Destino: Europa » Letónia » Riga

Riga por quem lá vive: Miguel Antunes

Por Filipe Morato Gomes
Ópera de Riga Sketch
Sketch da Ópera de Riga

O Miguel Antunes tem 26 anos, é colaborador de um projeto de voluntariado europeu da Comissão Europeia e está a viver em Riga, capital da Letónia, há 5 meses. Convidei-o a partilhar connosco um pouco da “sua” Riga, marcada pelas igrejas ortodoxas e, mais surpreendentemente, por telhados e outros locais altos e com belas vistas sobre a cidade.

É um olhar diferente e mais rico sobre Riga – o de quem vive por dentro o dia a dia da cidade, estando simultaneamente fora da sua “zona de conforto”, deslocado, como acontece a todos os viajantes.

Este é o quinto post de uma série inspirada no programa de televisão “Portugueses pelo Mundo”.

Em Riga com o Miguel Antunes (entrevista)

Define Riga numa palavra.

Surpreendente.

Riga é uma cidade boa para viver? Fala-nos das expectativas que tinhas antes de chegar, e se a realidade que encontraste bateu certo com a ideia preconcebida que trazias.

Sem dúvida. No entanto, a vida em Riga depende da localização escolhida. No meu caso, que moro bem no centro de Riga e com condições excelentes, considero ser um privilégio aqui viver. Mas, no início da minha estadia, vivi durante alguns meses num subúrbio tipicamente soviético, não tendo sido a melhor experiência. Atualmente estou bastante contente.

Adjetivo Rīgaspilsēta (cidade de Riga) de surpreendente pela baixa expectativa que trazia e até algum “pé atrás” ligado ao relativo desconhecimento da Letónia. Foi minha intenção ser surpreendido pela identidade de Riga, chegar com a mente aberta para descobrir a considerada “pérola do Báltico”.

A realidade que encontrei (e que diariamente encontro) nada tem a ver com a ideia que trazia de uma cidade não muito dinâmica, atrasada e um pouco à imagem de uma Sibéria; de uma cidade associada à pobreza e criminalidade (o pickpocketing, a noite perigosa…).

O que encontrei em Riga foge totalmente a este quadro. Com quase meio ano de vivência riguense, não posso deixar de referir a dinâmica, a vida e a calma das ruas (sem contar com as artérias mais turísticas), a arquitetura apaixonante, a oferta cultural extensa (Riga será Cidade Capital da Cultura 2014) pela vida boémia de qualidade.

E o que mais te marcou em Riga?

Sem dúvida que a relação especial que os locais têm com o clima. Devido aos difíceis meses de inverno (de dezembro a março), todos os momentos em que o sol aparece são gozados ao máximo.

Talvez o que me dê mais prazer em Riga seja andar pelo Art Noveau district, bairro com uma dimensão relativamente grande onde imperam os belíssimos edifícios Jugen style (Património Mundial UNESCO), de influência parisiense.

Como caracterizas os letónios?

Contrariamente à recente votação de um guia de viagens, que considerou a Letónia o 5º país menos “turist friendly” do mundo, não tenho igual opinião. Apesar de as gerações mais antigas, e nos bairros soviéticos nos arredores de Riga, aparentarem uma postura fria num primeiro contacto, após alguma insistência e um sorriso é bastante provável que o calor humano seja retribuído.

Naturalmente, comparando com a hospitalidade portuguesa (e mediterrânica), o povo letão é sem dúvida mais frio mas, no meu caso, por trabalhar e conviver com gerações novas (até aos 35 anos), não sinto qualquer problema de integração. Nota-se que as gentes mais novas sentem necessidade de quebrar essa imagem que lhes está associada, e o facto de viajarem cada vez mais para outros destinos (o sul da Europa é um destino bastante popular para os letões e é comum encontrar alguém que conheça Portugal) tem ajudado a transformar esta ideia.

Nota bastante positiva para a natural facilidade em encontrar quem fale inglês no centro de Riga, sendo que o nível falado pelos locais é alto – não é necessário aprender o russian basic antes de embarcar para Riga.

Como terminarias esta frase: “Não podem sair de Riga sem…”

… visitar o Art Noveau district e admirar cada detalhe dos edifícios;

… provar o Riga Black Balsams, a bebida nacional da Letónia, um licor de aromas herbais com alta percentagem de álcool (vodka).

Vamos tentar fazer um roteiro de 3 dias em Riga. Indica-nos as coisas que, na tua opinião, sejam “obrigatórias” ver ou fazer.

Pela pequena dimensão da cidade, é possível conhecer Riga a fundo num roteiro de 3 dias. Não contando com os quase 2 dias que se podem perder com as viagens de avião (as obrigatórias escalas, geralmente, na Alemanha, face à inexistência de voos diretos). Aqui fica um possível roteiro de 3 dias em Riga:

1º dia. Acorde sempre bem cedo e para entrar na cultura letã nada melhor que um (completíssimo) pequeno-almoço, em jeito de brunch. Uma das minhas mais recentes descobertas foi o Dad cafe.

Comece na Old Town admirando o centro histórico (Património da Humanidade) e todos os edifícios medievais nas muitas desengonçadas e nada lineares ruas. Paragem obrigatória, para recarregar baterias, nas principais igrejas e basílicas, facilmente identificáveis pelas suas cúpulas. É fácil perder um dia nas labirínticas ruas do centro de Riga. À noite relaxe numa das muitas esplanadas da cidade (particularmente cheias em épocas mais amenas).

2º dia. Guarde o dia para conhecer o famoso Art Noveau district, que fica a pouca distância da Old Town, atravessando o canal de Riga, passando o Monumento da Liberdade (BrīvībasPiemineklis) com o hotel mais alto de Riga em pano de fundo. Como bairro de luxo que é, a maioria das embaixadas estrangeiras localizam-se por ali e são, também elas, um hino à arquitetura Art Noveau. Obrigatório!

Para acabar o dia, vá até ao maior parque da cidade, atravessado pelo canal que desagua no Rio Daugava, ali tão perto. Perfeito para ler um livro ou, simplesmente, para relaxar. Ande em direção ao Rio Daugava e admire o quase sempre fantástico pôr-do-sol.

Para terminar o dia em Riga, aproveite os inúmeros concertos que acontecem pelos bares da cidade, de preferência afastando-se da principal artéria de bares turísticos. O meu local de eleição é o bar I Love You, onde todas as semanas há vários concertos e onde já atuaram bandas como SigurRos.

3º dia. Uma sugestão para início de dia: depois de passear e admirar a Ópera de Riga, apanhando o elétrico nº 11 no centro da cidade, vá até ao pulmão verde de Riga, o Mežaparks, que fica a apenas 20 minutos. Saindo nas últimas paragens, onde também se encontra o Zoo de Riga, poderá alugar uma bicicleta ou andar a pé. A primeira opção é mais aconselhável pela dimensão do parque.

Esta região vale definitivamente uma visita por poder contemplar também a particular arquitetura letã, com as pitorescas casas de madeira do início do século XX.

Regressando a Riga, obrigatória uma visita ao outro lado do Rio Daugava, onde prospera uma outra cidade, com os inúmeros bairros de casas de madeira recheados de novos e dinâmicos negócios. Especial nota para o bairro e mercado de Kalnciema – onde se encontram bons concertos, exposições ou simplesmente onde beber um copo de vinho.

Por fim, não sair de Riga sem deixar de visitar o Klubs Piens, para mim o melhor spot para relaxar na capital letã.

Sketch do Laima Clock, Riga
O relógio Laima, ponto de encontro em Riga

Tens algumas dicas para se poupar dinheiro em Riga?

O custo de vida em Riga é equiparado ao português. Apesar de um PIB e salários bem inferiores aos lusos, os preços praticados em produtos de primeira e segunda necessidades são elevados, mas é possível poupar dinheiro em Riga, com recurso a algumas táticas.

A primeira é recorrer aos supermercados para comer mais em conta que nos restaurantes. Encontram-se facilmente todos os produtos.

Em termos de alojamento, a opção mais barata é, naturalmente, o Couchsurfing. Tem uma grande comunidade em Riga e é fácil conseguir encontrar alojamento. Mas há também bastantes hostels pela cidade.

Uma das vantagens de uma cidade com a dimensão de Riga é a possibilidade de andar apenas a pé, sendo a melhor opção para sentir a capital sem gastar dinheiro. Caso tenha de usar os táxis (especialmente importante no caso de chegar muito tarde a Riga, pois o último autocarro, nº 22, parte do aeroporto às 23h40), consulte as companhias oficiais, que respeitam mais as regras.

Em termos de cultura, é possível encontrar eventos culturais (concertos, exposições) gratuitos ou mais em conta. Na Ópera, por exemplo, os preços variam de dia para dia, havendo alguns “happy days”. E tente sempre comprar com antecedência, pois os preços variam consoante a afluência de público.

Falemos de comida. Que especialidades gastronómicas temos mesmo de provar?

Um item que me dá particular gozo! Aqui a palavra dominante é “tempero”. Um dos choques que senti foi sem dúvida a “mão” de condimento que os pratos têm. Desde as sopas aos pratos principais, não há qualquer parecença com a cozinha mediterrânica.

Com uma cozinha pesada, a carne e a batata são rainhas, pelo que é sempre boa ideia acompanhar com uma das bebidas nacionais, o chá. As sopas completas, ao estilo sopa da pedra, são dos petiscos a provar na gastronomia de Riga. E, sem dúvida, também as panquecas e crepes de batata ou carne (sempre com molho como acompanhamento).

Aquilo que mais estranho na comida de Riga são as várias conservas de peixe, o peixe fumado e em vinagre, muito difícil de gostar.

Em todo o caso, o local perfeito para provar os sabores letões e a verdadeira comida são os vários Lido espalhados pela cidade, que valem bem a pena apesar dos preços variarem bastante.

Imagina que queremos experimentar comidas locais. Gostamos de tascas, botecos, lugares tradicionais com boa comida e se possível barato. Onde vamos jantar?

Uma das características da cozinha letã é o de não haver um prato distintamente nacional. Mas é possível encontrar lugares “típicos”. A regra para ser low cost é não escolher nas ruas tipicamente turísticas, onde os preços são inflacionados.

Especialmente interessantes são os bares medievais, onde se encontram as iguarias locais, sendo o melhor – apesar de ter preços um pouco altos – o Folk Klub Ala. Nos vários bares espalhados pela cidade, encontram-se petiscos a preços convidativos, incluindo o meu petisco de eleição, o pão escuro de alho (diferente do que é conhecido em Portugal). A provar, acompanhado por uma das inúmeras cervejas da Letónia.

Outro local popular pelos bons petiscos, espaço alternativo e preços mais low cost é o hipster Ezitis Migla.

Veja também o artigo sobre outros restaurantes em Riga, com meia dúzia de sugestões para todos os gostos e orçamentos.

Como é a movida em Riga? O que sugeres a quem queira sair à noite?

Riga tem certamente uma dinâmica movida. Muito concentrada nos bares do centro histórico de Riga, sugiro que se fuja aos bares mais centrais (muitos ao jeito Irish pub ou American pub) e se procure os tradicionais bares de folk music.

Procurando um pouco, encontram-se bons concertos de música nos bares mais pequenos, incluindo música folk, indie e até jazz e blues. Não predominam discotecas, mas abundam bares onde é possível estar, um pouco antes de “saltar” para outro.

Escolhe um café e um museu.

Não é fácil nomear um café de Riga, já que são muitos e bons. No entanto, para mim o café de eleição é a livraria Kafka (bem no centro histórico junto a uma das galerias comerciais) – no piso de entrada dispõe de uma livraria igual a tantas outras, mas no primeiro andar transforma-se num verdadeiro refúgio para fugir à confusão da cidade onde se pode ler e tomar uma quase bica numa espécie de sala de estar.

Riga dispõe de vários museus interessantes. Visita obrigatória às Igrejas Ortodoxas, verdadeiras obras de arte, ou o Museu Nacional de Arte da Letónia.

Igreja ortodoxa de Riga
Igreja ortodoxa de Riga

Uma das decisões críticas para quem viaja é escolher onde ficar. Em que bairro nos aconselhas a procurar hotel em Riga?

Riga oferece uma boa gama de hostels (mais em conta e centrais) mas, afastando-se do centro é possível encontrar alguns hotéis – apesar de não ser a melhor opção pelo choque e alguma instabilidade e sentimento de insegurança existentes. Boa opção é a escolha dos distritos do outro lado do Rio Daugava, onde existem bons hotéis a preços menos inflacionados, ficando o centro de Riga relativamente próximo, a pé ou em transportes públicos.

Pesquisar hotéis em Riga

Veja também o artigo sobre onde ficar em Riga.

Tens alguma sugestão para quem quiser fazer compras em Riga?

Além das lojas de souvenirs e das muitas lojas de venda de produtos de âmbar, facilmente se encontram as mesmas lojas que em Portugal.

Contrariamente ao que se possa pensar, os preços aqui praticados são iguais aos de Portugal (e por vezes até superiores), pelo que apenas valerá a pena levar produtos tradicionalmente letões, como artesanato ou produtos têxteis.

Antes de te despedires, partilha o maior “segredo”de Riga; pode ser uma loja, um barzinho, um restaurante, um parque, uma galeria de arte, algo que seja mesmo “a tua cara”.

Além das igrejas Ortodoxas (sempre magníficas de contemplar) tenho de referir os telhados de Riga. Particularmente fascinantes em cada fim de tarde, não se pode sair de Riga sem subir aos topos – despercebidos ao olhar comum – de hotéis, igrejas ou restaurantes escondidos do grande público.

O terraço da Galleria Riga, por exemplo, permite vistas fenomenais sobre Riga. Perfeito para um final de dia.

Obrigado, Miguel. Encontramo-nos numa próxima viagem a Riga.

Guia prático

Onde ficar em Riga

Encontre os melhores hotéis e apartamentos de qualidade usando o link abaixo.

Pesquisar hotéis em Riga

Seguro de viagem

A IATI Seguros tem um excelente seguro de viagem, que cobre COVID-19, não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos seguros de viagem do mercado. Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens.

Fazer seguro na IATI (com 5% de desconto)

Leia os relatos de outros Portugueses pelo Mundo - os seus testemunhos sobre viver no estrangeiro são de uma riqueza extraordinária.

Filipe Morato Gomes

Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.

3 comentários em “Riga por quem lá vive: Miguel Antunes”

  1. Olá Miguel! Vou no início de Setembro para Riga, pelo Erasmus, e estou a querer trabalhar ao mesmo tempo que estudo. Vou exactamente para o centro de Riga. Então, não sei achei que a forma mais fácil de saber alguma coisa sobre empregos seria falar com alguém que estivesse já a viver aí. Quanto varia mais ou menos os salários? Qual é a maior oferta de trabalho? Que tipo de trabalhos estão mais direcionados para estrangeiros? Obrigada. E qual será a melhor forma de encontrar?
    Até breve!

    Responder
  2. Olá Miguel, queria uma ajuda/ opinião.
    Vou em Erasmus com um grupo de adolescentes para Riga.
    Sugeriram-me o hotel Augustine. O que acha da área? É seguro? Tem restaurantes? Rede de transportes fácil?
    Obrigada antecipadamente,
    Adriana de Oliveira

    Responder

Deixe um comentário