Chama-se Sachsische Schweiz – Suíça Saxónica – mas fica na Alemanha. É uma região de extraordinária beleza protegida por um Parque Nacional com 36.000 hectares de floresta e montanhas de arenito, transformadas pela água e pelo tempo em verdadeiras obras de arte. Para o descobrir, basta percorrer alguns dos seus 400 quilómetros de trilhos.
Parque Nacional da Suíça Saxónica
O Parque Nacional da Suíça Saxónica fica a dois passos de Dresden, junto à fronteira com a República Checa, e o seu segredo são as estranhas formas das montanhas de arenito que se levantam junto ao Rio Elba, numa área com cerca de 36.000 hectares: a vegetação consegue fixar-se às rochas de arenito e viver quase sem água, que com a ajuda do vento vai carcomendo e esboroando a paisagem há cem milhões de anos, formando muralhas, túneis e arcos, abrindo fissuras e rasgando paredes, quase tão frágeis como os castelos de areia que construímos na praia.
Estes “castelos” já foram o fundo de um lago, e o processo de escultura ainda não acabou. Entre o belo e o fantasmagórico, roçando o assustador – pelo menos quando cai uma tempestade de trovões e granizo, o que não é raro -, desde há séculos que esta zona da Alemanha tem atraído artistas, conquistados por estas formações de pedra rodeadas por bosques cerrados, verdadeiro cenário de selva tropical em suave versão europeia.
No século XVIII, época em que Dresden era o centro da pintura romântica alemã, muitos foram os pintores que por aqui deambularam à procura de inspiração, como o italiano Canaletto. O posto de turismo local tem mesmo um Circuito dos Artistas, que abrange algumas das áreas percorridas e retratadas pelos mais famosos pintores apaixonados pela zona.
Mas a beleza da região é reconhecida pelos visitantes em geral, e a prova é que o miradouro de Bastei, que caminha para os duzentos anos, é considerado a primeira construção europeia com fins meramente turísticos. Levantado em madeira em 1826, e mais tarde em pedra, continua a ser um dos lugares mais procurados pelos milhares de pessoas que todos os anos aqui vêm. Talvez porque fica na margem oposta à cidadezinha de Konigstein, coroada por uma fortaleza impressionante, e é acessível por estrada.
Mas muitos outros lugares não oferecem este luxo, e nem por isso deixam de ter “visitas” – sobretudo num fim de semana ensolarado. E logo a seguir às caminhadas, a escalada é a atividade desportiva mais antiga aqui praticada, desde há quase cento e cinquenta anos.
Geralmente chega-se à Suíça Saxónica a partir da cidade de Dresden, onde passam todas as vias de acesso a Konigstein: o comboio, a estrada, e o majestoso rio Elba, uma tira larga de água escura por onde descem os barcos a vapor turísticos.
Seja qual for a via escolhida, Konigstein aparecerá sempre como uma pequena povoação encimada pela sua fortaleza do século XIII. Já foi prisão, castelo invencível e lugar de refúgio para os governantes da Saxónia em tempos difíceis. E é aqui que nos devemos dirigir em primeiro lugar, num fim de tarde, para ter uma ideia geral sobre a área e uma visão magnífica da cidade, com a serpente do rio a seus pés. Na margem oposta ergue-se a meseta de Lilienstein, com mais de quatrocentos metros de altura, o sopé feito de prados verdes polvilhados com casinhas de telhado vermelho.
Esta imagem repete-se em todas as direções, a perder de vista: mesetas de pedra cinzenta, cobertas de vegetação e com cumes aparentemente planos, saem abruptamente de prados, onde se aglomeram casinhas de cores claras. A excentricidade cénica da Suíça Saxónica também se reflete na diversidade da sua fauna e flora, especialmente protegidas em noventa e três quilómetros quadrados classificados como Parque Nacional – um dos catorze da Alemanha -, divididos em duas zonas. Flores raras, como a relíquia glaciária que é a violeta amarela, e animais em risco como lontras, linces e cegonhas-pretas, encontram aqui abrigo seguro contra a extinção.
As montanhas de arenito do Elba
Aquilo a que se chama “as montanhas de arenito do Elba” não são, de facto, montanhas, mas compactos depósitos de areia que já chegaram a atingir os seiscentos metros de altura – agora ficam-se pelos quatrocentos e cinquenta -, e que foram sendo desgastados e deformados por glaciares, pelo Rio Elba e seus afluentes. As mesetas são o que sobra de um planalto onde a erosão natural continua a abrir grutas e gargantas profundas, acabando por destacar autênticas chaminés de pedra, mais grossas que os troncos das árvores gigantescas que atapetam as suas encostas – como se o reino vegetal e o mineral competissem em grandeza e majestade.
Em alguns locais, a natureza caprichou em criatividade e as rochas tomam formas verdadeiramente bizarras: dentes aguçados, mãos de dedos abertos, cabeças, arcos verticais, tudo em escala gigantesca, erguendo-se bem acima da copa da vegetação. Algumas têm nomes, e a fama de estar enfeitiçadas.
Para conhecer um pouco da zona, podemos optar por esticar as pernas numa das áreas mais acessíveis da floresta que rodeia Kuhstall, acessível por estrada ou no elétrico que sai de Bad Schandau, a apenas sete quilómetros de Konigstein. Esta curiosa – e ecológica – maneira de entrar no Parque Nacional, já dura há mais de cem anos: percorre-se o desfiladeiro de Kirnitzch, com os seus rios de águas frias onde abundam as trutas e, no fim da linha, encontramos frondosos bosques de bétulas, pinheiros e carvalhos, que antecedem o abrigo e restaurante de Kuhstall, junto a um enorme arco natural de pedra e a um refúgio de salteadores, que assolavam a zona há um par de séculos.
Daí podemos iniciar caminhadas para muitos outros lugares, e cada um deles nos desvenda um pouco mais da história da Suíça Saxónica; por exemplo, os “castelos” dos salteadores onde, com alguma atenção, se descobre gravuras nas rochas que representam geralmente pessoas, rostos ou cavaleiros de espada em punho. Arnstein é o mais interessante, ainda muito completo, com os seus degraus escavados na pedra que nos permitem subir vários patamares, e uma cisterna cavada na rocha, que mostra o aproveitamento destas ameias naturais como esconderijo e local de repouso após os assaltos. Escondidos pelo arvoredo e com vigias no alto das rochas, era muito difícil deitar a mão a estes bandoleiros, que durante séculos aterrorizaram os que se dirigiam à Boémia.
Nada como percorrer alguns dos 1.200 quilómetros de trilhos e pistas de cicloturismo, para mergulhar nas florestas escuras e frescas, e subir a cimos escarpados com vistas fenomenais sobre gargantas e rios. Em certos locais, a progressão “normal” só é possível com o auxílio de escadas, varandins e apoios de metal cravados na rocha. Cá em baixo, no sopé dos castelos de pedra instalou-se a agricultura; cereais e vinhas são as mais evidentes.
O Parque ultrapassa a fronteira com a República Checa, onde toma o nome de Suíça Boémia, e pelos utensílios encontrados a zona parece ser habitada desde há cerca de sete milénios, com vestígios de mais de cinquenta castelos construídos durante o século XIV. As pequenas povoações das margens do Elba, como Schmilka, Bad Schandau e Kuhrort Rathen, ainda retêm o caráter de outros tempos, com algumas ruas estreitas calcetadas de pedra, casinhas de águas muito inclinadas, travejamento externo em madeira e fachadas de cores outonais – e à boa maneira alemã, tudo com ar de ter sido construído ontem.
Os nostálgicos podem observar ou apanhar o barco a vapor que passa em Kuhrort Rathen, a mais popular das aldeias da zona. Dedicadas ao turismo desde há longa data, as povoações oferecem serviços de hotelaria e restauração, cafés, bares e lojinhas de todo o tipo.
E aos fins de semana chegam sempre visitantes das cidades mais próximas, que inundam as ruas e os trilhos do Parque; nem as paredes mais nuas e íngremes dos castelos naturais escapam à invasão dos amantes do ar livre em contacto com a natureza. Há mesmo aulas em locais com acessos pouco evidentes, para onde é preciso caminhar, ou mesmo trepar.
Tal é o caso de Pfaffenstein, a meseta que se levanta junto à pequena aldeia de Pfaffensdorf e que esconde a famosa Agulha de Barbarine, um dos ex-líbris desta área protegida: uma torre fina e solitária com vistas sobre um prado. Para lá chegar passa-se por uma fenda desaconselhada a obesos e pelo “buraco da agulha”, um inacreditável furo vertical na rocha mole do arenito, causado pelos movimentos circulares de outra rocha mais dura, pressionada pela água dos glaciares até o perfurar. E este é apenas um dos fenómenos naturais em exibição: cada hora passada a caminhar pela floresta, são outras tantas descobertas – mesmo que os trovões nos enxotem para debaixo de um abeto gigante, guarda-chuva providencial de onde podemos continuar a apreciar a paisagem.
A montanha de pedra de Steinberg
Desde a antiguidade que os locais distinguem as montanhas, geralmente constituídas por basalto e granito, das mesetas de pedra da zona, batizando-as de maneira diferente: quando se trata de uma montanha, o nome termina em berg, que quer dizer isso mesmo; no caso de uma meseta de arenito, termina em stein, que significa pedra: Winterberg e Pfaffenstein, por exemplo. E quando uma montanha é composta por granito e arenito? Também há e chama-se Steinberg: montanha de pedra.
Já quanto a como chegar ao cimo, a população da zona é unânime: não há nada como a escalada. Desde 1864 que há registo de escaladas desportivas na região, e todos afirmam tê-la no sangue. E devem ter mesmo: no Ano Novo, por exemplo, é de tradição ser o primeiro a chegar ao topo dos espigões rochosos de Lilienstein e de outros picos da zona – é uma autêntica corrida aos cumes, seguindo uma das cerca de catorze mil vias abertas em mais de mil agulhas de pedra espalhadas pela região, com os mais variados graus de dificuldade.
Guia para visitar a Suíça Saxónica
Este é um guia prático para viagens à Suíça Saxónica, com informações sobre a melhor época para visitar, como chegar, pontos turísticos, os melhores hotéis e sugestões de atividades na região de Dresden.
Quando ir
A área está acessível todo o ano, embora seja proibida a escalada, por razões óbvias, sempre que chove. E as caminhadas também são mais agradáveis de verão, quando o tempo está mais soalheiro. As temperaturas são sempre bastante diferentes dentro da floresta – muito mais frescas -, e nos prados e zonas expostas ao sol.
Como chegar a Dresden
Com o próprio veículo, a partir de Portugal demora uns quatro dias, e fica-se com toda a liberdade de movimento. A Suíça Saxónica fica apenas a uma hora de Dresden e duas de Praga, na República Checa. A fronteira situa-se entre as aldeias de Schmilka, do lado alemão, e Hrensko, na República Checa – mas nem se nota; a área também é protegida como Parque Nacional do lado checo, que lhe muda o nome para Suíça Boémia, mas mantém todas as afinidades culturais com a Saxónia. Dresden é a cidade mais importante da zona e a estrada está muito bem indicada.
Caso opte por voar – não há voos diretos entre cidades portuguesas e Dresden -, o turismo da cidade pode fornecer informações sobre os transportes públicos que ligam a Bad Schandau, e daí para outras povoações da região: pode chegar ou partir de comboio, ou nos barcos a vapor que ligam Dresden, Pirna, Kuhrort Rathen, Konigstein e Bad Schandau.
Alojamento e restaurantes
A dificuldade é a escolha: em Konigstein existe campismo, e em todas as povoações há hotéis para vários preços. O luxuoso Berghotel Bastei, por exemplo, fica numa situação privilegiada, junto ao miradouro com o mesmo nome. Em Kuhrort Rathen, na rua Elbufer 5 fica o Hotel Restaurant Erbgericht, mais em conta. Para comer, o melhor é escolher com os olhos: pequenos-almoços e lanches são bons no café Schmidt, na rua Dresdner, em Konigstein. O Hotel Deutsches Haus, em Cunnersdorf, oferece pratos regionais e cozinha italiana.
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Informações úteis
A fortaleza de Konigstein está aberta das 9:00 às 20:00 durante o verão, mas apenas até às 17:00 de novembro a abril. O centro de acolhimento do Parque Nacional fornece informações sobre as caminhadas (pontos de partida, dificuldades, etc.), e há mapas à venda com todos os percursos na maioria dos quiosques.
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