
Jeddah é uma pérola. Em parte bela e decadente, como Havana, quando se calcorreia o bairro Al-Balad; em parte moderna e vibrante, como Beirute, quando se entra na zona Norte da cidade, onde pontifica a chamada Corniche.
É que, apesar de Al-Balad ser, por si só, motivo mais do que suficiente para uma visita a Jeddah, a verdade é que a cidade tem muito mais para oferecer. Para lá das belíssimas varandas de madeira, trabalhadas à mão, que marcam a paisagem urbana do centro histórico, Jeddah proporciona uma amálgama de experiências e emoções salpicadas pelo contacto com gente incrivelmente hospitaleira.
Não menos importante, respira-se em Jeddah um ar mais liberal do que em qualquer outra cidade saudita. As pessoas são diferentes. E isso é como uma brisa refrescante num país que, apesar das grandes mudanças recentes, é ainda extremamente conservador.
Por tudo isto, visitar Jeddah é uma experiência fulcral para compreender a essência da Arábia Saudita. A par com Esfahan e Aleppo, é uma das cidades mais fascinantes que conheci no Médio Oriente. Sem qualquer dúvida!
No rescaldo da minha visita a Jeddah, eis uma despretensiosa lista com o que fazer em Jeddah. De galerias de arte a restaurantes, de casas-museus a mesquitas, inclui lugares que eu conheci e recomendo. Vamos a isso.
A minha experiência em Jeddah: lugares a visitar
Bairro Al-Balad (UNESCO)
Palco de magníficos exemplares de mashrabiya (ou roshan) – as sacadas de madeira, trabalhadas à mão, típicas da arquitetura local -, Al-Balad é dos centros históricos mais fascinantes que alguma vez visitei. Sem surpresa, integra a lista de Património UNESCO na Arábia Saudita.
O curioso é que não são as atrações turísticas que fazem de Al-Balad um bairro tão especial. Isto porque o maior prazer da velha Jeddah é, simplesmente, cirandar pelos seus becos e ruelas; deixar-se perder no labirinto urbano de Al-Balad; falar com os muitos imigrantes – paquistaneses, bengalis, iemenitas – que trabalham no bairro; explorar (com cautela) prédios em ruínas; observar as incríveis janelas de madeira; caminhar sem rumo.
Dito isto, como é evidente existem alguns pontos mais óbvios a visitar em Al-Balad. São disso exemplo a “porta” da cidade Bab Jadid, o Souk Al Alawi e a casa-museu Nassif House – esta última infelizmente fechada ao turismo.
Abaixo, partilho alguns locais e atividades cuja visita recomendo, incluindo vivências que têm mais a ver com o contacto humano do que com arquitetura ou atrações turísticas. Tudo em Al-Balad!
Souk Al Alawi e Museu Nassif House
Epicentro do bairro Al-Balad, o Souk Al Alawi domina uma das artérias mais centrais e percorridas do bairro. De têxteis a perfumaria, de tudo um pouco se compra e vende em Al Alawi. Mesmo para quem não gosta de fazer compras, como eu, conhecer o mercado e os seus vendedores é um verdadeiro prazer.
A meio de Al Alawi, será impossível não reparar na Nassif House, tida como um dos edifícios históricos mais importantes de Al-Balad. A residência, construída na segunda metade do século XIX, pertence à abastada família do bem-sucedido comerciante Omar Nasseef Efendi – à época Governador de Jeddah.
Ao que consta, a casa tem 106 quartos com obras artísticas classificadas como “admiráveis”. Infelizmente, encontra-se fechada ao público, não sendo possível ao comum dos turistas visitá-la.
Jogar matrecos, pingue-pongue e Playstation… na rua
Caminhava pelas ruas de Al-Balad quando avistei um grupo de jovens a jogar na Playstation. Os monitores estavam numa parede, os jovens sentados em bancos improvisados jogando em salutar convivência.
Entre mim e os jogadores, havia duas mesas: uma de matrecos e outra de pingue-pongue. Foi a esta última que prestei mais atenção, jogando durante algum tempo com as crianças ali presentes. E haveria de voltar nos dias seguintes.
Beber sumo de manga na loja de Saed
Não aparece em guias nem revistas; tive a felicidade de descobrir por mero acaso, quando procurava um lugar para tomar o pequeno-almoço. Fica a dois passos da Nassif House e, de fora, parece uma simples loja de sumos. Lá dentro, fui recebido pelo egípcio Saed de coração aberto.
O espaço era exíguo, com um balcão tão alto que mal deixava ver as feições de Saed, morador em Jeddah há já 32 anos. Cheirava a fruta, havia caixas com mangas por todo o lado e um minúsculo banco corrido encostado à parede. Mas Saed fazia também umas sandes de omelete e vegetais, picantes quanto baste, que, juntamente com o sumo, formaram um pequeno-almoço perfeito. Haveria de voltar durante todos os dias da minha estadia, mas isso nem Saed desconfiava.
Entre sorrisos e abraços, conversas com o tradutor do Google e ofertas de pratos de fruta para acompanhar os pequenos-almoços, fomos ficando mais próximos. Ao terceiro dia, não me sentia já um cliente – era, ao invés, como se estivesse a visitar um amigo.
No último dia, depois da mesma sandes, sumo de manga e prato de fruta, saí da loja com a mão no peito e os olhos humedecidos depois de um abraço como só velhos amigos sabem dar (o Rui Batista descreve essa despedida melhor do que eu alguma vez o conseguiria fazer).
As pessoas, sempre as pessoas. É isso que me faz voltar à estrada uma e outra vez!
Nova Corniche de Jeddah
Bairros tradicionais à parte, é na Corniche que tudo se passa. Bela e renovada, é usada pelos habitantes de Jeddah para socializar, fazer piqueniques, correr e fazer exercício, namoriscar – e tudo num ambiente fantástico, com a brisa e o cheiro a maresia a entrarem por todos os poros do corpo.
Passear pela Corniche, de preferência ao final da tarde, é uma experiência obrigatória. Vindo de Al-Balad, representa o outro lado de Jeddah, moderno e cosmopolita.
The Walk Hilton
O The Walk Hilton é um passadiço pedonal localizado na região de Al-Shatea, litoral de Jeddah. Para além de proporcionar um passeio muito agradável, o The Walk Hilton permite uma visão privilegiada de toda a área. Até porque percorrê-lo é, muito provavelmente, a melhor forma de chegar à Corniche.
Mesquita Al Rahma
Localizada a norte da Corniche, a Mesquita Al Rahma tem a particularidade de estar construída sobre estacas, em cima do mar. Na sua proximidade, seja no calçadão ou no areal da praia, famílias inteiras desfrutam do espaço acompanhadas de bules de chá ou kits completos de piqueniques.
Mais uma forma de conhecer os hábitos da população de Jeddah e com ela interagir, num ambiente que me pareceu mais conservador (menos liberal) do que o da Nova Corniche. Um bom complemento, portanto.
Galeria de arte Athr
Jeddah é uma cidade onde se respira cultura. Jovens criativos, mentes liberais, muitos artistas e um fervilhar de ideias e projetos em cada conversa. E várias galerias de arte onde é possível tomar contacto com a obra de artistas sauditas.
Uma delas, porventura uma das mais conceituadas, é a galeria Athr.
Tive a felicidade de conhecer Abrar, uma das responsáveis da galeria, cicerone de uma visita a uma exposição de jovens criadores sauditas. Pintura, instalações, obras multimédia, algumas coisas difíceis de catalogar.
Como sempre acontece quando o assunto é arte contemporânea, gostei de algumas obras, desgostei de outras e não compreendi outras tantas. Mas valeu a pena tomar contacto com as mentes jovens e criativas de Jeddah.
Restaurante Meez
Um dos restaurantes que visitei em Jeddah, fora de Al-Balad, foi o muito elogiado Meez. Quando lá cheguei para almoçar deviam ser já umas 15:00 e o piso térreo estava lotado com comensais sauditas.
Quando por fim consegui almoçar, dei por muito bem empregado o tempo de espera. O cardápio era razoavelmente variado e a comida, embora em doses comedidas, era deliciosa. Juntando a isso um espaço luminoso e um trato muito profissional, o Meez é absolutamente recomendável.
The Sandwich Gallery
Outro dos restaurantes que experimentei no norte de Jeddah, desta feita ao jantar, foi o muito original The Sandwich Gallery. Decoração urban-chic, empregados solícitos e opções gastronómicas deliciosas – algumas a fazer lembrar as smørrebrød dinamarquesas. Foi mais uma aposta ganha.
Nota sobre gastronomia: Albaik
Por algum misterioso motivo, os habitantes de Jeddah têm um fascínio quase unânime pela cadeia de fast food Albaik. Ao ponto de mais do que uma vez me terem dito que não poderia sair de Jeddah sem provar o frango frito do Albaik.
Fui, naturalmente, verificar; mas a desilusão foi imediata. É, tão somente, uma espécie de Kentuky Fried Chicken em versão saudita. Nada de mais! Com a agravante de ser focada no take away. Conclusão: saí de Jeddah sem entender os motivos da devoção gastronómica pelo Albaik.
Café Cup & Couch
Por esta altura já todos sabem que eu adoro cafés; e que, sempre que viajo, procuro conhecer cafés acolhedores nas cidades que visito. Naturalmente, fiz o mesmo em Jeddah.
Entre os cafés que tinha referenciados, destaque para a simpatia de um novíssimo café no coração de Al-Balad, cujo nome me escapou; para o mais moderno Medd Cafe; e, finalmente, para o super elogiado Cup & Couch. É sobre este último que aqui escrevo.
Com um ambiente jovem e moderno, a condizer com a zona Norte de Jeddah, o Cup & Couch é famoso pela qualidade do seu café. Para os menos entendidos, como eu, habituados a um sabor menos ácido, o café do Cup & Couch pode parecer pouco menos do que intragável. Pessoalmente, não amei o sabor; mas também não desgostei de todo.
Essa não foi a única surpresa. Quando tentei pagar o café, o empregado não aceitou e disse que, como era a primeira vez que lá ia, o café seria oferta da casa. Wow!
Comunidade Qairawan
Antes de chegar a Jeddah, verifique se a organização Qairawan (nota: o site deixou entretanto de funcionar) tem alguma atividade programada – seja uma tertúlia ou uma viagem para fora da cidade. Um grupo de quatro amigos, entre os quais a saudita Esraa Rayes e a iemenita-indonésia Nada Al Nahdi, fundou a organização com o objetivo de fazer os jovens de Jeddah viajar mais no seu próprio país – e organizam para isso viagens a baixo custo.
Durante a minha estadia não havia viagens planeadas mas, por uma incrível coincidência, foi lá que conheci a vlogger polaca Eva zu Beck e assisti a uma sua palestra. Acredito que, muito em breve, a Qairawan se transformará no hub dos viajantes em Jeddah.
Outros lugares a visitar em Jeddah
Muito mais há para ver ou fazer em Jeddah. Entre as múltiplas ofertas da cidade, deixo aqui uma lista de locais onde ponderei ir mas que, por um motivo ou por outro, acabei por não conhecer:
- Museu Abdul Raouf Khalil
- Baab Makkah
- Shaf’i Mosque
- Medd Cafe and Roastery | Boho Cafe
Guia prático para visitar Jeddah
Como chegar
Há inúmeras companhias aéreas a voar para Jeddah, entre as quais a Turkish Airlines (foi a que usei), a Emirates e a Saudia. Caso se ajuste ao seu roteiro na Arábia Saudita, considere a hipótese de ir por Riade e regressar por Jeddah.
Note que não há transportes públicos do aeroporto internacional de Jeddah para o centro da cidade. Use um táxi ou, caso tenha internet, chame um Uber.
Nota sobre os terminais do aeroporto: se regressar de Jeddah, não se engane no terminal. O Terminal Sul é apenas para a Saudi Airlines. O Terminal Norte é para as companhias aéreas estrangeiras. Distam 16km um do outro e os táxis entre ambos não são baratos (disseram-me que havia um shuttle bus, mas não o vislumbrei). Há ainda o Terminal Hajj, destinado aos peregrinos em viagem para Meca.
Transportes em Jeddah
O sistema de autocarros é pouco útil para o comum dos visitantes, pelo que a melhor forma de se deslocar em Jeddah é usando a aplicação Uber. Note que em horas de ponta o trânsito é muito intenso e, por isso, as deslocações podem ser demoradas.
Onde dormir
Escrevi um texto sobre onde ficar em Jeddah, onde explico as vantagens e desvantagens dos diferentes bairros da cidade – e cuja leitura recomendo.
Em resumo, julgo que as três principais opções em termos de localização do alojamento em Jeddah são a proximidade do bairro histórico de Al-Balad (para quem prefere ambientes mais caóticos mas com alma); a região da Nova Corniche (para quem quer estar próximo do mar, com modernidade e conforto); e Al-Salamah (onde encontra hotéis com excelente relação qualidade/preço). Tudo depende, pois, do que pretender.
Caso prefira Al-Balad, a opção mais incontornável é o Mena Red Sea Palace, onde eu fiquei, localizado a dois passos do bairro. Note que não há muitos hotéis na zona.
Na região da Al-Shatea, onde se localiza a Corniche, estão alguns dos mais conceituados hotéis de Jeddah. Entre eles, e apesar de não serem o meu tipo de alojamento, recomendo os cinco estrelas Jeddah Hilton e The Venue Corniche, sendo este último provavelmente melhor. Opções mais económicas são os aparthotéis Al Balad Inn Corniche e o incontornável Ibis Jeddah Malik Road – este último localizado mais afastado da Corniche.
Já em Al-Salamah, encontrará muito provavelmente os hotéis de Jeddah com melhor relação custo/benefício. Entre eles, estive quase a reservar o excelente Shada Executive Hotel (se não tivesse decidido ficar no bairro de Al-Balad, este hotel teria sido a minha escolha). Outras alternativas de qualidade incluem os fantásticos Spectrums Residence Managed by The Ascott Limited e Hyatt House Jeddah Sari Street; ou ainda os menos dispendiosos Sansa Hotel e Shada Suites Al Salama.
Se preferir outros bairros, pesquise todas as opções de alojamento usando o link abaixo.
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