Há dias recebi uma mensagem curiosa de alguém que está a planear uma viagem. Dizia mais ou menos isto:
No início do próximo ano, devo ir viajar com o meu namorado por tempo indeterminado. Ele acha que temos apenas que saber todas as informações sobre o primeiro país em que vamos aterrar; e que sobre o resto dos países vamos pesquisando durante o caminho.
Eu, por outro lado, acho melhor ter um breve resumo de cada um, os principais sítios, meios de transporte, etc…; bem como uma rota da viagem mais ou menos definida. E dos países que queremos ver. Como achas que deve ser feito o planeamento da viagem?
Acredito que é uma dúvida comum à maioria dos viajantes que planeiam uma viagem de longa duração, principalmente no caso das primeiras viagens. Aqui deixo, por isso, o meu contributo para a discussão, partilhando o que eu costumo fazer para delinear as minhas viagens independentes – na esperança que isso possa ser útil para quem ambiciona partir.
1. Ter um plano
As pessoas são todas diferentes. Nas viagens que fazia como líder Nomad já encontrei todo o tipo de viajantes: daqueles que propositadamente não pesquisaram, não leram, não viram fotografias e querem ser surpreendidos no terreno; e também daqueles que pesquisaram tudo ao mais ínfimo detalhe e sabem exatamente o que querem ver em cada destino – esteja ou não no “programa”. Eu situo-me sensivelmente a meio destes dois tipos de viajantes, com ligeira inclinação para os que gostam de planear.
Para mim, planear faz parte da própria viagem. Dá-me imenso prazer pesquisar sobre um país, ler experiências de outros viajantes nos seus blogs de viagens, investigar destinos, procurar locais que gostaria de conhecer e, até, por vezes, tentar decidir mais ou menos por quantos dias ou semanas gostaria de visitar o país, região ou cidade.
Ou seja, gosto de ter um plano, nem que seja para não o cumprir.
Logicamente, é irrealista planear tudo com demasiado detalhe (em que restaurante vai almoçar daqui a exatamente 17 dias, ou se daqui a três meses vai dormir em Bogotá ou Cartagena). Na verdade, é até indesejável planear em demasia. Porque é bom ter liberdade para deixar a viagem fluir. E porque, não raras vezes, as melhores experiências de viagem resultam de imprevistos.
Seja como for, ter um plano geral é positivo. Porque ajuda a focalizar e facilita as escolhas durante a viagem – especialmente se for do tipo indeciso (não quer perder metade do tempo a tentar decidir o que fazer na outra metade, pois não?). E porque lhe dá confiança.
2. Ser flexível
Nas minhas viagens, já conheci imensa gente que acabou por ir ficando num determinado lugar. Chegaram lá como viajantes, dois dias transformaram-se em duas semanas, dois meses, vários anos. Foi o que aconteceu ao brasileiro Fernando, o meu instrutor de mergulho em Koh Tao, na Tailândia. Chegou à ilha para passar uns dias e, quando o conheci, já lá estava a viver há quatro anos.
É evidente que não estou a dizer para fazer o mesmo; mas quero apelar para que seja flexível no seu plano de viagem.
É importantíssimo não olhar para o plano de uma viagem como uma espécie de bíblia sagrada. Se chega a um lugar e se sente incrivelmente bem, fique. Adie a partida, nem que tenha de excluir outra cidade que queria conhecer. Porque a liberdade de escolher onde acordar e o que fazer no dia seguinte é um dos maiores luxos do viajante.
Se alguém lhe falar num sítio que não conhecia mas parece mesmo ter a “tua cara”, mude o itinerário. Arrisque. Seja flexível.
Se alguém com quem sente empatia o desafiar para mudar de rota e seguirem viagem juntos, pondere essa hipótese. Quem sabe um “sim” não muda o rumo da sua vida.
Se um habitante local o convidar para ficar mais um ou dois dias para assistir a uma cerimónia importante, como um casamento ou um festival local, não faça como eu há 10 anos no Vietname, que perdi um casamento porque não quis mudar o plano e deixar a meio um trekking na região de Sapa. Fique. Vai ser das melhores experiências da sua viagem.
Da mesma forma, se planeava ficar quatro dias numa praia ou numa cidade mas ao fim de um ou dois não se sente confortável, não gosta do ambiente ou das pessoas, parta mais cedo. Já sabe que eu sou adepto de viajar devagar, mas quando não nos sentimos bem há que mudar. Porque estar feliz é mais importante do que seguir um plano.
3. Reservar apenas o indispensável
Eu uso muito o booking para reservar os meus hotéis e gosto de ter uma ideia sobre os alojamentos preferidos por quem já passou nos locais que quero visitar mas, se a viagem é longa, é impossível saber o dia exato da chegada e a duração da estadia.
Uma coisa que eu tenho reparado, no entanto, é que antigamente era facílimo chegar a uma cidade e arranjar quarto num dos hotéis ou hostels mais bem referenciados. Na época, a maioria dos viajantes usava o Lonely Planet e, no máximo, ligava no dia anterior para o hotel a reservar um quarto. A maioria das vezes, nem isso: era chegar a uma cidade e procurar alojamento barato.
Hoje, com a generalização da internet móvel e da facilidade de “avaliar” um hotel à distância, a maioria dos viajantes chega a uma cidade com o alojamento já reservado. Conclusão? É mais provável que quem viaja sem reserva encontre os alojamentos bons e baratos sem vagas – especialmente a partir de meio da tarde. Felizmente, na generalidade dos hotéis listados no booking pode-se cancelar ou mudar a reserva sem custos até 48 horas antes da data de check-in, pelo que pode valer a pena fazer algumas reservas com antecedência (e depois cancela se mudar de ideias).
Em suma, se tiver tempo, não se preocupe demasiado porque há sempre onde dormir, mas se o tempo for curto ou não tiver paciência para andar à procura de hotel, ver os quartos, negociar o preço e decidir in loco, então reserve com alguns dias de antecedência.
Outras coisas que eu por vezes tento reservar com antecedência são transportes com preço variável, nomeadamente passagens aéreas ou de comboio. Numa recente viagem à Dinamarca e Suécia, por exemplo, defini os dias de viagem, comprei os voos e ainda os bilhetes do comboio entre Estocolmo e Gotemburgo e entre Gotemburgo e Copenhaga, pela simples razão de que a antecedência me permitiu poupar muito dinheiro.
Em Portugal, há o exemplo de muitos comboios Alfa e Intercidades, cujos bilhetes têm desconto de 40% para reservas feitas com pelo menos cinco dias de antecedência. O preço a pagar por reservar com antecedência é, naturalmente, a perda de flexibilidade quanto ao momento de mudar de cidade.
No caso, a viagem tinha apenas 10 dias e, por isso, preferi poupar dinheiro em troca da flexibilidade de decidir na hora quando mudar de poiso.
Conclusão: planear ou não planear a viagem
Para mim, planear faz parte da própria viagem. Em viagens curtas, de uma ou duas semanas, por exemplo, é mais importante planear e até fazer reservas do que numa viagem de longa duração. Dessa forma, diminui o tempo perdido à procura de alojamento e evita a frustração de “perder” uma tarde porque, sei lá, só havia um autocarro para o seu próximo destino, não sabia e, quando chegou à central de camionagem, ele tinha partido há muito.
Nas viagens mais longas, ao invés, tempo é coisa que não lhe falta; e, por isso, “perder” uma tarde deixa de ser grave. Em viagens de longa duração, tipo volta ao mundo – e especialmente nas viagens que têm grandes componentes terrestres -, a flexibilidade é um dos seus bens mais importantes. Nestes casos, a flexibilidade nunca deve ser sacrificada em nome de um plano rígido.
Ou seja, é útil ter uma ideia das regiões do globo que quer visitar; mas as vantagens de poder decidir, a cada momento, o que fazer nos próximos dias, que rumo dar à sua viagem, superam claramente as eventuais desvantagens.
Como eu escrevi no texto Coisas que eu diria a quem planeia fazer a primeira grande viagem, “é importante planear, quanto mais não seja para não cumprir o plano“. Mas sem exageros. Porque viajar ao “sabor do vento”, da vontade, das novas amizades e do estado de espírito é algo que não tem preço. O “truque” é encontrar o equilíbrio entre planeamento e flexibilidade.
Em suma: planeie, sim. Vai ajudá-lo a ganhar confiança. Mas, quando estiver na estrada, deixe-se ir não só ao sabor do plano, mas também “do vento”, dos imprevistos, das amizades. Da vida. A sua vida!
P.S: e não se esqueça de fazer um seguro de viagem. Vai viajar mais descansado.
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