Casas da Figueira: no Pico, com São Jorge à vista

No sopé da montanha mais alta de Portugal, na Ilha do Pico, três casas bem representativas da arquitetura tradicional açoriana oferecem a possibilidade de uns dias tranquilos, em ambiente rural e com o Atlântico na linha do horizonte. Visita às unidades de turismo rural Casas da Figueira.

Casas da Figueira

As Casas da Figueira estão localizadas muito próximo de São Roque do Pico, na freguesia da Prainha. As três casinhas, uma delas com as funções de cozinha exterior, corresponderiam a um pequeno complexo rural com raízes no século XIX e estavam há meia dúzia de anos bastante degradadas, invadidas por uma teia de silvas, as pedras de lava tristonhas e afogadas nas neblinas melancólicas do fim do outono da Ilha do Pico.

A recuperação do casario fez-se de modo a não introduzir qualquer descaracterização, evitando elementos dissonantes. Até as telhas antigas foram religiosamente aproveitadas – e as que não puderam ressuscitar viram-se substituídas por outras, de idade e vetustez equivalentes, procuradas e achadas nas redondezas. A madeira emblemática das construções das ilhas, a criptoméria, e a pedra vulcânica foram os materiais de eleição, os únicos que poderiam garantir a atmosfera mais próxima da que caracteriza um verdadeiro habitat ilhéu.

A capacidade das Casas da Figueira é de dez pessoas, seis na casa principal e quatro na casa que foi a da atafona. Cada um dos fogos dispõe de salas de jantar e de estar, bem como de cozinha. E note-se: o ambiente interior está longe de ser o de um rústico fingido ou forçado. A maioria dos móveis foi adquirida em casas de antiguidades e, na verdade, pelo menos na casa principal, não é difícil convencermo-nos da ideia de que o espaço é habitado desde há muito.

A par da atmosfera interior, as paisagens emblemáticas do arquipélago esperam o visitante lá fora, ali mesmo à mão de semear. Se as janelas são, nos Açores, bons lugares para se estar, as das Casas da Figueira não são exceção. Se o tempo estiver de caprichos, são como um miradouro privilegiado dessas súbitas e dramáticas mudanças de luz que tanto encantaram e inspiraram Raul Brandão. Neste caso, São Jorge e o Atlântico são uma constante no horizonte. Mas há, claro, muitas razões para meter os pés ao caminho.

Ainda que o turismo balnear não seja a principal atração do Pico, há algumas praias a anotar na agenda. Muito perto, na Prainha, há uma pequena praia de areia. Pelo litoral da ilha há frequentes surpresas, recantos quase solitários águas que se fazem cálidas e mansas nos tempos estivais, aqui e ali piscinas naturais que o andarilho vai descobrindo ao sabor do acaso.

E o resto que há para ver – e viver – é do mais nobre que o país tem ao nível do turismo de natureza: caminhadas por trilhos e trilhos (atenção ao velho “Caminho das voltas”: três horas por uma antiga ligação pedestre entre freguesias, com pontes de pedra e cascatas à vista) que cruzam o interior da ilha, a observação de cetáceos, a pesca desportiva, as deambulações por sinuosas estradinhas de montanha, com descidas dignas, uma vez e outra, de uma montanha russa, a áspera subida ao vulcão, que é o mesmo que dizer ao ponto mais alto do território português, a descoberta das gráceis lagoas interiores, de que a Lagoa do Capitão, a mais conhecida e fotografada, é só um exemplo. Para todas estas atividades, saiba-se que os anfitriões das Casas da Figueira dão, de boa vontade, uma ajuda com os contactos necessários. E para breve contam abrir um centro de mergulho, com cursos, batismos e saídas para o mar.