Oslo por quem lá vive: Ana Chagas

Por Filipe Morato Gomes
Viver em Oslo: bairro Aker Brygge
A Ana Chagas em Aker Brygge, Oslo

Hoje, na série de portugueses pelo mundo, vamos até Oslo pela mão da Ana Chagas. A Ana tem 32 anos, é Engenheira Civil e está a viver em Oslo há quatro anos. Desafiei-a a partilhar connosco as suas experiências na capital da Noruega, bem como sugestões e dicas para quem quiser visitar Oslo e conhecer um pouco melhor a cidade.

É um olhar diferente e mais rico sobre Oslo – o de quem vive por dentro o dia-a-dia da cidade norueguesa, estando simultaneamente fora da sua “zona de conforto”, deslocado, como acontece a todos os viajantes. Este é o 46º post de uma série inspirada no programa de televisão “Portugueses pelo Mundo”.

Em Oslo com a Ana Chagas (entrevista)

Define Oslo numa palavra.

Tranquila.

Oslo é uma cidade boa para viver? Fala-nos das expectativas que tinhas antes de chegar, e se a realidade que encontraste bateu certo com a ideia preconcebida que trazias.

A minha mudança para Oslo não foi planeada. Ou seja, eu não escolhi Oslo de entre um leque de cidades, mas foi aqui que a oportunidade que procurávamos apareceu e nós (eu e o meu namorado) decidimos agarrá-la.

Na verdade não sabia muito bem o que esperar da cidade e, como nunca tinha visitado a Escandinávia, seria tudo novo para mim. A expectativa era de uma vida melhor, com menos stress, e deste ponto de vista posso dizer que Oslo se encaixou na perfeição.

E o que mais te marcou em Oslo?

Oslo é uma cidade bastante multicultural e descontraída. O que mais me marcou quando cá cheguei foi ver que as pessoas são educadas, calmas e não se stressam facilmente, ao contrário do que acontecia no meu dia a dia em Portugal.

Em Oslo, as pessoas pareciam-me sempre tão serenas e felizes que, após as primeiras duas semanas na Noruega, já tinha a certeza de ter tomado a decisão certa.

Obviamente não há sítios perfeitos para viver, mas há sítios melhores do que outros; e sem dúvida que Oslo está entre os melhores.

Como caracterizas os noruegueses?

Sorenga, com vista para a Ópera de Oslo
Sorenga, com vista para a Ópera de Oslo

Eu diria que os noruegueses são do tipo “politicamente correcto”. São extremamente educados e raramente manifestam a sua opinião quando não concordam com alguma coisa. Tudo para evitar o confronto, algo que os noruegueses detestam.

Por essa mesma razão, é muito raro ver um norueguês chateado ou irritado. Ao contrário de nós, portugueses, que temos as emoções à flor da pele – quando não gostamos de algo, toda a gente fica a saber.

Como é um dia “normal” em Oslo?

Acordar cedo, apanhar o comboio ou o metro e ir trabalhar. Parar por volta das 11:00 para almoçar uma sandes e uma peça de fruta; encher a caneca de café e voltar ao trabalho. A paragem para almoço dura no máximo 30 minutos e raramente se come uma refeição quente; só nas grandes empresas há cantina. O objetivo é não desperdiçar tempo para se poder sair do trabalho o mais cedo possível – normalmente por volta das 16:00.

O que se faz depois do trabalho varia muito com a estação do ano. No verão vou passear no centro de Oslo; ou então pego no fato de banho e dou um salto a uma das praias urbanas; no inverno tento chegar ao aconchego do lar o mais rápido possível, pois não é muito agradável andar na rua (muito frio). O exercício físico é uma constante na rotina dos noruegueses, em qualquer estação do ano.

Como terminarias esta frase: “Não podem sair de Oslo sem…”

Passear no telhado da Ópera. É uma obra de arquitetura espetacular e, no verão, é muito giro andar no telhado do edifício. Proporciona uma boa vista sobre o fiorde e sobre os edifícios vizinhos, muitos deles com uma arquitectura arrojada.

Quanto ao turismo, vamos tentar fazer um roteiro de 3 dias em Oslo. Indica-nos as coisas que, na tua opinião, sejam “obrigatórias” ver ou fazer.

Visitar Oslo: Sentral stasjon
Oslo Sentralstasjon

Para começar, diria que três dias em Oslo são mais do que suficientes para passear com calma e conhecer os marcos mais importantes da cidade.

Dia 1

O primeiro dia poderia ser dedicado ao centro de Oslo. Saindo na estação central, anda-se três minutos até ao edifício da Ópera, que deve ser visitado por dentro e por fora (andar no telhado, como referi acima).

Depois, volta-se à zona da estação e sobe-se a grande avenida das lojas, que se chama Karl Johans Gate. É onde fica o Teatro Nacional; logo depois, avista-se o Palácio Real, famoso pelos seus jardins.

Caminhando em direcção ao fiorde, chega-se ao bairro Aker Brygge, uma das minhas zonas preferidas de Oslo. Os edifícios são bonitos e é possível caminhar na marina por entre os barcos. Muitos dos melhores restaurantes da cidade encontram-se nesta área, pelo que é uma boa opção para almoçar. Ainda no centro, pode ser visitada a National Gallery, onde se encontra a obra prima de Edvard Munch (“O grito”).

Dia 2

No segundo dia sugiro uma visita ao Parque Vigelan – o famoso parque das estátuas -, assim como à Península Bygdøy, onde se encontra a maioria dos museus. É uma área acessível de autocarro, que fica a cerca de 20 minutos do centro de Oslo.

É muito agradável caminhar em Bygdøy, sendo possível chegar ao fiorde em ambos os extremos da península. De um lado, há uma praia urbana chamada Huk; do outro apanha-se um pequeno barco de volta ao centro de Oslo. Há muitos museus à escolha em Bygdøy, mas o meu preferido é o Fram Museum, sobre a primeira expedição ao Polo Sul.

Dia 3

No terceiro dia poderiam ser visitadas zonas menos centrais mas igualmente interessantes da capital da Noruega.

Uma caminhada matinal pelo bairro mais alternativo Grünerløkka, junto ao Rio Akerselva, é um dos meus passeios de fim de semana favoritos. Trata-se de uma antiga zona fabril que tem vindo a ser transformada em área residencial, sendo habitada na sua grande maioria por jovens.

A tarde poderia ser dedicada ao novo parque do lado este da capital norueguesa, com as melhores vistas sobre a cidade de Oslo: Ekebergparken. No parque encontram-se espalhadas diversas obras de arte (muitas delas, no mínimo, curiosas). Existe também um restaurante e um café, onde se pode descansar e beber uma cerveja com vista para Oslo e o fiorde.

A Noruega é um destino caro. Tens algumas dicas para poupar dinheiro em Oslo?

City Hall de Oslo
A City Hall de Oslo

Em Oslo não é fácil poupar dinheiro, pois é realmente tudo muito caro. Na verdade, há duas coisas proibitivas em Oslo: uma é beber álcool (uma cerveja custa cerca de 10€ num restaurante); a outra é fazer paragens para café (um café e um bolo também custam facilmente 10€).

Eis algumas dicas para poupar dinheiro em Oslo:

  • Aconselho a que recorram às lojas de conveniência do tipo 7 Eleven para café e snacks;
  • Os restaurantes oferecem água gratuitamente com a refeição, sendo uma boa ajuda para se poupar dinheiro;
  • Para os transportes públicos, compensa comprar bilhetes de 24 horas para quem fizer mais do que três trajetos por dia.

Sou grande apreciador da gastronomia em viagem. Na tua opinião, que especialidades gastronómicas temos mesmo de provar em Oslo?

Uma iguaria norueguesa é o queijo castanho, brunost. É diferente de tudo o que já tinha provado e muita gente não gosta à primeira. É queijo, mas ligeiramente doce, diria até com um toque de sabor a caramelo. Pode-se comprar em qualquer supermercado e fica especialmente bom nos waffles.

Imagina que queremos experimentar comidas locais. Gostamos de tascas, botecos, lugares tradicionais com boa comida e se possível barato. Onde vamos jantar?

Os únicos pratos tradicionais noruegueses que conheço estão relacionados com o Natal, pelo que noutras alturas do ano nem é possível encontrar estes pratos no menu dos restaurantes. A cozinha norueguesa é muito menos rica do que a portuguesa – não há a cultura da comida a que estamos habituados.

Desta forma, posso apenas indicar o meu restaurante favorito na cidade. Chama-se Olivia, é um restaurante italiano que está sempre cheio e tem a melhor comida da cidade. As pizzas são deliciosas e o risotto é divinal.

Só em Aker Brygge existem dois restaurantes Olivia. Os preços não são muito altos – consegue-se comer por cerca de 20€ por pessoa (sem bebidas alcoólicas).

Levo todos os meus visitantes a este restaurante e, até agora, ninguém ficou desiludido.

Uma das decisões críticas para quem viaja é escolher onde ficar. Em que bairro nos aconselhas a procurar hotel em Oslo?

Fiorde, Oslo
Vista do fiorde no verão, Oslo

Oslo é uma cidade bastante segura e os transportes públicos funcionam muito bem. Não é necessário ficar mesmo no centro, desde que se fique num local com acesso ao metro, comboio ou autocarro (mais lento). Os transportes terminam por volta da 1:00 da madrugada; portanto, quem gosta de sair à noite é melhor mesmo ficar alojado no centro da cidade (caso contrário, gastará uma pequena fortuna em trajetos de táxi).

Os hotéis são caros, pelo que aconselho a procurar apartamento no airbnb. As minhas zonas favoritas são Majorstuen, Frogner e Grünerløkka.

Pesquisar hotéis em Oslo

Escolhe um café e um museu.

Expresso House, pelo ambiente acolhedor.

National Gallery, porque não me canso de lá ir (é grátis ao domingo).

Falemos de diversão. O que sugeres a quem queira sair à noite em Oslo?

Parque Vigeland, Oslo
Parque Vigeland, um dos principais espaços verdes de Oslo

A noite em Oslo começa e termina cedo (por volta das 3:00 da madrugada). Não costumo ir a night clubs, mas creio que a maioria se situa no centro de Oslo; alguns próximos da Karl Johans Gate outros um pouco mais acima na Solli plass. Aker Brygge também tem muita animação noturna.

Dois bares interessantes são o Skaugum Bar e o Himkok.

A bebida típica da Noruega é o Aquavit, um tipo de aguardente feita à base de batata. Pode-se experimentar em qualquer bar.

Tens alguma sugestão para quem pretender fazer compras em Oslo? O que comprar?

Talvez um queijo brunost e uma garrafa de Aquavit.

Antes de te despedires, partilha o maior “segredo” de Oslo; pode ser uma loja, um barzinho, um restaurante, um parque, uma galeria de arte, algo que seja mesmo “a tua cara”.

Não sei se é um segredo, mas é no mínimo surpreendente o facto do sushi em Oslo ser extremamente bom e barato. O peixe é de grande qualidade e, devido à grande comunidade de asiáticos a residir em Oslo, existem muitos restaurantes onde se paga menos do que em Portugal para se comer sushi divinal.

E em qualquer canto da cidade há um sushi bar. Eu aconselho o Mini Sushi de Majorstuen.

Obrigado, Ana. Vemo-nos numa próxima viagem a Oslo.

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Filipe Morato Gomes

Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.