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Díli por quem lá vive: Carmen Berimbau

Por Filipe Morato Gomes
Viver em Díli: praia da Areia Branca
Díli, praia da Areia Branca

A Carmen Berimbau tem 34 anos, é gerente hoteleira a viver em Díli, capital de Timor-Leste, há sensivelmente 11 anos. Convidei-a a partilhar connosco um pouco da “sua” Díli, marcada pelo pôr-do-sol na praia da Areia Branca, de preferência na companhia de um gin tónico.

É um olhar diferente e mais rico sobre Díli – o de quem vive por dentro o dia-a-dia da cidade, estando simultaneamente fora da sua “zona de conforto”, deslocado, como acontece a todos os viajantes.

Este é o sexto post de uma série inspirada no programa de televisão “Portugueses pelo Mundo”.

Em Díli com a Carmen Berimbau (entrevista)

Antes de responder às questões, não posso deixar de fazer uma observação que julgo ser essencial para que as pessoas entendam um pouco da realidade do país onde vivo, Timor-Leste. É quase impossível falar isoladamente de Díli e esquecer os restantes pontos atrativos de Timor-Leste. Quem vem a Timor-Leste, não deve ficar apenas em Díli, arriscando sair do país com uma ideia completamente errada sobre o lugar onde esteve.

Apesar de Díli ser a capital, onde estão concentrados os serviços essenciais (aeroporto, serviços administrativos, hospital, bancos, diversão noturna, etc.), a beleza deste país está distribuída pelos seus 13 distritos. Alguns, muito isolados e de difícil acesso, com infraestruturas turísticas ainda modestas, mas ainda assim pontos essenciais de visita.

Timor-Leste está a dar os primeiros passos para o desenvolvimento turístico, daí ser o local ideal para os aventureiros que não procuram alojamento de luxo e gostam de andar de mochila e botas de montanha a desbravar terreno, em contacto direto com a população e com a Natureza. Somos todos pioneiros do turismo em Timor-Leste.

Define Díli numa palavra.

Crescimento.

Díli é uma cidade boa para viver? Fala-nos das expectativas que tinhas antes de chegar, e se a realidade que encontraste bateu certo com a ideia preconcebida que trazias.

Quando cheguei a Timor-Leste, em 2002, não trazia expectativas “na bagagem”. Vinha de espírito aberto, mas de certa forma preparada pelas pessoas que já cá estavam para encontrar um país “bebé”, com apenas alguns meses de Independência.

Timor-Leste celebrou o primeiro ano da restauração da independência a 20 de maio de 2002 e eu cheguei no novembro seguinte. A primeira missão foi adaptar-me ao clima extremamente quente e húmido da época das chuvas, que decorre entre os meses de novembro a junho. A particularidade naquela época do ano é que se “acerta” o relógio pela hora da chuva. Chovia todos os dias, invariavelmente às 16:00 (hoje já não é assim, o clima está muito alterado e chove a qualquer hora do dia).

Como não trazia as expectativas definidas, aceitei tudo o que encontrei. E como sou também natural de uma ilha, (ilha da Madeira) não foi difícil sentir-me em casa. Tudo serviu para tornar uma aventura supostamente de 2 anos, na minha segunda casa há já 11 anos. Tem sido uma experiência muito gratificante ver a evolução de Timor-Leste desde 2002. Os timorenses saíram de um longo período de guerra e estão agora a dar os seus próprios passos a caminho do desenvolvimento.

Respondendo diretamente à pergunta: sim, Díli é uma boa cidade para se viver, para quem queira fazer parte desse trabalho de desenvolvimento e crescimento do país, aceitando as diferenças e as particularidades de Timor-Leste.

E o que mais te marcou em Timor-Leste?

O pôr-do-sol e o nascer do sol nos meses da época seca. Parece que o céu está em chamas. Fora de Díli, fico sempre sem palavras quando vou ao ilhéu de Jaco. Um lugar remoto, isolado e invulgarmente belo.

Como caracterizas os timorenses?

As pessoas em Timor-Leste não são muito expansivas de início com quem não conhecem. Mostram uma certa timidez no olhar, não deixando o sorriso sempre simpático. Ao fim de um certo conhecimento, a desconfiança é substituída por uma relação muito acolhedora, alegre e amigável. Adoram dançar, ouvir música, e qualquer motivo é bom para juntar a família, vizinhos e amigos para uma grande festa.

Como terminarias esta frase: “Não podem sair de Díli sem…”

… beber uma água de coco! Porque assim têm a certeza de regressar! (segundo um mito que corre em Timor-Leste, quem bebe água de coco, volta sempre)

Vamos complicar a conversa e tentar fazer um roteiro de 3 dias em Díli / Timor-Leste. Indica-nos as coisas que, na tua opinião, sejam “obrigatórias” ver ou fazer.

1º dia. Cidade de Díli. Passeio pela cidade. Passagem pela longa marginal, desde a avenida onde estão algumas embaixadas, passando pelo Palácio do Governo, até ao mercado da fruta. Aproveitar para conhecer e provar algumas frutas típicas aqui de Timor-Leste. Continuar até à praia e subir até à estátua do Cristo-Rei para ter uma vista única da cidade de Díli. À noite, jantar um saboroso peixe grelhado, num restaurante junto ao mar.

2º dia. Baucau. Alugar um jeep 4×4 para fazer a costa leste entre Díli e Baucau. A estrada é montanhosa e com alguns problemas, pelo que aconselho mesmo um jeep. Chegada a Baucau, almoçar na “Pousada”, um edifício histórico com traça portuguesa. Depois de visitar a praia de Baucau, ir na direção da majestosa montanha Matebian (a montanha dos espíritos) até Venilale, para visitar os túneis escavados pelos japoneses na II Guerra Mundial.

3º dia. Ilha de Ataúro. Apanhar o barco para a ilha de Ataúro, uma pequena ilha que fica em frente à cidade de Díli. Em Ataúro encontram-se 3 eco-resorts que oferecem alojamento e refeições modestas, caso queiram pernoitar na ilha. Para quem tem curso de mergulho, é possível organizar mergulhos em vários pontos da ilha; eu, infelizmente, tenho um pavor inexplicável de mergulhar, mas já vi fotos de amigos que são de tirar a respiração. E todos dizem o mesmo: foi dos mergulhos mais bonitos que fizeram na vida.

Mas atenção que, após este roteiro de 3 dias em Timor-Leste, fica muito para ver. Na minha opinião, se a estadia em Timor-Leste fosse de 15 dias daria para visitar os seguintes locais: Costa Leste – Liquiçá, Forte Maubara, Bobonaro (nascentes de água quente); Interior Sul: Aileu, Maubisse, Pico Ramelau, a 2.960 metros de altitude; Costa Leste: Tutuala / Ilhéu de Jaco.

A Carmen em Timor-Leste
A Carmen em Timor-Leste

De certeza que sabes alguns truques e dicas para se poupar dinheiro em Díli. Conta-nos.

Dica do transporte. Em Timor-Leste, os únicos transportes públicos existentes são as microletes, uns minibus coloridos, geralmente com fotos de futebolistas europeus, e que facilmente ficam cheios de pessoas penduradas nas portas, motorizadas na traseira, galos, galinhas e porcos no tejadilho.

Quanto aos táxis, é fundamental negociar sempre o preço antes de entrar no táxi. Poupam dinheiro e complicações na hora do pagamento.

Dica da língua. Apesar do português ser falado em Timor-Leste, aconselho a aprenderem algumas palavras básicas de Tétum (língua oficial de Timor-Leste, juntamente com o português). Esta dica pode ajudar a poupar dinheiro, se estiverem num mercado a negociar fruta ou artesanato.

Dica do alojamento. Façam pesquisas e entrem em contacto direto com o hotel, porque Timor-Leste não funciona bem com as plataformas de reservas online devido à dificuldade na utilização de cartões de crédito.

Dica do dinheiro. Aconselho trazerem dólares americanos. São raros os locais em Timor-Leste que aceitam cartões de crédito.

Falemos de comida. Que especialidades gastronómicas temos mesmo de provar?

Como já referi, a comida tradicional timorense tem muitas semelhanças com a gastronomia portuguesa, variando um pouco nos temperos porque usam frequentemente tamarindo, leite de coco, molho de soja e muito, mas mesmo muito ai-manas – um molho muito picante feito com malaguetas de Timor-Leste.

Aqui ficam algumas sugestões mais tradicionais: Tukir de cabrito, uma espécie de caldeirada de cabrito, feita com os miúdos do cabrito; Katupa, arroz com leite de coco cozido dentro de uma caixinha feita com folhas de palmeira; Sadoko de camarão, camarão assado na brasa com molho de sumo de tamarindo, leite de coco e outros; Kadaka, uma espécie de crepes com mandioca e coco.

Para beber, se tiverem coragem e estômago forte, podem provar o Tua Mutin, uma versão do Vinho de Palmeira de Timor-Leste.

Imagina que queremos experimentar comidas locais. Gostamos de tascas, botecos, lugares tradicionais com boa comida e se possível barato. Onde vamos jantar?

Para comer algo tradicional e num local fora do normal, sugiro a praia dos Coqueiros, na Avenida das Embaixadas. De tarde, começam a montar uma série de barracas, grelhadores, mesas e cadeiras pela praia fora, para à noite servirem diversas especialidades grelhadas na brasa. Por exemplo: peixe, lulas e polvo; sassate (espetadas) de frango, dobrada, vaca, fígado de vaca e porco; e massaroca de milho assada (a minha preferida).

Como é a movida em Díli? O que sugeres a quem queira sair à noite?

Podem começar a noite no Castaway (Av. de Portugal), um snack-bar australiano com boas pizzas, sandes e hambúrgueres, e muita cerveja Bintang de 620ml, a minha cerveja indonésia preferida. Às sextas-feiras, o Castaway tem música ao vivo.

Depois, podem continuar a noite no Nuu Lounge ou no Tower (na estrada de Comoro). Atualmente, são os dois locais onde toda a gente vai dançar. Para terminar, se a noite tiver sido muito “dura” e estiverem com fome às 5:00 da manhã, podem ir ao Bar-Café La Esquina (em Bidau) comer uma bifana, que está aberto a noite toda.

Escolhe um café e um museu.

Não posso deixar de mencionar o espaço que estou a gerir – o Katua’s Hotel (Av. Nicolau Lobato) -, que tem um café-restaurante aberto até às 23:00 com comida portuguesa.

Para museu, recomendo vivamente o Arquivo & Museu da Resistência Timorense. É uma paragem obrigatória.

Uma das decisões críticas para quem viaja é escolher onde ficar. Em que bairro nos aconselhas a procurar hotel em Díli?

Existe já uma oferta considerável de hotéis em Díli, desde os backpackers aos hotéis de 4 estrelas mas, se me permitem, vou ter que recomendar o Katua’s Hotel, porque tem de facto uma excelente localização. E o Hotel Timor, que se encontra também numa zona muito central.

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Tens alguma sugestão para quem quiser fazer compras em Díli?

Para comprar o artesanato local, visitem o Mercado dos Tais. “Tais” é um tecido tradicional de Timor-Leste, que os timorenses utilizam como vestimenta para cerimónias oficiais e ocasiões especiais. São também utilizados como decoração. Devem ainda comprar uns pacotes de café de Timor – o melhor café que já provei!

Antes de te despedires, partilha o maior “segredo” de Díli; pode ser uma loja, um barzinho, um restaurante, um parque, uma galeria de arte, algo que seja mesmo “a tua cara”.

Para mim, o melhor de Díli é arranjar um tempinho para relaxar na praia da Areia Branca, a beber um gin tónico ao pôr-do-sol. Reforça as energias!

Obrigado, Carmen. Encontramo-nos numa próxima viagem a Díli.

Veja também o post sobre viver em Oecusse.

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Filipe Morato Gomes
Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.