Desova das tartarugas em Tortuguero, o milagre da vida na Costa Rica

Tartaruga marinha após desovar em Tortuguero
Uma tartaruga marinha regressa ao mar após desovar em Tortuguero – iStock.com

Algumas das mais emblemáticas experiências que vivi em viagem resultaram de encontros com animais selvagens. Lembro com carinho, por exemplo, os mergulhos ao largo de Sipadan, na parte malaia do Bornéu, por entre tartarugas, tubarões e criaturas de mil formas e cores e onde vi as primeiras mantas gigantes a “voar” pelo azul do oceano.

Recordo com especial emoção o encontro com um grupo de gorilas de montanha na Floresta Impenetrável de Bwindi, no Uganda, onde, após horas de trekking em condições difíceis, pude permanecer uma escassa mas intensa hora junto de uma família de gorilas. Ou ainda o dia em que nadei com tubarões-baleia em Ningaloo, na costa ocidental da Austrália, estando a escassos metros do maior peixe do planeta.

Tinha por isso fundadas expectativas sobre a visita noturna a Tortugueroum dos principais pontos de desova de tartarugas em todo o mundo – para presenciar à desova das tartarugas que, todos os anos, afluem em grande número às praias da região.

Chegar a Tortuguero a partir da capital San José não foi fácil. Um táxi, dois autocarros e um barco depois, e estava finalmente na pacata aldeia de Tortuguero, porta de entrada no homónimo parque natural em cujas praias desovam várias espécies de tartarugas.

Assim que anoiteceu, o inevitável aconteceu: uma chuva diluviana caiu sobre o povoado, para que não restassem dúvidas de que Tortuguero é o local com maior pluviosidade anual de toda a Costa Rica.

Eu tinha um impermeável demasiado básico, insuficiente para me manter seco perante tamanho dilúvio. De tal forma que dois minutos depois de sair do povoado em direção à praia estava já com a roupa e o corpo, dos pés à cabeça, completamente encharcados. Foi quando deixei de sequer notar a água e comecei a desfrutar.

Chegados às proximidades da praia – eu e um pequeno grupo de viajantes da Nomad que me acompanhava -, aguardámos num abrigo pela ordem dos rangers do parque para entrarmos no areal. Ao sinal dos rangers, encaminharam-nos para uma tartaruga enorme enfiada num buraco escavado na areia. Estava na verdade a terminar a camuflagem do ninho, criando um ninho falso para enganar os predadores, último procedimento antes de começar a arrastar-se, exausta, de regresso ao mar.

Desova da tartaruga, Tortuguero
Momento da desova. Foto de Rachel Smith

Era como se estivéssemos a ver todo o processo de trás para a frente, até porque outra tartaruga tinha entretanto chegado ao areal. “Esperemos que não volte atrás”, disse o nosso guia. Acontece às vezes as tartarugas, havendo demasiada luz ou sentindo-se perturbadas por qualquer motivo, desistirem de desovar e regressarem às águas agitadas do mar sem deixarem os ovos no areal. Não foi o caso.

E foi então que a emoção tomou conta de mim.

A tartaruga tinha já feito o buraco no areal quando permitiram que me aproximasse. Estava a cerca de um metro do animal (nunca pensei que pudesse assistir a tudo tão próximo da tartaruga) e cheguei segundos antes de começar a soltar os ovos acompanhados por uma substância gelatinosa que amortece a sua queda na areia. Ela estava numa espécie de transe, explicaram, pelo que nem sequer se apercebia da presença dos visitantes ao seu lado.

Nesta vez, a “nossa” tartaruga colocou cerca de 150 ovos, calculou o ranger, num esforço tremendo que terá durado uns bons trinta minutos. Assim que terminou a postura e começou a tapar os ovos, entraram em ação os voluntários da Sea Turtle Conservancy para medir a carapaça, detetar eventuais ferimentos e, como era a primeira vez que este indivíduo desovava em Tortuguero, marcá-lo para posterior monitorização.

E eu ali a assistir a tudo a um metro de distância. A vida. A dedicação de uma progenitora. O sacrifício pela continuidade da espécie.

Foi um privilégio inolvidável presenciar o milagre da vida diante dos meus olhos, um animal que volta exatamente ao local onde nasceu para desovar e dar continuidade à sua espécie.

Saí da praia em êxtase, completamente encharcado por fora mas de alma cheia e coração quente. Mais ainda do que o encontro com as mantas gigantes, os gorilas de montanha ou os tubarões-baleia, julgo que os momentos em que presenciei uma tartaruga a desovar ficarão para sempre tatuados na minha alma de viajante.

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Filipe Morato Gomes

Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.