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Da capital à cidade do amor (Eurasia #30)

Por Rafael Polónia e Tanya Ruivo | Eurasia Ásia Índia
Atualizado em 16.07.2017 | Tempo de leitura: 5 minutos

Da capital à cidade do amor

Quando reparámos, tínhamos já contado três semanas em Deli. Talvez fosse tempo de partir. Deixámos para trás um adeus bem português e pedalámos, doridos e com a paciência a fugir-nos a cada quilómetro, para Agra, a cidade onde um homem, um dia, eternizou para sempre o seu amor da forma mais extravagante – porém, mais bela.

Sentimo-nos pequenos nesta tão enorme cidade de uns quantos milhões de habitantes. Sentimo-nos perdidos, desencontrados de nós próprios, sem saber para onde fica o norte. Sentimo-nos cansados e ainda só aqui estamos há pouco mais de cinco minutos.

Que eternidade.

E ainda não colocámos um pé na rua, já as buzinas nos azucrinam a cabeça, nos desesperam a paciência, nos incitam à luta, à resistência, à revolta interior, como se de uma batalha estivéssemos nós prontos a travar. Deli!

E resgatamos o mais rapidamente possível as nossas bicicletas, aprisionadas na varanda de um segundo andar há mais de um mês, cobertas de um pó cinzento e espesso, que aqui nem o pó é da mesma cor. Dali, logo saltamos para a próxima etapa: tentar, mais uma vez, a extensão dos nossos vistos na Índia. Há um mês, haviam sido recusados, com a desculpa de que três meses nos eram suficientes para atravessar a Índia. Sim, eram, mas explicámos não querer atravessar a Índia, queríamos vê-la, ao que nos foi respondido que se queríamos ver, então “nem um mês era suficiente, só para Deli”. Combate perdido.

Túmulo de Humayun, Deli
O Túmulo de Humayun é o mais antigo mausoléu mogol existente em Deli, capital da Índia

Mas não desistimos, ou melhor, a Embaixada Portuguesa, sempre pronta para mais um round, até que o KO os deite ao chão, não pousou as luvas e, estávamos nós numa fantástica praia em Goa, telefonaram-nos a dizer: “Quando voltarem a Deli, podem ir carimbar os vossos passaportes! Eles estenderam os vossos vistos”. Portugal 1 – Índia 1. Um empate justo.

Dia seguinte, que o primeiro dia foi longo em horas mas curto em tempo para tudo fazer, mudámo-nos de novo para casa do Embaixador português: santa família (desconfio que este ano, a fazer a árvore de natal, vão ser eles as figuras de destaque no presépio!). Voltámos ao que não nos é normal, a dias de silêncio, de conversas em português, cortados por um Benfica – Sporting em que o meu clube foi melhor, mas não levou a melhor, tendo passado um dia inteiro a ouvir as bocas dum Embaixador contente e gozador.

Abandonámos a casa da Embaixada após umas noites de sossego e uma de desassossego, pensando nós ser tempo de abandonar Deli também. Estávamos totalmente enganados. Passaríamos ali mais uma semana inteira, desta vez uns quilómetros mais abaixo, junto a mais duas famílias portuguesas. Foi tempo de comer petiscos portugueses: pão-de-ló, tremoços, feijão-frade, queijo Limiano e mais uns tantos sabores saborosíssimos. Foi tempo de preparar as nossas meninas de duas rodas para o que se seguiria, apenas mais mil e quinhentos quilómetros até Calcutá. Apenas. Pelo caminho traçámos uma rota histórica: Agra, com o Taj Mahal; Fatehpur Sikri, a capital mais efémera do Império Mughal; Khajuraho, com os seus templos eróticos; Varanasi, a cidade mais sagrada para os hindus; Bodh Gaya, onde Buda atingiu o ponto máximo da sabedoria. Pelo caminho também, pequenas cidades não menos importantes para os peregrinos hindus, onde o Ganges – o sagrado rio criado por uma lágrima de Shiva – banha as margens e onde as pessoas fazem do rio casa própria. Pelo caminho, um infinito de buzinas, poluição, vendedores, chatos, muito chatos e suores na estrada.

Bicicletas a caminho de Agra
As bicicletas estacionadas algures a caminho de Agra

Ao fim de quase duas semanas, decidimos então partir e as despedidas foram rápidas, não fosse o nó na garganta estrangular-nos e termos de ficar ali, para sempre, até que nos expulsassem. O caminho para Agra prolongava-se por duas centenas de quilómetros numa estrada sem interesse, poluída e com um manto de névoa que acordava pela manhã, cobrindo toda a paisagem, para só desaparecer ao fim do dia, quando a luz quase desaparecia também. Pelo caminho, pouco ou nada a contar, pois pouco ou nada existia, a não ser centenas de pequenas povoações que a história recusa lembrar. Turistas, nem vê-los, o que nos dificultava ainda mais a procura de um alojamento para ficar, muitos deles não aceitando estrangeiros e outros tantos que, por serem os únicos, nos pediam preços à Côte d’Azur.

“”Murro” daqui, “murro” dali e lá conseguíamos, já encostados aos cantos, que nos fizessem um preço à imagem do nosso orçamento. A noite, apesar de tudo, nem sempre era descansada, que este país ainda não compreendeu as palavras privacidade, silêncio e, mais importante que tudo, respeito pelo outro, pelo que antes de adormecer, ora ouvíamos as vozes mais agudas das atrizes mais esganiçadas das séries de televisão, ora os chinelos dos empregados degraus abaixo, escadas acima, ora a voz de quem não sabe o que é ficar rouco, dos hóspedes indianos que chegavam ao hotel. Quando finalmente o sono ganhava ao cansaço, a noite passava rápida e ainda não eram seis da manhã, já eu saltava da cama e gritava para fora do quarto “TV offfff”… e voltava à cama, onde conseguia descansar de olhos abertos por mais uma meia hora.

O magnífico Taj Mahal, em Agra
O magnífico Taj Mahal, em Agra

Saíamos dos hotéis quase mais cansados do que entrávamos, mas bem mais leves no bolso e cheios na cabeça. O corpo doía, lembrando-nos que não tínhamos feito qualquer exercício durante mais de um mês, a não ser levar a comida à boca. Só queríamos chegar a Agra rapidamente, deitarmo-nos numa boa cama, tomar um bom banho e descansar por mais uns dias, até que a dor nos passasse. Mas a tarefa foi complicada, sendo que esta é uma das cidades mais desorganizadas do país, que nos faz rir às gargalhadas quando nos deparamos com sinais que nos dizem “Agra Limpa, Agra Verde” e olhamos em volta e tudo é cinzento, sujo, poluído. Aqui, até as árvores são de outra cor. Até o Taj, visto de longe, do restaurante do hotel onde ficámos, nos parece de outra cor, aquilo a que eles chamam na Índia o “off white”. Que cor estranha, pensámos na altura – mas agora compreendemo-la bem melhor. Agra, a cidade do amor, eternizada para sempre no túmulo mais bonito do mundo, seria a nossa casa durante cinco longos dias.

Que eternidade.

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Sobre o autor

Filipe Morato Gomes, blogger de viagens

Olá! O meu nome é Filipe Morato Gomes, vivo em Matosinhos, Portugal, sou blogger de viagens, co-autor do projeto Hotelandia e Presidente da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses.

Tenho 52 anos e muita experiência de viagem acumulada. Já dei duas voltas ao mundo, fiz dezenas de viagens independentes e fui líder de viagens de aventura.

Mais recentemente, abracei um novo desafio chamado Rostos da Aldeia, onde se contam histórias positivas sobre as aldeias de Portugal e quem nelas habita.

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