Tenho uma confissão a fazer: cada vez tenho menos à-vontade a fotografar pessoas. Imagino que com a experiência fosse suposto fazer retratos cada vez mais naturalmente; mas a verdade é que, ultimamente, me sinto um intruso de máquina fotográfica na mão. Cada vez mais. E, como detesto essa sensação, acabo por evitar fotografar pessoas.
E isto dito por alguém que adora pessoas. Ou talvez por isso mesmo.
Costumo dizer que as pessoas que encontro fazem as viagens. Atribuo-lhes um papel determinante sobre a impressão com que fico de um lugar. Como o povo iraniano, por exemplo, que acredito estar entre os mais hospitaleiros do mundo e tornam qualquer viagem ao seu país um imenso prazer. Viajantes mais experientes dizem o mesmo dos sudaneses e paquistaneses, mas ainda não tive esse privilégio.
O curioso é que, olhando para as minhas fotografias de viagens mais antigas, encontro múltiplas fotos de pessoas tiradas de muito perto, inclusive com uma grande angular (ou seja, mesmo perto). Das montanhas de Myanmar às aldeias de Sichuan, das roças de São Tomé às povoações da ilha de Olkhon, na Sibéria, passando pelas mulheres Himba e por inúmeras famílias mongóis, fotografar pessoas nunca pareceu ser um problema para mim.
Nessa época, entre fotografias tiradas de relance até outras com permissão expressa, ou ainda momentos em que interagia com alguém – de uma minoria étnica, por exemplo – antes de tirar uma foto ao seu rosto, não faltam exemplos em que fotografar pessoas era para mim algo relativamente fácil.
Mas esses tempos aparentemente acabaram.
Nas últimas viagens, tenho-me sentido cada vez mais desconfortável com a ideia de ser um caçador de imagens sem escrúpulos, um ladrão de momentos das pessoas com quem me cruzo nas deambulações pelo mundo. Sinto-me mal.
Vejo imagens belíssimas na minha cabeça… e não fotografo. Nem sequer experimento pedir permissão, porque só isso já me parece intrusivo. Como se me estivesse a meter onde não sou chamado, a invadir o espaço alheio, a ser desagradável ou inconveniente, a agir como um predador. Cumprimento as pessoas e sigo viagem. Sem remorsos, mas triste pela fotografia perdida.
Vem isto a propósito da minha recente viagem a Zanzibar. Em inúmeras situações vi “fotos na cabeça” que não tentei tirar. Velhos de olhar profundo encostados em paredes coloridas, que dariam retratos com alma. Mulheres embrulhadas em roupas incrivelmente coloridas. E crianças, muitas crianças. Mas, por incrível que pareça, quase sempre a máquina ficou parada.
É óbvio que continuo a fotografar pessoas. Muitas vezes como parte de um ambiente, para humanizar as cenas. Mas aquela fotografia mais intimista, olhos nos olhos, tem sido muito difícil para mim. Não quer dizer que esporadicamente não o faça, mas tenho cada vez mais pruridos em fazê-lo. Não me sinto confortável. Por vezes, imagino um filho meu no lugar daquela criança a quem me preparava para apontar a máquina e perco a vontade de fotografar.
Talvez me esteja a tornar num viajante mais consciente. Talvez esteja saturado com os efeitos perversos do excesso de turismo. Talvez esteja apenas a ficar velho, maduro, cansado de ser blogger de viagens nos dias de hoje… ou o que seja. Ou então apenas comodista. Independentemente dos rótulos, facto é que não consigo fotografar pessoas com a naturalidade de antigamente.
Escrevo isto não para chegar a qualquer conclusão, mas apenas para partilhar esta sensação com todos vocês. Acredito que fotografar pessoas é das atividades fotográficas mais nobres e complexas – não tanto pelos aspetos técnicos, mas pela responsabilidade que o ato acarreta perante o outro.
Talvez volte a conseguir fotografar pessoas num futuro próximo. Assim eu arranje uma forma de fazer com que esteja confortável; e não sinta que estou a invadir o espaço alheio.
Até lá, vai havendo menos retratos nos posts do Alma de Viajante.
Dicas para fotografar pessoas
Seja respeitoso na hora de fotografar
No texto Turismo sustentável: boas práticas de um viajante consciente escrevi o seguinte:
“Se há imagem que me choca é ver um grupo de meia dúzia de turistas de máquinas fotográficas apontadas à cara de uma criança, sem qualquer interação, sem qualquer respeito pelo menor, como quem “rouba” um momento sem dar nada em troca. E o mesmo se aplica à generalidade dos seres humanos, mas especialmente comum não só com as crianças mas também com tribos ou minorias étnicas visualmente apelativas”.
É isso. Em suma, sempre que possível, peça autorização. E, como é evidente, pedir autorização para fotografar pessoas implica aceitar a sua decisão. Ou seja, se alguém pede para não ser fotografado, respeite essa vontade. Como em tudo na vida, tenha bom-senso.
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