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Refúgio Ornitológico de Gaia, os passarinhos do Douro

Por Ana Isabel Mineiro
Reserva Natural de Gaia
A Reserva do Estuário é refúgio para aves, desportistas – e poetas

O Porto pode ter os Passarinhos da Ribeira, mas Gaia tem agora uma reserva para os passarinhos do Douro – e a distância do famoso clube à Reserva Natural Local do Estuário do Douro nem sequer é grande, já que a reserva fica em Canidelo, a seguir à comunidade piscatória de S. Pedro da Afurada e no seguimento do rio para quem vem do Cais de Gaia.

A Reserva Natural Local do Estuário do Douro

Mesmo a propósito, passa ali a ecovia Linha Azul, atraindo ciclistas, corredores e outros apreciadores do exercício físico, mas também pescadores e, possivelmente, poetas. Porque a paisagem do rio em sossego, a vista sobre a ponte da Arrábida e as casinhas coloridas do Porto, na outra margem, são inspiradoras.

Observatório no refúgio ornitológico de Gaia
Observatório no refúgio ornitológico de Gaia

Os apreciadores de aves também têm mais uma razão para passear por aqui, e podem trazer a família: a reserva tem dois observatórios servidos por passadiços que lhes permitem esgueirar-se pelo terreno que pertence aos pássaros, e espreitá-los por umas janelinhas discretas – algumas com a altura ideal para a criançada.

E se a beleza não for suficiente e quiserem saber o nome de cada um, lá estão dezenas de fotos perfeitamente identificadas pelo nome comum e científico, com informações suplementares sobre as alturas do ano em que são mais frequentes, para tirar as dúvidas. Na receção distribuem-se folhetos, explica-se a importância de preservar a área e, dizem os guardas, os locais são os primeiros a colaborar. Quem por ali atracava o barquito manteve os seus direitos – só tem de avisar sobre partidas e chegadas.

Quem chega sem avisar são as aves migratórias, que têm épocas precisas para se juntarem em alarido às residentes, à procura de alimento – peixe, pequenos moluscos e invertebrados que vivem na vaza das marés – e de descanso na sua longa jornada, a caminho, por vezes, de África ou da Escandinávia. O estuário faz parte, como explica um cartaz, de uma cadeia de “estações de serviço” na autoestrada aérea por onde seguem, a Rota do Atlântico Este, por onde chegam a percorrer milhares de quilómetros; daí a Reserva representar uma garantia de sobrevivência.

As gaivotas, que existem aqui aos milhares, são o “pessoal da limpeza”, consumindo detritos orgânicos trazidos pelo rio. Infelizmente, a cada maré chegam também coisas que ninguém, nem mesmo as gaivotas conseguem tragar: garrafas, cordas, boias de embarcações e plásticos, que vão sendo retirados mas parecem não ter fim. Ficam pelas dunas e pela vegetação que faz parte do sapal, a zona de vegetação entre as dunas e o rio, periodicamente alagada por água salgada, rica em alimentos e excelente habitat para as aves aquáticas migratórias.

Vista da Reserva Natural do Estuário do Douro
Vista da Reserva Natural do Estuário do Douro

O melhor é chegar com uns binóculos, para não perder pitada. A calma é só aparente, tudo tem movimento e vida, do wrestling entre duas gaivotas por um peixe, à elegância das garças brancas, que parecem desfilar numa passerelle de areia enquanto debicam um almoço de crustáceos. Corvos-marinhos posam em cima das rochas e um guarda-rios tem como lugar favorito um tronco que sai do sapal. Mas a coroa de glória até chegou antes da abertura oficial da Reserva: catorze flamingos aterraram aqui em agosto para inspecionar a zona, provavelmente à procura de lugar para fazer ninho.

Não ficaram, talvez porque a época balnear traz muita gente para esta área entre rio e mar, e alguns visitantes, habituados a plantar tendas e guarda-sóis onde lhes apetece, ainda não se habituaram a guardar distância em relação às aves. Mas agora as vedações marcam a fronteira entre territórios, e os 62 hectares da Baía de S. Paio destinados à proteção de pássaros e paisagem vão, com certeza, ganhar mais sossego.

As aves da Reserva Natural

A Reserva Natural Local do Estuário do Douro é um refúgio ornitológico que faz parte da rede Parques de Gaia, e veio juntar-se a um projeto onde estão inseridos outros dez locais a preservar, alguns já abertos ao público, como a “casa-mãe” que é o Parque Biológico, nas freguesias de Avintes e Vilar de Andorinho, ou o Parque das Dunas, na Aguda. Foi inaugurado a 17 de setembro de 2010, e resulta de um acordo celebrado entre o Município de Gaia, através do Parque Biológico, e a Administração dos Portos do Douro e Leixões.

Refúgio ornitológico de Gaia
Receção do refúgio ornitológico de Gaia

Apesar de recente, já é visitado todas as semanas por centenas de pessoas, em grupo ou individualmente, e embora a paisagem bucólica e pacificante do estuário não seja alheia ao interesse que desperta, a zona é sobretudo um local de eleição para ornitólogos, observadores de aves e fotógrafos de natureza: onde nós vemos “um pássaro”, eles veem uma tarambola ou uma seixoeira; onde nós vemos “uma gaivota”, eles veem dezenas de espécies diferentes, algumas mais raras que outras.

Já foram aqui identificadas cerca de cento e vinte espécies de aves limícolas – as que vivem junto de praias, rios, lagos e estuários. E dada a geografia plana do terreno da Reserva, são facilmente avistáveis. A partir de outubro, uma das mais fáceis de identificar é o corvo-marinho-de-faces-brancas, que gosta de pousar nas rochas, mas também a garça-real e a garça-pequena-branca, sobretudo das margens do rio e nos pequenos charcos periféricos. De observação comum são a rola-do-mar, o maçarico-de-bico-direito, o maçarico-das-rochas, o guarda-rios e o pilrito-das-praias. Entre as gaivotas, destacam-se o guincho-comum, a gaivota-d’asa-escura e a gaivota argêntea.

Em toda a zona envolvente, nomeadamente na pequena vegetação que ladeia a estrada e terrenos circundantes do areal, também não é difícil a observação de passeriformes como o cartaxo-comum, alvéola-branca e alvéola-amarela, e a fuinha-dos-juncos.

Barcos na reserva do Douro
Os barcos ainda podem atracar na zona da Reserva

Dicas para visitar o Refúgio Ornitológico de Gaia

Quando ir

A melhor época para observação de aves é de setembro a maio, mas a paisagem é bonita todo o ano e aves nunca faltam, faça chuva ou faça sol.

Como chegar

Vila Nova de Gaia fica na margem sul do Douro, junto ao Porto e basta seguir as indicações para o Cais de Gaia para chegar à linha de água. Seguindo a margem do rio em direção à Foz chegamos à Reserva do Estuário, que dista uns seis quilómetros da Ponte D. Luís. O passeio pode ser feito de automóvel, mas é muito mais interessante fazê-lo a pé ou de bicicleta, já que para isso existe uma ecovia que continua até ao mar, onde engata na Linha Azul. A própria comunidade piscatória da Afurada merece bem uma visita, antes de fazer os últimos quinhentos metros até à entrada para os observatórios.

Onde dormir

Em Gaia, duas das opções mais próximas do percurso são o Hotel Mercure Porto Gaia e o Hotel Park Porto Gaia, ambos bem assinalados e muito próximos da Ponte da Arrábida, que têm preços que rondam os 40€ por duplo com pequeno-almoço. Pode também, naturalmente, hospedar-se num hotel no Porto.

Onde comer

A oferta de restaurantes, bares e cafés é muito variada no Cais de Gaia, mas vai diminuindo à medida que nos aproximamos do mar; o “último reduto” para um repasto é a Afurada, onde há vários cafés e o restaurante A Margem, em frente ao cais.

Informações úteis

A Reserva tem entrada gratuita e está aberta todos os dias do nascer ao pôr-do-sol. A receção, onde dispõe de informações e de um potente binóculo que permite ver a passarada mais miúda ou mais longínqua, abre das 9h30 às 16h30 durante a semana, e até às 17h ao fim de semana (horário de inverno). No primeiro domingo de cada mês, entre as 10h e as 12h, há observação de aves com acompanhamento de um técnico.

A página do Parque Biológico de Gaia está acessível em www.parquebiologico.pt. Outro site interessante para apreciadores de aves é o www.avesdeportugal.info.

Seguro de viagem

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Ana Isabel Mineiro

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