A beleza natural da Serra do Açor

Por Ana Isabel Mineiro
Foz de Égua, Serra do Açor
Povoação de Foz d’Égua, Serra do Açor

Apesar de não ultrapassar os 1.349 metros de altitude e de ficar entalada entre as mais imponentes serras da Lousã e da Estrela, a Serra do Açor é um concentrado de beleza natural onde se destacam florestas, quedas de água e belas aldeias, como Piódão, Benfeita ou Foz d’Égua. Viagem à Serra do Açor, região centro de Portugal.

Piódão e a Serra do Açor

Benfeita merece o nome. É uma aldeia pequena de casinhas surpreendentemente brancas numa serra onde reina o xisto. Encostada à Serra do Açor, termina numa ribeira que os tempos modernos dotaram de praia fluvial. Mas isso é para deleite de quem aqui vive, porque quem visita geralmente vem em busca das duas pérolas desta zona protegida: as quedas de água da Fraga da Pena e a Mata da Margaraça.

Mata da Margaraça, Serra do Açor
Mata da Margaraça, Serra do Açor

Não ficam longe, as primeiras, e os que não têm medo de declives podem mesmo alcançá-las a pé: numa curva da estrada junto a uma pequena ponte, estão assinaladas como área de recreio e algumas mesas e cadeiras cumprem o prometido, oferecendo sombra e repouso a caminhantes e outros turistas.

Mais que isso: a curtos passos da estrada, antecedida por uma garganta estreita que não deixa ver mais longe, eis que se abre na nossa frente um circo de pedra de onde jorra a cascata para um poço de água transparente.

A vegetação que a rodeia é densa e selvática, como se tivéssemos caminhado quilómetros na floresta tropical até chegar aqui. Aprazível e fresco, o local prende-nos por algum tempo antes de termos vontade de explorar os arredores: uma ponte de madeira e vários lanços de degraus de xisto íngremes levam-nos mais acima, ao longo do canal natural por onde desce a barroca de Degraínhos, guiando-nos por sequências de quedas de água de vários tamanhos que antecedem a da grande fraga – dizem que são dez, mas não as contei -, pequenas lagoas e canais escavados na rocha, onde antigas azenhas de pedra resistem ao tempo e à inércia.

Fraga da Pena, Serra do Açor
Fraga da Pena, Serra do Açor

Começamos a compreender porque foi criada esta Área de Paisagem Protegida: nesta superfície com menos de trezentos e cinquenta hectares, situada entre os quatrocentos e os mil e poucos metros de altitude, a paisagem é belíssima e tudo o que a compõe tem um valor biogenético apreciável. O ponto mais importante é a Mata da Margaraça, alguns quilómetros mais acima, depois da aldeia de Pardieiros. Aí, a Casa Grande, uma antiga quinta que pertence agora ao Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB), centraliza o interesse dos mais curiosos, oferecendo alguma literatura sobre a zona e visitas guiadas com marcação.

Mas mesmo um simples passeio sob a verdura da floresta nas imediações da casa revela a beleza natural e a riqueza do bosque de vegetação espontânea – o que resta do que já cobriu esta região peninsular. Imediatamente identificáveis são os carvalhos e os castanheiros, mas também abundam medronheiros, cerejeiras, ulmeiros.

No chão, cortado por uma ribeira onde despontam ruínas de azenhas, sobejam fetos viçosos – e também há lagartos e salamandras. O animal que se destaca pelo porte é o javali, mas também podemos encontrar a gineta, o gavião, a coruja e – surpresa! – o açor. A mata faz agora parte da rede europeia de reservas biogenéticas, na esperança de que se possa guardar esta raridade; os incêndios não têm poupado a região e a mata quase adquiriu funções de oásis na Serra do Açor.

Aldeia de Piódão
Aldeia de Piódão

A caminho de Piódão é bem visível a devastação dos incêndios, com os cumes arredondados que demonstram a antiguidade da serra a aparecerem quase carecas de vegetação, sendo o verde que os cobre apenas o de ervas e arbustos. O lado bom é poder apreciar a paisagem sem estorvo, vê-la estender-se até às serras da Lousã e da Estrela com as pequenas aldeias a descoberto, ora brancas – as que ainda são habitadas – ora cinzentas de xisto, distribuídas em pequenos aglomerados às vezes de cinco ou seis casas, muitas delas abandonadas.

Sobre Piódão já tudo foi dito: igual a si própria há séculos, já foi apelidada de “presépio” e é sem dúvida uma das aldeias históricas mais famosas e visitadas do país. Mas muito menos se disse sobre o pequeno casario de Foz d’Égua, a poucos quilómetros dali, com acesso pedestre por uma ponte ao melhor estilo Indiana Jones, já que as enxurradas que levaram a praia fluvial de Piódão também lhe levaram uma das pontes.

São apenas meia dúzia de casas, agora de lazer, inacreditáveis protótipos da Casinha de Chocolate dos contos para crianças: paredes e telhados parecem construídos com fatias finas de chocolate – e o telhado com fatias ainda mais finas. Não reluzem ao sol, escondem-se na cor da terra e da vegetação, apoiadas em socalcos com vista para o rio estreito que serpenteia no fundo do vale.

Chegar lá a pé partir de Piódão é uma bela despedida das vistas largas sobre os montes calvos, da densa Margaraça, dos caprichos da água na Fraga da Pena – e da Serra do Açor.

Serra do Açor
Serra do Açor

Guia de viagens à Serra do Açor

Este é um guia prático para viagens na Serra do Açor, com informações sobre a melhor época para visitar, como chegar, pontos turísticos em Piódão, os melhores hotéis e sugestões de actividades na região.

Quando ir

Todo o ano, tendo no entanto em consideração que os Verões são muito quentes e os Invernos muito frios.

Como chegar à Serra do Açor

A Serra do Açor situa-se nos concelhos de Arganil, Góis e Pampilhosa da Serra. Para quem vem do Norte ou do Sul do país, o acesso mais comum é pela A1 até à saída para o IP3, seguindo depois as indicações para Arganil e Coja, onde se encontra indicações directas para a Mata da Margaraça, a Fraga da Pena ou o Piódão. São cerca de 180 quilómetros a partir do Porto e 280 a partir de Lisboa.

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Alojamento em Piódão

Dentro da zona de Paisagem Protegida, o local mais popular é a aldeia de Piódão, até porque daí saem alguns percursos pedestres, como o que leva a Chãos d’Égua e a Foz d’Égua. Na Casa da Aldeia (Tel. 235731424), na Casa do Algar (Tel. 235731464) e na Casa da Padaria – esta última numa antiga padaria recuperada, aberta todo o ano – um duplo com vista para o vale e a aldeia fica por cerca de 40 euros, com pequeno-almoço. Também o INATEL aí tem uma pousada (Tel. 235730100) em posição privilegiada, onde um quarto duplo custa 45 euros. Há várias unidades de turismo rural na região.

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Restaurantes em Piódão

Não falta onde provar a gastronomia regional: nos Moinhos da Tia Antoninha, se encomendar com antecedência; em Moimenta da Beira pode experimentar o restaurante Peto Real do Hotel Verdeal; também na N226, bem perto de Leomil, encontra-se o restaurante Quinta do Melião.

O que comprar

A produção regional vai das peças decorativas em xisto ao queijo, mel e aguardentes (de medronho, de mel, etc).

Informações

Sugere-se uma visita prévia ao Portal do ICNB para conhecer melhor a zona da Paisagem Protegida e as razões da sua protecção.

Seguro de viagem

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Ana Isabel Mineiro

3 comentários em “A beleza natural da Serra do Açor”

  1. A serra do açor fica também nos concelhos de seia e Oliveira do hospital, aonde se situa um dos pontos mais icónicos, o monte colcurinho.

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  2. O pico da Cebola, ponto mais alto da Serra do Açor, tem 1.418 metros. Não me parece que a Serra da Lousã seja mais imponente que a Serra do Açor, é até mais pequena.

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  3. Ao que já foi dito, desejo acrescentar que a Serra do Açor na montanha do Picoto de Cebola 1.418 metros de altitude, é considerada a quinta serra mais alta de Portugal continental. No Picoto de Cebola encontram-se os limites dos concelho de Arganil, Pampilhosa da Serra e Covilhã. Por isso a Serra do Açor também se encontra parcialmente no concelho da Covilhã com as freguesias de Sobral de S. Miguel, aldeia do Xisto e São Jorge da Beira, estas aldeias e sedes de freguesia estão situadas na montanha do Picoto de Cebola.

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