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A desova das tartarugas em Rekawa

Por Filipe Morato Gomes | Viagens Ásia Sri Lanka Tangalle
Atualizado em 14.11.2021 | Tempo de leitura: 6 minutos

Tartaruga a desovar em Rekawa, no Sri Lanka
Uma tartaruga a desovar na praia de Rekawa, no Sri Lanka

Assistir à desova de tartarugas no Sri Lanka não estava, de todo, nos meus planos de viagem. Na verdade, nem me ocorreu essa possibilidade durante o tempo que dediquei a conhecer as praias do Sul do Sri Lanka. Mas, ao chegar a Tangalle de autocarro, oriundo de Galle, ignorei os condutores de tuk tuk que esperavam à porta, afastei-me em direção à rua principal e parei tranquilamente, sem pressas de seguir viagem. À minha frente estava Madu.

Madu é um jovem de Tangalle que conduz, ele próprio, um tuk tuk. Com o preço acertado, entrei no tuk tuk rumo a Goyambokka, onde iria pernoitar. Foi durante a curta viagem que ele me falou da possibilidade de ver tartarugas a desovar em Rekawa. “Estamos na época das tartarugas”, confirmou!

Depois de alguma ponderação – até por saber de algumas práticas menos sustentáveis -, decidi ir ver com os meus olhos.

A visita noturna à praia de Rekawa para ver tartarugas a desovar

Ashun é o simpaticíssimo dono do Golden Beach Resort, onde me alojei. Pedi-lhe opinião sobre a forma de organizar a visita ao Turtle Watch Rekawa e acabei por aceitar a sua sugestão de me levar lá. Por volta das 20:30 saímos de Goyambokka rumo à praia de Rekawa.

Lá chegado, fui recebido por um dos guardas da praia. Paguei a entrada e fui imediatamente para o areal, sem acompanhamento profissional. “As tartarugas já começaram a chegar, está um grupo muito perto”, explicou Ashun, que entretanto decidira acompanhar-me na observação da desova das tartarugas.

E, de facto, assim era. Assim que cheguei ao areal, avistei um grupo com cerca de 50 turistas, numa espécie de meio círculo, junto ao mar. Nesse instante, o grupo começou a desmobilizar. A tartaruga tinha feito o buraco mas, por algum motivo – seria a presença de tanta gente? -, desistiu de desovar e retornou ao oceano.

Juntei-me ao grupo de turistas. De telefone no ouvido, o vigilante que liderava o grupo deu ordem para avançarmos pelo areal; tinha a indicação de que outra tartaruga tinha chegado à praia.

Caminhámos uns bons 500 metros, até que nos mandou parar, sentar e esperar. “A tartaruga começou agora a fazer o primeiro buraco”, disse. Era noite de lua cheia, pelo que se conseguia ver a areia levantada pelas barbatanas dianteiras do animal, enquanto escavava o buraco. Ao fim de algum tempo, terá começado a fazer o segundo buraco, mais pequeno, para os ovos. Mas algo não terá corrido bem e o buraco colapsou.

A tartaruga ainda tentou fazer um segundo buraco, ao lado do primeiro, mas também ela desistiu e começou a sua caminhada em direção ao mar. Só nessa altura nos aproximámos da tartaruga, acompanhando-a até ao mar.

Uma vez mais, fomos informados da presença de outra tartaruga na praia de Rekawa e dirigimo-nos até perto dela, mantendo uma distância de segurança.

Esperámos bastante tempo, enquanto a tartaruga preparava o buraco para desovar. Era tarde, pelo que a maioria do grupo – incluindo algumas crianças e turistas russos barulhentos – decidiram desistir (mas regressaram sozinhos). Foi o melhor que poderia ter acontecido.

Às tantas, o vigilante – que ia monitorizando o processo perto da tartaruga – fez sinal com a sua lanterna vermelha para o grupo se aproximar. Por essa altura éramos apenas 17 pessoas, pelo que pudemos observar demoradamente todo o processo.

Tal como na desova das tartarugas em Tortuguero, na Costa Rica, ficámos a um metro do animal, junto à sua cauda. E voltei a sentir o mesmo: “A vida. A dedicação de uma progenitora. O sacrifício pela continuidade da espécie. Foi um privilégio inolvidável presenciar o milagre da vida diante dos meus olhos, um animal que volta exatamente ao local onde nasceu para desovar e dar continuidade à sua espécie.”, escrevi na altura.

Assistir à desova das tartarugas em Rekawa foi quase igual. Embora organizado de forma muito mais amadora. E com mais riscos para as tartarugas – que precisam de tranquilidade para desovar.

O que achei da visita com a Turtle Watch Rekawa

Já tinha visto tartarugas a desovar na Costa Rica e sabia por isso que era uma experiência marcante. Mas, como tinha termo de comparação, achei a visita em Rekawa mal organizada e, por vezes, prejudicial para as tartarugas.

Não se admite que os turistas possam andar sozinhos no areal, havendo a possibilidade de se cruzarem com outras tartarugas que possam estar a chegar à praia.

Não se admite que os grupos sejam tão grandes. Ouvi falar de dias em que chega a haver 100 pessoas num grupo. Comparado com o que presenciei na Costa Rica, em que os turistas eram divididos em pequenos grupos de 10 pessoas e iam-se revezando na aproximação à tartarugas no momento da desova, o que vivi em Rekawa pareceu-me um absurdo.

Não se admite que o desenvolvimento turístico de Rekawa se sobreponha às preocupações ecológicas. Estão a surgir cada vez mais hotéis nas proximidades da praia, a música é alta (ouvia-se na praia) e temo que em breve haja demasiada luz perto da praia – o que desorienta as tartarugas e prejudica a desova.

Ou seja, acho que há muito a melhorar.

Pela positiva, de registar o facto de, ao contrário de outros projetos ditos de conservação de tartarugas que retiram os ovos da praia para os incubarem (alegadamente para os protegerem dos predadores, humanos incluídos), o Turtle Watch Rekawa opta por vigiar os ovos sem os tirar da praia.

Parece-me uma opção muito mais sensata; até porque, sabendo-se que as tartarugas desovam sempre na praia onde nasceram, se lhe forem tiradas essas referências (ao nascerem numa incubadora), não há a certeza de que fiquem com essa marca geográfica para, uma vez adultas, voltarem para desovar.

Em suma, deve ou não assistir à desova das tartarugas em Rekawa? Não sei responder. Não afirmo convictamente para não o fazer, mas também não consigo recomendar sem sentir o coração apertado.

Guia prático

Como organizar a visita

Eu estava alojado no Golden Beach Resort e, por isso, Ashun – o dono – tratou do transporte. Seja como for, basta arranjar um tuk tuk até Rekawa (custa 1.200 rupias, ida e volta, incluindo a espera) e dirigir-se ao Turtle Watch Rekawa.

Regras para não perturbar as tartarugas

Antes de tudo, siga escrupulosamente as recomendações do vigilante. E facilite o seu trabalho. Desde logo, tenha a noção que não está a visitar um jardim zoológico. Ao invés, está a presenciar um acontecimento selvagem e muito sensível para a conservação de uma espécie – e o pior que pode acontecer é a sua presença impedir que a desova ocorra.

Entre as regras básicas comportamentais:

  • não fume na praia;
  • não leve qualquer tipo de iluminação;
  • não fotografe com flash;
  • não toque nas tartarugas;
  • coloque-se sempre junto à metade traseira da tartaruga, nunca à sua frente;
  • e seja comedido na hora de falar ou fazer barulho.

Se não conseguir seguir estas regras, não vá. As tartarugas agradecem.

Na minha opinião, não deve levar crianças pequenas para ver as tartarugas a desovar, porque é muito difícil mantê-las caladas e sossegadas durante tanto tempo.

Onde dormir

Se gostar de luxo e puder pagar, o Buckingham Place é a escolha perfeita; até porque fica em plena praia de Rekawa. Para opções menos dispendiosas mas igualmente agradáveis, veja os Mangrove Beach Chalets, o Serein Beach Hotel ou o Tropical Garden.

Eu, como referi, fiquei alojado no Golden Beach Resort, em Goyambokka, que recomendo vivamente. Se preferir ficar em Goyambokka, considere também o Palm Paradise Cabanas (recomendado por uma amiga que lá ficou hospedada); a Deshan Homestay; o Sanderling Silent Beach Cabanas; o Tamarind Blue; ou ainda o Eden Reverie Cabana & Spa.

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Comentários

  1. Inês

    “Não se admite que o desenvolvimento turístico de Rekawa se sobreponha às preocupações ecológicas. Estão a surgir cada vez mais hotéis nas proximidades da praia, a música é alta (ouvia-se na praia) e temo que em breve haja demasiada luz perto da praia – o que desorienta as tartarugas e prejudica a desova.”
    Como bióloga que já trabalhou em projetos de conservação de tartarugas marinhas na Grécia, onde nem sequer permitimos aos turistas assistirem à desova para não interferir com o processo, agradeço a honestidade do testemunho.
    Não critico que se viva essa experiência, mas como o Filipe sublinha, é muito importante pesquisar e perceber se essas atividades estão a ser feitas sem prejudicar os animais, o que aqui me parece ser o caso.

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Sobre o autor

Filipe Morato Gomes, blogger de viagens

Olá! O meu nome é Filipe Morato Gomes, vivo em Matosinhos, Portugal, sou blogger de viagens, co-autor do projeto Hotelandia e Presidente da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses.

Tenho 51 anos e muita experiência de viagem acumulada. Já dei duas voltas ao mundo, fiz dezenas de viagens independentes e fui líder de viagens de aventura.

Mais recentemente, abracei um novo desafio chamado Rostos da Aldeia, onde se contam histórias positivas sobre as aldeias de Portugal e quem nelas habita.

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