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Dublin por quem lá vive: Ricardo Adão

Por Filipe Morato Gomes
Dublin Liffey
Vista do Dublin Liffey

Hoje, na série de portugueses pelo mundo, vamos até Dublin, na República da Irlanda, pela mão do Ricardo Adão. O Ricardo tem 42 anos, é Data Analyst e está a trabalhar e a viver em Dublin desde agosto de 2013. Desafiei-o a partilhar connosco as suas experiências na maior cidade da Irlanda; bem como sugestões e dicas para quem quiser visitar Dublin.

É um olhar diferente e mais rico sobre Dublin – o de quem vive por dentro o dia-a-dia da capital irlandesa, estando simultaneamente fora da sua “zona de conforto”, deslocado, como acontece a todos os viajantes. Este é o 62º post de uma série inspirada no programa de televisão “Portugueses pelo Mundo”.

Conteúdos do Artigo

Em Dublin com o Ricardo Adão (entrevista)

Define Dublin numa palavra.

Casa.

Dublin é uma cidade boa para viver? Fala-nos das expectativas que tinhas antes de chegar, e se a realidade que encontraste bateu certo com a ideia preconcebida que trazias.

A forma como defini Dublin diz tudo. Mesmo para uma pessoa otimista por natureza, como eu, a adaptação superou todas as expectativas.

A decisão de vir viver para Dublin foi em tudo contrária ao que é tido como “normal”. Primeiro, a decisão de me despedir em Portugal; depois a de emigrar sem saber bem para onde. Comecei com cinco países, reduzi a três, e fiquei com a Irlanda. Não foi bem um papel tirado ao acaso mas pouco faltou.

Mas para não parecer totalmente ao acaso, confesso que a descrição do país e da cidade feita por um amigo e antigo colega de trabalho, a viver em Dublin desde 2005, foi decisiva. Essa conversa de meia hora que tivemos era a base da minha expectativa. A realidade foi tal e qual.

E o que mais te marcou em Dublin?

Viver em Dublin: Grafton Street
Grafton Street, Dublin

As pessoas. A ausência de pressão social e profissional; o respeito pelo que fazes; a forma como recebem um estrangeiro.

Desde que estou a viver e a trabalhar em Dublin já vou no meu terceiro emprego, com vínculos totalmente distintos: consultor, empregado por conta própria e com contrato permanente. A diferença é zero. São todos respeitados de igual forma e o teu trabalho é continuamente reconhecido.

Mesmo nos momentos em que pensas: “mas não foi para isto que fui contratado?”, tens o colega, o chefe, o chefe do chefe, todos a enviar um mail, a fazer um telefonema, a ir até ao teu lugar mostrar contentamento com o que fizeste. E isto pode acontecer diariamente. É toda uma realidade difícil de conceber para um português em Portugal.

Como caracterizas os irlandeses?

É um povo respeitador, mais fechado do que o português mas que se esforça verdadeiramente para que te sintas em casa. Ninguém dá dois beijinhos a uma mulher, em praticamente lado nenhum, e não faz sentido dar um aperto de mão a alguém que viste no dia anterior ou que vais ver no dia seguinte. São mais reservados, nunca bebem álcool ao almoço num dia de trabalho, adoram cumprir horários e não te convidam para uma jantarada na casa deles só porque são bons colegas de trabalho.

Mas tudo muda depois das 17:30, hora de saída da maioria dos empregos. Vão até um pub, pedem a primeira pint (uma espécie de três imperiais num copo bem maior) e tudo passa a ser uma festa. Terminam os estratos sociais, as diferenças, os patrões e os empregados. Há sempre um bom ambiente, seja em que dia for.

Adoram andar às compras e não ligam nada a ostentação. Teres um iPhone de 1.000€ ou uma “chinesice” de 10€ é uma opção e não uma manifestação de status. Comentar salários deixa-os desconfortáveis. São um povo diferente do nosso mas pessoas muito acessíveis.

Como é um dia “normal” em Dublin?

Ponte Samuel Beckett, em Dublin
Vista da Ponte Samuel Beckett, em Dublin

Em traços gerais, é como um dia normal em Lisboa. O trânsito é intenso mas menos imprevisível. Os períodos complicados estão bem definidos, algures entre as 7:45 e as 8:45 de manhã, e entre as 16:30 e as 17:45 à tarde.

Ao almoço, os dubliners gostam de sandes. Quando o tempo o permite, sentam-se na relva num dos inúmeros parques da cidade, com toda a tranquilidade. A ausência de tensão no ar impressiona, a malta aqui consegue parecer não transportar qualquer problema de trabalho para os intervalos. O mesmo acontece após as 17:30. Têm uma espécie de botão que liga o modo “família e amigos”. Por volta das 18:30, diria que 90% dos empregados já está calmamente em sua casa a usufruir da família.

Nos fins de semana e feriados – existem quatro feriados durante o ano (quatro segundas-feiras) sem qualquer conotação religiosa ou histórica; servem um único propósito: gozar de 4 fins de semana prolongados – sai toda a gente de casa.

Semanalmente tens imensas atividades ao ar livre, muitas delas gratuitas, que atraem muita gente. Os irlandeses são muito ligados a este tipo de coisas. Vás onde fores, os parques, restaurantes, centros comerciais, comércio local, está tudo sempre cheio.

Como terminarias esta frase: “Não podem sair de Dublin sem…”

Visitar um pub e beber uma pint de Guiness.

Quanto ao turismo, vamos tentar fazer um roteiro de 3 dias em Dublin. Indica-nos as coisas que, na tua opinião, sejam “obrigatórias” ver ou fazer.

Killiney Hill Dublin
Killiney Hill

Eu nunca fui uma pessoa de museus e checklists de turista. Sempre gostei de respirar uma cidade que visito pela primeira vez, sentir a rotina dos locais. Mas vou tentar fazer um roteiro.

Dia 1

Passear no St. Stephens Green, no coração da cidade; percorrer a Grafton Street; entrar no Trinity College; percorrer as Quays, junto ao Liffey; descobrir Temple Bar. Para carregar baterias, atravessar o Liffey na histórica Ha’penny Bridge e beber um cappuccino no Lemon Jelly. Antes de regressar a casa, percorrer a Henry Street, uma espécie de irmã gémea da Grafton. São muitos quilómetros para um só dia mas vale a pena.

Dia 2

Ir dar um passeio ao Phoenix Park, para ver alces e veados no seu habitat, e comer um dos melhores scones do mundo no Visitor’s Centre. Atravessar novamente o rio para sul e visitar o Irish Museum of Modern Art e, mesmo ali ao lado, a Kilmainham Gaol – a prisão que albergou muitos dos nacionalistas que lutaram pela independência da Irlanda ao longo dos séculos. Ainda há tempo para conhecer a história da cerveja mais famosa do mundo na Guiness Storehouse.

Dia 3

Apanhar o comboio na Pearse Station após tomar uma única decisão: norte ou sul?

A norte há a cidade piscatória de Howth e os jardins e a casa senhorial de Malahide. Howth tem um castelo e faróis num trilho absolutamente maravilhoso. Se a opção for sul, têm de fazer paragem obrigatória em Dun Laoghaire, que tem um centro histórico pequeno e colorido, e uma caminhada junto ao mar até Dalkey.

De seguida, apanhar novamente o comboio até Bray, almoçar num dos muitos pubs junto ao mar e depois seguir a pé, por Bray’s Head, até Greystones. São 45 minutos a andar com a montanha de um lado e o mar do outro. Não só é um passeio deslumbrante como muito concorrido por famílias irlandesas.

Quer de Howth quer de Dalkey, é possível fazer um passeio de barco ali na zona ou entre estes dois portos; o que quer dizer que acordando bem cedo, ainda se consegue fazer tudo num só dia.

Veja também o post o que fazer em Dublin.

Tens algumas dicas para poupar dinheiro em Dublin?

St. Stephens Green, Dawson Street, Dublin
St. Stephens Green, Dawson Street, Dublin

Não jantar fora! Os restaurantes daqui têm vários níveis de preços, consoante a refeição. O almoço é, por norma, o mais barato. Se quiseres mesmo jantar pela cidade, tens uma alternativa mais em conta: os Early Birds – uma espécie de promoção no menu do jantar para quem o quer fazer entre as 16:30 e as 18:30. A partir dessa hora, não se consegue gastar menos de 25€ por pessoa, no mínimo.

Em relação aos transportes, nunca comprar bilhetes individuais. Existe uma panóplia de opções que vão desde bilhetes família, a bilhetes de um, três ou sete dias, ou o Leap Card, semelhante ao Lisboa Viva (ainda é assim que se chama?); é um cartão pré-pago que dá descontos de mais de 20% em qualquer transporte urbano.

Sou grande apreciador da gastronomia em viagem. Na tua opinião, que especialidades gastronómicas temos mesmo de provar em Dublin?

Um bom irish breakfast, um bom Fish & Chips e o Guiness stew. Gastronomia não é o ponto forte de Dublin mas estas iguarias são obrigatórias!

Imagina que queremos experimentar comidas locais. Gostamos de tascas, botecos, lugares tradicionais com boa comida e se possível barato. Onde vamos jantar?

Genericamente, Dublin é um local caro para comer fora de casa. Ainda assim, os almoços, um pouco por todo o lado, têm o lado tradicional num bom carvery. Escolhes a carne (porco ou peru), são cortadas duas ou três fatias duma peça assada, escolhes os acompanhamentos que quiseres entre mash (puré de batata), ervilhas e/ou cenouras salteadas, arroz, batatas fritas ou batatas assadas. É verdade, um irlandês típico é pessoa para pedir um pouco de cada.

Se o desejo for mesmo jantar, fiquemo-nos por uma das muitas hamburguerias. Não confundir com Burger King ou McDonald’s! Tens uma lista de ingredientes e constróis o teu próprio prato. Pagas 10€ a 12€ (sem bebidas) mas ficas com a sensação que estás a comer algo caseiro. Aconselho.

Uma das decisões críticas para quem viaja é escolher onde ficar. Em que zona nos aconselhas a procurar hotel em Dublin?

A zona de St Stephens Green é do mais central que podes ter e há opções para todas as carteiras, desde Bed & Breakfast a preços muito acessíveis aos mais luxuosos hotéis da cidade. Não recomendo o lado norte da cidade. Esta zona é mais problemática e as atrações são quase inexistentes.

Procurar hotéis em Dublin

Veja também o artigo sobre onde ficar em Dublin.

Escolhe um café e um museu

Café: o Lemon Jelly, na Millennium Walkway, perto do rio, é o primeiro café que me vem à cabeça; mas há muitos outros que não lhe ficam atrás.

Museu: o Dead Museum of Dublin, no Natural History Museum, na Merrion Street. É fascinante ver milhares de animais embalsamados da maneira como estão expostos. Tem a vantagem de ser gratuito.

Falemos de diversão. O que sugeres a quem queira sair à noite em Dublin?

George Street, Aungier Street e Camden Street. Na prática é a mesma rua mas vai mudando de nome a cada meia dúzia de metros. É comum por estas bandas mas verdadeiramente estranho para quem cresceu em Portugal. Tens diversão que chegue nas artérias.

Começa a noite no Market Bar, e termina no Whelan’s, um dos melhores locais de diversão noturno da cidade, na minha opinião. Há imensos concertos ao vivo e um ambiente muito parecido com o do Bairro Alto, em Lisboa.

Tens alguma sugestão para quem pretender fazer compras em Dublin? O que comprar?

Stephens Green Shopping Centre
Stephen’s Green Shopping Centre, em Dublin

Dublin é uma cidade globalizada. Não me recordo de nada que me fizesse apanhar um avião com o impulso de comprar algo especial. Os preços são muito semelhantes aos de Lisboa, por exemplo. Mas se estiveres decidido a visitar a cidade e precisares mesmo de renovar o guarda-roupa, traz uma mala de mão o mais vazia possível. Aqui não faltam lojas dos mais variados estilos.

Quanto aos indispensáveis souvenirs, aconselho a não perderem tempo precioso nas lojas da cidade. A que existe no aeroporto é excelente e os preços, em 90% das coisas, são iguais.

Antes de te despedires, partilha o maior “segredo” de Dublin; pode ser uma loja, um barzinho, um restaurante, um parque, uma galeria de arte, algo que seja mesmo “a tua cara”.

Não posso deixar de referir o Farmer’s Market, no People’s Park, em Dun Laoghaire. Mercados rurais há imensos espalhados pela cidade, normalmente a um dia fixo por semana, por local. Este de que falo é ao domingo, a partir das 11:00.

A atmosfera é excelente, bebes café ou cappuccino, comes thai, chinês, mexicano, hambúrgueres ou salsichas, tens pão caseiro, chocolates, queijos ou gelados artesanais, fruta e vegetais de produtores locais e muito, muito mais. É um sitio que me acalma mesmo quando está cheio de gente (que é quase sempre).

Obrigado, Ricardo. Vemo-nos quando fizer uma viagem a Dublin.

Guia prático

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Filipe Morato Gomes
Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.

5 comentários em “Dublin por quem lá vive: Ricardo Adão”

  1. Que vontade de viajar!

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  2. Nossa que legal! Moro em Cingapura e achei genial a ideia de responder essas perguntas. A gente acaba se dando conta que vivemos muitas coisas nesse novo país e que nos acostumamos com praticamente tudo!
    Amei o texto.

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  3. Bom dia, solicito informação sobre um local para alugar em Dublin nas zonas 1 ou 6. Tenho uma oferta de trabalho numa embaixada em Dublin situada na zona 1. E nesse sentido procuro um local de alojamento dentro do valor máximo de 500€ quarto ou estúdio partilhado (tenho 56 anos) ou outras ofertas que sejam convenientes. Estou ansioso por suas indicações. Saudações, António Alves.

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