Perante os constrangimentos burocráticos de seguir pela Rússia, opto por atravessar o Báltico e seguir pela Estónia, Letónia, Lituânia e Polónia, em busca dos locais que ficaram por conhecer em anterior visita a esses países. Com a companhia de um amigo de longa data, percorro mais de 1.000 km em duas semanas, por locais menos explorados do Báltico. E fazendo ainda mais amigos.
O ferry que cruza o Báltico ligando a Finlândia à Estónia através das suas capitais, mais parece um barco de cruzeiro. O seu tamanho e configuração são um pouco semelhantes – pelo menos aos olhos de quem, como eu, nunca viajou num cruzeiro. Áreas interiores com pubs estilo irlandês, música ao vivo, zonas temáticas e supermercado de duty free onde muitos destes passageiros de meia-idade aguardam pela sua abertura, fazendo fila para entrar. É quase como se estivéssemos numa grande superfície comercial em dia de saldos. Carregam cestos ou empurram carrinhos repletos de cerveja, vinho e chocolates, porque, apesar do limite de euros que é permitido gastar, há que aproveitar os preços isentos de impostos. Também há slot machines e pista de dança, porque duas horas e meia de viagem custam muito a passar…
Ainda assim, a saída de Helsínquia é bastante aprazível. É domingo e o tempo está agradável. Do convés exterior do navio veem-se pequenos barcos e veleiros enquanto o nosso gigante contorna algumas das ilhas que compõem o arquipélago, com o skyline da cidade como pano de fundo que se vai afastando gradualmente.
Tallinn, por seu lado, é para mim uma das mais belas capitais da Europa. O seu passado medieval continua bem preservado no interior das muralhas da cidade velha. Os seus telhados pontiagudos, as paredes cravadas a ferro onde se veem antigos sistemas de elevação e as platibandas ornamentadas fazem-nos viajar no tempo, especialmente junto à praça central.
A partir de Tallinn, tenho a visita de um amigo de infância que aproveitou as suas férias para me fazer companhia durante duas semanas. Passamos o dia a deambular pela cidade. Da parte alta e dos seus muitos miradouros é possível contemplar todo o esplendor de Tallinn, com os seus telhados sobressaindo do seio da muralha que a circunda, com o Báltico ali bem perto. Mas o tempo não é muito e, além disso, esta é a segunda vez que visito a cidade, pelo que rapidamente avançamos para sul.
Só há uma linha capaz de unir por via ferroviária Tallinn a Riga e, mesmo assim, é preciso trocar de comboio na fronteira. É precisamente isso que nos propomos fazer, não sem antes combinarmos uma paragem em Tartu para visitar a segunda maior cidade da Estónia e o mais importante polo universitário do país. Contudo, e apesar do programa só prever um dia de estadia, Tartu é uma cidade tão pequena que rapidamente damos três voltas ao seu perímetro e nos sentimos um pouco desapontados.
No mesmo caminho para Riga fica Cesis, uma pequena povoação situada no centro do maior parque natural da Letónia. A sua principal atração turística é um fabuloso castelo do início do século XIII, pertencente à Ordem de Livonia, tendo sido em tempos residência oficial dos mestres da ordem. Parcialmente em ruínas desde a Grande Guerra do Norte às mãos do exército russo, foi deixado assim até hoje, sendo no entanto possível visitar uma das suas torres.
Já em Riga, volto a um hostel onde já havia estado em 2008. O Old Town Riga Hostel é um lugar acolhedor e fantástico, com a sua receção a funcionar 24 horas por dia e um bar sempre repleto de viajantes que se deixam ficar até altas horas da noite, bebendo cerveja e partilhando experiências. O bar-receção do hostel tem duas peças que particularmente me fascinam; a porta de acesso à escadaria que leva aos quartos – que é forrada com a lombada de vários livros, mais parecendo uma estante – e um globo que se encontra no fundo do balcão, de cores ocre e em relevo, que combinando com o resto do ambiente transmite uma atmosfera perfeita ao lugar. Há violas nas paredes, bicicletas e muitas mochilas de quem está prestes a partir.
Atualização: o hostel referido fechou entretanto, veja onde ficar em Riga para outras sugestões de alojamento.
O próximo destino desta “corrida” de Tallinn para Gdansk em duas semanas com o amigo Hugo é Nida, na Lituânia, já bem perto da fronteira com o enclave russo de Kaliningrado. Para lá chegar, seguimos de comboio até Liepaja, onde ficamos num hostel praticamente vazio e onde, perante a nossa falta – uma vez mais! – de moeda local, nos oferecem arroz, ovos e legumes para um jantar em frente ao monitor do portátil, assistindo a um jogo de futebol português. No dia seguinte é necessário apanhar um autocarro até Klaipeda e, por fim, um outro que faz a travessia para a ilha num mini ferry e nos deixa no nosso destino final.
Para chegar a Gdansk – o último destino antes da Ucrânia e de voltar a ficar sozinho – temos um longo dia de viagem. Primeiro é preciso apanhar, manhã bem cedo, um comboio que nos leve até ao entroncamento de Kaisiadorys, onde seguimos em novo comboio procedente de Vilnius até à fronteira e que faz ligação com um outro até Varsóvia, pois não há comboios diretos entre os dois países. De Varsóvia, seguiremos num noturno até Gdansk, perfazendo sensivelmente 36 horas de viagem.
Em 2005 quando visitámos pela primeira vez a Polónia (eu e o mesmo amigo que agora me faz novamente companhia), Gdansk constava como o primeiro local a visitar. Infelizmente, um atraso de 4 minutos nos comboios no centro da Europa fizeram-nos perder essa oportunidade, pelo que agora é chegado o momento de remediar essa perda. Mas antes de Gdansk, impunha-se uma visita ao Castelo de Malbork.
Como é revelado no seu folheto explicativo, o Castelo de Malbork é uma “peça excecional da arquitetura defensiva e residencial da Idade Média. É o maior castelo gótico do mundo, com uma área de aproximadamente 21 hectares e um volume total de construção superior a 250 mil metros cúbicos, considerado a maior estrutura de tijolo alguma vez construída pelo homem”.
Ao fim de dois dias em Gdansk, é hora de partir. O mesmo autocarro que me leva da casa dos nossos anfitriões do Couchsurfing até à estação, é o mesmo que passa pelo aeroporto deixando o meu companheiro de viagem nestas duas últimas semanas, no seu caminho de regresso a casa. Despedimo-nos com um abraço, e volto a sentar-me sozinho no compartimento de seis lugares do Intercidades de regresso a Varsóvia, onde me espera novo comboio para Kiev.
De Cabo a Cabo tem por objetivo unir os pontos mais a norte da Europa e mais sul de África, numa viagem em busca das afinidades e multiplicidades dos povos, das suas culturas, crenças e esperanças, das suas singularidades e de como o homem é um ser “pacífico e cooperativo”, como dizia o professor Berger a Paul Theroux durante a sua «Viagem Por África». Com saída de Santa Maria da Feira, Portugal, no dia 28 de agosto de 2011, Mateus Brandão percorreu 20 países em 3 continentes durante 9 meses.
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