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Yangon, onde a Ásia se encontra

Por Fernando Carvalho da Silva
Mercado de rua em Chinatown, Yangon
Mercado de rua em Chinatown, Yangon

Só quando cheguei a Yangon, consegui perceber o caldeirão étnico, cultural e religioso que é Myanmar (a antiga Birmânia). Se tivesse olhado para o mapa com mais atenção, facilmente teria percebido de onde ele vem. Com a Tailândia e o Laos a leste, a China a nordeste e a Índia e o Bangladesh a oeste, fica claro que este é um país de charneira entre regiões com identidades muito fortes e distintas.

Talvez advenha daí o facto de ter oito etnias “oficiais”: os Bamar (a maior das etnias e de onde vem a designação de Burma, o nome do país no tempo dos ingleses), os Kachin, os Kayah, os Kayins, os Chin, os Mon, os Rakhine e os Shan (estas, por sua vez, dividem-se em 135 grupos étnicos reconhecidos oficialmente e muitos outros por reconhecer), com hábitos, culturas e, inclusivamente, línguas bem distintos.

Cena de rua em Yangon
Cena de rua em Yangon

Todavia, talvez por estar a viajar por Myanmar há apenas algumas semanas, ainda não tinha sido capaz de detetar estas diferenças – causas dos problemas internos que, infelizmente, têm posto Myanmar nas notícias.

Julgo que é por ter as suas regiões tão demarcadas que não me apercebi destas diferenças, mas ao palmilhar as ruas da baixa de Yangon estava igualmente a percorrer as várias regiões do país, agora condensadas em algumas avenidas e nas suas transversais.

Yangon, Myanmar (antiga Birmânia)
Crianças em Yangon, Myanmar (antiga Birmânia)

Subtilmente, os longyis transformam-se em saris, as especialidades dos restaurantes passam dos noodles aos caris e as feições das pessoas vão mudando em conformidade. Foi quando tudo se tornou claro. Como se estivesse a ler um bom manual de instruções (daqueles com bonecos).

Uma outra forma como se reflete esta multiplicidade cultural, porventura uma das mais marcantes, é na variedade de lugares de culto que Yangon possui.

Os templos de Yangon

Sendo Myanmar um país maioritariamente Budista (da escola Teravada), estes templos têm primazia na cidade. Não é exagero dizer que há uma pagoda, uma stupa ou um mosteiro em cada esquina. Entre eles, a Shwedagon Pagoda é rei (ou rainha?).

Monges budistas recolhendo oferendas em Yangon
Monges budistas recolhendo oferendas em Yangon

É a mais famosa do país e os orgulhosos cidadãos de Yangon dirão ser o mais importante templo budista do Mundo. A sua stupa principal, com 2.500 anos, é um edifício de uma portentosa riqueza, forrado com toneladas de ouro e milhares de pedras preciosas. Mas as suas verdadeiras riquezas, quatro relíquias de quatro diferentes Budas, estão encerradas no seu interior e inacessíveis aos visitantes.

Mais a Sul, na baixa de Yangon, no meio de uma das suas principais rotundas, fica a Sule Pagoda – para mim, um dos mais belos templos budistas de Yangon. Ali passei umas horas a observar os intrincados trabalhos em talha dourada que cobrem as pequenas stupas e pórticos. Também fiquei, especado, sob o céu nublado, típico da época das monções, a fotografar um bando de pombos que voava junto à cúpula da pagoda (mas isso já são devaneios de fotógrafo).

Prédios de Yangon
Prédios de Yangon

Mesmo ao lado fica a Bengali Sunni Jameh Mosque, a única mesquita Sunita da baixa de Yangon. Embora ofuscada pelo brilho da Sule Pagoda, valeu a pena subir a sua escadaria para sentir a radical mudança de ambiente apenas numa dezena de metros. A decoração da mesquita, simples, até austera, não podia ser mais contrastante com o ouro, estátuas, leds e néons coloridos do templo budista.

Além do mais, na mesquita imperavam as barbas e as túnicas (do tipo shalwarqamiz) que esperamos encontrar no Paquistão ou na Índia. E aquela era apenas uma das várias mesquitas deste bairro (outras por onde passei, mas por estarem fechadas não cheguei a entrar, são a Moja Sunni Mosque e a Mogul ShiahJama Mosque).

Na verdade, ao passear na zona da Maha Bandula road e nas suas transversais, pude sentir, claramente, as influências indianas a cada metro percorrido. Daí não ter estranhado deparar apenas com templos Hindus ou Muçulmanos. Podia ouvir o chamamento dos muezzin a serpentear pelas estreitas ruas do bairro, enquanto admirava as coloridas pirâmides dos templos hindus.

Foi aliás num deles – o de Kali – onde vi um revelador sinal de mistura étnica. Uma jovem de etnia chinesa a fazer uma oferenda num templo tipicamente indiano. Os templos de Gabesh e o Sri Varatha Raja Perumal merecem também uma visita.

Templo de Keng Hock Keong
Templo de Keng Hock Keong

Um dia, bem para a zona oeste de Yangon, já em Chinatown, espreitei para o pátio do pequeno templo de Keng Hock Keong e vi uns homens sentados, tranquilamente, à volta de um tabuleiro a jogar. Aproveitei para espreitar e fugir do buliço das ruas. Apesar de também ser um templo Budista, seguem a escola Chinesa, onde o culto é muito diferente dos templos tradicionais do resto do país. A atmosfera é muito mais tranquila. Mais “zen” para um leigo como eu. O ideal para me sentar num degrau a fazer uma pequena pausa antes retomar o caminho.

Calcorreei, durante vários dias, estas ruas desde o nascer do sol até bem depois de ele se pôr. Não há metro de passeio que não seja ocupado por vendedores ambulantes.

À hora das refeições, o alcatrão é invadido por mesas de pequenos restaurantes de rua. O trânsito da que julgo ser a única cidade asiática onde as motos estão proibidas, é sempre intenso, e quando se lhe junta uma pitada de chuva das monções, fica simplesmente infernal.

Templo chinês, Yangon
Pormenor num templo chinês, Yangon

A cidade consegue ser tão intensa que, por vezes, o cérebro pode sentir-se esmagado com tantas solicitações sensoriais. Yangon não é, certamente, a mais magnífica cidade asiática. Mas não conheço muitas cidades com tanta vida de rua como a antiga capital birmanesa.

Se a isto somarmos mercados vibrantes, monumentos impressionantes, um povo afável e curioso e poucos turistas, ficamos com razões mais que de sobra para incluir Yangon num roteiro das cidades a não perder no Sudeste Asiático e embrenhar-se no caldeirão de culturas proporcionado pela urbe maior da antiga Birmânia.

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Fernando Carvalho da Silva

Sempre pronto para ir mas com saudade no coração. Cedo percebeu que viajar, mais do que monumentos ou paisagens, são pessoas e emoções. Tem na fotografia uma forma de se expressar e, quando não está a viajar, é um normal pai de família que se mantém em forma com natação e pastéis de nata.

5 comentários em “Yangon, onde a Ásia se encontra”

  1. olá. irei para Myanmar, Laos e Tailandia no final de janeiro, retornando no início de março, tens alguma agencia de viagem de lá que possas indicar? sou brasileira e estou viajando sozinha. obrigada. elda

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  2. Olá Elda,

    Myanmar é um país que que se faz muito bem de forma independente. Há óptimas ligações de autocarro nocturno entre as principais cidades (ou se preferir avião). Em relação ao hotéis recomendo que vá marcando (a internet funciona bem pelo que pode ir marcando antes de partir para a próxima cidade). Quero com isto dizer que dispensa a utilização de agências de viagem. Mas localmente, pode procurar uma pequena agência local para os pequenos tours ou até um condutor local (até de moto).

    Em algumas partes da minha viagem, aluguei carrinhas com condutor. Em Yangon, para ir ao sul, até Mawlamyine passando pela Pedra Dourada, contratei Kyaw Naing (http://www.myanmar-travelguide.asia/). Só posso dizer bem dele. Fala um bom inglês e tem uma cultura muito acima da média. Mas para isto deverás ter um grupo para partilhar a carrinha.

    Boa viagem!

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  3. Boa tarde Fernando
    Será que me pode dar umas ajudas?? Vou estar em Chiang Rai em Fevereiro e a seguir pretendo, depois de ir ao Laos atarvés da fronteira perto de Chiang Rai, atravessar a fronteira com Burma perto de Chiang Mai… Li algures que era difícil, a viagem de autocarro da Tailândia até centro do país, dado as estradas serem más tornando as viagens desconfortáveis e extremamente longas?. Sei que há uma nova estrada que já deve ter sido inaugurada, construida a partir da fronteira mais próxima de Bangkok, e que será agora uma boa via para aceder Burma.. Mas a partir de Chiang Mai?? A mim convinha-me mais entrar a partir desta cidade, pois pretendo visitá-la antes e depois regressar à Tailândia.. Não me sabe dizer se os voos internos são muito caros?? Orçamento limitado o meu faz-me escolher sempre que possível e viãvel pelas opção mais em conta.. Mas como gostaria de visitar Yangon, Bagan, Lago Inle e Mandalay não sei se será tudo muito distante e de acessos complicados.. Penso que uma ida às montanhas Kalaw ver as minorias étnicas deve ser de mais dificil acesso e distante.. Tenho tido dificuldade em planear a minha viagem por ainda não entender a geografia do pais.. Também penso permanecer cerca de 10 dias..mas pode ser mais.. espero que seja suficiente..Obg

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  4. Olá Maria,
    Começo por dizer que dez dias é curtíssimo (a não ser que queira, apenas, picar o ponto em cada local). E isto apenas para o circuito Yangon, Lago Inle, Mandalay e Bagan, que pode ser feito com muita facilidade. Fora isto vai necessitar de bastante mais tempo. Mas valerá a pena.

    Os voos em Myanmar não são baratos (mas pode consultar e comprar bilhetes online nas seguintes companhias: Myanmar National Airlines, Air Bagan e Air Mandalay). Uma forma de viajar entre as principais cidades sem perder dias de viagem é utilizado dos autocarros noturnos (são bons, baratos e poupa o dinheiro da noite de hotel). Porém não terá uma noite muito bem dormida.

    Não conheço a entrada por terra em Myanmar vindo da Tailândia (mas deve ser bem interessante). Segundo sei há quatro fronteiras abertas entre a Tailândia e Myanmar (fonte Lonely Planet).
    Tachileik–Mae Sai,
    Myawaddi–Mae Sot,
    Kawthoung–Ranong,
    Htee Khee–Sunron.

    Recomendo que pesquise bem, se optar por uma delas, pois as “regras” estão sempre a mudar. Mas atenção, o visto electrónico apenas pode ser usado se voar para Myanmar. Se assim não for, terá que pedir um visto previamente (por exemplo em Banguecoque). Se optar por voar para Yangon, há óptimas companhias low cost (como a Air Asia ou a Jet Star) a fazer esta rota (a Air Asia também voa para Mandalay).

    Espero ter ajudado.

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    • Olá Maria, tudo bem? quando você irá para Myanmar? Eu estou planejando uma viagem para lá em junho 2016, e também pretendo entrar pela Tailândia. Você pensa em ir nesta época? ou sejá tiver ido e tiver alguma dica para compartilhar, ficarei agradecida!

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