Numa recente visita a Bragança, tinha por objetivo percorrer um dos chamados Nove Passos, nome dado a um conjunto de nove percursos pedestres espalhados pelos municípios transmontanos. No caso de Bragança, o trilho em apreço chama-se Percurso do Carvalho, e tem a particularidade de não ser um trekking novo: é o mesmo percurso do já homologado PR11 BGC – O lado português de Rio de Onor.
No fundo, é uma ação para comunicar de forma concertada os atrativos pedestres dos vários municípios da região, com recurso a um “passaporte” que, em última análise, poderá contribuir para que quem visita um dos trilhos se motive a fazer os restantes.
Neste artigo vou então partilhar a minha experiência no trilho PR11 BGC – O lado português de Rio de Onor (ou Percurso do Carvalho), cujo itinerário começa e acaba, precisamente, na aldeia comunitária de Rio de Onor. Um belo passeio para fazer de manhã cedo, nas proximidades da aldeia. Vamos a isso.
Percurso do Carvalho, Rio de Onor
Antes de mais, tomo a liberdade de partilhar o texto introdutório da brochura oficial do percurso (em PDF), já que permite perceber um pouco melhor o contexto à volta do mesmo.
“A observação de veados em estado selvagem é um dos maiores espetáculos que a natureza tem para nos oferecer em Portugal. Este cervídeo, atualmente o maior mamífero que ocorre com regularidade em Portugal, é uma espécie inconfundível. Distingue-se pelo corpo alongado de grande porte, membros esguios, cauda curta e presença de hastes, apenas nos machos, mais ou menos ramificadas, que se renovam anualmente.
O Percurso do Carvalho, inserido no extremo nordeste do Parque Natural de Montesinho, foi especificamente selecionado por se situar num dos locais com maior abundância da espécie em Portugal, aumentando assim a probabilidade de observar estes majestosos e esquivos animais. Para o efeito, foi criteriosamente escolhido um local com excelente visibilidade sobre o vale, onde frequentemente se juntam dezenas de veados. Deste ponto elevado podem observar-se os animais, reduzindo ao mínimo a perturbação sobre esta e outras espécies selvagens. Este percurso pode ser visitado ao longo de todo o ano, com boas possibilidades de observação de veados. Ainda assim, o período entre setembro e outubro, coincidente com a época da brama, é o período mais adequado para os observar em estado selvagem. A brama corresponde ao período de acasalamento da espécie, em que muitos animais se juntam em grupos, e os machos assinalam a sua presença através de fortes bramidos. Nessa altura, especialmente nos períodos do nascer e do pôr do sol, a probabilidade de ver e escutar animais desta espécie é mais elevada.
Salienta-se ainda neste percurso a presença de uma árvore notável, um carvalho-negral (Quercus pyrenaica) centenário, de grandes dimensões, que inclusive está na base do nome do percurso.
Ao contrário do sugerido na brochura oficial, eu fiz o percurso no sentido dos ponteiros do relógio. A razão é simples e nada premeditada: estava na companhia de um conhecedor da região que começou a andar naquela direção – e assim fizemos todo o percurso.
Atravessando a ponte que une as margens do rio Onor, passámos por alguns campos comunitários nos arrabaldes da aldeia. Apesar da manhã já ir alta, cruzámo-nos ainda com um par de habitantes locais a trabalharem nos seus campos.
A primeira parte do percurso decorreu ao longo de um estradão de gravilha com poucos desníveis. Num belíssimo ambiente serrano, com temperaturas amenas e uma brisa agradável – perfeito para caminhar.
Descemos suavemente até ao rio, que atravessámos com recurso a um conjunto de pedras ali colocadas estrategicamente, para depois nos deixarmos perder de amores pela zona do lameiro – para mim, a parte mais bonita do passeio.
Já com o lameiro pelas costas e depois de um pequeno desvio para um local conhecido como Cimo do Couto de Baixo, com o objetivo de ver o Carvalho Negral centenário que dá nome ao percurso e está classificado desde 2012 como Árvore de Interesse Público, regressámos ao caminho principal para fazer a única subida de registo em todo o percurso.
Foi aqui que nos cruzámos com alguns turistas espanhóis que exploravam a região de Rio de Onor de mota, algo muito comum durante os fins de semana.
No final da subida, sempre com vista para os montes verdejantes, chegámos então à estrada de alcatrão prontos para percorrer as últimas centenas de metros até ao Parque de Campismo Rural de Rio de Onor, ponto final do Percurso do Carvalho.
Como seria de esperar, fruto da hora a que comecei o trilho PR11 BGC – O lado português de Rio de Onor, não avistei veados. Mas nem por isso deixou de valer a pena; é um passeio muito bonito e sem grandes dificuldades.
Depois, tempo ainda para visitar Rio de Onor e conversar com o incontornável Ti Mariano sobre a vida comunitária na aldeia e a função e modo de funcionamento da vara da justiça, que servia para registar as infrações às regras comunitárias (as multas eram pagas em vinho e, quanto mais grave a infração, maior a quantidade de vinho a pagar).
Ficha técnica: O lado português de Rio de Onor (PR11 – BGC)
- Tipo de percurso: Circular.
- Início/Final: Entrada do Parque de Campismo Rural de Rio de Onor.
- Distância: 7,0 km.
- Duração: +- 2 horas (contando com paragens para fotografar).
- Dificuldade: Fácil (tem poucas subidas).
- Acessível a viajantes com mobilidade reduzida: Não.
- Sinalização: As habituais listas vermelhas e amarelas de “Pequena Rota” nem sempre estão bem visíveis, em parte devido ao rápido crescimento da vegetação envolvente. Recomenda-se que leve o roteiro no GPS; ou, melhor ainda, que utilize a app Nove Passos, disponível na App Store e no Google Play, que fornece informações sobre os pontos de interesse do percurso.
Guia prático
Como chegar a Rio de Onor
A aldeia de Rio de Onor está localizada no extremo nordeste de Portugal, junto à fronteira com Espanha, pelo que fica bastante longe da maioria do território português. Dito isto, e tendo como referência a cidade do Porto, o melhor trajeto é seguir sempre pela A4 em direção a Bragança; e depois pelas estradas EN218 e EN308. São, no total, 235 km de viagem.
À chegada, estacione a viatura à entrada da aldeia, junto ao Parque de Campismo (onde começa e termina o trilho).
Dicas úteis
Eis algumas dicas adicionais para desfrutar do Trilho O lado português de Rio de Onor (PR11 – BGC):
- Pode perfeitamente fazer o Percurso do Carvalho com crianças (desde que habituadas a caminhar!) que andem sem problema e gostem de caminhar, mas carrinhos de bebé ou crianças muito pequenas já não aconselho.
- O trilho não está preparado para viajantes com mobilidade reduzida.
- Para observar veados, as autoridades sugerem fazer o percurso no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio.
- Se puder escolher, vá de manhã muito cedo ou ao final da tarde.
- Em dias de sol, leve chapéu e protetor solar (as sombras são praticamente inexistentes em várias secções do trilho).
- É importante levar botas de trekking ou outro calçado impermeável, especialmente útil para a travessia do lameiro (mesmo em junho, encontrei o lameiro com muita água).
- Como é evidente, não deixe lixo no trilho.
Onde comer
Talvez não seja mal pensado almoçar nas proximidades de Rio de Onor após o trekking. Para tal, dirija-se à aldeia de Varge, a meio caminho entre Rio de Onor e Bragança, e prove a comida tradicional do restaurante O Careto. Já experimentei e, para quem gosta de carne, é uma experiência do outro mundo (o preço é fixo). Pode ir à confiança!
Onde ficar
Caso opte por ficar hospedado em Rio de Onor (excelente opção!), saiba de antemão que talvez vá encontrar preços mais elevados do que provavelmente esperaria. Há, ainda assim, algumas casas de xisto de Rio de Onor que foram transformadas em Alojamento Local – estilo turismo rural ou turismo de aldeia -, e são uma excelente opção para quem tiver tempo e se quiser embrenhar mais profundamente na cultura e tradições da aldeia. Neste caso, veja a acolhedora Casa de Onor ou a familiar Casa da Ponte (casa inteira, com quatro quartos) – excelentes bases para visitar Rio de Onor. Veja mais opções usando o link abaixo.
Pesquisar alojamento em Rio de Onor
Outra alternativa muito válida será ficar a dormir na cidade de Bragança, montando aí a base para explorar as aldeias de Montesinho e Rio de Onor. Neste caso, veja o artigo sobre onde ficar em Bragança, onde recomendo sem reservas os bungalows Bétula Studios, dos amigos António Sá e Ana Pedrosa, localizados na aldeia de Lagomar, às portas de Bragança.
Para opções mais urbanas, no centro histórico da cidade, o Baixa Hotel oferece excelente relação qualidade/preço; e o Solar de Santa Maria é uma preciosidade arquitetónica a considerar. Seja como for, não faltam hotéis em Bragança, para todos os gostos e orçamentos – pesquise usando o link abaixo.
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