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Caminhando sobre o lodo no cais palafítico da Carrasqueira

Por Filipe Morato Gomes
Visitar cais palafítico da Carrasqueira
Baixa-mar no cais palafítico da Carrasqueira, Alcácer do Sal

Andava há algum tempo para visitar o cais palafítico da Carrasqueira. Fica na Reserva Natural do Estuário do Sado e é daquelas construções que verdadeiramente me fascinam. Talvez seja a fotogenia do lugar; talvez o facto de ter uma atração por pontes de madeira sobre estacas; ou então o fascínio pelo engenho do homem para resolver com simplicidade um problema complexo.

O problema é que, no estuário do Sado, a baixa-mar é muito vincada e os pescadores sentiam enorme dificuldade em transpor o lodo do leito para chegar às águas do rio. Sempre foi assim. Até que alguns pescadores, em meados do século passado, tiveram a ideia de construir um passadiço de madeira para ludibriar a natureza e aceder mais facilmente aos seus barcos. A atividade piscatória ficou enormemente facilitada. E assim nasceu o cais palafítico da Carrasqueira.

Aos poucos, novas estacas de madeira foram sendo adicionadas, chegando-se ao pequeno labirinto de passadiços em que o porto palafita se transformou. Hoje em dia, é daqueles locais que me atraem como um íman. Tinha, naturalmente, de visitar o cais palafítico da Carrasqueira durante a minha roadtrip de autocaravana em Portugal.

E assim, uma vez transposto o estuário do Sado a bordo de um ferry que me levou de Setúbal ao extremo da Península de Troia no final de uma manhã soalheira, dirigi-me à aldeia da Carrasqueira.

A minha visita ao cais palafítico da Carrasqueira

Porto palafita da Carrasqueira
Labirinto de passadiços no cais palafítico da Carrasqueira

Obra-prima da arquitetura popular, o cais palafítico da Carrasqueira, único da Europa, é construído em estacas de madeira irregulares aparentemente frágeis das décadas de 1950 e 1960, que servem de embarcadouro aos barcos de pesca que ali acostam. Ora estão enterradas no lodo, ora na água, segundo as marés.

Integrada na reserva natural do Estuário do Sado, a aldeia ribeirinha [da Carrasqueira] conserva uma impressionante rede de estacaria que se estende centenas de metros pelos esteiros lamacentos do rio Sado. O cais continua a cumprir a missão para que foi construído; permitir o acesso dos pescadores aos barcos, mesmo durante a baixa-mar. Ao longo dos diversos cais erguem-se pequenas casas construídas em madeira, que servem de arrecadações.”

in Câmara Municipal de Alcácer do Sal

O cais palafítico da Carrasqueira é um um lugar sereno. Um emanharado de passadiços de madeira, totalmente artesanais, instalados sobre estacas; arrecadações onde se guardam as artes de pesca; e ainda os pequenos barcos pesqueiros – ora a bailar nas águas, ora presos no lodo e lamas do Rio Sado. A estrutura fora pensada para que os pescadores conseguissem transpor a barreira de lodo da baixa-mar e chegar aos seus barcos.

Foi precisamente na baixa-mar, e praticamente sem água, que encontrei o porto de pesca.

Pescador da Carrasqueira
Carmindo Artur, 70 anos, pescador na Carrasqueira ©Luísa Pinto

Entrei nos passadiços, em família, apreciando a beleza frágil e periclitante da estrutura. A hora não era a melhor para fazer boas fotografias de viagens – imagino que seja mágico ao nascer do sol -, mas aproveitámos o mais possível.

Deu para perceber que cada passadiço alberga pequenos ancoradouros individuais que permitem o acesso aos barcos. Alguns deles aparentavam estar completamente abandonados; mas julgo que a maioria dos barcos ainda sairá para a faina, levados por pescadores como o senhor Carmindo Artur.

Carmindo é um velho pescador da Carrasqueira, de olhar sereno, andar cansado e boina na cabeça, que chegou à sua arrecadação quando eu caminhava pelos passadiços acompanhado por mulher e filha. Cumprimentei-o, ele tinha vontade de falar. Ainda hoje, com 70 anos, vai todos os dias ao Sado no seu “barquinho”, com a “patroa”, três anos mais velha do que ele. Falou do tempo em que se apanhava muito linguado; da família; dos problemas da vida. Partilhou que nenhum dos dois filhos quis seguir a “vida dura de pescador”. No fundo, talvez precisasse apenas de conversar; como quem mata o tempo que tem de sobra em conversas de ocasião com curiosos como nós. E não estávamos sozinhos.

Visitar porto de estacas da Carrasqueira
A minha filha Inês fotografando o cais palafítico da Carrasqueira

Havia ainda um grupo de jovens portugueses sentados nos passadiços a conversar; e um casal de turistas espanhóis que tinha vindo conhecer o cais palafítico da Carrasqueira. De resto, silêncio, paz, serenidade.

Despedimo-nos do senhor Carmindo e regressámos à autocaravana. Para nós, era hora de prosseguir viagem. Alcácer do Sal não ficava longe…

Guia prático

Como chegar

É preferível ter carro próprio para visitar o cais palafítico da Carrasqueira (ou ir de táxi); mas há alguns autocarros da empresa Rodoviária do Alentejo que percorrem a linha entre Troia e Alcácer do Sal e permitem chegar à aldeia de Carrasqueira.

Tenha no entanto em atenção que há apenas três ou quatro partidas diárias, nos dias úteis; pelo que terá de se programar em conformidade. Veja o horário da linha 8319 (a última tabela disponível online data de 2014).

Onde ficar

O alojamento na Comporta está muito direcionado para o turismo de luxo em casas de férias, pelo que encontra opções muito mais baratas – e igualmente boas – mais perto de Alcácer do Sal (ou mesmo em Setúbal). Por uma questão de proximidade geográfica, neste post vou recomendar apenas alojamentos na região de Alcácer do Sal.

Assim, entre as opções de alojamento mais elogiadas, recomendo a Herdades da Ameira e a Pousada Castelo de Alcácer do Sal (não é barato). Alternativamente, há vários apartamentos excelentes, como o Marinês, o Valentina Place e o Alcácer House. Encontra todos os outros hotéis de Alcácer do Sal usando o link abaixo.

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A roadtrip de autocaravana em Portugal foi feita com o apoio da Indie Campers, que me ofereceu um desconto significativo no aluguer da autocaravana.

Filipe Morato Gomes

Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.

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