Do antigo reino pirenaico, a região espanhola de Aragão conserva as marcas históricas e a paisagem montanhosa. Os seus montes e penedias, há muito marcados pela presença humana, oferecem surpresas inesperadas.
Explorando a província de Aragão
Para quem sai de Huesca em direcção a Jaca, este percurso não é inevitável. Mas num belo dia de fim de Verão, quem é que quer seguir a estrada mais directa até ao destino? Por aqui começam as faldas dos Pirenéus, o reino mineral da pedra. Espaçam os casarios brancos, substituídos por blocos sólidos, cinzentos e frios, arrancados directamente das encostas mais próximas.
O sol amadurece as últimas amoras. Ao longe, no cimo de um cabeço pedregoso, espreitam as torres de um castelo. Deixamos as amoras e seguimos a estrada que o contorna, oferecendo ângulos sempre diferentes sobre ameias e torres aparentemente inexpugnáveis. Admiravelmente reconstruído, o Castillo de Loarre respira calma e tranquilidade.
As muralhas são o prolongamento das paredes naturais formadas por penedos, descendo a encosta em direcção ao vale e à aldeia com a qual partilha o nome. O seu aspecto robusto e despido de vida torna-o ainda mais impressionante, verdadeira fortaleza medieval habitada apenas por saudosos fantasmas.
A entrada faz-se por um portal na encosta do monte, que nos leva por pátios e salões austeros, protegidos pelas muralhas. A igreja, concluída no século XII, é de um românico simples e silencioso; o seu único enfeite é um ramo de flores brancas, que alguém deixou sobre a pedra da cripta.
O interior dos edifícios é solene e nu, e a pedra reina mesmo nos telhados, tipicamente aragoneses, feitos com patelas em forma de escamas, arredondadas e sobrepostas. O panorama é imenso. Construído a cerca de 1.100 metros de altitude, o castelo dá-nos uma visão de 180 graus sobre a paisagem de onde se ergue: montanhas de um lado e a planície do Ebro do outro. D. Sancho Ramirez, rei de Aragão e Navarra, levantou estas paredes no século XI e aí instalou um mosteiro. De local de culto, o Castelo de Loarre transformou-se agora num monumento histórico, arrancado do chão e apoiado em fragas, provando a resistência e perenidade da pedra.
As amoras, suculentas, perfumam o ar a partir dos silvados que bordejam o caminho. Ao mesmo tempo, os montes que aparecem no horizonte vão-se abrindo e separando em dois grupos: à direita fica uma parede rugosa e cor de laranja, com uma risca branca de casas no sopé; à esquerda, uma série de pequenos “pães-de-açúcar” levanta-se do mato.
Optamos por virar à direita, a estrada com mais amoras. De dedos enegrecidos pelo sumo, vamo-nos aproximando do enorme muro avermelhado que parece barrar a estrada – os Mallos de Riglos, a aldeiazinha caiada que parece viver em risco permanente de ser vítima de uma derrocada.
Ao perto, vêem-se os resultados da erosão: o monte divide-se em chaminés e forma canhões estreitos de cor afogueada. Junto à aldeia, erguem-se as gigantescas muralhas de um verdadeiro castelo – desta vez, natural. Destacam-se torres, colunas, muros altos que formam ravinas de cor ocre.
Só já muito próximo nos apercebemos de que as pintas coloridas que se espalham pela parede são escaladores desportivos, entusiasmados pela altura e verticalidade dos mallos. Alguns já estão no cimo e estimulam os outros, mas as vozes ecoam e confundem-se com as dos habitantes alados, incomodados com a companhia. As reentrâncias e saliências naturais da meseta devem parecer-lhes irresistíveis, para ensaiarem a arte de caminhar na vertical. Uma placa evoca os que pagaram caro a ousadia de conquistar estes cimos, e faz-nos saber que a corrida às paredes já tinha começado nos anos sessenta.
Rio Gallegos
O Rio Gallegos foi o escultor destas gargantas ruiniformes, e a sua torrente de cor argilosa desce com força ao longo da estrada, cavando cada vez mais fundo no leito pedregoso. Riglos parece, entretanto, ter sido absorvida pelas rochas. Aos poucos penetramos na serra de Gredos, deixando para trás o reino seco e quente das amoras.
Depois de Sta. Cruz de la Serós, que deve ter servido de modelo a todas as igrejas e mosteiros da América hispânica, a vegetação é cada vez mais frondosa. Com as matas cerradas da serra de la Peña, chegam também a sombra e a humidade que faltavam na planície. No fim de uma longa subida, quase nem há tempo de começar a descer; a surpresa aparece escondida debaixo de uma enorme fraga, perto de uma curva: um mosteiro escavado no monte, símbolo da resistência cristã durante a ocupação muçulmana – S. Juan de la Peña.
Fundado no século IX, foi sofrendo modificações ao longo dos tempos, mas a sua estrutura mantém-se com a originalidade que sempre teve: uma igreja subterrânea, raridade moçárabe, e uma outra no andar superior, datada do século XI, onde se alinha o panteão de soberanos e nobres dos reinos de Aragão e Navarra. Mas talvez o local mais interessante seja o claustro. Só aí não podemos esquecer que estamos debaixo de uma rocha – o que não impediu os arquitectos de construir portais rendilhados, uma capela, um chão de lajes bem lisas e, ao centro, as costumeiras arcadas de colunas.
Como se não bastasse, cada uma delas possui um capitel único, onde o artista foi esculpindo a história da criação do homem até aos apóstolos, num estilo original e próprio, que influenciou durante muito tempo a arte religiosa regional. Depois de aparecer em bruto ou empilhada em construções, a pedra aragonesa atinge aqui o estatuto de jóia, lapidada por mãos experientes.
Desce-se depois para Jaca, com vista sobre os Pirenéus. Durante pouco mais de cem quilómetros, desfilaram as paisagens abruptas, construções religiosas, monumentos naturais, marcas históricas. Em Aragão, a pedra faz parte da paisagem e da cultura.
Guia de viagens a Aragão
Este é um guia prático para viagens à região dos Pirinéus Aragoneses, com informações sobre a melhor época para visitar, como chegar, pontos turísticos, os melhores hotéis e sugestões de actividades na província de Aragão.
Como chegar
Para fazer este percurso, sai-se da cidade de Huesca pela estrada A 132 (direcção Ayerbe) e segue-se as placas indicativas dos desvios para Loarre e Riglos, regressando sempre à mesma estrada. Em Puente la Reina de Jaca, toma-se a N240 (direcção Jaca); o desvio para S. Juan de la Peña aparece pouco depois.
Guia orientativo
Este itinerário destina-se a quem está na zona com autonomia completa em relação aos transportes. O trajecto situa-se entre Huesca e Jaca, nos Pirinéus Aragoneses, mas fora da estrada principal que une estas cidades: deve sair de Huesca pela N 132, em direcção a Esquedas. Perto de Ayerbe encontrará as indicações para Castillo de Loarre, e os Mallos de Riglos situam-se logo adiante. Continua-se depois pela N 132 e pela N 240 em direcção a Jaca, e uma pequena cortada à direita irá indicar a estrada (ainda mais) secundária que sobe até S. Juan de la Peña. Belas vistas sobre Jaca e os Pirenéus.
Onde ficar
Numa província como Aragão encontram-se, naturalmente, hotéis para todos os gostos e bolsas. Pesquise as opções de alojamento disponíveis na cidade de Jaca e Aragão em geral.
Informações
Consulte o site oficial do Turismo de Aragão para mais informações e dicas sobre o que fazer na região.
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