Durante quatro dias percorri o litoral marroquino entre El Jadida e Essaouira. Eis a minha experiência nas povoações de Azamor, El Jadida, Oualidia e Safi.
Azamor
Cheguei a Azamor (ou Azemmour, em árabe) pronto para explorar os vestígios da forte presença portuguesa na região. A cidade fica situada na margem esquerda do Rio Morbeia, a escassos dez quilómetros da antiga Mazagão – hoje El Jadida, e ainda hoje a cidade velha é rodeada por muralhas portuguesas.
Entrei na fortaleza portuguesa de Azamor, habitada e aparentemente bem conservada, edificada sobre a antiga cidade de Azama, já a tarde ia alta. Fui caminhando por entre ruelas labirínticas, as lojas de rua a começar a abrir ao público (por ser Ramadão estão fechadas boa parte do dia, abrindo apenas duas horas antes do pôr-do-sol, explicou Mohamed Had, o meu guia local), até ser cativado pelo cheiro a pão quente de uma padaria onde, dado a exiguidade do espaço para o manejo da pá que colocava o pão no forno a lenha, não permaneci mais de uns segundos para não atrapalhar o trabalho.
Enquanto avançava forte dentro, Mohamed falou ao telefone com alguém que, suponho, terá dado ordem para abrir um portão alto e castanho bem dentro da fortaleza (na verdade, verifiquei posteriormente que estava de novo junto à muralha, mas as muitas voltas que tinha dado na Medina confundiram-me), porta de acesso a um pequeno privilégio aparentemente fechado ao público, ainda mais relevante dado sermos – eu e os colegas de viagem – portugueses.
Era uma antiga prisão, garantiu Mohamed, e “talvez parte administrativa” do forte português de Azamor. Era um espaço amplo, com um grande pátio onde repousava um desenho em forma de sol feito com um empedrado tipo calçada portuguesa, as muralhas da cidadela e um torreão defensivo com canhões apontando à atual cidade nova. Surpreendentemente, a prisão desativada estava muito limpa e bem cuidada.
Foi um momento curioso calcorrear território onde as paredes se habituaram a ouvir falar português longe de casa, mas não estou certo que Azamor entre algum dia no roteiro do turismo de massas. Certo é que permite, pelo menos, uma paragem agradável numa viagem pelo litoral marroquino.
No meu caso, foi de facto uma visita rápida, já que se aproximava a hora de fazer check-in no hotel Mazagan Beach Resort, um cinco estrelas que, apesar de ter pouco a ver comigo enquanto viajante, se revelou um hotel muitíssimo agradável, confortável e com excelente comida.
Já no hotel, a maior surpresa não foi, naturalmente, o expectável conforto de um resort de praia, mas sim cruzar-me nos espaços comuns com os convidados de um casamento muito classe-alta. Confesso a minha surpresa ao ver os exuberantes, elegantíssimos – e curtíssimos -vestidos das mulheres que se passeavam pelo hall de entrada, algo que não estava, de todo, à espera de encontrar em Marrocos (a explicação era, afinal, simples: o casamento era judeu).
Tive ainda tempo de pisar o areal e desfrutar do lusco-fusco de um final de tarde junto ao Atlântico, constatando que pouco fica a dever às praias atlânticas de outras latitudes, embora o vento não permitisse estadas demoradas nas espreguiçadeiras já arrumadas no bar de praia.
El Jadida, antiga Mazagão
No dia seguinte, manhã cedo, rumei a El Jadida – a antiga cidade portuguesa de Mazagão -, com o objetivo de visitar toda a zona amuralhada, classificada pela UNESCO como Património Mundial.
Por momentos, quase parecia que Portugal não sairá nunca de El Jadida, apesar de a zona amuralhada ter sido posteriormente “convertida em bairros judeus”, como me explicou o guia Mohamed Had. No interior da fortaleza de El Jadida, há ainda nomes de ruas tipicamente portugueses, uma igreja portuguesa, uma cisterna incrível em estilo gótico manuelino e uma fortaleza bem conservada deixada pela passagem dos portugueses até meados do século XVIII.
Entrei na cidade amuralhada de Mazagão através de uma porta junto à Igreja da Nossa Senhora da Assunção, dedicada à antiga padroeira da vila. Adiante, praticamente em frente ao posto da polícia, dei de caras com uma placa a indicar a Association Cité Portugaise, uma associação de moradores do interior da fortaleza que tenta contribuir para a preservação do monumento. Logo adiante, a almejada Cisterna Portuguesa, primeiro grande objetivo da deambulação pelas ruas da antiga Mazagão.
Como quase sempre nesta viagem por Marrocos, entrei na Cisterna Portuguesa sem fazer ideia do que iria encontrar (uma opção para ser surpreendido) e a verdade é que fiquei absolutamente fascinado. Ninguém diria que aquele espaço extraordinário fora originalmente um depósito de armas, e só posteriormente (por volta de 1541) convertido em cisterna para abastecer a medina de Mazagão de água fresca e potável.
A cisterna era escura como qualquer Mãe d’Água costuma ser, com um belíssimo conjunto de colunas e arcos refletidos na camada de água que cobria o chão e que proporcionava um ambiente de certo mistério e tranquilidade que convidavam a estar. Simplesmente estar.
Mas as surpresas de El Jadida – nome que literalmente significa “A Nova” – não ficaram por aqui.
Um pouco mais à frente, e já quase sem ligar a uma placa que de novo remetia para casa – “Pharmacie Cité Portugaise” -, olhei para um belo edifício onde se anunciava um hotel. Nada a assinalar, não fora o caso de o hotel estar instalado numa antiga igreja, onde tive naturalmente de entrar.
Continuei em direção às muralhas do lado oposto da antiga Mazagão, junto ao mar -, debaixo de um sol matinal mas já inclemente. Apreciei as vistas sobre o porto, debaixo da mira dos canhões que ainda resistem (e em bom estado), caminhei um pouco no topo das muralhas e, quase sem dar por isso, era já tempo de prosseguir viagem rumo a Oualidia, onde me esperava uma memorável refeição no hotel La Sultana Oualidia (gostava muito de ter ficado hospedado neste hotel, mas fui apenas almoçar; o hotel é absolutamente maravilhoso e especialmente recomendável para uma estadia a dois – a começar pela “casa na árvore”, mas não só!).
Oualidia
Antes do almoço, porém, fui à praia, onde se viam bancas de rua improvisadas vendendo ostras, a especialidade de Oualidia, e muitos pescadores e respetivos barcos de pesca, todos pintados do mesmo verde-escuro. Percorri o areal (já disse que o sol estava inclemente?) até chegar a um amontoado de gente, enquanto uma nova embarcação acabava de chegar à costa. Uma vintena de homens carregaram o barco em ombros até terra firme.
Ao meu lado, a azáfama intensificava-se em torno de um outro barco. Começou o leilão: 80…100… cabaz de peixe arrematado por 130 Dirhams! Próximo cabaz com duas dúzias de pequenos peixes. E outro. Chegou outro barco e nova vintena de homens . Mas eu tinha de ir embora.
Ao fundo, passei ainda por um homem que, indiferente a tudo, pintava o seu barco no verde-escuro tipo verde-escuro igual a todos os outros barcos. Lamento agora não ter perguntado a razão de tal sensaboria – alguma haverá com certeza -, mas confesso que até era um verde bonito. Terá sido o único ponto de monotonia (bela, ainda assim) – nesta viagem pela costa Atlântica de Marrocos.
Safi
Mais a sul, fica a cidade oleira de Safi, famosa não só pela sua cerâmica mas também pelas ondas que os amantes do surf dizem ser magníficas. Iria ser uma “breve visita” aparentemente sem grande interesse, mas as previsões saíram furadas.
Embrenhei-me na medina de Safi sem grandes expectativas, mas o pequeno souk estava vibrante e as ruelas fervilhavam de gente e atividade comercial, mas sem turistas – exatamente o tipo de ambientes onde me sinto bem.
Safi revelou-se um dos pontos altos desta viagem pela costa Atlântica de Marrocos. As cores, os cheiros, o movimento, a beleza das coisas simples. Adorei!
Este texto faz parte da série Especial Costa Atlântica de Marrocos, de El Jadida a Essaouira. Viajei a convite do Turismo de Marrocos.
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