Hoje, na série de portugueses pelo mundo, vamos até Reykjavík, capital da Islândia, pela mão da Cátia Ferreira. A Cátia tem 29 anos, é guia turística e está a trabalhar e a viver em Reykjavík desde meados de 2018. Desafiei-a a partilhar connosco as suas experiências na cidade de Reykjavík; bem como sugestões e dicas para quem quiser visitar a Islândia e conhecer um pouco melhor o país.
É um olhar diferente e mais rico sobre Reykjavík – o de quem vive por dentro o dia-a-dia da capital islandesa, estando simultaneamente fora da sua “zona de conforto”, deslocado, como acontece a todos os viajantes. Este é o 66º post de uma série inspirada no programa de televisão “Portugueses pelo Mundo”.
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Em Reykjavík com Cátia Ferreira (entrevista)
- 1.1 Define Reykjavík numa palavra.
- 1.2 Reykjavík é uma boa cidade para viver? Fala-nos das expectativas que tinhas antes de chegar à Islândia, e se a realidade que encontraste bateu certo com a ideia preconcebida que trazias.
- 1.3 E o que mais te marcou em Reykjavík?
- 1.4 Como caracterizas os islandeses?
- 1.5 Como terminarias esta frase: “Não podem sair de Reykjavík sem…”
- 1.6 Vamos tentar fazer um roteiro de três dias em Reykjavík e arredores. Indica-nos as coisas que, na tua opinião, sejam “obrigatórias” ver ou fazer.
- 1.7 Estando a viver em Reykjavík, tens alguma recomendação especial a fazer aos viajantes?
- 1.8 A propósito de viagens, abriste um negócio ligado ao turismo na Islândia. Queres explicar do que se trata?
- 1.9 A Islândia é um destino muito caro. Tens algumas dicas para se poupar dinheiro em Reykjavík.
- 1.10 Uma das decisões críticas para quem viaja é escolher onde ficar. Em que área nos aconselhas a procurar hotel em Reykjavík?
- 1.11 Falemos de comida. Que especialidades gastronómicas temos mesmo de provar em Reykjavík?
- 1.12 Imagina que queremos experimentar comidas locais. Gostamos de tascas, botecos, lugares tradicionais com boa comida e se possível barato. Onde vamos jantar?
- 1.13 Escolhe um café e um museu.
- 1.14 Falemos de diversão. O que sugeres a quem queira sair à noite?
- 1.15 Tens alguma sugestão para quem quiser fazer compras em Reykjavík? E o que comprar?
- 1.16 Antes de te despedires, partilha o maior “segredo” de Reykjavík; pode ser uma loja, um cafezinho, um restaurante, uma galeria de arte, algo que seja mesmo “a tua cara”.
- 2 Guia prático
Em Reykjavík com Cátia Ferreira (entrevista)
Define Reykjavík numa palavra.
Acolhedora
Reykjavík é uma boa cidade para viver? Fala-nos das expectativas que tinhas antes de chegar à Islândia, e se a realidade que encontraste bateu certo com a ideia preconcebida que trazias.
Confesso que quando me mudei para a Islândia sabia muito pouco. Fiz questão de não ler muitos artigos nem ver muitos vídeos no Youtube, porque queria evitar ter quaisquer expectativas e assim poder deixar esta experiência fluir.
Reykjavík é uma cidade fantástica para se viver. Sempre fui uma rapariga de cidades grandes, com muito movimento, mas encontrei em Reykjavík o q.b. de uma cidade ideal para mim. Tem o seu lado mais movimentado, mas também tem um lado mais calmo que aprecio imenso.
Quando quero estar na confusão, vou até ao centro da cidade onde há pessoas pela rua, cafés e lojas. Se eu quiser algo mais calmo, vou até à margem do mar e as pessoas aqui estão mais calmas. Umas a correr, outras sentadas nos bancos a meditar e a ouvir apenas o som das ondas do mar a bater nas rochas.
E o que mais te marcou em Reykjavík?
Quando me mudei para Reykjavík adorei o facto de estar, finalmente, numa cidade que tanto tem vista para a montanha – Esjan – como também tem o mar tão próximo. Isto marcou-me ainda mais porque vim para a Islândia no inverno e, passado pouco tempo, a montanha estava coberta de neve.
Eu sempre adorei neve e sempre adorei o mar. Poder ter o melhor dos dois mundos na mesma cidade é, para mim, algo que faz o meu coração bater mais forte.
Como caracterizas os islandeses?
De uma forma geral, são hospitaleiros e simpáticos; mas, numa fase inicial e se não te conhecem de lado nenhum, são desconfiados. As pessoas têm a ideia preconcebida de que os nórdicos são muito fechados, carrancudos e que não sabem sorrir. Não acho isso. Fechados, sim, mas só se não te conhecerem.
No entanto, acabam por ser um pouco “bipolares”. No inverno fecham-se muito em casa a “deprimir”, porque os invernos são escuros; e no verão passam o tempo todo na rua a aproveitar ao máximo (mesmo que isso signifique beber de manhã à noite).
Também são muito descontraídos (às vezes são demasiado). Se “a casa estiver a arder” são capazes de dizer “þetta reddast” que é como quem diz “vai tudo ficar bem”.
Contudo, esta forma de viver deles trouxe-me uma paz que não sentia em Portugal, pois o meu quotidiano era casa-trabalho-casa; era muito stress e pressão e, em Reykjavík, aprendi mesmo a ser mais relaxada sem que isso afete de forma negativa a minha vida (pessoal ou profissional).
Como terminarias esta frase: “Não podem sair de Reykjavík sem…”
“Comer um cachorro-quente”, diriam os islandeses. Já eu, digo que não podem sair de Reykjavík sem passear pelo farol Grotta. É um lugar muito bonito aqui em Reykjavík e que é tantas vezes esquecido (embora, durante o inverno, seja o ponto principal para os residentes e alguns turistas irem ver as auroras boreais).
Vamos tentar fazer um roteiro de três dias em Reykjavík e arredores. Indica-nos as coisas que, na tua opinião, sejam “obrigatórias” ver ou fazer.
Dia 1
Dedicar o dia a descobrir a cidade propriamente dita. Paragem obrigatória em Hallgrímskirkja, considerada a nossa Catedral; é uma igreja luterana cuja construção é inspirada no magma das erupções vulcânicas e nas infinitas colunas de basalto espalhadas pela ilha.
Perto fica a Laugavegur, rua principal de Reykjavík onde se encontram bares, restaurantes, lojas e hotéis. Descemos até ao Sun Voyager, uma escultura em forma de barco com vista para o mar, como uma ode ao território desconhecido, à esperança, ao progresso e à liberdade.
Seguimos caminho pela margem até Harpa, o Centro de Concertos e Conferências totalmente revestido em vidro. Durante as noites escuras islandesas, estes vidros são palco de projeções de auroras boreais ou outros efeitos.
Continuamos o passeio até ao lago Tjörnin, com os seus patos, e caminhamos até ao parque logo ali ao lado, onde é provável encontrar pessoas a tentarem bronzear-se. Se for inverno, o lago está congelado e é possível andar em cima dele (há sempre alguém a fazer patinagem).
Dia 2
Dia dedicado ao cais/porto e a museus. Começamos a manhã no cais (Old Harbour). Um lugar pequeno mas repleto de cafézinhos e restaurantes típicos que o tornam super acolhedor.
Antes de se visitar qualquer museu, fazemos uma pequena caminhada até Þúfa, um lugar peculiar no qual podemos ver peixe seco como exposição artística. Daí também se consegue ter outra perspetiva da cidade.
Seguimos para o primeiro museu, Reykjavík Maritime, onde ficamos a conhecer melhor um dos maiores e mais importantes setores na Islândia – o peixe. De seguida, visitamos o SAGA Museum para aprofundarmos os nossos conhecimentos sobre a história da Islândia.
Finalizamos o dia de conhecimento com uma atividade incrível no FlyOver Iceland. Aqui, podemos experienciar o que é voar sobre a Islândia num simulador que apela a todos os sentidos. Vamos sentir o cheiro a enxofre das zonas geotermais, o vento e alguma água quando passamos por cascatas. Será a melhor maneira de terminar este dia em Reykjavík.
Dia 3
Este será um dia muito mais calmo. Um passeio por Nauthólsvík, uma pequena praia de areia branca construída pelos islandeses para que fosse possível aproveitar os bons dias de verão. De seguida, paragem pelo Perlan, um centro de exibições cujo último andar é na cúpula com vista panorâmica para a cidade. O Perlan está no meio de uma pequena floresta que também merece ser descoberta.
Veja também uma sugestão de roteiro com o que fazer em Reykjavík durante um dia.
Estando a viver em Reykjavík, tens alguma recomendação especial a fazer aos viajantes?
A Islândia é um país muito livre e consegue-se ver em Reykjavík o quão multicultural é a cidade (e o país). Claro que o respeito se aplica a todos, seja aqui ou noutra cidade qualquer do mundo.
Talvez seja importante referir que, seja em Reykjavík ou noutro canto da ilha, não se aceita moeda diferente que a Coroa Islandesa. Por isso, será necessário trazer dinheiro ou então cartão (somos muito amigos de cartões e até o cafezinho mais pequeno os aceita. Raramente se usa dinheiro aqui). Aconselho o uso do cartão Revolut ou similar.
Se os viajantes quiserem ter um contacto mais próximo com as tradições da Islândia, aconselho viajar na altura do Feriado Nacional da Islândia, 17 de junho. Além de uma grande procissão pela cidade de Reykjavík, há vários eventos a acontecerem espalhados pela cidade e à volta da ilha.
A propósito de viagens, abriste um negócio ligado ao turismo na Islândia. Queres explicar do que se trata?
É verdade. Chama-se Meraki Nordic e trabalho por conta própria como guia turística. Sou apologista de ter grupos até 7/8 pessoas, para que seja possível criar uma relação mais próxima com o viajante, para ser mais fácil transmitir o amor que tenho pela Islândia; e para que no final da viagem o sentimento de cada um seja “percebo porque é que a Cátia gosta tanto disto, adorei e quero voltar!”.
Além disso, também desenho itinerários personalizados para aqueles que querem visitar a ilha de forma independente. Em dezembro de 2020 lancei o meu primeiro eBook – Islândia para Iniciantes – que foi escrito a pensar nesses viajantes que preferem alugar um carro e ir à descoberta da ilha. O eBook contém quatro itinerários de quatro, seis, oito e dez dias com Google Maps de suporte para cada um.
Também gostaria de partilhar que eu e o Rui Farinha, fotógrafo profissional, lançámos o Fire and Ice Fusion – um workshop de fotografia na Islândia, cujas reservas serão abertas muito em breve.
Para viagens privadas ou outros orçamentos, podem também enviar email ou mensagem para o instagram da Cátia.
A Islândia é um destino muito caro. Tens algumas dicas para se poupar dinheiro em Reykjavík.
O facto de a Islândia ser um país caro torna-se um entrave para muita gente o visitar, mas há formas de atenuar um pouco isso. Em Reykjavík, por exemplo, uma das melhores formas é fazer uma seleção dos museus que querem visitar e comprar o Reykjavík City Card, com o qual têm entradas gratuitas e/ou descontos para determinados locais.
Outra forma, que se aplica a todo o país, é não comprar água engarrafada. A água aqui é da mais pura e fresca que pode haver. Nos restaurantes, a água é sempre grátis e, se comprarem água engarrafada, estão literalmente a comprar água da torneira.
Evitar andar de táxi também é uma boa forma de poupar, pois são caros (não há Uber ou similares). Isto faz com que o melhor seja arranjar alojamento mais central para estarem sempre a 10/20 minutos de distância a pé dos pontos principais e, no que respeita ao transporte entre o aeroporto e a capital, o melhor é alugar um carro ou então reservar um transfer.
Quanto à alimentação, há restaurantes para todas as carteiras. O ideal é fazer uma pesquisa de antemão, definir budgets e escolher aqueles que vos parecem melhores e mais razoáveis na vertente qualidade/preço.
Uma das decisões críticas para quem viaja é escolher onde ficar. Em que área nos aconselhas a procurar hotel em Reykjavík?
Sem dúvida que ficar o mais central possível é o ideal para se poder estar perto de tudo. A melhor zona e onde há também mais oferta de alojamento, é a chamada zona 101 que é onde está a Hallgrímskirkja, Sun Voyager, Tjörnin, Harpa. Veja onde ficar em Reykjavik para conhecer os hotéis da região.
Falemos de comida. Que especialidades gastronómicas temos mesmo de provar em Reykjavík?
Há pouco referi o cachorro-quente e a verdade é que realmente o pessoal daqui é louco pelo cachorro-quente servido ao lado do Radisson Blu 1919 Hotel. É bom, mas faltam as batatas fritas Pala-Pala (risos).
A sopa de cordeiro ou então uma sopa de lagosta são sempre bem-vindas. A sopa de cordeiro gosto de comer no Icelandic Street Food; e a sopa de lagosta no Seabaron.
Para petisco mais estranho, tubarão fermentado. Confesso, nunca provei porque só o cheiro me enjoa; mas podem provar no Íslenski Barinn, um restaurante no meu TOP 5 em Reykjavík.
Imagina que queremos experimentar comidas locais. Gostamos de tascas, botecos, lugares tradicionais com boa comida e se possível barato. Onde vamos jantar?
Vamos definitivamente ao Seabaron. Dos meus restaurantes preferidos para se comer um belo peixinho e que quando se entra dá mesmo aquela sensação de tasquinha.
As mesas são em madeira, as cadeiras são substituídas por potes tipicamente usados nas aldeias para guardar água ou azeite. O pãozinho fatiado acompanhado de manteiga aconchega o estômago enquanto esperamos pela sopa de lagosta e pelo prato principal – que vem em espetadas, seja ele salmão ou bacalhau.
O Seabaron tem duas salas, a primeira é do lado da caixa que tem um aspeto mais de tasca; e a segunda sala tem mesas e cadeiras de madeira, o que dá um ar rústico.
Escolhe um café e um museu.
Café: Reykjavík Röst. Adoro o facto de estar no cais e ter vista para os barcos, o mar e a Esjan (montanha que referi há pouco).
Museu: Icelandic Phallological Museum (aka, Museu do Pénis), pela especificidade e pela piada. Mas se se quiser aprofundar os conhecimentos sobre a história islandesa, então a visita ao Saga Museum é obrigatória.
Falemos de diversão. O que sugeres a quem queira sair à noite?
A happy-hour normalmente é às 18h-19h, os bares chegam à 1h-2h da madrugada e as discotecas fecham às 4h. A rua Laugavegur (uma das ruas principais da zona central de Reykjavík) está repleta de bares e vai até ao fim da rua Austurstræti. As melhores noites são as sextas e sábados.
Ainda que eu não seja uma pessoa de sair muito à noite, estando a viver em Reykjavík já tive a oportunidade de descobrir alguns lugares. Os meus preferidos são o Lebowski Bar (inspirado no filme The Big Lebowski e é super turístico) e o The Irishman Pub (um bar onde se encontram mais turistas mas que, normalmente, tem música ao vivo e um ambiente divertido).
Tens alguma sugestão para quem quiser fazer compras em Reykjavík? E o que comprar?
Se quiserem evitar as lojas de souvenirs onde normalmente os preços são mais elevados, sugiro a visita ao Kolaportið que é uma espécie de feira da ladra. Aqui vendem-se produtos novos e em segunda mão, bem como comida típica islandesa. É, sem dúvida, uma experiência diferente que muitos desconhecem.
No caso de quererem comprar a famosa lopapeysa (camisola de lã), recomendo a visita ao The Handknitting Association of Iceland ou ao Kolaportið – dos poucos lugares onde podem encontrar estas camisolas feitas à mão, por islandeses. Digo isto porque as camisolas que muitos encontram nas lojas de souvenirs são importadas e, por isso, leiam sempre a etiqueta para ter a certeza de que estão a comprar algo 100% islandês.
Para os amantes de chocolate, visitem a Omnom Chocolate Ice Cream Shop. Até podem fazer esta visita no terceiro dia do roteiro atrás referido. Podem fazer o vosso próprio chocolate ou então comprar as especialidades deles.
Antes de te despedires, partilha o maior “segredo” de Reykjavík; pode ser uma loja, um cafezinho, um restaurante, uma galeria de arte, algo que seja mesmo “a tua cara”.
Um dos segredos mais bem guardados em Reykjavík (eu nem devia estar a dizer isto) é o Petersen Svítan. Um bar no qual raramente se encontram turistas e que tem um rooftop incrível. É o local perfeito para aqueles dias de verão que nunca mais acabam.
Eu disse anteriormente que não sou uma pessoa de sair à noite; mas, estando a viver em Reykjavík há algum tempo, comecei e vir a este bar durante a tarde, em dias de verão, para beber um cocktail e relaxar enquanto o sol me beija a cara.
Obrigado, Cátia. Vemo-nos quando regressar à Islândia.
Guia prático
Onde ficar
A Cátia recomenda ficar hospedado no centro de Reykjavík, para melhor aproveitar a cidade e poupar nas deslocações (os táxis são muito caros). Procure os melhores hotéis da cidade usando o link abaixo.
Seguro de viagem
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