
Despretensioso e informativo, o Espaço Memória e Fronteira de Melgaço é um dos pequenos museus mais interessantes que visitei nos últimos tempos em Portugal.
O museu foi instalado no antigo edifício do matadouro municipal de Melgaço e aborda de forma apelativa as temáticas da emigração e do contrabando, dois fenómenos sociais de grande relevo na história contemporânea do concelho.
Da emigração ilegal para França às viagens de batela (barco usado para atravessar o Rio Minho clandestinamente) para trazer produtos contrabandeados da vizinha Espanha, o museu é efetivamente um espaço de memórias; de pessoas e de testemunhos reais; de ilegalidades cometidas em tempos difíceis, na busca de uma vida melhor.
Porque, mais do que reescrever a história – ou ter vergonha dela! -, é importante não a deixar cair no esquecimento. Especialmente num território como Melgaço, onde tanto a emigração como o contrabando tiveram tão forte influência no tecido social local.
Espaço Memória e Fronteira
O contrabando através do Rio Minho
Entrei no Espaço Memória e Fronteira sem saber bem ao que ia. Mas não poderia ter começado de melhor forma, aprendendo sobre um assunto que me fascina: o engenho e a criatividade humanas para ultrapassar dificuldades. É o caso do contrabando.
“A diversidade fisiográfica que caracteriza a linha de fronteira do concelho de Melgaço proporcionou múltiplos cenários de travessia para o contrabando na sua expressão mais dramática: o homem (ou mulher) apeado, fundido com a sua carga, num jogo constante de dissimulação e engenho”.
Produtos como tabaco, sabão, café, chocolate, açúcar, amêndoa e arroz, além de ouro, prata e cobre foram contrabandeados com recurso a batelas, dissimuladas pela vegetação e a escuridão da noite num jogo do gato e do rato com os oficiais da guarda fiscal.
Está tudo ali, nos expositores do Espaço Memória e Fronteira. Numa palavra: fascinante!
A emigração
Não menos interessante é o espaço dedicado à emigração.
O fluxo migratório das décadas de 1960 e 1970, fruto de crónicas carências económicas e profundas desigualdades sociais, teve, no caso de Melgaço, dois fatores adicionais a contribuir para a sua dimensão: o fim da exploração de volfrâmio e o abrandamento da febre do contrabando – à época, importantes fontes de rendimento local.
Muita, muita gente oriunda do Alto Minho decidiu tentar a sua sorte fora de portas. Ao ponto de ter chegado a existir um autocarro direto entre Melgaço e Paris.
E é sobre essa aventura, legal ou ilegal, que versa a segunda secção do museu. Ali, são revelados recortes de jornais, gravações de áudio, fotografias, cartas, documentos oficiais e outros registos da vida de então. Sejam passaportes falsos usados por quem arriscava tudo para “ir a salto” para o estrangeiro, sejam documentos de quem conseguiu viajar de forma legal para países como a França ou a Alemanha.
Um manancial de informação e humanidade sobre a vida daqueles que a arriscavam em busca de uma melhor para os seus.
No Espaço Memória e Fronteira expõem-se, pois, histórias reais, de gente real, que tentou a sua sorte, emigrando. O contexto, as dificuldades e as ilegalidades; a preparação da viagem e a viagem em si; para além de um retrato das difíceis condições de vida que os emigrantes tantas vezes encontraram nos países de acolhimento. De tudo um pouco se aborda no museu.
É, repito, um dos museus mais interessantes que visitei em Portugal nos últimos tempos.
Para além de visitar o Espaço Memória e Fronteira, veja o que fazer em Melgaço.
Dicas para visitar o Museu Espaço Memória e Fronteira
Como chegar
Tendo como referência a cidade do Porto, a melhor forma de chegar a Melgaço é seguir pela A3 até Valença e, daí, prosseguir pela EN101 e Variante à EN202 até Melgaço. São pouco mais do que 150km de viagem.
O Espaço Memória e Fronteira fica praticamente nas traseiras da Câmara Municipal de Melgaço, pelo que é de muito fácil acesso. Veja a localização exata no Google Maps.
Onde ficar em Melgaço
A região de Melgaço tem um conjunto de hotéis e casas de turismo rural muito interessante. Eu fiquei nas excelsas Melgaço Alvarinho Houses, um hino à arquitetura de reabilitação, proporcionando um equilíbrio tão harmonioso quanto provocatório entre linhas modernas e espaços tradicionais. As casas ficam a pouco mais de 3km do centro de Melgaço, são ideais para grupos de amigos ou famílias numerosas.
Alternativamente, considere a Quinta da Calçada, um excelente turismo rural às portas de Melgaço; o Monte Prado Hotel & Spa que, apesar de não ser o meu estilo, é um excelente hotel urbano; ou ainda, caso procure privacidade, a River House Melgaço, uma casa de férias aconselhável para uma família ou grupo de amigos.
Seguro de viagem
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