Com ou sem Marco Polo – que dizem ser filho da terra -, a ilha de Korcula, na Croácia, vale pelas paisagens magníficas onde pontificam belos vinhedos que originam o saboroso Grk, pelas povoações históricas da ilha e pela simpatia dos seus habitantes. Viagem a Korcula, algures nas águas transparentes do Adriático, ao largo da Croácia continental.
Korcula, ao encontro de Marco Polo
Ninguém conhece verdadeiramente a vida de Marco Polo – apesar de muitos o considerarem o maior viajante de sempre -, no entanto em Korcula todos dizem que nasceu ali. E, assim, seduzido pelo mito embarquei com destino à ilha.
A escolha não foi fácil, nem podia ser; na realidade estava a descer a costa da Dalmácia e tinha mil ilhas à minha escolha, todavia quando cheguei a Split já estava seguro do caminho a seguir e tomei o ferry que liga a grande cidade ao hipotético berço da notável personagem.
Duas horas depois estava de novo em terra, em Vela Luka, uma povoação branca estendida na curvatura do porto, embora tivesse de seguir até à outra ponta da ilha, que é comprida e estreita como uma baguete, para me aproximar da figura inspiradora desta escala.
Continuo viagem num autocarro, que durante uma hora percorreu a estrada principal, ora seguindo pelo interior, ora procurando o litoral, recebendo e largando passageiros aqui e ali, poucos, pois a ilha não excede os 17 mil habitantes.
Korcula, a cidade
Chego enfim a Korcula, quero dizer à cidade de Korcula, que vista da encosta sobranceira dá ideia de uma carapaça de tartaruga deitada no mar. Cidade compacta com ruas de pouco fôlego, praças intimistas e casas de pedra com gelosias nas janelas.
É esta terra que disputa com Veneza a figura de Marco Polo e que para fazer valer os seus direitos usa abundantemente o nome do viajante. Há um Festival Marco Polo, um hotel Marco Polo, uma marca de vinho Marco Polo, uma Casa Marco Polo e uma agência de serviços turísticos Marco Polo. Só falta uma estátua, como é costume nestes casos.
Comecemos pela Marco Polo Tours. Entre os serviços que propõe está a hospedagem em casas particulares, prática comum na Croácia. A funcionária deu-me as boas vindas, abriu um mapa da cidade e depois com um dedo foi assinalando as diversas hipóteses, acompanhadas de uma descrição do local.
Escolhi uma “casa habitada por duas senhoras”, mãe e filha, que, sempre que a oportunidade ocorria, procuravam conversa com os hóspedes, a mãe em italiano, a filha em inglês.
A minha primeira visita foi à suposta casa onde nasceu Marco Polo, situada numa ruazinha estreita e inclinada, como quase todas na cidade. Há um pequeno ajuntamento à porta, turistas, a quem uma guia explica em tom ligeiro, tão do agrado de quem está de férias, que os Polo são originários de Korcula, continuando o apelido vivo na ilha, dando-se a migração de um ramo da família para Veneza no século XIII, época em que a cidade-república desfraldava a sua bandeira por todo o Mediterrâneo.
Adiante, já estou no interior onde uma árvore genealógica da família Polo é como que um fio que liga aquele espaço ao seu mais famoso elemento. Há ainda cópias de mapas, de retratos, de documentos, mas sempre cópias e isto pode desapontar quem vier à procura de algo que remeta directamente para o grande viajante. Penso que uma primeira edição do “Il Milione” seria perfeito, mas também penso que Marco foi um viajante, uma presença volátil, um vento que não deixa rasto.
Vai um copo de Grk?
Acontece que Korcula, a ilha, se notabiliza por outros motivos. Por exemplo o seu vinho, o Grk, um branco encorpado e com sabor distinto, como verifiquei na Vino Borum, uma garrafeira nova, cheia de estilo, “para os turistas”, deixa claro o dono.
O comerciante julga que o turismo o vai enriquecer e então puxa pelos preços, afixados em Kunas e Euros, para evitar a fadiga do câmbio aos clientes. Foi ali (a preço para turista) que provei o meu primeiro vinho local.
Duas ruas ao lado encontrei a Vino Tocionica, uma garrafeira antiga e para todos, locais e turistas. A oferta de vinhos engarrafados era menor, mas tinha vinho em pipa, vindo directamente de alguma adega da ilha. Voltei ao celebrado Grk, mas com medida, pois este é um vinho perigosamente alcoólico.
Mais tarde, para completar os meus conhecimentos nesta matéria dirigi-me a Lumbarda, na extremidade Este, uma região levemente ondulada, coberta de vinhas rodeadas pela transparência do Adriático.
Podemos também distinguir Korcula, desta vez a cidade, por outras razões: a localização, a harmonia do conjunto, e os seus tesouros artísticos. O monumento mais destacado é a catedral, estrategicamente situada no centro da malha urbana.
Construída com a característica pedra branca das ilhas adriáticas é um edifício elegante cujo interior está enriquecido com uma escultura do Mestre Ivan Mestrovic e duas pinturas do grande Tintoretto. Mas há mais.
Poucos sabem, mas esta é uma cidade que para além de Tintoretto tem quadros de Ticiano, Carpaccio e ícones bizantinos de autores antigos. Nem todos são obras maiores, mas ainda assim são suficientemente interessantes para salvarem os espaços que as domiciliam, Museu Cívico, Galeria dos Ícones e Tesouro da Abadia, da monotonia dos museus de província.
Esta arte é assinada por artistas estranhos à ilha, mas num daqueles passeios em que percorri a cidade à procura daquilo que não vem nos guias de viagem, à procura de surpresas portanto, encontrei Simona Farac e Victor Skeleta, joalheiros a que o tempo há-de dar fama e proveito.
Na sua oficina-loja, adequadamente chamada “Tesouro” trabalham com coral, que casam com ouro ou prata, criando uma multiplicidade de objectos tão atraentes quanto belos, tão tentadores quanto vistosos. Os colares que põem nos pescoços das mulheres são irresistíveis.
Antes de deixar a cidade de Korcula fiz um último passeio pelo lado de fora da muralha regressando ao contacto com Marco Polo, ao contacto possível, pois aqui, tal como na suposta casa onde nasceu, encontrar sinais do viajante depende sobretudo dos sentidos de cada um.
No mar cintilante que se estende diante de mim, onde vejo um barquito na pesca ao polvo, e dois pequenos veleiros que se dirigem a terra, neste mar ao largo de Korcula, em 1298, venezianos e genoveses enfrentaram-se numa batalha naval, com Marco Polo ao comando de um navio. O resultado é conhecido: os venezianos foram derrotados e Marco feito prisioneiro.
Aqui não há dúvidas: este é um elo seguro que liga o homem que ao longo da vida foi comerciante, diplomata, espião, marinheiro e também militar, a Korcula.
Se nasceu aqui, não o sabemos ao certo, mas também não me parece assim tão importante. Do que não tenho dúvidas é ser este um local com todos os ingredientes para celebrar a viagem e a aventura.
Guia de viagens a Korcula
Este é um guia prático para viagens a Korcula, com informações sobre a melhor época para visitar, como chegar, pontos turísticos, os melhores hotéis e sugestões de atividades na ilha.
Quando ir
De meados de Julho a meados de Setembro a ilha de Korcula recebe um número bastante elevado de turistas, pelo que os preços sobem e o viajante pode não usufruir da tranquilidade desejada. Aconselha-se, pois, os períodos imediatamente antes e depois dessa janela temporal, quando as condições meteorológicas são ainda agradáveis e o turismo de massas começa a acalmar.
Como chegar a Korcula
A TAP voa para Zagreb por menos de 300 €, de onde se pode alugar um carro ou voar para Split com a Croatia Airlines. A partir de Split, a Jadrolinja, principal companhia de transporte marítimo da Croácia, possui ferryboats para viaturas e passageiros que atracam em Korcula.
Onde ficar
Durante os meses de Julho e Agosto e no fim de ano, o alojamento torna-se escasso em Korcula, pelo que se aconselha reservar com antecedência. Existem diversos hotéis de nível elevado, mas a opção mais económica e porventura mais agradável é ficar alojado em quartos ou apartamentos particulares.
Informações úteis
A moeda oficial da Croácia é a Kuna, e 100 Kn equivalem a 13 euros. Há caixas de levantamento automático por toda a Dalmácia, incluindo na ilha de Korcula. Os visitantes oriundos de países da União Europeia não necessitam de visto para estadas até 90 dias.
Seguro de viagem
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