Aproveitei as férias da Páscoa para fazer uma viagem de autocaravana em Portugal, em família, incluindo os meus filhos. Dada a curta duração da roadtrip (10 dias), optámos por nos centrar no sul do país; nomeadamente na chamada Costa Azul, na Costa Vicentina e no litoral algarvio, com regresso pelo interior.
Foi uma experiência fantástica. Mesmo para mim, que não sou apaixonado pela condução. Porque a liberdade de estacionar em qualquer lugar e por ali ficar, como fizemos por exemplo junto à praia fluvial da Tapada Grande, em Mina de São Domingos, não tem preço.
Neste post, partilho o roteiro dessa roadtrip em Portugal continental. Note que está longe de ser a melhor viagem de autocaravana que pode fazer em Portugal; é apenas o roteiro da minha viagem. Aliás, fica já a dica: se tiver tempo, em vez de 10 dias viaje 20 ou 30. Porque Portugal é um país maravilhoso!
Para aspetos relacionados com a viagem de autocaravana propriamente dita, veja o texto sobre a minha experiência com a Indie Campers.
Roadtrip em Portugal: o meu roteiro de autocaravana
Dia 1: Peniche
Saímos tarde de Matosinhos, e fomos diretos a Peniche. Desde a volta ao mundo em família, no já longínquo ano de 2012, planeámos por várias vezes o reencontro da nossa filha Inês com a Margarida, uma miúda da mesma idade que encontráramos a viajar com a mãe, e com quem partilhámos um par de dias na ilha de Langkawi. Ora, apesar de viverem na zona de Peniche, nunca se proporcionou esse reencontro; fizemos, pois, questão de fazer de Peniche a nossa primeira paragem nesta viagem de autocaravana em Portugal.
Quando chegámos a Peniche, e mesmo antes de visitar a Margarida, fomos até à extremidade da península para avistar o Cabo Carvoeiro. Lá chegados, demos de caras com uma ventania implacável que encurtou a nossa paragem. Depois, foi tempo de fazer compras para a autocaravana num supermercado local, antes de seguirmos até à casa da Margarida, no Baleal.
Comemos e bebemos e conversámos, enquanto as miúdas – que não se reconheceram cinco anos volvidos – rapidamente se enturmaram. Até que chegou a hora de dormir e tivemos de recusar a oferta para ficar ali mesmo, no conforto de casa. No fim de contas, era a primeira noite da roadtrip em Portugal, e queríamos experimentar dormir na “casa sobre rodas”.
Fomos então para a ilha do Baleal, estacionámos numa praceta e por ali passámos a noite, embalados pelo som das ondas e atormentados pelo forte vento. Por causa desse vento, com direito a alerta da Proteção Civil, foi uma noite mal dormida.
Onde dormi: numa praça da ilha do Baleal, Peniche.
Se preferir ficar num hotel, recomendo a pequena guesthouse Ó da Casa.
Dia 2: Dino Parque e Sesimbra
Depois de acordar, e uma vez que estávamos a viajar com crianças, decidimos visitar o Dino Parque da Lourinhã. Trata-se de um parque temático, inteiramente dedicado à passagem dos dinossauros pelo planeta Terra. No total, são cerca de 120 modelos de dinossauros construídos em tamanho real, muitos dos quais retratando dinossauros descobertos em Portugal, espalhados ao longo de quatro circuitos pedestres. Valeu bem a pena.
Seguimos depois por estradas secundárias até Sesimbra, às portas do Parque Natural da Arrábida. O final de tarde foi passado com um passeio pela marginal de Sesimbra, sem descurar um belo copo de vinho numa tasca cheia de pescadores reformados.
Onde dormi: Parque de Campismo Forte do Cavalo, Sesimbra.
Se preferir ficar num hotel, recomendo a pequena guesthouse Casa da Praça.
Dia 3: Arrábida e Troia
Foi um dia em cheio. Começámos por percorrer algumas estradas de terra batida nos arrabaldes de Sesimbra, até entrar no belíssimo Parque Natural da Arrábida. E aí as paisagens são verdadeiramente arrebatadoras.
Uma vez no litoral do parque, fomos conhecer algumas das praias da região. E mesmo sem se “fazer praia” – não era esse o objetivo – valem a pena. Passámos no Portinho da Arrábida, onde encetámos uma pequena caminhada, e depois voltámos à autocaravana. Ao longo do percurso as paisagens davam muitas vezes vontade de parar para contemplar ou fotografar.
Desde logo, a incrível Praia dos Galapinhos. Em tempos escrevi que, muito provavelmente, a Carriagem era a praia mais bonita de Portugal; mas tenho de admitir que a Praia dos Galapinhos, apesar de muito distinta, não lhe fica nada atrás.
Adiante, tempo para fazer uma pausa na Praia da Figueirinha, aproveitando um café-restaurante para descansar e comer algo (caro e nada de especial). Fomos seguindo costa fora, com os olhos postos em Setúbal. Ainda não era desta que iria desvendar os segredos da cidade de Setúbal que, ao que consta, está cada vez mais vibrante e dinâmica; mas o objetivo era apanhar o ferry para a Península de Troia e conhecer outro lugar especial: o cais palafítico da Carrasqueira.
Depois de explorarmos os passadiços de madeira e de conversarmos com um simpático pescador, era hora de prosseguir a viagem de autocaravana. Como a Comporta não nos motivou a ficar, seguimos um pouco mais para sul e acabámos a pernoitar num parque de campismo junto às arribas da Praia da Galé – Fontaínhas. Tinha sido mais um dia em cheio!
Onde dormi: Parque de Campismo Praia da Galé.
Se preferir ficar num hotel, recomendo o enoturismo A Serenada (fica mais para o interior, mas o desvio compensa).
Dia 4: Costa Vicentina
Dia em que, manda a verdade dizer, não acordámos cedo. Sabe bem, de vez em quando, desfrutar do aconchego da autocaravana – e isso não tem mal nenhum.
Quando saímos da Praia da Galé – Fontaínhas, fomos diretos até à Lagoa de Santo André. Não me recordo de ali ter estado antes, pelo que foi a oportunidade de conhecer um dos dois “sistemas lagunares costeiros de grande importância biológica” que, em conjunto, formam a Reserva Natural das Lagoas de Santo André e da Sancha.
Depois de almoçarmos no restaurante Ti Lena, em Deixa-o-Resto, por especialíssima recomendação de uma amiga da região, aproveitei para voltar à Costa Vicentina. É uma das minhas zonas preferidas de Portugal. E assim, recordei as praias de Porto Covo e da Ilha do Pessegueiro, parámos em Vila Nova de Milfontes para abastecer o frigorífico e acabámos o dia a (finalmente) conhecer o eco-resort alentejano Zmar.
Onde dormi: Zmar, Zambujeira do Mar. Se preferir ficar num hotel, recomendo a Herdade do Touril.
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Dia 5: Zambujeira do Mar
A manhã foi quase inteiramente passada no Zmar, uma vez que queríamos aproveitar a oportunidade para desfrutar da piscina de ondas do complexo. Depois disso, foi o momento de regressar à adolescência e desfrutar da Praia dos Alteirinhos sem mais ninguém. Saímos de lá já passava das 16:00, pelo que entrámos no Algarve e seguimos viagem quase sem paragens até Sagres; nem parei na minha querida Praia da Carriagem!
Onde dormi: Parque de Campismo da Orbitur, Sagres.
Se preferir ficar num hotel, recomendo o alojamento local Cercas Velhas; ou, num registo completamente distinto, o Martinhal Sagres.
Dia 6: Praias do Algarve
Dia dedicado a explorar o litoral algarvio, e a conhecer algumas das praias mais bonitas da região. Começámos pelas praias localizadas perto de Sagres, nomeadamente a Praia da Ingrina (que não me fascinou) e a Praia do Zavial, uma pequena baía muito apreciada por surfistas e hippies de todo o mundo. Confesso que nunca tinha ouvido falar no Zavial, e foi uma completa surpresa encontrá-la cheia de caravanas estacionadas e centenas de surfistas. Sem exagero.
Daí seguimos em direção à cidade de Lagos que, por opção consciente, não explorámos. Hei de voltar a dedicar mais tempo ao Algarve e Lagos estará seguramente no topo da lista. Ao invés, dedicámos tempo a conhecer a espetacular Ponta da Piedade; a pôr o pé na areia da belíssima Praia do Camilo; e, por fim, a desiludir-me com a muito famosa Praia Dona Ana.
Nessa altura, decidimos que era tempo de prosseguir em direção a Tavira, não sem antes parar na Praia da Marinha, onde acabámos por fazer uma caminhada muito interessante por entre falésias e algares. Fiquei com a impressão de ser um pedaço de litoral fascinante.
Onde dormi: Parque de Campismo da Ria Formosa (tem boas condições mas está sempre demasiado cheio, pelo que talvez seja melhor evitar).
Se preferir ficar num hotel, recomendo a Calçada Guesthouse; há muitas outras opções de qualidade em Tavira. Veja também o artigo sobre onde ficar no Algarve para outras ideias.
Dia 7: Tavira e Cacela Velha
Dia dedicado a conhecer a região de Tavira. Na cidade propriamente dita, o plano era simplesmente caminhar pelo centro histórico de Tavira, sem roteiro planeado; e posso garantir que fiquei fã. Nos arredores, tinham-me falado de Santa Luzia e Cacela Velha – locais onde nunca tinha estado -, pelo que decidi aproveitar para visitar. Não tenho qualquer dúvida de que a região de Tavira é uma das zonas do litoral do Algarve de que mais gosto. Voltarei, seguramente!
De sorriso no rosto, seguimos ao final da tarde para Mina de São Domingos, outra pérola desta roadtrip em Portugal, que há muito queria conhecer.
Onde dormi: Praia fluvial da Tapada Grande, Mina de São Domingos.
Se preferir ficar num hotel, recomendo a Casa da Torre (dentro da aldeia) ou o agro-turismo Monte da Galega (um pouco mais afastado).
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Dia 8: Mértola e Mina de São Domingos
Mais um dia especial na viagem de autocaravana em território português. Passámos a manhã a visitar a antiga Mina de São Domingos, que eu não conhecia, e fiquei verdadeiramente impressionado.
Das antigas oficinas ferroviárias à central elétrica, do cais do minério à corta da mina, passando pela incrível Achada do Gamo e sua fábrica de enxofre, foi um deleite explorar a antiga mina, bela e decadente ao mesmo tempo. Sempre acompanhado por várias cegonhas que, nos locais mais altos como as torres da central elétrica, partilhavam o ninho com um filhote pequeno. Para mim, Mina de São Domingos foi uma das grandes descobertas dos últimos tempos.
Depois fomos ainda conhecer Mértola, antes de regressar à aldeia de Mina de São Domingos para desfrutar de um final de tarde junto às águas da barragem.
Onde dormi: Praia fluvial da Tapada Grande, Mina de São Domingos.
Se preferir ficar num hotel, recomendo a Casa da Torre (dentro da aldeia) ou o agro-turismo Monte da Galega (um pouco mais afastado).
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Dia 9: Évora
Depois de deixar Mina de São Domingos, seguimos por estradas nacionais até à cidade de Évora, com dois objetivos bem definidos. Não falta o que visitar em Évora, bem sei, mas pretendia principalmente conhecer a Capela dos Ossos – que, infelizmente, estava fechada por ser domingo de Páscoa. E, além disso, queria também visitar o Cromeleque dos Almendres, onde nunca tinha estado.
O Cromeleque dos Almendres é o maior conjunto megalítico da Península Ibérica. Estima-se que tenha sido erigido algures entre o sexto e quinto milénio a.C., mas só foi descoberto há pouco mais de 50 anos. São quase 100 menires dispostos num “círculo de pedras pré-histórico” (denominado cromeleque); e o local é tão relevante que há quem lhe chame o Stonehenge português. Valeu bem a pena!
A roadtrip em Portugal estava praticamente no fim e, ao decidir onde pernoitar nessa noite, aventámos primeiro a hipótese de ficar na zona de Ferreira do Zêzere, junto à barragem de Castelo do Bode; mas, depois de ponderar vantagens e desvantagens, acabámos por fazer o esforço de seguir viagem diretamente para o Porto, dando por finda a viagem de autocaravana em Portugal.
Onde dormi: algures em Castelo do Bode (acabei por decidir seguir viagem e dormir em casa).
Se preferir ficar num hotel, recomendo por exemplo a Estalagem Lago Azul (junto à barragem).
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Dia 10: Regresso ao Porto
Este seria o dia destinado à viagem de regresso ao Porto e entrega da autocaravana. O plano passava por explorar a zona de Castelo do Bode; mas, no entanto, decidíramos na noite anterior seguir diretamente para o Porto.
E assim, já de regresso ao Porto, fui de manhã tratar do check-out da autocaravana.
Leia também os posts Roteiro: Portugal em 7 dias e #VanLife – Como transformar uma carrinha na sua casa.
Mapa do meu roteiro de autocaravana em Portugal
Dicas para viajar de autocaravana em Portugal
Onde alugar a autocaravana
Já tinha viajado de autocaravana na Nova Zelândia e na Austrália, mas esta foi a primeira vez que decidi viajar de autocaravana em Portugal. Por isso mesmo, só posso falar da minha experiência a viajar com a Indie Campers (todos os detalhes estão nesse post), empresa a quem aluguei a autocaravana.
Quanto ao preço, se o critério for exclusivamente financeiro, muito provavelmente apenas compensa alugar uma autocaravana para uma família com filhos (não para um casal); quando comparado com viajar em veículo próprio, ficando a dormir em pequenos hotéis e guesthouses. Especialmente no verão, quando os preços de aluguer disparam. Como é lógico, no entanto, viajar numa autocaravana é muito mais do que ter onde dormir.
Por último, se para a sua roadtrip em Portugal preferir viajar num carro ligeiro e precisar de alugar um, recomendo que pesquise na DiscoverCars; é o site que uso para alugar carros nas minhas viagens.
Onde passar a noite: parques de campismo ou na rua?
A grande mais-valia de viajar numa autocaravana é a autonomia que permite em termos de dormida. Em Portugal, pode parar na maioria dos lugares (exceto se assinalada a proibição), desde que respeite a comunidade e o ambiente envolventes (em termos de barulho, lixo e, genericamente, de comportamento). Respeito é a palavra chave!
Dito isto, há alturas em que pode querer ficar num parque de campismo. Julgo, aliás, que a cada três ou quatro noites será útil dormir num local onde possa carregar as baterias e tomar um banho mais agradável. O Camper Contact é um dos locais onde pode procurar informação a este respeito.
Pernoitar na autocaravana na Costa Vicentina
Não é permitido pernoitar no interior de áreas protegidas, incluindo no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina. Seja em autocaravana, campismo ou outra forma.
Além disso, apesar de noutros locais as autoridades serem mais permissivas, na Costa Vicentina as regras são mesmo para cumprir. Tem, aliás, havido um maior controlo à pernoita dentro do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina.
Isto acontece devido ao excessivo número de autocaravanas e de carrinhas (muitas delas estrangeiras) que por lá circulam, e a comportamentos menos corretos de alguns desses caravanistas.
Em suma, não pode pernoitar na autocaravana na Costa Vicentina.
Estações de apoio: onde carregar as baterias e despejar os resíduos sanitários
Para além dos referidos parques de campismo, pode também carregar baterias, encher o depósito de água e despejar os resíduos sanitários em alguns locais específicos.
Há organismos públicos que construíram locais de apoio para caravanistas (como em Mina de São Domingos ou junto à Fortaleza de Sagres, por exemplo); e depois há empresas como o Intermarché ou o Lidl, que dispõem de estações gratuitas construídas para o efeito em muitas das suas lojas (julgo que a lógica subjacente será a de que os caravanistas aproveitam para abastecer de combustível e víveres no supermercado); e ainda algumas estações de serviço nas autoestradas, que permitem despejar os resíduos sanitários gratuitamente.
Seguro de viagem
A IATI Seguros tem um excelente seguro de viagem, que cobre COVID-19, não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos seguros de viagem do mercado. Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens.