
Hoje, na série de portugueses pelo mundo, vamos até Halong pela mão da Joana Sousa. A Joana tem 24 anos, é Professora de Inglês e está a viver em Halong há quase meio ano. Desafiei-a a partilhar connosco as suas experiências num dos mais movimentados centros turísticos do Vietname, bem como sugestões e dicas para quem quiser visitar Halong Bay e conhecer um pouco melhor a região.
É um olhar diferente e mais rico sobre Halong – o de quem vive por dentro o dia-a-dia da povoação vietnamita, estando simultaneamente fora da sua “zona de conforto”, deslocado, como acontece a todos os viajantes. Este é o 52º post de uma série inspirada no programa de televisão “Portugueses pelo Mundo”.
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Em Halong com a Joana Sousa (entrevista)
- Define Halong numa palavra.
- Halong é uma cidade boa para viver? Fala-nos das expectativas que tinhas antes de chegar, e se a realidade que encontraste bateu certo com a ideia preconcebida que trazias.
- E o que mais te marcou em Halong?
- Como caracterizas os vietnamitas?
- Como é um dia “normal” em Halong?
- Como terminarias esta frase: “Não podem sair de Halong sem…”
- Quanto ao turismo, vamos tentar fazer um roteiro de 3 dias em Halong. Indica-nos as coisas que, na tua opinião, sejam “obrigatórias” ver ou fazer.
- Tens algumas dicas para poupar dinheiro em Halong?
- Sou grande apreciador da gastronomia em viagem. Na tua opinião, que especialidades gastronómicas temos mesmo de provar em Halong?
- Imagina que queremos experimentar comidas locais. Gostamos de tascas, botecos, lugares tradicionais com boa comida e se possível barato. Onde vamos jantar?
- Uma das decisões críticas para quem viaja é escolher onde ficar. Em que bairro nos aconselhas a procurar hotel em Halong?
- Escolhe um café e um museu.
- Falemos de diversão. O que sugeres a quem queira sair à noite em Halong?
- Tens alguma sugestão para quem pretender fazer compras em Halong? O que comprar?
- Antes de te despedires, partilha o maior “segredo” de Halong; pode ser uma loja, um barzinho, um restaurante, um parque, uma galeria de arte, algo que seja mesmo “a tua cara”.
- Guia prático
Em Halong com a Joana Sousa (entrevista)
Define Halong numa palavra.
Joia!
Halong é uma cidade boa para viver? Fala-nos das expectativas que tinhas antes de chegar, e se a realidade que encontraste bateu certo com a ideia preconcebida que trazias.
Quando soube que ia viver para Halong, as primeiras coisas que me vieram à cabeça foram aquelas imagens lindas da Baía de Halong aquando da nomeação para Património Mundial da UNESCO, barquinhos piscatórios e toda uma cidade pequenina entre ilhas e barcos e saliências rochosas. Tentei depois pesquisar mais um pouco mas a verdade é que nem a minha nova morada consegui encontrar. Conhecer a cidade foi mesmo uma coisa de “esperar para ver”.
Quando lá chegámos, tudo era brutalmente diferente. O centro da cidade era muitíssimo movimentado mas o sítio onde eu iria viver era mais calmo e com a melhor vista que eu consigo imaginar.
Halong é um bom sítio para viver e não tenho quaisquer dúvidas disso.
E o que mais te marcou em Halong?
Honestamente, para mim o choque cultural foi intenso. Não só por estar na Ásia como por ser picuinhas com a comida e por estar completamente longe da minha zona de conforto.
Por essas razões, e todos os inconvenientes que foram aparecendo dia após dia, (tinha ratos na cozinha que, ao fim de um tempo, se tornaram nos nossos Ratattouille), quando eu precisava de desanuviar, subia as escadas até ao terraço e ficava por lá: a falar, a planear ou simplesmente a aproveitar o sossego que aquele sítio me trazia, mesmo quando tudo o resto parecia de impossível resolução. O momento da última lua cheia do ano foi, definitivamente, o que mais me marcou em Halong.
Como caracterizas os vietnamitas?
No mínimo, curiosos. Sempre que ia às compras ou saía só por sair, eles faziam questão de perguntar como, onde e por que razão é que eu tinha ido fosse onde fosse. Para além disso, também sei que são pessoas com um coração genuíno. Fizemos uma série de amigos que nos fizeram sentir em casa e nos mostraram todas as joias de Halong.
Os vietnamitas são brincalhões por natureza, muitíssimo curiosos, generosos e dispostos a partilhar uma das “sete maravilhas naturais do mundo” com quem esteja disponível para a ver.
Como é um dia “normal” em Halong?
A cidade acorda cedo e, portanto, nós também. Por volta das cinco e pouco já está tudo operacional e a funcionar, consegue-se ouvir as buzinadelas fervorosas típicas do Vietname e as lojas começam a abrir.
Toda a gente começa a trabalhar cedo e, de manhã, conseguimos ver um turbilhão de coisas a acontecer. As senhoras a carregar os cestos com fruta para o mercado, os pais a levarem três e quatro filhos nas motorizadas para a escola, um trilião de motas em trânsito, mulheres e homens a trabalharem na construção civil e as lojas e os restaurantes a montarem as bancas cá fora. O pequeno-almoço vietnamita em nada difere do almoço ou do jantar, o que significa que podemos ver vietnamitas sentados nos bancos de plástico, pequeninos, a comerem noodles fritos ou pho ou até mesmo um prato de carne.
Por volta das onze, quase tudo fecha e ir a um restaurante de rua pode ser uma aventura. Das onze às duas da tarde é a hora não só do almoço como da sesta. Eles fazem-na desde pequeninos – nas escolas públicas é normal terem camas para os alunos dormirem a sesta – e essa tradição mantém-se até serem velhinhos. As pessoas dormem nas suas lojas com camas de rede extensíveis e não aceitam ser interrompidas.
Às três da tarde já há vida na cidade outra vez, voltamos ao ruído e ao tráfego impossível e isto mantém-se até às cinco da tarde (hora de ponta). Os miúdos saem da escola e passar à porta de uma escola a essa hora é de uma loucura tremenda, a passagem é impossível, a confusão é enorme e o barulho intolerável (o que torna tudo meio fascinante).
Das cinco da tarde até às nove da noite, a cidade vibra, pode-se ver imensa gente na rua, todas as lojas abertas (é a melhor altura para fazer as compras que são fora do mercado) e um ambiente ameno e respirável.
Às dez da noite quase tudo fecha à excepção dos carrinhos ambulantes de comida que abrem especialmente nessas alturas e que ficam abertos até cerca das duas da manhã. A cidade descansa então a essa hora para, às cinco da manhã, estar de volta outra vez.
Como terminarias esta frase: “Não podem sair de Halong sem…”
…comer um banh mí! Mas tem de ser um específico, de um restaurante específico. Tentei outros e nenhum, NUNCA, fez tanta justiça ao nome. Banh Mi An é o nome do restaurante.
Eu sou vegetariana e, como tal, nunca comi outro sem ser o vegetariano mas há uma mão cheia de opções que podem experimentar. É uma sandes, em pão vietnamita (o banh mi), com ovo, pepino, cenoura e rabanete branco (ambos em vinagre), molho de soja, chili e uma manteiga/maionese também vietnamita.
Quanto ao turismo, vamos tentar fazer um roteiro de 3 dias em Halong. Indica-nos as coisas que, na tua opinião, sejam “obrigatórias” ver ou fazer.
Halong é uma cidade pequenina. O que é absurdamente impossível de ver são as ilhas habitáveis de Halong. Como não dá para ver todas, eu aconselho esta: Cat Bá. É uma espécie de paraíso na terra.
Cat Bá fica a uma hora de ferry da Marina de Halong (mais propriamente Tuan Chau). Há ferries desde as sete da manhã até às quatro da tarde, mas eu aconselhava irem dois dias para conhecerem bem o sítio. Em Cat Bá podem ver montanhas cavadas por dentro que serviram de esconderijo aos Vietnamitas durante a guerra e que, ainda hoje, estão operacionais. Podem ficar nos bungalows mesmo no topo de uma colina e ver o anoitecer do alto de um coreto com vista para uma das maravilhas naturais do mundo.
No terceiro dia podem sempre ir ao coração da cidade (Halong), ver o mercado gigante, quiçá escalar a Montanha Poema (demora uma hora e pouco e a vista é lindíssima, mesmo no centro da cidade), dar uma voltinha na Sun Wheel (acessível de teleférico) e ir ao Jardim dos Buddhas (no alto da montanha onde fica a Sun Wheel).
Tens algumas dicas para poupar dinheiro em Halong?
Aprendam os números até dez, são relativamente fáceis, e vão sempre ao mercado. Os mercados são mais baratos que qualquer outra coisa e regateiem sempre que possam. Não tenham medo de virar costas ou dizer o preço mais baixo que estão dispostos a pagar quando vos dão a calculadora para a mão. A nossa estratégia era falar em português e fazer o “good cop, bad cop” e funcionou sempre (especialmente em coisas que eram mais caras). Vão às lojas que parecem mais desarrumadas e que têm menos coisas que conhecemos.
Quanto a restaurantes vão àqueles que vos parecerem mais brega mas peçam sempre o menu antes ou, caso não haja menu, peçam o preço das coisas previamente.
Sou grande apreciador da gastronomia em viagem. Na tua opinião, que especialidades gastronómicas temos mesmo de provar em Halong?
Para mim, das coisas que mais gosto é o Lâu (ou hot pot). É uma panela com um caldo e dependendo do que se acrescenta, os preços variam. Eu geralmente como as verduras, o tofu e os noodles mas também se pode comer peixe, marisco ou carne. A panela é posta à nossa frente com o caldo, em cima dum bico de gás, que fica ligado o tempo todo. Depois é só pôr as coisas que queremos lá para dentro e tirá-las quando estiverem prontas. É genial!
Também podem encontrar arroz frito ou noodles fritos mas acho que isso já é mais transversal a todo o Vietname. O Lâu também pode ser encontrado em todo o lado mas é especialmente saboroso no norte.
Imagina que queremos experimentar comidas locais. Gostamos de tascas, botecos, lugares tradicionais com boa comida e se possível barato. Onde vamos jantar?
Há um restaurante, no centro de Halong, que é meio escondido mas barato e podemos comer lá um belíssimo Lâu por menos de 4€. Chama-se FoodPlay BBQ e é um mimo! Boa onda e boa comida a um preço genial.
Uma das decisões críticas para quem viaja é escolher onde ficar. Em que bairro nos aconselhas a procurar hotel em Halong?
Para alojamento barato, em Cat Bá aconselho o Bungalow Hostel; e em Halong o Backpackers Hostel. Podem apanhar o autocarro para o centro, é barato e fica num óptimo sítio para tudo. Mais caro, podem sempre ficar nos hotéis de cinco estrelas que parecem divinais – como o excelente Wyndham Legend Halong.
Escolhe um café e um museu.
O meu café preferido é, de longe, o Xua Nay Caffe! Fica pertinho do teleférico e do Backpackers Hostel e é de sonho. É um jardim, com uma fonte e um barco atracado no meio, com todas as decorações a que temos direito. É muito bonito e muito agradável, especialmente após um dia ao sol cansativo.
Eu não fui a nenhum museu em Halong mas fui em Cat Bá, ao hospital/base militar dentro da montanha. É muito interessante e dá-nos uma visão nova sobre a guerra do Vietname.
Falemos de diversão. O que sugeres a quem queira sair à noite em Halong?
Eu sou suspeita porque um dos meus amigos era dono de um bar, a que fomos na maior parte das vezes. O bar chama-se “Funky bar” e fica perto de todas as coisas que descrevi anteriormente. É pequenino mas as bebidas são baratas.
Fomos também a uma das maiores discotecas do Vietname (em Halong) e ficámos completamente boquiabertos com a imensidão daquilo, é um bocadinho mais caro mas vale a pena só pelo tratamento VIP que temos por sermos ocidentais. Chama-se New Halong View Club e é completamente insano!
Por outro lado, caso queiram qualquer coisa mais calma e privada, recomendo uma noite de karaoke no melhor karaoke da cidade (e arredores, segundo consta), chama-se Phantom KTV Karaoke e é de outro nível.
Tens alguma sugestão para quem pretender fazer compras em Halong? O que comprar?
Recomendo fazerem compras de lembranças no Mercado Nocturno, no Marine Plaza em Halong. Há uns pentes de concha, os chapéus vietnamitas, candeeiros feitos em conchas e búzios, espanta-espíritos lindíssimos e tudo mais. Eu não resisti e comprei um espanta-espíritos feito em búzios e um barco (dos que normalmente vagueiam pela Baía) feito também ele em conchas, mas cuidado na viagem, é frágil!
Antes de te despedires, partilha o maior “segredo” de Halong; pode ser uma loja, um barzinho, um restaurante, um parque, uma galeria de arte, algo que seja mesmo “a tua cara”.
Eu diria que o meu maior segredo é mesmo a varanda de minha casa, mas como não está acessível para toda a gente, eu aconselho a irem a Cat Bá e a verem a vista do alto da colina, o Bungalow Hostel tem um bar com vista para toda a baía. Não há nada mais bonito que isso e, como tal, vou assumir que é mesmo o meu estilo.
Espero, sinceramente, que quando planearem a vossa viagem ao Vietname passem também por Halong, mas mais especialmente por Cat Bá. É memorável, garanto-vos. Até que ventos vos tragam, um beijinho, do Vietname!
Obrigado, Joana. Vemo-nos numa próxima viagem a Halong Bay.
Guia prático
Onde ficar
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