Alma de Viajante

Blog de Viagens de Filipe Morato Gomes

  • Destinos A-Z
  • Portugal
  • Brasil
  • Europa
  • América
  • África
  • Ásia
  • Oceânia
Blog de viagens » África » Tanzânia » Lago Manyara

Uma (triste) visita a uma aldeia maasai

Por Filipe Morato Gomes | Viagens África Arusha Lago Manyara Ngorongoro Tanzânia Aldeias
Atualizado em 24.12.2022 | Tempo de leitura: 6 minutos

Visitar aldeia maasai, Tanzânia
Encenação numa aldeia maasai perto do Lago Manyara

Os maasai são uma tribo que habita a região dos Grandes Lagos Africanos e que chegou à Tanzânia – ao que consta – oriunda do atual Sudão do Sul. São um povo seminómada que se dedica à pastorícia, com reputação de serem guerreiros ferozes e até ladrões de gado. Noutra perspetiva, a minoria maasai é das tribos africanas mais conhecidas internacionalmente; e, também, daquelas que tira melhor proveito do advento do turismo. Já lá vamos.

Antes de mais, dizer que as pequenas aldeias maasai têm uma configuração interessantíssima. Tive o privilégio de voar para Arusha com uma escala imprevista na chamada pista de Seronera, localizada no coração do Parque Nacional do Serengeti; o que me permitiu sobrevoar aquele vasto território e observá-lo a partir dos ares. E as aldeias maasai destacavam-se como bolas na paisagem.

As aldeias têm uma configuração quase sempre circular. Lá do alto, viam-se claramente as pequenas cubatas espalhadas no círculo. Eram minúsculas e cobertas com telhados de colmo. No centro da aldeia, havia ainda um outro círculo cuja função não consegui identificar à primeira. Haveria de descobrir mais tarde que é onde os maasai guardam o gado.

Já tinha lido relatos de visitas a aldeias maasai assustadoras, com encenações escolares e líderes maasai a exigirem enormes somas de dinheiro por artesanato e bugigangas que os visitantes se sentiram compelidos a comprar.

Ora, no meu safari na Tanzânia tinha previsto visitar uma aldeia da tribo Hadzabe, grupo étnico que vive junto ao Lago Eyasi; mas, pelo facto das estradas poderem estar intransitáveis, acabei por ter de mudar de planos. A Soul of Tanzania, empresa que organizou o meu safari, sugeriu em alternativa visitar uma aldeia maasai “menos turística, de modo a proporcionar uma experiência mais autêntica”. Aceitei – mas confesso que cheguei de pé atrás.

Visitar uma aldeia maasai (a minha experiência)

Danças maasai
Sessão de boas-vindas à chegada à aldeia maasai

Assim que o jipe estacionou à entrada da aldeia maasai, não muito longe do Lago Manyara, fomos (eu e a minha mulher Luísa) cumprimentados pelo chefe da aldeia. Homens e mulheres foram aparecendo aos poucos, colocando-se em fila à nossa frente preparados para cantar e dançar. Seria uma música de boas-vindas, explicaram-nos.

Depois de uma dança sem grande convicção, em que, entre outras coisas, demonstraram aquela forma de saltar que só os maasai parecem conseguir fazer, fomos encaminhados por outro dos habitantes até ao centro da aldeia. Foi quando aconteceu o melhor momento da visita.

Por indicação do chefe, fui levado por um homem até ao interior de uma das pequenas casas circulares. Disse que se chamava Mysiaki – ou algo parecido – , e ficámos sentados no interior da sua casa à conversa. Falava inglês de forma rudimentar, mas o suficiente para entender o que dizia.

Visitar uma aldeia maasai
O início da visita à aldeia maasai

Naquele cubículo redondo viviam seis pessoas, divididas em dois “quartos” com pouco mais de dois metros quadrados cada (um “quarto” para os pais, outro para os filhos); e uma área comum ainda mais pequena. Como é evidente, não havia água nem eletricidade nem absolutamente nada. Apenas paredes de adobe e dois pequenos sacos com pertences (roupas?).

Sorrimos e conversámos durante alguns minutos; nós tentando perceber melhor o modo de vida maasai, Mysiaki explicando o melhor que podia. Explicou que viviam 65 pessoas nas cerca de 20 casas da aldeia; e que ele tinha a sorte de ter duas mulheres porque “tinha muitas vacas”.

Lá dentro estava escuro e incrivelmente quente e húmido. Por muito que gostasse de ali estar, era inevitável sentir uma imensa claustrofobia; ao ponto de, quando saí, ter como que enchido os pulmões e respirado de alívio.

Gostava de acreditar que o anfitrião maasai nos levou até à sua “casa”; mas, na verdade, à luz do que vi na aldeia, pode muito bem ser apenas uma casa preparada para mostrar aos turistas.

Aldeia maasai
Interior de uma cubata maasai

Depois, levaram-nos até outra zona da aldeia, junto a uma árvore, onde uma dúzia de crianças muito pequenas estava ordeiramente sentada em carteiras de escola, como se estivessem numa aula. Ao lado, havia uma caixa de madeira onde se podia ler: “tip box“. Outra criança, de pé junto a um quadro de madeira improvisado onde estavam escritos a giz os números de zero a trinta, começou a dizer em voz alta os números em inglês. “One“, e o grupo nas carteiras repetia em coro. “Two”. “Three”…

Parecia uma cena cinematográfica de Emir Kusturika ou dos Monty Python. Um non sense completo. As crianças feitas animais de circo numa encenação ridícula para prazer (?) dos turistas. E eu pergunto: mas haverá alguém que aprecie aquilo?

Visitar aldeia maasai
A “escola” da aldeia maasai

Depois fui levado para uma zona fora do círculo principal da aldeia, onde havia umas bancas com pulseiras e demais artesanato maasai para venda. Atrás das bancas, estavam mulheres maasai de cabelo impecavelmente rapado. O anfitrião ia mostrando os artigos, sem pressionar em demasia, até que o chefe se voltou a juntar a nós.

Quando percebeu que não estávamos inclinados a comprar nada – mostrei-lhe uma pulseira maasai que já tinha comprado em Arusha e, por isso, estava “servido” – terminou bruscamente a visita, dizendo que era melhor despachar-me e ir embora. E assim fiz. Acompanharam-nos até à entrada da aldeia, onde o nosso guia nos aguardava. A empatia com o “chefe” foi nula; parecia que estava literalmente a fornecer um serviço, sem alma nem paixão.

No exato momento em que me afastei da aldeia, outro jipe chegava à aldeia maasai. E tudo se iria repetir, uma e outra vez, dia após dia, até que o último jipe da época de safaris ali despeje os últimos turistas. Foi a única pedra no sapato de um extraordinário safari na Tanzânia.

Tinha sido um dia intenso neste meu roteiro na Tanzânia, e era hora de recolher ao vizinho Isoitok para uma noite de descanso.

Aldeia maasai, Tanzânia
Vista de uma aldeia maasai, Tanzânia

Uma nota sobre as visitas turísticas às aldeias maasai

Como é evidente, o turismo é, nos dias de hoje, tal como para muitas outras comunidades, uma importante fonte de rendimento para o povo maasai. E isso, em si mesmo, não tem mal nenhum.

Que fique claro: o que eu contesto não é o facto de os maasai ganharem dinheiro com as visitas turísticas. É, isso sim, o circo em que essas visitas se tornaram. Não há nada de autêntico ali. Ninguém está de facto a visitar uma aldeia maasai no seu quotidiano; a observar e interagir com a população de forma natural. Nada.

Por tudo isso, não contem comigo para aconselhar este tipo de visitas a aldeias maasai.

Guia prático

Como organizar a visita a uma aldeia maasai

Caso queira visitar uma aldeia maasai, recomendo que procure alternativas, digamos, mais autênticas. Fale com Chris Pilley, proprietário do Isoitok Camp Manyara – que, pelo que percebi, tem uma relação estreita com a comunidade maasai e pode ajudá-lo a visitar uma aldeia maasai sem palhaçadas.

Onde dormir

Na região do Lago Manyara eu fiquei no referido Isoitok Camp Manyara, multipremiado em questões de sustentabilidade ambiental – e adorei a experiência. As tendas são muito confortáveis; a comida é boa; e todo o campo tem um ambiente muito bem cuidado. Infelizmente, não dá para reservar online nas centrais de reservas habituais.

Em alternativa, saiba que há outros excelentes hotéis na região. São disso exemplo o Burudika Manyara Lodge, o African Sunrise Lodge and Campsite e o Morona Hill Lodge. Para outras opções de alojamento utilize o link abaixo.

Pesquisar hotéis no Lago Manyara

Seguro de viagem

A IATI Seguros tem um excelente seguro de viagem, que cobre COVID-19, não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos seguros de viagem do mercado. Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens.

Fazer seguro na IATI (com 5% de desconto)

Saiba mais sobre: Viagens África Arusha Lago Manyara Ngorongoro Tanzânia Aldeias

Planeie a sua próxima viagem

A melhor forma de ajudar o Alma de Viajante a manter-se sem anúncios e continuar a inspirar e a dar dicas de viagens gratuitamente é usando os links disponibilizados neste artigo para fazer as suas reservas. Nomeadamente:

Reserve um hotel em Lago Manyara e aproveite as promoções do booking (é onde eu faço a maioria das minhas reservas).

Se precisa de viatura própria, alugue um carro na Discovercars. Passei a recomendá-la desde que descobri que têm preços bem mais baixos do que a Rental Cars.

E não se esqueça de fazer um seguro de viagem na IATI Seguros (tem 5% de desconto usando este link). Eu nunca viajo sem seguro.

Livro grátis

Junte-se a +25.000 viajantes e receba por email uma newsletter (em português) com muita inspiração e dicas para viajar mais e melhor. E ainda lhe ofereço o livro Alma de Viajante, há muito esgotado nas livrarias, com as crónicas da minha primeira volta ao mundo.

Sucesso! Por favor verifique o seu email para confirmar a subscrição.

There was an error submitting your subscription. Please try again.

Powered by ConvertKit

« Safari na Tanzânia, como organizar (Serengeti, Ngorongoro e Lago Manyara)
Um dia de safari no Lago Manyara »

Sobre o autor

Filipe Morato Gomes, blogger de viagens

Olá! O meu nome é Filipe Morato Gomes, vivo em Matosinhos, Portugal, sou blogger de viagens, co-autor do projeto Hotelandia e Presidente da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses.

Tenho 52 anos e muita experiência de viagem acumulada. Já dei duas voltas ao mundo, fiz dezenas de viagens independentes e fui líder de viagens de aventura.

Mais recentemente, abracei um novo desafio chamado Rostos da Aldeia, onde se contam histórias positivas sobre as aldeias de Portugal e quem nelas habita.

SEGUIR NO INSTAGRAM

Assine a newsletter e receba o livro da minha primeira volta ao mundo gratuitamente (está esgotado nas livrarias).

Destinos em destaque

  • Japão
  • México
  • República Dominicana
  • Zanzibar
  • Puglia
  • Sardenha
  • Malta
  • Maiorca
  • Menorca
  • Lanzarote
  • Tenerife

Lago Manyara

Reserve um hotel em Lago Manyara ao melhor preço.

Faça um seguro de viagem com proteção Covid-19 (5% de desconto usando este link).

Alugue um carro para a sua próxima viagem.

Sobre

Alma de Viajante é um blog de viagens sob o mote “Viajar. Partilhar. Inspirar.”, onde partilho de forma pessoal e intimista as minhas viagens pelo mundo. O objetivo é “descomplicar” e inspirar mais gente a viajar como forma de enriquecimento pessoal. Há também guias, roteiros e dicas para o ajudar a viajar. Note que sou um blogger de viagens, não um operador turístico. Saiba mais sobre o Alma de Viajante.

Política editorial

Alma de Viajante é um blog completamente independente. Nenhum eventual parceiro tem qualquer influência no conteúdo editorial publicado e só recomendo aquilo que uso nas minhas viagens. Conheça a minha política editorial e comercial. Este blog contém links de afiliados.

Contactos · Na imprensa · Prémios

Explore o blog

  • Comece aqui
  • Artigos de viagens
  • Planear viagens
  • Trekking
  • Notícias
  • Blogging

Grandes viagens

  • Volta ao Mundo
  • Diário da Pikitim
  • Do Cairo a Teerão

Os meus convidados

  • Portugueses pelo Mundo
  • Viagens na Minha Terra

Redes sociais

Mais de 250.000 pessoas viajam com Alma de Viajante nas principais redes sociais. Junte-se a esta comunidade de amantes de viagens, assine a newsletter e inspire-se com as minhas aventuras em destinos de todo o mundo.

Blog de viagens fundador da ABVP

ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses

Copyright © 2023 Alma de Viajante · Um blog de viagens com roteiros, dicas e muita inspiração para viajar mais e melhor · Jornalismo de viagens