Hoje, na série de portugueses pelo mundo, vamos até Dublin, na República da Irlanda, pela mão do Ricardo Adão. O Ricardo tem 42 anos, é Data Analyst e está a trabalhar e a viver em Dublin desde agosto de 2013. Desafiei-o a partilhar connosco as suas experiências na maior cidade da Irlanda; bem como sugestões e dicas para quem quiser visitar Dublin.
É um olhar diferente e mais rico sobre Dublin – o de quem vive por dentro o dia-a-dia da capital irlandesa, estando simultaneamente fora da sua “zona de conforto”, deslocado, como acontece a todos os viajantes. Este é o 62º post de uma série inspirada no programa de televisão “Portugueses pelo Mundo”.
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Em Dublin com o Ricardo Adão (entrevista)
- 1.1 Define Dublin numa palavra.
- 1.2 Dublin é uma cidade boa para viver? Fala-nos das expectativas que tinhas antes de chegar, e se a realidade que encontraste bateu certo com a ideia preconcebida que trazias.
- 1.3 E o que mais te marcou em Dublin?
- 1.4 Como caracterizas os irlandeses?
- 1.5 Como é um dia “normal” em Dublin?
- 1.6 Como terminarias esta frase: “Não podem sair de Dublin sem…”
- 1.7 Quanto ao turismo, vamos tentar fazer um roteiro de 3 dias em Dublin. Indica-nos as coisas que, na tua opinião, sejam “obrigatórias” ver ou fazer.
- 1.8 Tens algumas dicas para poupar dinheiro em Dublin?
- 1.9 Sou grande apreciador da gastronomia em viagem. Na tua opinião, que especialidades gastronómicas temos mesmo de provar em Dublin?
- 1.10 Imagina que queremos experimentar comidas locais. Gostamos de tascas, botecos, lugares tradicionais com boa comida e se possível barato. Onde vamos jantar?
- 1.11 Uma das decisões críticas para quem viaja é escolher onde ficar. Em que zona nos aconselhas a procurar hotel em Dublin?
- 1.12 Escolhe um café e um museu
- 1.13 Falemos de diversão. O que sugeres a quem queira sair à noite em Dublin?
- 1.14 Tens alguma sugestão para quem pretender fazer compras em Dublin? O que comprar?
- 1.15 Antes de te despedires, partilha o maior “segredo” de Dublin; pode ser uma loja, um barzinho, um restaurante, um parque, uma galeria de arte, algo que seja mesmo “a tua cara”.
- 2 Guia prático
Em Dublin com o Ricardo Adão (entrevista)
Define Dublin numa palavra.
Casa.
Dublin é uma cidade boa para viver? Fala-nos das expectativas que tinhas antes de chegar, e se a realidade que encontraste bateu certo com a ideia preconcebida que trazias.
A forma como defini Dublin diz tudo. Mesmo para uma pessoa otimista por natureza, como eu, a adaptação superou todas as expectativas.
A decisão de vir viver para Dublin foi em tudo contrária ao que é tido como “normal”. Primeiro, a decisão de me despedir em Portugal; depois a de emigrar sem saber bem para onde. Comecei com cinco países, reduzi a três, e fiquei com a Irlanda. Não foi bem um papel tirado ao acaso mas pouco faltou.
Mas para não parecer totalmente ao acaso, confesso que a descrição do país e da cidade feita por um amigo e antigo colega de trabalho, a viver em Dublin desde 2005, foi decisiva. Essa conversa de meia hora que tivemos era a base da minha expectativa. A realidade foi tal e qual.
E o que mais te marcou em Dublin?
As pessoas. A ausência de pressão social e profissional; o respeito pelo que fazes; a forma como recebem um estrangeiro.
Desde que estou a viver e a trabalhar em Dublin já vou no meu terceiro emprego, com vínculos totalmente distintos: consultor, empregado por conta própria e com contrato permanente. A diferença é zero. São todos respeitados de igual forma e o teu trabalho é continuamente reconhecido.
Mesmo nos momentos em que pensas: “mas não foi para isto que fui contratado?”, tens o colega, o chefe, o chefe do chefe, todos a enviar um mail, a fazer um telefonema, a ir até ao teu lugar mostrar contentamento com o que fizeste. E isto pode acontecer diariamente. É toda uma realidade difícil de conceber para um português em Portugal.
Como caracterizas os irlandeses?
É um povo respeitador, mais fechado do que o português mas que se esforça verdadeiramente para que te sintas em casa. Ninguém dá dois beijinhos a uma mulher, em praticamente lado nenhum, e não faz sentido dar um aperto de mão a alguém que viste no dia anterior ou que vais ver no dia seguinte. São mais reservados, nunca bebem álcool ao almoço num dia de trabalho, adoram cumprir horários e não te convidam para uma jantarada na casa deles só porque são bons colegas de trabalho.
Mas tudo muda depois das 17:30, hora de saída da maioria dos empregos. Vão até um pub, pedem a primeira pint (uma espécie de três imperiais num copo bem maior) e tudo passa a ser uma festa. Terminam os estratos sociais, as diferenças, os patrões e os empregados. Há sempre um bom ambiente, seja em que dia for.
Adoram andar às compras e não ligam nada a ostentação. Teres um iPhone de 1.000€ ou uma “chinesice” de 10€ é uma opção e não uma manifestação de status. Comentar salários deixa-os desconfortáveis. São um povo diferente do nosso mas pessoas muito acessíveis.
Como é um dia “normal” em Dublin?
Em traços gerais, é como um dia normal em Lisboa. O trânsito é intenso mas menos imprevisível. Os períodos complicados estão bem definidos, algures entre as 7:45 e as 8:45 de manhã, e entre as 16:30 e as 17:45 à tarde.
Ao almoço, os dubliners gostam de sandes. Quando o tempo o permite, sentam-se na relva num dos inúmeros parques da cidade, com toda a tranquilidade. A ausência de tensão no ar impressiona, a malta aqui consegue parecer não transportar qualquer problema de trabalho para os intervalos. O mesmo acontece após as 17:30. Têm uma espécie de botão que liga o modo “família e amigos”. Por volta das 18:30, diria que 90% dos empregados já está calmamente em sua casa a usufruir da família.
Nos fins de semana e feriados – existem quatro feriados durante o ano (quatro segundas-feiras) sem qualquer conotação religiosa ou histórica; servem um único propósito: gozar de 4 fins de semana prolongados – sai toda a gente de casa.
Semanalmente tens imensas atividades ao ar livre, muitas delas gratuitas, que atraem muita gente. Os irlandeses são muito ligados a este tipo de coisas. Vás onde fores, os parques, restaurantes, centros comerciais, comércio local, está tudo sempre cheio.
Como terminarias esta frase: “Não podem sair de Dublin sem…”
Visitar um pub e beber uma pint de Guiness.
Quanto ao turismo, vamos tentar fazer um roteiro de 3 dias em Dublin. Indica-nos as coisas que, na tua opinião, sejam “obrigatórias” ver ou fazer.
Eu nunca fui uma pessoa de museus e checklists de turista. Sempre gostei de respirar uma cidade que visito pela primeira vez, sentir a rotina dos locais. Mas vou tentar fazer um roteiro.
Dia 1
Passear no St. Stephens Green, no coração da cidade; percorrer a Grafton Street; entrar no Trinity College; percorrer as Quays, junto ao Liffey; descobrir Temple Bar. Para carregar baterias, atravessar o Liffey na histórica Ha’penny Bridge e beber um cappuccino no Lemon Jelly. Antes de regressar a casa, percorrer a Henry Street, uma espécie de irmã gémea da Grafton. São muitos quilómetros para um só dia mas vale a pena.
Dia 2
Ir dar um passeio ao Phoenix Park, para ver alces e veados no seu habitat, e comer um dos melhores scones do mundo no Visitor’s Centre. Atravessar novamente o rio para sul e visitar o Irish Museum of Modern Art e, mesmo ali ao lado, a Kilmainham Gaol – a prisão que albergou muitos dos nacionalistas que lutaram pela independência da Irlanda ao longo dos séculos. Ainda há tempo para conhecer a história da cerveja mais famosa do mundo na Guiness Storehouse.
Dia 3
Apanhar o comboio na Pearse Station após tomar uma única decisão: norte ou sul?
A norte há a cidade piscatória de Howth e os jardins e a casa senhorial de Malahide. Howth tem um castelo e faróis num trilho absolutamente maravilhoso. Se a opção for sul, têm de fazer paragem obrigatória em Dun Laoghaire, que tem um centro histórico pequeno e colorido, e uma caminhada junto ao mar até Dalkey.
De seguida, apanhar novamente o comboio até Bray, almoçar num dos muitos pubs junto ao mar e depois seguir a pé, por Bray’s Head, até Greystones. São 45 minutos a andar com a montanha de um lado e o mar do outro. Não só é um passeio deslumbrante como muito concorrido por famílias irlandesas.
Quer de Howth quer de Dalkey, é possível fazer um passeio de barco ali na zona ou entre estes dois portos; o que quer dizer que acordando bem cedo, ainda se consegue fazer tudo num só dia.
Veja também o post o que fazer em Dublin.
Tens algumas dicas para poupar dinheiro em Dublin?
Não jantar fora! Os restaurantes daqui têm vários níveis de preços, consoante a refeição. O almoço é, por norma, o mais barato. Se quiseres mesmo jantar pela cidade, tens uma alternativa mais em conta: os Early Birds – uma espécie de promoção no menu do jantar para quem o quer fazer entre as 16:30 e as 18:30. A partir dessa hora, não se consegue gastar menos de 25€ por pessoa, no mínimo.
Em relação aos transportes, nunca comprar bilhetes individuais. Existe uma panóplia de opções que vão desde bilhetes família, a bilhetes de um, três ou sete dias, ou o Leap Card, semelhante ao Lisboa Viva (ainda é assim que se chama?); é um cartão pré-pago que dá descontos de mais de 20% em qualquer transporte urbano.
Sou grande apreciador da gastronomia em viagem. Na tua opinião, que especialidades gastronómicas temos mesmo de provar em Dublin?
Um bom irish breakfast, um bom Fish & Chips e o Guiness stew. Gastronomia não é o ponto forte de Dublin mas estas iguarias são obrigatórias!
Imagina que queremos experimentar comidas locais. Gostamos de tascas, botecos, lugares tradicionais com boa comida e se possível barato. Onde vamos jantar?
Genericamente, Dublin é um local caro para comer fora de casa. Ainda assim, os almoços, um pouco por todo o lado, têm o lado tradicional num bom carvery. Escolhes a carne (porco ou peru), são cortadas duas ou três fatias duma peça assada, escolhes os acompanhamentos que quiseres entre mash (puré de batata), ervilhas e/ou cenouras salteadas, arroz, batatas fritas ou batatas assadas. É verdade, um irlandês típico é pessoa para pedir um pouco de cada.
Se o desejo for mesmo jantar, fiquemo-nos por uma das muitas hamburguerias. Não confundir com Burger King ou McDonald’s! Tens uma lista de ingredientes e constróis o teu próprio prato. Pagas 10€ a 12€ (sem bebidas) mas ficas com a sensação que estás a comer algo caseiro. Aconselho.
Uma das decisões críticas para quem viaja é escolher onde ficar. Em que zona nos aconselhas a procurar hotel em Dublin?
A zona de St Stephens Green é do mais central que podes ter e há opções para todas as carteiras, desde Bed & Breakfast a preços muito acessíveis aos mais luxuosos hotéis da cidade. Não recomendo o lado norte da cidade. Esta zona é mais problemática e as atrações são quase inexistentes.
Veja também o artigo sobre onde ficar em Dublin.
Escolhe um café e um museu
Café: o Lemon Jelly, na Millennium Walkway, perto do rio, é o primeiro café que me vem à cabeça; mas há muitos outros que não lhe ficam atrás.
Museu: o Dead Museum of Dublin, no Natural History Museum, na Merrion Street. É fascinante ver milhares de animais embalsamados da maneira como estão expostos. Tem a vantagem de ser gratuito.
Falemos de diversão. O que sugeres a quem queira sair à noite em Dublin?
George Street, Aungier Street e Camden Street. Na prática é a mesma rua mas vai mudando de nome a cada meia dúzia de metros. É comum por estas bandas mas verdadeiramente estranho para quem cresceu em Portugal. Tens diversão que chegue nas artérias.
Começa a noite no Market Bar, e termina no Whelan’s, um dos melhores locais de diversão noturno da cidade, na minha opinião. Há imensos concertos ao vivo e um ambiente muito parecido com o do Bairro Alto, em Lisboa.
Tens alguma sugestão para quem pretender fazer compras em Dublin? O que comprar?
Dublin é uma cidade globalizada. Não me recordo de nada que me fizesse apanhar um avião com o impulso de comprar algo especial. Os preços são muito semelhantes aos de Lisboa, por exemplo. Mas se estiveres decidido a visitar a cidade e precisares mesmo de renovar o guarda-roupa, traz uma mala de mão o mais vazia possível. Aqui não faltam lojas dos mais variados estilos.
Quanto aos indispensáveis souvenirs, aconselho a não perderem tempo precioso nas lojas da cidade. A que existe no aeroporto é excelente e os preços, em 90% das coisas, são iguais.
Antes de te despedires, partilha o maior “segredo” de Dublin; pode ser uma loja, um barzinho, um restaurante, um parque, uma galeria de arte, algo que seja mesmo “a tua cara”.
Não posso deixar de referir o Farmer’s Market, no People’s Park, em Dun Laoghaire. Mercados rurais há imensos espalhados pela cidade, normalmente a um dia fixo por semana, por local. Este de que falo é ao domingo, a partir das 11:00.
A atmosfera é excelente, bebes café ou cappuccino, comes thai, chinês, mexicano, hambúrgueres ou salsichas, tens pão caseiro, chocolates, queijos ou gelados artesanais, fruta e vegetais de produtores locais e muito, muito mais. É um sitio que me acalma mesmo quando está cheio de gente (que é quase sempre).
Obrigado, Ricardo. Vemo-nos quando fizer uma viagem a Dublin.
Guia prático
Onde ficar
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Seguro de viagem
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Que vontade de viajar!
Nossa que legal! Moro em Cingapura e achei genial a ideia de responder essas perguntas. A gente acaba se dando conta que vivemos muitas coisas nesse novo país e que nos acostumamos com praticamente tudo!
Amei o texto.
Olá Thália, já leu o post desta série sobre viver em Singapura? Vale a pena! :)
Que legal, amei.
Bom dia, solicito informação sobre um local para alugar em Dublin nas zonas 1 ou 6. Tenho uma oferta de trabalho numa embaixada em Dublin situada na zona 1. E nesse sentido procuro um local de alojamento dentro do valor máximo de 500€ quarto ou estúdio partilhado (tenho 56 anos) ou outras ofertas que sejam convenientes. Estou ansioso por suas indicações. Saudações, António Alves.