Xangai por quem lá vive: Maria Luísa

Por Filipe Morato Gomes
Viver em Xangai: Nanjing Road
Nanjing Road, em Xangai

Hoje, na série de portugueses pelo mundo, vamos até a Xangai pela mão da Maria Luísa. A Luísa é funcionária pública e está a viver em Xangai há quase 4 anos. Convidei-a a partilhar connosco as suas sugestões de dicas e roteiros de Xangai, uma experiência marcada pelos passeios nos parques e espaços verdes da metrópole chinesa.

É um olhar diferente e mais rico sobre Xangai – o de quem vive por dentro o dia-a-dia da cidade, estando simultaneamente fora da sua “zona de conforto”, deslocado, como acontece a todos os viajantes. Este é o 14º post de uma série inspirada no programa de televisão “Portugueses pelo Mundo”.

Em Xangai com a Maria Luísa (entrevista)

Define Xangai numa palavra.

Duas palavras: Blade Runner.

Xangai é uma cidade boa para viver? Fala-nos das expectativas que tinhas antes de chegar, e se a realidade que encontraste bateu certo com a ideia preconcebida que trazias.

Desconhecia a nova realidade da China. Imaginava muito lixo, fios de eletricidade abandonados nos passeios e trânsito. Mas, nos primeiros dois anos, tal como se me apaixonasse, só vi luzes e arranha-céus e olhinhos pequenos. Tudo me fascinava. O facto de ser fácil viver em Xangai – está muito adaptada a estrangeiros – tornou o encanto ainda maior.

E o que mais te marcou em Xangai?

O que mais me marcou e ainda marca: é tudo to-tal-men-te diferente do mundo ocidental. Os hábitos, as regras, a forma de agir e de pensar. Aqui é normal arrotar numa reunião de negócios ou levar fruta para a casa de amigos, em vez de flores. Não é possível saber falar a língua sem compreender a cultura, de tal modo estão interligadas. Viver na China é uma aprendizagem diária. Sem dúvida que Xangai me marcou pela positiva, porque me tornou uma pessoa muito mais paciente.

Como caracterizas os chineses?

O que se nota logo à partida é a agressividade dos autóctones, não só na maneira de falar, mas também de agir – toda a gente se empurra no metro, passa à frente nas filas, discute no meio da rua.

Outra característica muito particular da sociedade chinesa é que as mulheres têm muito poder. Muitas são quadros superiores de grandes empresas internacionais mas, acima de tudo, o poder vê-se em casa. Conheço um casal local em que ela, reformada, passa o dia com a neta e ele levanta-se mais cedo para cozinhar o pequeno-almoço e quando chega a casa vai fazer o jantar (em Xangai a reforma chega aos 50 para as senhoras e aos 60 para os homens).

Como terminarias esta frase: “Não podem sair de Xangai sem…”

Fazer uma massagem aos pés, comer xiaolongbao e ver as luzes de Pudong.

Vamos complicar a conversa e tentar fazer um roteiro de 3 dias em Xangai. Indica-nos as coisas que, na tua opinião, sejam “obrigatórias” ver ou fazer.

1º dia – Atravessar o rio e visitar o centro económico da cidade, em Pudong. Vale a pena subir a um dos arranha-céus, mas só se não houver nevoeiro ou smog, o que é raro nesta cidade: a Pearl Tower tem uma mini-montanha russa, o Jin Mao tem um hotel que lembra a Guerra das Estrelas, o World Financial Center é, até à data, o edifício mais alto de Xangai.

Regressar a Puxi e ir ao mercado dos tecidos (recomendo a loja 120) para fazer roupa à medida – aqui, sobretudos de caxemira e vestidos de seda custam dez vezes menos que em Portugal. Seguir para Yu Yuan, para visitar o mais conhecido jardim chinês da metrópole. Se ainda houver tempo e a gripe das aves já estiver esquecida, caminhar 10 minutos até ao mercado dos animais e ver grilos de competição. Não é invulgar ver senhores com lupa a verificar se os insetos estão em condições de ganhar uma corrida. Do outro lado da rua há um mercado de antiguidades onde se pode encontrar muito lixo, mas também pequenos tesouros.

À noite, ir ao Bund (zona ribeirinha de Puxi, em frente aos arranha-céus). Depois de um passeio ao longo do rio e dos edifícios dos sécs. XIX e XX, subir ao The Vue (bar do hotel Hyatt on the Bund) e ficar rendido às luzes de Xangai.

2º dia – Começar o dia em Tianzifang, um bairro antigo que foi convertido numa atração turística onde, para além de becos e lanternas chinesas, encontram-se lojas de design, de fotografia e de roupa de qualidade. Este será o ponto de partida para uma visita a pé pela antiga concessão francesa, a zona com mais laowais (estrangeiros) de Xangai, talvez por conservar ainda edifícios antigos e árvores.

Terminar o passeio em Xintiandi, mesmo a tempo de comer dumplings no Din Tai Fung, cadeia de restaurantes com uma estrela Michelin, a preços muito em conta. No final do dia, ver o néon e sentir os empurrões de quem quer voltar rapidamente a casa na Nanijing Road. Atenção, a rua tem 6 km, devendo esta caminhada ser somente na zona pedonal, partindo da Praça do Povo.

3º dia – Ir ao Fake Market comprar lembranças, rir com cópias disparatadas e regatear, regatear. Ir buscar a roupa ao mercado de tecidos e terminar os 3 dias de intensa caminhada com uma merecida massagem chinesa aos pés. Curiosamente, esta massagem começa na cabeça, passa pelo trapézio, braços, mãos, coxas, pernas e finalmente termina nos pés. As massagens duram 1 hora e custam cerca de 1€.

Praça do Povo, Xangai
À procura de marido na Praça do Povo, Xangai

Tens algumas dicas para se poupar dinheiro em Xangai?

Na visita ao centro financeiro, para subir a um arranha-céus é sempre necessário pagar a entrada. No entanto, se forem ao bar do World Financial Center estão muito perto das nuvens (87º andar), mas não precisam de pagar pelo privilégio.

Se o dinheiro no bolso for pouco, podem alimentar-se de dumplings – pequenos bolinhos fritos, cozidos em água ou a vapor. São muito baratos e diversificados: vegetais, porco, camarão, etc. O Yang’s Fried Dumplings vende 4 pelo preço de 6 CNY (cerca de 0,75€).

Não recomendo comida de rua para estômagos pouco habituados à higiene asiática. Podem achar que estão a poupar, mas se forem parar ao hospital o barato vai sair muito, muito caro.

Falemos de comida. Que especialidades gastronómicas temos mesmo de provar?

O melhor de Xangai é a variadíssima oferta gastronómica. Vale a pena experimentar comida de várias regiões da China: carne adocicada de Xangai, pato à Pequim, tofu picante de Sichuan, queijo grelhado de Yunnan, borrego de Xinjiang…

Imagina que queremos experimentar comidas locais. Gostamos de tascas, botecos, lugares tradicionais com boa comida e se possível barato. Onde vamos jantar?

Tenho muitas sugestões BBB (bom, bonito, barato), mas aqui ficam algumas:

  • Yin par Le Garçon Chinois – comida de várias províncias da China servida num restaurante com design e ambiente acolhedores. Às quintas, sextas e sábados há música jazz ao vivo.
  • Southern Barbarian – um canto difícil de descobrir com deliciosa comida de Yunnan – pizza de batata, salada de menta, papa de favas com chouriço – e a mais extensa lista de cervejas que se pode encontrar em Xangai.
  • Di Shui Dong – o menos apelativo dos restaurantes da cidade, mas com grande sucesso entre chineses e estrangeiros muito por causa das famosas costelinhas picantes de Hunan.

Como é a movida em Xangai? O que sugeres a quem queira sair à noite?

Dois dos espaços mais simpáticos com boa música e gente alegre são estrangeiros, o Malabar, restaurante-bar espanhol aberto até o último cliente ir embora, e Le Café des Stagiaires, uma cadeia de bares francesa que pode ser encontrada em diferentes bairros de Xangai.

Para quem prefere um ambiente mais sofisticado, sugiro um início de noite no terraço do Bar Rouge com um cocktail na mão e os olhos postos nas luzes de Pudong, seguido de uma dose de M1NT, um clube com gente bonita e aquários de tubarões.

Em minha opinião, ninguém deve sair da cidade sem passar pelo 88, nem que seja por 15 minutos: discoteca chinesa com meninos ricos e respetivos seguranças, adolescentes a vomitar, artistas americanos a fazer karaoke e a dançar hip hop, luzes, fogo, música alta.

Jogando às cartas num parque de Xangai
Jogando às cartas num parque de Xangai

Escolhe um café e um museu.

Em Xangai não tenho o hábito de ir a museus e o que gostei mais, pelo conteúdo, tem uma péssima apresentação. Só vale a pena visitar o Museu da Propaganda se tiver um especial interesse por história, publicidade e/ou design.

O meu café de inverno, La Mer, tem livros e chocolate quente. O de verão é qualquer um da Anfu Lu, uma rua no coração da antiga concessão francesa com muitas esplanadas e bom ambiente.

Uma das decisões críticas para quem viaja é escolher onde ficar. Em que bairro nos aconselhas a procurar hotel em Xangai?

A rede de transportes funciona muito bem, pelo que o essencial é ficar perto de uma estação de metro. De qualquer modo o táxi não é caro, a bandeirada é de 2€. Sugiro 3 locais de alojamento para bolsas diferentes:

Pesquisar hotéis em Xangai

Tens alguma sugestão para quem quiser fazer compras em Xangai?

Spin. Uma loja de porcelanas com design chinês moderno a preços simpáticos.

Antes de te despedires, partilha o maior “segredo” de Xangai; pode ser uma loja, um barzinho, um restaurante, um parque, uma galeria de arte, algo que seja mesmo “a tua cara”.

Gosto de passear em parques e ver velhinhos a praticar tai chi, grupos de senhoras a dançar, papagaios no ar, karaoke ambulante, jogadores de cartas rodeados de espetadores, crianças a praticar inglês com desconhecidos, pais a tentarem arranjar maridos para as filhas. Tudo é possível num parque chinês.

Deixo mais uma sugestão: vir a Xangai nos meses de abril, maio, setembro ou outubro. Nos restantes meses do ano as temperaturas são pouco convidativas a passeios.

Obrigado, Luísa. Encontramo-nos numa próxima viagem a Xangai.

Veja também o artigo sobre viver em Pequim.

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Filipe Morato Gomes

Filipe Morato Gomes

Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.