Lavington Mall (Lavington);
  5. Sábado: parque de estacionamento no centro da cidade, em frente à Re-Insurance Plaza e Prestige Plaza (Ngong rd);
  6. Domingo: Yaya Shopping Centre.

A Spinners Web (Kitisuru rd), é um espaço onde expõem mais de 200 artesãos locais com preços marcados; disponha de tempo para se perder. Outra loja e projeto social interessante é a Amani yaa Juu (Ring Roda in Riverside) com muita coisa bonita, artigos decorativos, acessórios e brinquedos para crianças, roupa feita com tecidos locais, decorações de Natal feitas a partir de materiais naturais entre muitas outras coisas. Pode e deve fazer-se uma paragem para uma refeição ou um café.

Antes de te despedires, partilha o maior segredo de Nairobi; pode ser uma loja, um barzinho, um restaurante, uma galeria de arte, algo que seja mesmo a tua cara.

Todas as referências que fui enumerando ao longo do texto são sítios a que gosto de ir. Se tiver oportunidade passe por todos eles; se não conseguir numa primeira estadia em Nairobi, depois de conhecer alguns estou certa de que voltará.

Obrigado, Donzília. Vemo-nos numa próxima viagem a Nairobi.

Guia prático

Onde ficar em Nairobi

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Filipe Morato Gomes

Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.