Hoje, na série de portugueses pelo mundo, vamos até Nova Deli, capital da Índia, pela mão do Jorge Roza de Oliveira. O Jorge é diplomata e está a viver em Nova Deli há sensivelmente três anos. Convidei-o a partilhar connosco as suas sugestões de dicas com o melhor de Deli, incluindo o templo de Hanuman, um dos seus locais preferidos em Nova Deli.
É um olhar diferente e mais rico sobre Nova Deli – o de quem vive por dentro o dia-a-dia da cidade, estando simultaneamente fora da sua “zona de conforto”, deslocado, como acontece a todos os viajantes. Este é o 21º post de uma série inspirada no programa de televisão “Portugueses pelo Mundo”.
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Em Nova Deli com o Jorge Roza de Oliveira (entrevista)
- 1.1 Define Nova Deli numa palavra.
- 1.2 Nova Deli é uma cidade boa para viver? Fala-nos das expectativas que tinhas antes de chegar, e se a realidade que encontraste bateu certo com a ideia preconcebida que trazias.
- 1.3 E o que mais te marcou em Nova Deli?
- 1.4 Como caracterizas as pessoas de Nova Deli?
- 1.5 Como terminarias esta frase: “Não podem sair de Nova Deli sem…”
- 1.6 Falemos de turismo. Vamos tentar fazer um roteiro de 3 dias em Nova Deli. Indica-nos as coisas que, na tua opinião, sejam “obrigatórias” ver ou fazer.
- 1.7 Nova Deli não é dos mais caros destinos do mundo mas, ainda assim, tens algumas dicas para se poupar dinheiro?
- 1.8 Falemos de comida. Que especialidades gastronómicas temos mesmo de provar?
- 1.9 Imagina que queremos experimentar comidas locais. Gostamos de tascas, botecos, lugares tradicionais com boa comida e se possível barato. Onde vamos jantar?
- 1.10 Como é a movida em Nova Deli? O que sugeres a quem queira sair à noite?
- 1.11 Escolhe um café e um museu.
- 1.12 Uma das decisões críticas para quem viaja é escolher onde ficar. Em que bairro nos aconselhas a procurar hotel em Nova Deli?
- 1.13 Tens alguma sugestão para quem quiser fazer compras em Nova Deli?
- 1.14 Antes de te despedires, partilha o teu “segredo” de Nova Deli; pode ser uma loja, um barzinho, um restaurante, um parque, uma galeria de arte, algo que seja mesmo “a tua cara”.
- 2 Guia prático
Em Nova Deli com o Jorge Roza de Oliveira (entrevista)
Define Nova Deli numa palavra.
Capital.
Se não fosse capital, não era o que é. Não seria destino de imigração interna. Não teria a administração, não teria esta vida social, não teria estas gentes. Não teria tampouco os diplomatas.
Nova Deli é uma cidade boa para viver? Fala-nos das expectativas que tinhas antes de chegar, e se a realidade que encontraste bateu certo com a ideia preconcebida que trazias.
Eu já a conhecia de três passagens, antes de vir para cá viver. Não tinha, por isso, ideias preconcebidas Tinha expectativas mais ou menos realistas do que isto podia ser.
E hoje diria que não é a cidade ideal. É uma megalópole de 19 milhões de habitantes, incluindo as novas cidades de Gurgaon e Noida, com tudo o que isso implica de confusão, trânsito e poluição. Não existe um verdadeiro planeamento urbano. Não é aliás uma cidade fácil para conduzir, embora conheça muitos ocidentais que guiam. Mumbai, por exemplo, é bem mais “ordenada”. E, também ao contrário de Mumbai, é uma cidade sem passeios. Não se sai de um edifício para dar uma volta. O carro impera.
O clima é péssimo, com muito, mas mesmo muito, calor no verão, frio himalaico no inverno, e monção. Vai dos 0º aos 47ºC entre janeiro e maio.
Mas tem muitos parques e zonas verdes. E é uma cidade que tem melhorado muito em infraestruturas de há uns anos para cá, em muito graças aos Jogos da Commonwealth de 2010, envoltos embora em acusações de corrupção.
Por fim, não é uma cidade barata. O imobiliário está a preços loucos, e mesmo os serviços tendem a aumentar de preço.
Não, não é uma cidade de adaptação fácil. Tem é um enorme trunfo que mais nenhuma cidade tem: é a capital da Índia.
E o que mais te marcou em Nova Deli?
Foi aliás em velha Deli, num fim de tarde de novembro de 2007. Fiquei por lá horas a passear e a visitar lojas. Nunca me esquecerei dos cheiros e das cores desse dia. Foi o momento em que quis conhecer a Índia.
Como caracterizas as pessoas de Nova Deli?
Deli é um microcosmo da Índia. É impossível descrevê-la enquanto unidade. É uma cidade de imigração; o verdadeiro deliita é já uma minoria.
De que pessoas falamos? Das que vão aos gigantescos centros comerciais que refiro abaixo, ou da Índia que pede mantas no inverno para passarem menos frio debaixo dos viadutos? Das festas onde o álcool corre até a comida ser servida tarde, ou da Índia das filas nos portões dos templos sikhs, para uma refeição gratuita? Dos que almoçam na rua, 10 rupias por 4 samosas, ou nos buffets no Hotel Imperial a 3 mil rupias? Dos políticos septuagenários? Dos Non-Residents que começam a regressar? Dos batalhões de empregados domésticos? Dos passageiros de carros Ambassador com cortinas atrás e uma ventoinha no tablier, ou os dos Jaguar? Da família de 5 em cima de uma moto, dos Ferrari guardados em garagens de hotéis de luxo, para passeios ao sábado de manhã, ou dos dias de 45ºC em que já não há forças para pedalar o rickshaw?
Como terminarias esta frase: “Não podem sair de Nova Deli sem…”
Repito-me para não me contradizer: “Não podem sair sem visitar velha Deli ao entardecer.”
Falemos de turismo. Vamos tentar fazer um roteiro de 3 dias em Nova Deli. Indica-nos as coisas que, na tua opinião, sejam “obrigatórias” ver ou fazer.
Três dias. Eu faria um para conhecer a Deli planeada pelos ingleses, outro para sentir o peso da história mugal, o último para conhecer a Deli de hoje.
Dia 1: A Deli de Lutyens. É por aqui que se deve começar, para se perceber Nova Deli, cidade planeada em 1911 em torno do que é hoje velha Deli, e tornada capital em 1927. O Central Secretariat, sede dos principais ministérios, o Rashtrapati Bhavan, residência oficial do Presidente, o Rajpath, avenida de 3 km de comprimento, e Connaught Place, o centro geográfico de Nova Deli e complexo comercial, hoje em estado caótico devido a obras do metro. Almoço nos jardins de Lodi, pulmão da cidade. Passar pelo enclave diplomático, no bairro de Chanakyapuri. Deli é das capitais do mundo com mais embaixadas. O Gandhi Smriti, onde Gandhi foi assassinado, e o Rajgath, onde foi cremado. Jantar no Olive, no Hotel Diplomat.
Dia 2: A Deli arqueológica
O túmulo do imperador mongol Humayum e o Qutub Minar, minarete do séc. XII. Almoço em Hauz Khas, com o seu complexo medieval, e onde há uns antiquários de interesse, assim como excelentes restaurantes. Visita a velha Deli ao fim da tarde, a partir do Forte Vermelho e de Chandni Chowk, passando pela Jami Masjid, a maior mesquita da Índia. Percorrer as lojas, e jantar no Karim’s, escondido numa ruela, que serve autêntica comida mugal, deliciosa.
Dia 3: A Deli moderna. Ir de metro até Khan Market e almoço no Amici. Para quem queira centros comerciais, ir a Vasant Kunj, onde há três ao lado uns dos outros: o Ambience Mall, o DLF Promenade e o DLF Emporio. Ir ao cinema em Ambience Mall, ver um filme de preferência indiano. Jantar em Defence Colony (ver abaixo).
Nova Deli não é dos mais caros destinos do mundo mas, ainda assim, tens algumas dicas para se poupar dinheiro?
Não é uma cidade barata. Uma refeição “ocidental” está ela por ela com os preços portugueses. Comida de rua, é ótima, mas não nos meses quentes. Restaurantes indianos seriam os mais aconselháveis para poupar em alimentação.
O metro é barato e já abrange quase todos os pontos importantes da cidade. Ir a velha Deli de metro (estação de Chandni Chowk) também oferece um contraste com piada. E, claro, não se pode deixar de andar num four-wheeler, ou tuk-tuk, de inconfundível verde e amarelo.
Falemos de comida. Que especialidades gastronómicas temos mesmo de provar?
Em Bengali Market faz-se uma refeição baratíssima experimentando um pouco de tudo, desde as golgappas às samosas, dos salgados aos doces, num menu que inclui tudo o que é famoso na cozinha do norte da Índia.
Imagina que queremos experimentar comidas locais. Gostamos de tascas, botecos, lugares tradicionais com boa comida e se possível barato. Onde vamos jantar?
Tascas e botecos não os há, mas para boa comida e barata há em velha Deli, como já disse, o Karim’s, restaurante muito simples escondido numa ruela.
Como é a movida em Nova Deli? O que sugeres a quem queira sair à noite?
Não sou um regular, mas ela existe e é animada. Defence Colony é um bom bairro para se começar a noite.
Escolhe um café e um museu.
Café Turtle, em Khan Market. Atravessa-se uma livraria para lá chegar. E sublinho que é bom para café. Mais do que isso…
Museu Nacional Gandhi, para se sentir um pouco da História da independência.
Uma das decisões críticas para quem viaja é escolher onde ficar. Em que bairro nos aconselhas a procurar hotel em Nova Deli?
Defence Colony e Vasant Vihar são dois bairros que recomendaria e onde há muita escolha em termos de guesthouses. Um dos problemas para o turismo na Índia – têm apenas 6 milhões de turistas estrangeiros, contra os nossos 14 milhões – é que há fantásticos hotéis de 5 estrelas, mas abaixo disso não há infraestruturas suficientes. Em Deli, todavia, não haverá esse problema de escolha, havendo muitos hotéis e guesthouses em todas as zonas da cidade.
Tens alguma sugestão para quem quiser fazer compras em Nova Deli?
Toda a Índia é um gigantesco mercado. Depende do que se queira comprar e a que custo. No roteiro acima já há três níveis de compras, em velha Deli, em Kahn Market e no Ambience Mall. Há depois mercados especializados espalhados pela cidade, de eletrónica, de vestuário, de tudo.
Antes de te despedires, partilha o teu “segredo” de Nova Deli; pode ser uma loja, um barzinho, um restaurante, um parque, uma galeria de arte, algo que seja mesmo “a tua cara”.
Às terças-feiras, quando posso, vou ao templo de Hanuman, o deus macaco, perto de Connaught Place. É um local fantástico para se ver uma outra Índia. É o dia do Deus, pelo que o templo se enche pela hora do almoço num caos organizado movido pela fé.
Obrigado, e até um dia em Deli ou outra parte da Índia.
Guia prático
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