Hoje, na série de portugueses pelo mundo, vamos até Kuala Lumpur pela mão do Nuno do Carmo. O Nuno tem 34 anos, é Professor Universitário e está a viver em Kuala Lumpur desde janeiro de 2016. Desafiei-o a partilhar connosco as suas experiências na capital da Malásia; bem como sugestões e dicas para quem quiser visitar Kuala Lumpur e conhecer um pouco melhor a cidade.
É um olhar diferente e mais rico sobre Kuala Lumpur – o de quem vive por dentro o dia-a-dia da maior cidade da Malásia, estando simultaneamente fora da sua “zona de conforto”, deslocado, como acontece a todos os viajantes. Este é o 58º post de uma série inspirada no programa de televisão “Portugueses pelo Mundo”.
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Em Kuala Lumpur com o Nuno do Carmo (entrevista)
- 1.1 Define Kuala Lumpur numa palavra.
- 1.2 Kuala Lumpur é uma cidade boa para viver? Fala-nos das expectativas que tinhas antes de chegar, e se a realidade que encontraste bateu certo com a ideia preconcebida que trazias.
- 1.3 E o que mais te marcou em Kuala Lumpur?
- 1.4 Como caracterizas os malaios?
- 1.5 Como é um dia “normal” em Kuala Lumpur?
- 1.6 Como terminarias esta frase: “Não podem sair de Kuala Lumpur sem…”
- 1.7 Quanto ao turismo, vamos tentar fazer um roteiro de 3 dias em Kuala Lumpur e arredores. Indica-nos as coisas que, na tua opinião, sejam “obrigatórias” ver ou fazer.
- 1.8 Tens algumas dicas para poupar dinheiro em Kuala Lumpur?
- 1.9 Uma das decisões críticas para quem viaja é escolher onde ficar. Em que bairro nos aconselhas a procurar hotel em Kuala Lumpur?
- 1.10 Sou grande apreciador da gastronomia em viagem. Na tua opinião, que especialidades gastronómicas temos mesmo de provar em Kuala Lumpur?
- 1.11 Imagina que queremos experimentar comidas locais. Gostamos de tascas, botecos, lugares tradicionais com boa comida e se possível barato. Onde vamos jantar?
- 1.12 Escolhe um café e um museu.
- 1.13 Falemos de diversão. O que sugeres a quem queira sair à noite em Kuala Lumpur?
- 1.14 Tens alguma sugestão para quem pretender fazer compras em Kuala Lumpur? O que comprar?
- 1.15 Antes de te despedires, partilha o maior “segredo” de Kuala Lumpur; pode ser uma loja, um barzinho, um restaurante, uma galeria de arte, algo que seja mesmo “a tua cara”.
- 2 Guia prático
Em Kuala Lumpur com o Nuno do Carmo (entrevista)
Define Kuala Lumpur numa palavra.
Um-pouco-menos-caótica-quando-comparada-com-outras-capitais-asiáticas.
Kuala Lumpur é uma cidade boa para viver? Fala-nos das expectativas que tinhas antes de chegar, e se a realidade que encontraste bateu certo com a ideia preconcebida que trazias.
Sim, é, mas depende muito do que se valoriza, e de como se vive o dia a dia. É uma cidade de contrastes extremos. Habitação muito cara, pois é 99% em condomínios fechados; mas tudo o resto, principalmente a comida, é super acessível.
O principal a ter em conta é a zona onde se vai trabalhar em Kuala Lumpur; e, claro, onde se quer viver. Isto porque o trânsito é caótico, e há imensa gente que passa horas nas deslocações de e para o trabalho.
O sistema de autocarros é impossível de perceber, e a única opção viável em termos de transportes públicos é o metro, que tem imensas linhas, mas que não chega a tantos locais como se gostaria, tendo em conta o tamanho da cidade. Faltam locais verdes e caminhar é algo inviável, principalmente quando não se vive no centro ou em áreas mais turísticas.
Eu, originalmente, não planeava ficar a viver em Kuala Lumpur (KL), pois ia ser destacado para uma região mais remota a norte da Malásia mas, quando a oportunidade surgiu, decidi apostar na cidade. Viver um pouco fora do centro de Kuala Lumpur, numa zona de fáceis acessos e com um parque ao lado (perto do LRT de Asia Jaya, em Petaling Jaya), foi uma decisão pragmática; tal como a compra de uma moto, que me permite chegar ao emprego em sete minutos.
O mais difícil foi a adaptação ao trânsito constante, às dificuldades em conseguir correr na rua (pela falta de passeios) e ao facto de muitas atividades serem indoor, devido ao calor. Comparando com as outras grandes capitais do Sudeste Asiático, continuo a achar que KL é mais fácil de gerir e menos caótica, mas ainda assim é uma experiência muito intensa, e há que perceber isso.
E o que mais te marcou em Kuala Lumpur?
Pela parte negativa, o trânsito constante, a falta de espaços verdes, os inúmeros condomínios fechados. É um estilo de vida quase sufocante, onde se perde imenso tempo na estrada, e grande parte do lazer é dentro de shoppings gigantes. Há um parque central, e mais áreas verdes longe do centro de KL, mas exigem sempre um esforço para lá chegar. É super difícil encontrar um local mais tranquilo, onde estejam poucas pessoas.
Kuala Lumpur é também uma cidade de desequilíbrios. Há imensa riqueza, mas muito mal distribuída. Somos capazes de viver com todos os luxos, que encontramos em todo o lado, e viramos a esquina e vemos bairros degradados, pessoas a dormir na rua, famílias com muito poucas posses. A Malásia fora de Kuala Lumpur é um país mais equilibrado, com menos desigualdades visíveis, mas em KL não é assim.
Pela parte positiva, marcou-me a grande tendência para a sociabilidade das pessoas de KL. Estão sempre em torno de uma mesa, onde passam horas a comer, a falar de tudo e nada, a partilhar. Há também imensos grupos, para todo o tipo de atividades – das desportivas às culturais -, pelo que é fácil fazer amigos e ter um círculo de pessoas à nossa volta. E isso ajuda imenso na adaptação.
Como caracterizas os malaios?
A raça é um tema muito delicado na Malásia, onde existem três grupos principais: os Malaios (65% da população), os Chineses (25%) e os Indianos (10%). A relação entre os grupos nem sempre é a melhor, principalmente a nível político.
Há uma enorme sensibilidade para com os Malaios, o único grupo Muçulmano, e percebe-se muitas vezes, especialmente nas gerações mais antigas, uma desconfiança entre os grupos. Há zonas quase exclusivamente habitadas por um determinado grupo, com as lojas, a comida, e a língua que se ouve a refletir isso.
A população é, no entanto, extremamente aberta a estrangeiros, sendo muito hospitaleira e fazendo um esforço para mostrar o que de melhor tem o país. Os convites para se ir jantar a casas particulares ou a restaurantes são regulares. Há também uma grande humildade. Além disso, nota-se bastante a diferença entre os naturais de Kuala Lumpur e os de regiões mais distantes, no seu estilo e filosofia de vida.
Como é um dia “normal” em Kuala Lumpur?
Acordar cedo, ir ao ginásio, passar o dia na universidade, e desfrutar de um qualquer momento social ou cultural no final do dia. Em alguns dias, apanhar o nascer do sol num monte pelas redondezas.
A minha ideia foi sempre organizar a minha vida de modo a conseguir ter espaço para atividades lúdicas, e fazer por não ficar retido no trânsito durante horas. Conhecendo um pouco a cidade e os seus ritmos consegue-se encontrar um bom equilíbrio, e desfrutar do muito que KL tem para oferecer.
Como terminarias esta frase: “Não podem sair de Kuala Lumpur sem…”
Conhecer os mais variados restaurantes e experimentar novos e intermináveis sabores.
Quanto ao turismo, vamos tentar fazer um roteiro de 3 dias em Kuala Lumpur e arredores. Indica-nos as coisas que, na tua opinião, sejam “obrigatórias” ver ou fazer.
Dia 1
Um dos programas mais agradáveis passa por começar perto da estação central, e daí caminhar em direção ao Perdana Botanical Garden. Passamos pela Mesquita Nacional e seguimos depois para o Museu de Arte Islâmica, ao cimo da mesma estrada; é, de longe, o museu visualmente mais impressionante de Kuala Lumpur.
O parque onde se localizam é o maior da cidade, e podemos depois seguir para um piquenique por lá, antes de visitar o gigante Bird Park e o Butterfly Park. Regressar depois à estação central, e jantar na Little India / Brickfields, nas suas traseiras.
Dia 2
No segundo dia, apostaria pela parte mais central de KL. Começaria por um passeio por Chinatown, onde as ruas centrais estão ocupadas por um mercado interminável; entre cópias, produtos novos, e usados. E por experimentar umas noodles tipicamente chinesas, numa das ruelas transversais, para pequeno-almoço; basta escolher as que mais nos seduzem, tendo em conta o que se vê comer nas mesas.
O Central Market é também nas redondezas, seguindo-se depois para a parte de Bukit Bintang, com as suas intermináveis lojas, o Pavillion, o shopping mais famoso da zona, e finalmente KLCC, com as torres gémeas, o seu parque, e as suas multidões.
Nesta zona, uma das possibilidades mais interessantes para jantar será num dos muitos restaurantes panorâmicos, sendo os mais famosos o rotativo na KL Tower, ou o Marini’s, numa torre ao lado das torres gémeas, e com uma vista fantástica para as mesmas.
Para quem quer algo diferente, um pouco mais a norte, mas ainda acessível a pé, temos o Kampung Baru, um dos bairros mais antigos da capital, com vistas para KLCC. Este bairro distingue-se por ser todo em casas de madeira, sem prédios elevados, e querer conservar o estilo de vida Malaio, resistindo ao desenvolvimento. Há também um mercado noturno ao sábado, e imensas opções para jantar.
Dia 3
No último dia, acordar bem cedo para ver o sol nascer em Titiwangsa, no norte da cidade; é um parque muito tranquilo, onde estamos rodeados por praticantes de tai chi e vemos o reflexo da cidade na água, enquanto esta acorda.
Um dos locais mais populares nas redondezas são as Batu Caves, com os seus templos hindus no topo de cerca de 300 degraus mas, honestamente, eu saltava para um comboio e ia até Putrajaya, a capital do governo. As atividades por lá não são muitas, mas gosto imenso do contraste entre o caos de KL e a construção planeada de Putrajaya, com as suas ruas largas, os seus imensos espaços verdes, como o jardim botânico, e a sua tranquilidade. Há também a possibilidade de fazer um cruzeiro no seu enorme lago, e de visitar a gigante mesquita Putra.
Voltaria depois ao centro pela hora de jantar, jantando por Bukit Bintang; a famosa Jalan Alor, sempre concorrida, oferece imensas opções e come-se em esplanadas. Uma bebida em Changkat, para viver a noite na Malásia, terminaria estes três dias de forma perfeita.
Tens algumas dicas para poupar dinheiro em Kuala Lumpur?
Apostar, sempre, na comida de rua, com exceção dos restaurantes panorâmicos. Usar transportes públicos sempre que possível, mas lembrar que o Uber é super barato e, quando se pretender visitar algum local mais distante, é a melhor opção.
Uma das decisões críticas para quem viaja é escolher onde ficar. Em que bairro nos aconselhas a procurar hotel em Kuala Lumpur?
A zona mais central e de mais fácil acesso será KLCC, onde se situam as Torres Petronas. É, no entanto, uma zona onde os hotéis são mais luxuosos, pelo que os preços serão mais elevados. Ao contrário, a Chinatown será também relativamente perto (15 minutos a pé) e aí os preços são bem mais acessíveis; é uma zona de bastante movimento pela noite, pelo que há que ter isso em conta se quiser mais sossego.
Pesquisar hotéis em Kuala Lumpur
Sou grande apreciador da gastronomia em viagem. Na tua opinião, que especialidades gastronómicas temos mesmo de provar em Kuala Lumpur?
O prato típico, tradicionalmente para pequeno-almoço mas agora encontrado em todo o lado e a qualquer hora, é o fantástico nasi lemak (arroz gordo), cozido em água de coco, acompanhado de sambal (picante), meio ovo cozido, anchovas, amendoins, e pepino. O frango é a carne principal e, se na sua versão rendang, é simplesmente delicioso.
A Malásia é também dos poucos países onde há uma predileção pela durian, a fruta amarela conhecida pelo seu muito mau cheiro e sabor super intenso; mais curioso ainda é o rojak, um prato que significa literalmente “mistura”, e que envolve uma variedade imensa de sabores. Levando fruta, vegetais, e imensas especiarias, é algo doce, salgado, neutro, picante, salgado, doce, crocante. Um prato sem dúvida surpreendente.
Há também uma quase obsessão pelo cendol, um semi-doce verde, com muito gelo e açúcar – algo também a provar. E o “pão” local, entre rotis e naans, os primeiros mais pela manhã, os últimos pela noite, e sempre nos mamaks.
Principalmente em Malaca, mas também encontrado um pouco por todo o país, há o bahulu, um parente distante do pão-de-ló, e que traz imensas memórias, quando se vive tão longe.
Imagina que queremos experimentar comidas locais. Gostamos de tascas, botecos, lugares tradicionais com boa comida e se possível barato. Onde vamos jantar?
A qualquer mamak, os restaurantes dos indianos muçulmanos; estão abertos 24 horas por dia, com comida super barata, pouco saudável mas super reconfortante. São encontrados normalmente em esquinas de ruas; costumam estar cheios; e há até bastantes cadeias espalhadas pela cidade (Pelita, Raj’s Banana Leaf, Syed’s). Os menus tendem a ser gigantes, as doses também; é comfort food no seu melhor, a qualquer hora do dia.
Escolhe um café e um museu.
Café: VCR, em Bukit Bintang. Um local moderno, numa zona algo escondida mas bem no centro comercial, com uma boa variedade de bebidas, normalmente tranquilo, e com boa música.
Museu de Arte Islâmica, o mais impressionante visualmente, perto da mesquita nacional e do parque central.
Falemos de diversão. O que sugeres a quem queira sair à noite em Kuala Lumpur?
O clássico é ir para a zona de Changkat, em Bukit Bintang; é onde há a maior concentração de bares (muitos deles de teor algo duvidoso) e o álcool abunda. Havendo imensas opções, pode ser também algo cansativa, tendo em conta que toda a gente vai lá para isso, e é complicado encontrar um local mais pacato.
Uma alternativa bem mais equilibrada é a zona de Bangsar. Não é tão central, mas há uma variedade imensa de restaurantes, bares e outros estabelecimentos com ofertas de diversão, como música ao vivo.
Tens alguma sugestão para quem pretender fazer compras em Kuala Lumpur? O que comprar?
A variedade étnica é imensa na Malásia, principalmente na ilha do Bornéu. Tanto Sabah como Sarawak oferecem imensas opções, de vários grupos étnicos, desde máscaras a vários artigos de decoração.
Para quem gosta de indumentárias mais formais, o baju melayu é um traje tradicional malaio que consegue ser muito bonito; e há também imensas opções em batik, algo visto maioritariamente na Malásia e na Indonésia.
Uma solução fácil para quem tem pouco tempo é o Central Market, onde encontrará imensos corredores com os mais variados artigos locais.
Antes de te despedires, partilha o maior “segredo” de Kuala Lumpur; pode ser uma loja, um barzinho, um restaurante, uma galeria de arte, algo que seja mesmo “a tua cara”.
O espaço Publika, em Mount Kiara, tem uma oferta fantástica a nível cultural. Todo o tipo de exibições, concertos, pequenos concertos. Apesar de ser algo concorrido ao fim de semana, é dos sítios mais agradáveis e interessantes onde passar o dia.
Algo que também gosto imenso, mas que é um pouco mais complicado a nível de logística, é fazer um dos muitos trilhos existentes nos arredores da cidade. Normalmente, estes distam 20 a 50kms do centro (o que é normal, nos standards da Malásia); e conseguem-se vistas fantásticas deste país ainda tão verde, mas tão denso.
Só saindo de Kuala Lumpur é que se consegue também respirar ar puro e, muitas vezes, ver o azul do céu; em determinados períodos há um smog quase constante na cidade. Pela noite, há também locais lindíssimos para observar as estrelas.
Obrigado, Nuno. Vemo-nos quando fizer uma próxima viagem à Malásia.
Guia prático
Onde ficar
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Seguro de viagem
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