Pedalar de Toulouse a Lyon… rumo ao Cairo (Eurasia #07)

Por Rafael Polónia e Tanya Ruivo

Pedalar de Toulouse a Lyon... rumo ao Cairo - Eurásia

Com frio e neve quanto baste, o inverno não é seguramente a altura mais simpática para viajar de bicicleta na Europa. Talvez por isso, ao chegarmos a Saint-Etienne, depois de passarmos por Toulouse, Albi (que surpresa!), Rodez e Le-Puy-en-Velay, tomamos a decisão de mudar de rota: em breve voaremos para o Cairo.

Em Toulouse esperava-nos a amiga de uns amigos portugueses, uma francesa apaixonada por Portugal que tentava falar, sempre que possível, um português quase perfeito. Não nos podia acompanhar pela cidade por causa do emprego, mas deu-nos uma série de indicações sobre sítios onde deveríamos ir, alguns dos quais fora das tradicionais rotas dos turistas que visitam Toulouse – foram esses que nos interessaram. Podemos, assim, resumir a cidade a três sítios: um espaço para exposições de fotografia, um café e uma livraria.

O Chateau d’Eau, um antigo depósito de água reconvertido em galeria em 1974, foi o primeiro espaço em França dedicado exclusivamente à fotografia. O fotógrafo Jean Dieuzaide foi o responsável pela sua transformação, e já teve desde a sua inauguração mais de 400 exposições. No seu arquivo, estão guardadas mais de doze mil fotos. Além de tudo o que podemos encontrar dentro da galeria, o espaço propriamente dito é, só por si, motivo de visita, visto ser possível perceber como funcionava o antigo depósito, já que tudo foi deixado como antes.

Toulouse
Toulouse

A Sans Paradis Fixe é mais do que uma livraria, mais do que um espaço expositivo, mais do que uma companhia de teatro ou um grupo de música. Mais do que tudo isso, é um grupo de amigos que se junta para trabalharem da forma mais simples possível aquilo que sabem fazer. Dentro dum espaço onde não cabem mais de 20 pessoas, vendem-se postais únicos e fotografias (todas feitas pelos próprios), calendários e livros, dão-se concertos e lê-se. Bebe-se um copo e faz-se a festa. Tudo isto, a partir de outubro, só às terças-feiras, mas em dezembro todos os dias até ao final do ano.

O Café de la Concorde é um espaço de meados do século XIX, frequentado por notáveis da época que depois se transformou em danceteria. Hoje, muito apreciado pela atmosfera alternativa, é um café que se destaca pela decoração, pelos concertos, pela esplanada. A quantidade de cartazes de espectáculos, o mobiliário e o ambiente criado torna o Café de la Concorde num daqueles sítios onde as horas passam sem as notarmos.

De Toulouse a Albi

Após Toulouse, seguiu-se a estrada rumo a Albi, sem sabermos que estávamos a pedalar para uma das maiores surpresas, até ao momento, desta viagem. A cidade, que a UNESCO decidiu acrescentar à sua longa lista de locais classificados como Património Mundial, é a verdadeira “cidade vermelha” – e não Toulouse, como os seus habitantes gostam de dizer.

Café de la Concorde, em Toulouse
Café de la Concorde, em Toulouse

Albi tem a maior catedral do mundo construída em tijolo e é de uma beleza impressionante. Reza a história que se fizeram rampas com mais de vinte quilómetros só para se conseguir levar os tijolos ao cimo da catedral. Reza a história que as ruas se enchem de uma luz ténue ao fim do dia, que projectam os tons das paredes sobre o Rio Tarn. Caminhar por entre as pequenas vielas do centro histórico é nunca mais parar de fotografar uma e outra paisagem, uma e outra janela, uma e outra recordação. Albi é uma cidade que nos fará, com toda a certeza, regressar.

Até Rodez, o caminho fez-se com mais subidas que descidas, tendo as nossas bicicletas chegado, completamente exaustas, numa noite já gelada. A cidade espraia-se colina acima mas não tem nada de relevante, e só o facto de termos sido convidados a apresentar a nossa viagem numa escola nos fez ficar duas noites. A experiência foi incrível porque, além de ter sido a primeira apresentação que fizemos da viagem, fizemo-la em francês e no fim, das pequenas bocas dos pequenos alunos surgiram uma série de perguntas que, num primeiro momento, nos fizeram duvidar das suas idades, de tão estruturadas que eram. Em tom de despedida, perguntámos a cada um qual o seu sonho, porque é de sonhos que falamos, e aí percebemos que aqueles pequenos “adultos”, afinal, têm os mesmos sonhos que qualquer criança: viajar no dorso de um golfinho, ser médico dos animais ou ser mecânico.

Albi
Albi

Adiante, em Le-Puy-en-Velay, começa um dos caminhos franceses de Santiago de Compostela mas não estávamos dispostos a visitar mais catedrais, capelas e montes que, no cimo, têm mais uma imagem da Virgem Maria – ainda para mais quando temos de pagar para isso. Decidimos vaguear pelas ruas e, à noite, partilhar a viagem com os americanos que nos receberam na cidade, enquanto saboreávamos uma bela lasanha vegetariana ou um saboroso caril de legumes. O prazer do alimento e do convívio continuou em Saint-Etienne, depois de uma jornada de 120 quilómetros, com o Guillaume e a Anais, que têm, com toda a certeza, a casa mais acolhedora da cidade. Foram três dias na presença de duas pessoas fantásticas que nos fizeram sentir em casa, que partilharam o que de melhor tinham e o que de melhor sabiam. Não encontrámos na cidade, uma vez mais, motivos de grande interesse, além do facto de ter sido ali fabricada a primeira bicicleta francesa, em 1886. Naturalmente, visitar o respetivo museu se tornou numa prioridade. Mas foi também em Saint-Etienne que, num dia de frio imenso e de muita neve, se decidiu uma grande mudança e a viagem tomou outro rumo: vamos voar para o Cairo, no Egito, em vez de pedalar Europa adentro até Istambul.

Com os voos comprados para meados de dezembro, chegámos facilmente a Lyon. Foi como se andássemos com asas. A ideia de pedalarmos num país do norte de África, de podermos experimentar uma cultura diferente, uma religião diferente e paisagens diferentes fez com que a nossa estadia em Lyon fosse calma, mais descontraída. Estamos contentes.

Le-Puy-en-Velay
Le-Puy-en-Velay

Lyon é, segundo dizem, a segunda maior cidade francesa – os de Marselha dizem que não. Lyon é uma cidade grande, sim, mas sem o stress das ruas de Paris. São muitas as nacionalidades com que nos cruzamos pelas ruas da cidade, atravessada por dois grandes rios: o Saône e o Rhône. Do alto de uma das colinas, a Basílica de Notre-Dame de Fourvière é de uma imponência assustadora, olhando toda a cidade de cima. A vista que se tem sobre Lyon merece bem a subida a partir do centro histórico, até ao topo, passando por uma escadaria com – possivelmente – mais de 500 degraus. Do lado esquerdo da Basílica, descendo e voltando a subir outra colina, fica o bairro daquele que foi o centro do comércio de seda na cidade e motivo maior do seu enriquecimento. Os muitos anfiteatros romanos que se podem ver, em parte recuperados, no cimo de todas estas colinas, fazem-nos perceber quão antiga é a história de Lyon.

Uma vez abandonada Lyon, não sem antes passarmos pela famosa “fotografia de postal” que é Annecy, em breve entraremos na Suíça. O frio, esse, tem-nos acompanhado como um fiel amigo. E assim continuará durante mais um par de semanas.

O projecto Eurásia é uma viagem de bicicleta entre Portugal e Macau, com passagem pela Europa, Médio Oriente e Ásia Central e 19 meses de duração. Ao longo de todo o percurso foram publicadas crónicas com periodicidade média quinzenal.

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Rafael Polónia e Tanya Ruivo

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