Quando estava a planear o que fazer na Extremadura com os meus filhos, algo me impeliu a visitar Monfrague. Não me recordo como encontrei o parque sobre o qual pouco nada sabia. Mas cá em casa gostamos de caminhar e fazer atividades ao ar livre e, por isso, as imagens que vi do parque natural rapidamente me fizeram incluir um pequeno trekking em Monfrague na lista de coisas a sugerir à família.
Eles aceitaram a ideia. E o resultado foi uma belíssima caminhada num parque natural classificado como Reserva da Biosfera mas relativamente pouco frequentado.
Caminhar em Monfrague: o trilho vermelho
O meu plano inicial era seguir direto para o posto de informação no povoado de Villarreal de San Carlos, localizada no interior do parque, e pedir informações sobre os diferentes trilhos marcados em Monfrague.
Acontece que os planos rapidamente começaram a mudar. Já escrevi várias vezes que os planos são bons para não serem cumpridos, e este dia foi mais uma prova disso mesmo.
Eu explico.
Ao passar de carro junto ao Salto del Gitano, um dos mais emblemáticos locais de Monfrague, a paisagem chamou-me imediatamente a atenção. Além disso, a luz matinal estava excelente para fotografar. Resultado? Parei. O posto de informação estava longe e a oportunidade não podia ser desperdiçada.
Fiquei a observar o Rio Tejo, lá em baixo, e as enormes formações rochosas características deste ponto do parque. Havia bastante vento. Algumas aves de grande porte estavam já em grande rebuliço. Vi três abutres pousados em enormes pedregulhos junto ao rio. Feios mas imponentes. E os amantes da observação de aves que afluem ao Salto del Gitano deleitavam-se com o espetáculo através de equipamentos profissionais.
Fiquei a observar tudo isso, arrependido de não ter uns binóculos para ver as aves na outra margem e poder mostrar aos meus filhos todos aqueles imperadores dos céus mais de perto. Aves como o falcão peregrino, o abutre do Egito ou o abutre fouveiro, a bela cegonha preta e o bufo real habitam os céus de Monfrague. Talvez os tenhamos visto à distância; nunca saberei.
Foi durante essa paragem no Salto del Gitano que decidi não ir logo a Villarreal de San Carlos. Tínhamos de aproveitar enquanto o dia não aquecia demasiado. Entrámos no carro e regressámos até um cruzamento onde tinha visto uma placa a indicar o Castelo de Monfrague.
Lá chegados, reparei num pequeno parque de estacionamento e deixei a viatura. O castelo estava lá em cima e o caminho parecia à partida interessante. Mas rapidamente descobrimos que, na verdade, aquela parte da caminhada era feita em asfalto – e, por isso, desinteressante.
Sem desanimar, subimos com os miúdos até ao castelo (um deles, com menos de dois anos, quase sempre às cavalitas). A última parte seguindo uma escadaria fácil e bem arranjada.
E valeu a pena. A vista era espetacular, a 360 graus, com o Rio Tejo e os vales envolventes a dominarem a paisagem. Que cenário magnífico!
Felizes, improvisámos um piquenique no alto do castelo para retemperar as energias, mas o sol foi começando a ficar mais intenso e não permitiu que ficássemos muito tempo por ali. Era hora de voltar ao carro; ou talvez não…
Do topo do castelo, vislumbrava-se um trilho que descia serpenteando a encosta até próximo do Rio Tejo. O problema é que o trilho estava do lado oposto àquele onde tínhamos deixado o carro. Na outra encosta.
Ora, entre voltar pela estrada de asfalto até ao carro ou descer pelo trilho montanhoso até onde ele terminasse, a escolha foi fácil. Disse à minha companheira que depois arranjaria forma de conseguir boleia para pegar no carro, e lá fomos nós encosta abaixo; no pior dos cenários, teria de caminhar uns 4 ou 5 quilómetros de regresso ao carro, por asfalto, ao sol e debaixo de muito calor.
Foi a melhor decisão do dia. O chamado Itinerario Rojo, ou trilho vermelho, revelou-se belíssimo e sem dificuldades de maior, mesmo com um bebé de dois anos.
Seguimos sem ter a certeza de onde o trilho terminaria (embora tudo indicasse que seria junto à ponte), mas a cada passo mais nos motivávamos a continuar. A vista era linda e, apesar de estarmos em pleno mês de verão, não nos cruzámos com muitos outros caminheiros nos trilhos pedestres do Parque Monfrague, o que tornava a caminhada ainda mais especial. Talvez o calor tórrido de agosto tenha afastado os visitantes; ou talvez Monfrague seja ainda um pequeno segredo da Extremadura.
À medida que descemos a encosta, a vegetação foi-se tornando mais alta, proporcionando a sombra necessária para abrigar as crianças. E descansar. O sol estava cada vez mais insuportável, razão pela qual esta parte do percurso soube muito bem. Especialmente quando passámos por uma espécie de túnel construído por pequenas árvores, para delírio dos elementos mais novos da família.
Aos poucos, o cansaço, potenciado pelo calor extremo, começava a causar algum desconforto mas, entre colos e cavalitas, lá fomos gerindo da melhor maneira a “caminhada” do mais pequeno. Às tantas, adormeceu! Faltava pouco para o rio.
Pouco depois, chegávamos junto à ponte sobre o Rio Tejo onde outros caminheiros nos tinham sossegado sobre a existência de água. A chamada Fonte do Francês era mesmo ali.
Refrescámo-nos, bebemos água, petiscámos o que ainda restava na mochila nas mesinhas ali instaladas. Sem perder muito tempo, deixei os miúdos com a mãe resguardados à sombra e caminhei até à estrada para pedir boleia. Ao terceiro carro, e depois de explicar a situação, um jovem casal de Barcelona levou-me de regresso ao parque de estacionamento perto do Castelo de Monfrague. Missão cumprida.
Pouco depois, estava de volta à área de descanso junto à ponte. Reuni a família e regressámos a Cáceres. “Um dia excelente” – o veredito foi unânime. A caminhada em Monfrague haveria de ser um dos momentos altos da viagem pela Extremadura.
Mais algumas fotos de Monfrague
Guia para visitar o Parque Monfrague
Como chegar a Villarreal de San Carlos
Não há autocarros desde Cáceres, Placência ou Trujillo, pelo que o carro próprio (ou táxi) é fundamental. Seja como for, aconselho a começar a visita ao parque precisamente pelo Salto del Gitano, o mais cedo possível, sem sequer ir a Villarreal de San Carlos. Foi o que eu fiz e resultou. E é de manhã cedo que as aves estão mais ativas.
Para ser honesto, aliás, não vejo sequer necessidade de ir a Villarreal de San Carlos, uma vez que a informação e mapas fornecidos no posto de turismo do parque não acrescentam muito ao que aqui digo.
Centro de Interpretação da Natureza
Em todo o caso, se quiser saber um pouco mais sobre a fauna e flora que habita Monfrague, recomendo uma curta passagem pelo pequeno mas interessante Centro de Interpretação da Natureza do Parque Nacional de Monfrague. Fica em Villarreal de San Carlos e tem apenas três salas distintas, bastante rudimentares, mas eu gostei de o ter visitado.
Infelizmente, o centro de interpretação está aberto apenas a partir das 9:30 da manhã, razão pela qual talvez seja boa ideia fazer logo as caminhadas e só depois, caso queira, passar no centro.
Onde ficar
Pode dormir em Villarreal de San Carlos mas não vejo motivo de maior para o fazer (a não ser que procure isolamento total); se quiser ficar perto do parque, pode optar por locais como Torrejón el Rubio; mas, pela minha experiência, recomendo que faça de Cáceres a sua base para explorar toda a Extremadura, incluindo Monfrague. Foi o que fiz e gostei da opção.
Outras dicas
- Leve binóculos. Vai gostar de os ter para observar as aves de Monfrague (eu fiquei com pena de não ter uns);
- Leve muita água consigo, especialmente nos meses de verão. Muita mesmo (sugiro uma garrafa de litro e meio por pessoa, pelo menos).
- Não faça as caminhadas sozinho. Os trilhos não têm grande dificuldade mas é melhor não facilitar nas regras básicas de segurança.
Mapa do parque
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