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Astúrias e Picos da Europa

Por Ana Isabel Mineiro
Picos da Europa
Picos da Europa

Uma viagem às Astúrias e à Cantábria é bem mais do que uma imersão num inestimável património natural de que é ex-líbris a cordilheira dos Picos da Europa. Oviedo, a capital das Astúrias, Gijón e Avilés formam uma espécie de triângulo dourado para o visitante. Um roteiro de viagem por uma das belas regiões de Espanha, ao encontro das terras altas dos Picos da Europa, das pequenas aldeias de montanha e, claro, de um copo da inevitável sidra.

Paisagens primordiais nas Astúrias e na Cantábria

Mar e montanha, dois elementos que não são simples cenário no Principado das Astúrias e na Cantábria. O viajante mais atento, ou de coração aberto aos murmúrios da terra, poderá descobrir nos mais pequenos gestos ritualizados no quotidiano a presença dessas duas referências essenciais da identidade de uma das mais belas regiões do país vizinho.

E descobrir que a extraordinária beleza da região toma forma muito antes – ou para além – de uma paisagem de suaves colinas verdejantes, de respeitáveis montanhas que guardam marcas de velhos glaciares, de um litoral inconstante e harmonioso ao mesmo tempo.

Picos da Europa, Astúrias
Picos da Europa, Astúrias

Uma viagem às Astúrias e à Cantábria é, todavia, bem mais do que uma imersão num inestimável património natural, representado fundamentalmente pela cordilheira dos Picos da Europa, pelo recém criado Parque Natural de Somiedo ou pela surpreendente linha litorânea que vai de Llanes a Luarca, salpicada de encantadores portos pesqueiros e de algumas praias de areia fina como a de Rodiles, com mais de um quilómetro de extensão.

O território revela-nos a cada passo uma história e uma cultura cheias de ditosas matizes. Oviedo, a capital, Gijón e Avilés formam uma espécie de triângulo dourado para o visitante. Com um pormenor não desprezável: os percursos de montanha, os prazeres do litoral e a vida urbana podem ser usufruídos sem o inconveniente da distância.

Neste recanto da Península reina, enfim, uma irmandade geográfica propícia a facilitar a vida ao viajante. Cangas de Onís e Covadonga, portas de entrada do Parque Nacional de Covadonga distam uns trinta quilómetros do litoral, tal como Oviedo, e da capital asturiana aos Picos da Europa medeia uma hora, ou menos, de viagem.

Para leste, Potes é um dos melhores pontos de partida para explorar o maciço central dos Picos. Muito aconselhável é o percurso pela comarca de Liébana até Fuente Dé, onde se situa o teleférico que deixa os viajantes quase mil metros acima, numa paisagem de fragas abruptas cobertas de neve, e de onde se goza uma vista soberba sobre os vales vizinhos. Outro ponto de passagem obrigatória dos Picos da Europa é Pousada de Valdeón. Aí começa a Rota do Cares, um trilho que acompanha a garganta do Rio Cares durante cerca de dez quilómetros até à povoação de Caín. É um dos mais populares caminhos pedestres do Parque Nacional dos Picos da Europa.

Nava, a capital da maçã

Entre Nava e Villaviciosa, um povoado assente numa zona de costa recortada, estendem-se inúmeros pomares que tomam no Outono as regulamentares cores amarela e vermelha. Os pomares asturianos ocupam uma área superior a sete mil hectares e os lagares industriais têm capacidade para cerca de quarenta milhões de litros de sidra, quantidade que pode ser atingida nos melhores anos de produção.

Trilho ao longo do desfiladeiro do rio Cares, Picos da Europa
Trilho ao longo do desfiladeiro do Rio Cares, Picos da Europa

Numa terra de clima nada propício ao cultivo da vinha, a sidra é a bebida de referência para convívios e festejos, néctar que nos últimos anos tem vindo a recuperar a sua popularidade, como prova o crescente número de sidrerias que vêm surgindo um pouco por toda a parte e sobretudo em Oviedo, onde as noites de copas não dispensam o velho ritual de escanciar.

Com a garrafa bem acima da cabeça, o braço esticado, e o copo tão baixo quanto se possa, a sidra “voa” um bom metro antes de se precipitar no copo. Diz-se que este processo permite ao líquido um mais prolongado contacto com o ar e, consequentemente, a libertação de impurezas. À quantidade de sidra servida chama-se culín e as festas tradicionais que lhe são consagradas são conhecidas por espicha. Este tipo de festividades tinha normalmente a função de degustar colectivamente a nova colheita.

Em Nava, uma espécie de capital da sidra, encontram-se sidrerias porta sim, porta não, na Plaza Mayor e nas ruas à volta. Uma vez por ano, em Julho, a povoação organiza uma grande festa sem outro pretexto que o de homenagear a bebida e repetir até à exaustão o ritual teatralizado que acompanha o seu consumo.

De Covadonga a Los Beyos, nos Picos da Europa

Continuando em direcção a leste, chegamos a Cangas de Onís. A partir desta cidade, começamos a subir para os Picos da Europa e para o Parque Nacional de Covadonga. A basílica neo-românica de Covadonga, concluída em 1901 e concebida pelo arquitecto Federico Aparici como uma imitação das grandes catedrais germânicas medievais, não apresenta grande interesse a não ser por via da sua localização.

Neste capítulo, poderá o viajante guardar a curiosidade para os muitos exemplos de arquitectura pré-românica dispersos pelo território asturiano e, sobretudo, para o mosteiro românico de Santo Toribio de Liébana e para a igrja moçárabe de Santa Maria de Lebeña, perto de Potes.

Lago Enol, no maciço central dos Picos da Europa
Lago Enol, no maciço central dos Picos da Europa

Junto da basílica de Covadonga existe uma gruta que é centro de peregrinação religiosa desde o séc. VIII. Há que notar que em dias de festa ou fins de semana pode ser um verdadeiro suplício percorrer o serpenteante caminho de acesso ao santuário desde Cangas de Onís, ou até mesmo a sua sequência para o coração do parque. O ideal será escolher épocas não festivas ou dias de semana – em todo o caso, a pressão turística diminui bastante no Outono.

Continuando a subir, a próxima etapa leva-nos até aos famosos lagos de Covadonga, vencendo um desnível de mais de mil metros. Pelo caminho passamos pelo Mirador de la Reina, um fantástico mirante virado a norte. No percurso, os alcantilados rochosos de impressionante recorte alternam com vales e encostas onde se pode observar florestas de faias, tílias e azevinho. A pouco mais de mil metros de altitude surge o Lago Enol e logo a seguir o Lago Ercina, de origem glaciar.

Imprescindível também, no domínio do património natural, é um périplo pelo desfiladeiro de Los Beyos, uma espectacular garganta fluvial que acompanha o curso do Rio Sella, ao longo de 14 km, a sul de Cangas de Onís. O trajecto pode ser enriquecido com visitas a algumas das aldeias do vale, Caño, Tornín, La Veja e Sames, quase sempre enquadradas por cenários dramáticos de cumes calcários. Em Los Grazos, perto de Tornín, há uma velha ponte romana.

Oviedo, andanças urbanas e arquitectura românica

A atmosfera descontraída de Oviedo pode transformar-se num oásis depois de umas quantas incursões às montanhas. A cidade possui uma área notável de espaços peatonais e jardins. Caminhar no centro é um dos grandes atractivos da que é, sem dúvida alguma, uma das cidades mais agradáveis de Espanha.

Capital comercial e cultural das Astúrias, Oviedo conserva um núcleo urbano de traçado medieval à volta da Praça Alfonso II. A imponente catedral, edificada em estilo gótico flamejante, constitui uma visita indeclinável. No seu interior conserva-se um admirável retábulo do século XVI, além dos túmulos de seis monarcas asturianos. Mas o tesouro mais precioso é a Câmara Santa, uma capela do séc. IX, um relicário da melhor arte sacra.

Vista a partir do teleférico de Fuente Dé, Picos da Europa
Vista a partir do teleférico de Fuente Dé, Picos da Europa

No capítulo do património religioso, os arredores de Oviedo ganham uma importância inexcedível. Aí se radica um conjunto de monumentos pré-românicos classificados pela UNESCO. A Igreja de Santa Maria de Naranco, a 3 km da capital, é a grande jóia deste acervo e testemunho de uma fase importante da história das Astúrias.

Foi construída no séc. IX para servir inicialmente de palácio do rei Ramiro, tendo-se convertido em templo posteriormente, no séc. XII. San Miguel de Lillo, San Salvador de Valdediós, San Julián de los Prados e Santa Cristina de Lena, igrejas edificadas nos reinados de Ramiro I e Alfonso II, são igualmente símbolos do imenso partrimónio pré-românico das Astúrias.

Gijón, eterna rival de Oviedo, vale também pela dimensão de cidade de província, não obstante o forte desenvolvimento industrial da zona. A beira mar e a grande e formosa praia de San Lorenzo são imagens referenciais da cidade, mas é preciso mergulhar nas ruelas da zona mais antiga, o histórico bairro de Cimadevilla, onde também há muitas sidrerias, para experimentar uma vez mais a atmosfera descontraída que é uma constante no reino asturiano.

Finalmente Avilés, a porta de entrada nas Astúrias para quem chega de avião. É uma pequena cidade cujos arredores estão marcados pelo desenvolvimento industrial. Mas a parte medieval do burgo, bem conservada, surpreende o viajante. Na Rua Galiana, assim como noutras ruelas vizinhas, sobrevivem velhas casas com varandas em madeira assentes em colunas de pedra. Também neste povoado, que conserva algumas tradições marinheiras, se poderá insistir com pertinência na nota da arquitectura religiosa e recomendar visitas às igrejas de San Nicolás, Santa Maria Magdalena de Corros e de San Francisco.

Convém agora, finalmente, para suspender o que poderia ser uma narrativa interminável sobre os feitiços da região, não apartar estas andanças urbanas do contexto mais vasto que modela a alma e a identidade asturianas e com o qual comunicam por uma teia de fios subtis. Damos, então, a palavra a Ortega y Gasset, que via as Astúrias como o espaço natural de “una raza de hombres capaces de intervenir en la vida contemporánea sin perder la solidariedad del espíritu com el campo nativo”.

A Rota da Sidra

Bebe-se sidra em praticamente toda as Astúrias. E nos últimos anos, cada vez mais, substituindo a cerveja e o vinho, bebidas que ameaçavam este emblemático e antiquíssimo néctar asturiano. Em Oviedo ou em Gijón, como em Nava e noutras cidades das Astúrias, multiplicam-se as sidrerías, bares onde se pode degustar a típica bebida e picar os petiscos tradicionais da região.

Os picos e o circo de Fuente Dé
Os picos e o circo de Fuente Dé

A capital asturiana é certamente o coração desta ressureição da sidra. No centro da cidade, e não só, multiplicam-se as sidrerías, locais por onde passa agora uma boa parte da animação nocturna. Um roteiro completo teria de incluir dezenas de endereços de locais muito populares, alguns deles nos arredores da cidade – os merenderos -, espaços ao ar livre e com vista sobre a verde paisagem asturiana.

A Calle Gascona, em pleno centro, reúne um assinalável número de sidrerías. A mais antiga da rua dá pelo nome de El Ferroviario, e para quem preferir o sabor da antiguidade, pode-se acrescentar à lista das veteranas os nomes El Asturias e El Pigueñado. Ainda na mesma artéria, a Villaviciosa e a sua vizinha Pumarada são outras das mais frequentadas. Também ao fim da tarde tem início a animação na Calle Manuel Pedregal, onde vamos encontrar uma das mais antigas sidrerías de Oviedo, El Cantábrico, casa centenária que passa por servir um dos melhores néctares da cidade. El Puntal, El Valle e El Luisma, na mesma rua, são paragens que registam grande assiduidade dos asturianos. Na última, servem-se alguns pratos sui generis como, por exemplo, avestruz com queijo roquefort.

Quanto aos arredores da cidade, há que tomar nota de um merendero famoso, o El Torneru, um velho lagar convertido em sidrería há três anos. A paisagem que se avista da esplanada é um complemento precioso para um fim de tarde relaxante. Perto fica o Lagar Sampedro, que serve uma sidra elaborada numa vetusta prensa de madeira com mais de meio século. No Monte Naranco, de onde se desfruta a melhor vista sobre a cidade de Oviedo, há também uma boa sidrería, a Vista Alegre, que tem um restaurante panorâmico.

Guia de viagens às Astúrias

Este é um guia prático para viagens à região das Astúrias – Oviedo, Gijón, Avilés, Picos da Europa -, com informações sobre a melhor época para visitar, como chegar, pontos turísticos, os melhores hotéis e sugestões de actividades na região.

Como chegar aos Picos da Europa

As Astúrias e os Picos da Europa ficam a cerca de 500 km do Porto e a 800 km de Lisboa. De automóvel, há várias alternativas. A primeira é viajar pela A25 até à fronteira e daí até Salamanca. A N630 liga esta cidade a Leon, onde se pode tomar a A66 para a capital asturiana. Uma segunda hipótese é tomar o IP4 em Vila Real até Zamora a daí seguir para Leon.

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Onde ficar

Aqui fica uma selecção de hotéis em Oviedo. Nesta região há também uma oferta razoável de turismo rural. Em Oviedo, em Cangas de Onís e em Potes, os postos de turismo disponibilizam informação. Nos sites indicados mais adiante também há abundante informação sobre alojamento rural. Outras sugestões hoteleiras, ainda em Oviedo, incluem o Hotel Reconquista, na Calle Gil de Jaz 16 ou o Hotel España, na Calle Jovellanos 2. Em Cangas de Onís, o Hotel Aultre Naray, Peruyes. Em Potes, o Hotel Casa Cayo, C/ Cántabra, 6. Em Fuente Dé, o Parador Fuente Dé.

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Informações

Consulte os sites oficiais do Turismo de Cantábria e do Governo do Principado das Astúrias, bem como um espaço dedicado ao Parque Nacional dos Picos da Europa para mais informações e dicas sobre o que fazer na região.

Seguro de viagem

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Ana Isabel Mineiro