Recentemente, cumpri o desejo antigo de visitar a Casa do Penedo, por muitos conhecida como Casa dos Flintstones. O nome já faz adivinhar do que se trata: uma invulgar casa de pedra, ainda hoje habitada por uma família local (ainda que não de forma permanente), construída entre gigantescos penedos de granito. Fica na União de Freguesias de Várzea Cova e Moreira do Rei, nas chamadas serras de Fafe.
Ora, apesar do mediatismo daquela que é considerada “uma das casas mais estranhas da Europa”, fiquei agradavelmente surpreendido com a visita. Poderia ter sido uma desilusão, mas nada disso aconteceu. Foi excelente, e para isso muito contribuiu o facto de ter sido guiada por um membro da família Rodrigues, proprietária da casa. Mas já lá vamos.
A Casa do Penedo
Vítor conta que, na primavera de 1972, foi com o pai apanhar grilos para aquele local – que visitavam várias vezes – e, de repente, “caiu uma chuvada”. Foi nessa altura que o pai teve a ideia de comprar os terrenos e fazer uma casa para passar os fins de semana.
Inaugurada em outubro de 1974, a Casa do Penedo deve o seu nome ao facto de “ter sido construída entre quatro rochas de grandes dimensões que integram a própria estrutura da casa”. A ideia era servir como abrigo de família e, simultaneamente, “estar perfeitamente integrada na paisagem envolvente”. As palavras são de Vítor Rodrigues, filho do casal que colocou mãos à obra para construir a casa, mesmo não tendo conhecimentos de arquitetura ou engenharia.
Quase cinco décadas depois, não há dúvida de que continua a ser uma das construções habitacionais mais invulgares que se pode visitar em todo o mundo. Eu, pelo menos, não conheço muitas tão originais e tão bem integradas na Natureza envolvente. Mas nem sempre foi possível visitar a Casa do Penedo.
Depois de vários anos cercada para a proteger do turismo, desde que várias publicações nacionais e internacionais lhe deram destaque – incluindo jornais de grande tiragem, sites especializados em arquitetura e até, mais recentemente, uma marca de telemóveis -, a Casa do Penedo é hoje um espaço totalmente visitável para os turistas. Por fora e por dentro!
Outrora, havia muitos excessos dos curiosos, que chegavam a saltar o gradeamento e a invadir a propriedade para poderem ver de perto a Casa do Penedo. Em 2009, o jornal Público chegou a escrever o seguinte: “O dono, Vítor Rodrigues, nem consegue ali saborear sossego. Acontece-lhe sentar-se na sala e, de repente, aparecer alguém a espreitar pela janela. Há até quem abra a porta e entre. Aos domingos, parece uma romaria.”
Ora, porventura numa lógica de “se não podes vencê-los, junta-te a eles!”, a família Rodrigues decidiu abrir a Casa do Penedo ao turismo, permitindo que todos a possam visitar… mas com regras. E foi nesse contexto que a fui conhecer, na companhia dos meus filhos.
Fui então recebido por Vítor Rodrigues, à hora exata, junto ao portão da propriedade. O som das eólicas, localizadas a dois passos da casa, era permanente. Um bruá constante inundava os céus das serras de Fafe. Permanentemente. Não sei como é viver na Casa do Penedo; mas, para o visitante desacostumado àquele barulho, é um som que retira alguma da tranquilidade que o lugar merecia.
Seguimos então para junto da casa, onde Vítor foi explicando as particularidades da construção (“começou pelo telhado”); curiosidades sobre as diferentes fachadas da habitação; e as reações de alguns turistas (não vou contar para não estragar a surpresa!). Até que chegou a hora por mim mais desejada: conhecer o interior da Casa do Penedo.
Lá dentro, a expectativa confirmou-se, e entrar na Casa do Penedo foi sem dúvida o momento alto da visita. Creio que todos sentirão o mesmo.
Trata-se, na verdade, de uma casa com uma área muito pequena, mas onde o espaço é aproveitado ao pormenor (“cá dentro parece muito maior”, disse o meu filho de 8 anos). Uma vez no interior, foi então possível perceber a forma como os enormes penedos de granito foram integrados na casa (ou vice-versa!). A decoração, essa, é composta por algumas velharias (o pai de Vítor adorava coisas velhas!); e o mobiliário de madeira encaixa na perfeição no ambiente rústico e natural, numa comunhão perfeita com o ambiente serrano envolvente.
Por incrível que possa parecer vista do exterior, há um segundo piso onde se localizam três pequenos quartos (parte de uma das camas está literalmente em cima do penedo!) e uma casa de banho. Tudo somado, é uma pequena casa de férias familiar absolutamente deliciosa. Apesar de não haver eletricidade, nada parece faltar na Casa do Penedo.
De regresso ao exterior, era então tempo de conhecer a zona da piscina, com vistas para as serras envolventes. “De um lado, a serra do Marão, a Senhora da Graça. Do outro, os montes do Sameiro (Braga) e da Penha (Guimarães)”. E a piscina está bem integrada na paisagem de pedra. Na verdade, não fosse o azul da parede interior e mal se daria por ela.
A visita estava a terminar, e confesso que não esperava gostar tanto de um local que, no fundo, é apenas uma casa. Não é um museu, porque as coisas não estão ali em exibição – são utilizadas sempre que Vítor e a família se refugiam na casa. E isso dá-lhe um toque especial. Gostei muito! Fica a sugestão para quando visitar a região de Fafe.
Nota: dado que os proprietários frequentam a casa durante quase todo o ano – com exceção do verão, por causa do fluxo de turistas e curiosos -, não são permitidas fotografias no interior da Casa do Penedo. Provavelmente, seria para eles uma invasão de privacidade exagerada, o que é naturalmente compreensível (imagine o que sentiria se tivesse dezenas de estranhos a fotografar o interior da sua casa, todos os dias). Peço a todos os visitantes que respeitem escrupulosamente este pedido.
Guia para visitar a Casa do Penedo
Como chegar
A Casa do Penedo fica na freguesia de Moreira do Rei, perto do famoso salto de Fafe (referência para os amantes do Rally de Portugal) – veja a localização exata no Google Maps.
Para lá chegar, e como as indicações são escassas, o melhor é seguir o GPS, tendo em atenção que a última parte do percurso é feita numa estrada de terra batida. Até porque há um cruzamento que pode levar ao engano (ver aqui).
Assim, na estrada N311, quando tiver de virar em direção ao parque eólico, suba pela estrada de terra batida (tem uma placa a indicar Lameirinha), em vez de descer pela estrada alcatroada em direção a Várzea Cova. Saindo da N311, sensivelmente 1.5 km adiante chegará à Casa do Penedo.
Horários e preços
A Casa do Penedo abre diariamente entre as 10:00 e as 17:00, sendo aconselhável fazer reserva antecipada. A entrada custa 5€ e contempla a visita guiada ao exterior e ao interior da casa, incluindo explicações sobre a história da casa e da família. Dura sensivelmente uma hora, sendo que as reservas devem ser efetuadas no site oficial.
Onde ficar em Fafe
Caso queira aproveitar para conhecer melhor a região, sugiro que pernoite em Fafe. Se preferir, Cabeceiras de Basto ou Mondim de Basto podem ser outras boas opções para montar base na região.
No que toca à cidade de Fafe, para uma estadia económica o Flag Hotel é uma opção aceitável, embora julgue que ficará mais bem hospedado no Hotel Fafense. Caso prefira uma estadia de maior qualidade (mas fora da cidade), não deixe de conhecer as villas Casas do Ermo. Para outras opções de alojamento em Fafe utilize o link abaixo.
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