O Porto pode ter os Passarinhos da Ribeira, mas Gaia tem agora uma reserva para os passarinhos do Douro – e a distância do famoso clube à Reserva Natural Local do Estuário do Douro nem sequer é grande, já que a reserva fica em Canidelo, a seguir à comunidade piscatória de S. Pedro da Afurada e no seguimento do rio para quem vem do Cais de Gaia.
A Reserva Natural Local do Estuário do Douro
Mesmo a propósito, passa ali a ecovia Linha Azul, atraindo ciclistas, corredores e outros apreciadores do exercício físico, mas também pescadores e, possivelmente, poetas. Porque a paisagem do rio em sossego, a vista sobre a ponte da Arrábida e as casinhas coloridas do Porto, na outra margem, são inspiradoras.
Os apreciadores de aves também têm mais uma razão para passear por aqui, e podem trazer a família: a reserva tem dois observatórios servidos por passadiços que lhes permitem esgueirar-se pelo terreno que pertence aos pássaros, e espreitá-los por umas janelinhas discretas – algumas com a altura ideal para a criançada.
E se a beleza não for suficiente e quiserem saber o nome de cada um, lá estão dezenas de fotos perfeitamente identificadas pelo nome comum e científico, com informações suplementares sobre as alturas do ano em que são mais frequentes, para tirar as dúvidas. Na receção distribuem-se folhetos, explica-se a importância de preservar a área e, dizem os guardas, os locais são os primeiros a colaborar. Quem por ali atracava o barquito manteve os seus direitos – só tem de avisar sobre partidas e chegadas.
Quem chega sem avisar são as aves migratórias, que têm épocas precisas para se juntarem em alarido às residentes, à procura de alimento – peixe, pequenos moluscos e invertebrados que vivem na vaza das marés – e de descanso na sua longa jornada, a caminho, por vezes, de África ou da Escandinávia. O estuário faz parte, como explica um cartaz, de uma cadeia de “estações de serviço” na autoestrada aérea por onde seguem, a Rota do Atlântico Este, por onde chegam a percorrer milhares de quilómetros; daí a Reserva representar uma garantia de sobrevivência.
As gaivotas, que existem aqui aos milhares, são o “pessoal da limpeza”, consumindo detritos orgânicos trazidos pelo rio. Infelizmente, a cada maré chegam também coisas que ninguém, nem mesmo as gaivotas conseguem tragar: garrafas, cordas, boias de embarcações e plásticos, que vão sendo retirados mas parecem não ter fim. Ficam pelas dunas e pela vegetação que faz parte do sapal, a zona de vegetação entre as dunas e o rio, periodicamente alagada por água salgada, rica em alimentos e excelente habitat para as aves aquáticas migratórias.
O melhor é chegar com uns binóculos, para não perder pitada. A calma é só aparente, tudo tem movimento e vida, do wrestling entre duas gaivotas por um peixe, à elegância das garças brancas, que parecem desfilar numa passerelle de areia enquanto debicam um almoço de crustáceos. Corvos-marinhos posam em cima das rochas e um guarda-rios tem como lugar favorito um tronco que sai do sapal. Mas a coroa de glória até chegou antes da abertura oficial da Reserva: catorze flamingos aterraram aqui em agosto para inspecionar a zona, provavelmente à procura de lugar para fazer ninho.
Não ficaram, talvez porque a época balnear traz muita gente para esta área entre rio e mar, e alguns visitantes, habituados a plantar tendas e guarda-sóis onde lhes apetece, ainda não se habituaram a guardar distância em relação às aves. Mas agora as vedações marcam a fronteira entre territórios, e os 62 hectares da Baía de S. Paio destinados à proteção de pássaros e paisagem vão, com certeza, ganhar mais sossego.
As aves da Reserva Natural
A Reserva Natural Local do Estuário do Douro é um refúgio ornitológico que faz parte da rede Parques de Gaia, e veio juntar-se a um projeto onde estão inseridos outros dez locais a preservar, alguns já abertos ao público, como a “casa-mãe” que é o Parque Biológico, nas freguesias de Avintes e Vilar de Andorinho, ou o Parque das Dunas, na Aguda. Foi inaugurado a 17 de setembro de 2010, e resulta de um acordo celebrado entre o Município de Gaia, através do Parque Biológico, e a Administração dos Portos do Douro e Leixões.
Apesar de recente, já é visitado todas as semanas por centenas de pessoas, em grupo ou individualmente, e embora a paisagem bucólica e pacificante do estuário não seja alheia ao interesse que desperta, a zona é sobretudo um local de eleição para ornitólogos, observadores de aves e fotógrafos de natureza: onde nós vemos “um pássaro”, eles veem uma tarambola ou uma seixoeira; onde nós vemos “uma gaivota”, eles veem dezenas de espécies diferentes, algumas mais raras que outras.
Já foram aqui identificadas cerca de cento e vinte espécies de aves limícolas – as que vivem junto de praias, rios, lagos e estuários. E dada a geografia plana do terreno da Reserva, são facilmente avistáveis. A partir de outubro, uma das mais fáceis de identificar é o corvo-marinho-de-faces-brancas, que gosta de pousar nas rochas, mas também a garça-real e a garça-pequena-branca, sobretudo das margens do rio e nos pequenos charcos periféricos. De observação comum são a rola-do-mar, o maçarico-de-bico-direito, o maçarico-das-rochas, o guarda-rios e o pilrito-das-praias. Entre as gaivotas, destacam-se o guincho-comum, a gaivota-d’asa-escura e a gaivota argêntea.
Em toda a zona envolvente, nomeadamente na pequena vegetação que ladeia a estrada e terrenos circundantes do areal, também não é difícil a observação de passeriformes como o cartaxo-comum, alvéola-branca e alvéola-amarela, e a fuinha-dos-juncos.
Dicas para visitar o Refúgio Ornitológico de Gaia
Quando ir
A melhor época para observação de aves é de setembro a maio, mas a paisagem é bonita todo o ano e aves nunca faltam, faça chuva ou faça sol.
Como chegar
Vila Nova de Gaia fica na margem sul do Douro, junto ao Porto e basta seguir as indicações para o Cais de Gaia para chegar à linha de água. Seguindo a margem do rio em direção à Foz chegamos à Reserva do Estuário, que dista uns seis quilómetros da Ponte D. Luís. O passeio pode ser feito de automóvel, mas é muito mais interessante fazê-lo a pé ou de bicicleta, já que para isso existe uma ecovia que continua até ao mar, onde engata na Linha Azul. A própria comunidade piscatória da Afurada merece bem uma visita, antes de fazer os últimos quinhentos metros até à entrada para os observatórios.
Onde dormir
Em Gaia, duas das opções mais próximas do percurso são o Hotel Mercure Porto Gaia e o Hotel Park Porto Gaia, ambos bem assinalados e muito próximos da Ponte da Arrábida, que têm preços que rondam os 40€ por duplo com pequeno-almoço. Pode também, naturalmente, hospedar-se num hotel no Porto.
Onde comer
A oferta de restaurantes, bares e cafés é muito variada no Cais de Gaia, mas vai diminuindo à medida que nos aproximamos do mar; o “último reduto” para um repasto é a Afurada, onde há vários cafés e o restaurante A Margem, em frente ao cais.
Informações úteis
A Reserva tem entrada gratuita e está aberta todos os dias do nascer ao pôr-do-sol. A receção, onde dispõe de informações e de um potente binóculo que permite ver a passarada mais miúda ou mais longínqua, abre das 9h30 às 16h30 durante a semana, e até às 17h ao fim de semana (horário de inverno). No primeiro domingo de cada mês, entre as 10h e as 12h, há observação de aves com acompanhamento de um técnico.
A página do Parque Biológico de Gaia está acessível em www.parquebiologico.pt. Outro site interessante para apreciadores de aves é o www.avesdeportugal.info.
Seguro de viagem
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