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No Laos, N13 acima (Eurasia #38)

Por Rafael Polónia e Tanya Ruivo | Eurasia Ásia Laos
Atualizado em 19.07.2017 | Tempo de leitura: 7 minutos

No Laos, N13 acima

A estrada prima pela falta de interesse, mas é a única alternativa às montanhas a Este. Com um mês de visto, temos que escolher o que ver, por onde pedalar, que caminhos cortar. Entre cascatas, rios subterrâneos e campos de café, pedalámos até à Planície dos Jarros e depois numa carrinha atabalhoada até Luang Prabang. O Laos estranha-se, depois entranha-se!

Desde novo que me lembro de achar piada a provérbios e de pensar quem lhes deu origem, o que lhes deu origem, onde nasceram, o que mudaram ao longo dos anos e que sentido fazem. Lembro-me mais tarde, já na adolescência, de brincar com eles, de lhes mudar o sentido, irreverência da idade ou achar piada ao jogo. O que importa é que alguns soavam-me bem melhor: gato escaldado não move moinhos ou grão a grão faz a força ou quem vai à guerra, compra um cão. Depois de entrarmos na Nacional 13, que por si só é já um número supersticioso, que pouco ou nada sou também, voltei ao jogo.

O azar é a última coisa a morrer.

A estrada que traça o Laos de sul a norte, tomando a nossa direção, tem dois pontos de interesse. Um, é Champasak, com as ruínas de Wat Phu, anteriores às de Angkor Wat, no Camboja, no topo de uma colina onde os hindus viram uma representação natural do símbolo fálico de Shiva, a linga. Aí construíram um templo a ele dedicado, umas tantas estruturas de suporte e tanques para abastecimento de água. Hoje, o local, pertence à lista de património protegido pela UNESCO. Não é que não tenha interesse, mas para quem vem do Camboja soa-nos a aperitivo, que deveria assim ter sido servido antes. A vista lá de cima é, no entanto, espetacular!

Ruínas de Wat Phu
Ruínas de Wat Phu

Outro dos pontos de interesse é Luang Prabang, bem lá no norte, a cidade que a UNESCO considera a mais bem conservada e bonita do sudeste asiático. Pelo caminho, uns tantos desvios levam-nos a plantações de café no planalto de Bolaven, a umas tantas cascatas que rasgam a natureza de uma forma bruta e despejam toneladas de água no seu interior, que visitámos sem ficarmos impressionados, e a um rio que percorre sete quilómetros por debaixo de uma montanha mas que não nos suscitou interesse que justificasse um desvio. Assim, passando por umas tantas cidades já descaracterizadas na sua arquitetura e identidade, chegámos ao momento em que temos de decidir entre seguir a Nacional 13, dos trajetos mais chatos, desinteressantes e cansativos do sudeste asiático, passando pela capital do país e por Vang Vieng, essa meca do turismo de massas, da juventude à procura de festa, das agências de turismo e aventura radicais, como descer o rio num pneu e parar a cada cinco minutos nas margens, num bar de serviço e beber cerveja como se não houvesse amanhã, ou “cortarmos a eito” e subirmos um caminho mal assinalado nos mapas -– outro! -– e do qual não sabemos as condições. Já se está a ver por qual optámos.

Azar dos azares, a estrada era bem desafiante, com partes do trajeto com 20 graus de inclinação, pontes destruídas que nos obrigavam a atravessar os rios a pé, muito pó provocado pelas obras constantes de empresas chinesas que entram no país com toda a força, estradas em terra batida e cascalho, pedras de todas as formas, ondulações várias e formas geométricas impossíveis de descrever. Fantasticamente desgastante! Não sabíamos ao certo quantos quilómetros tínhamos pela frente até Phonsavanh, a nossa próxima grande paragem. Uns diziam trezentos, outros cento e vinte e outros tantos desconheciam, que eram aqueles que mais nos agradavam. Ao ver a placa, quatro dias de suor depois, demos vida à buzina na bicicleta da Tanya.

Vista da Planície dos Jarros
Vista da Planície dos Jarros

A cidade não é mais do que uma capital de distrito, destruída pela guerra do Vietname, reconstruída na sua pior arquitetura, com bombas a decorar as casas, os bares, as ruas. A pouca distância está, porém, a Planície dos Jarros, um vale que espalha por dezenas de quilómetros jarros trabalhados em pedra que remontam a dois mil anos atrás, uns com seiscentos quilos, o maior com seis toneladas e sobre os quais, ainda hoje, se discute a sua origem e utilização.

Dizem uns que um Imperador, ganhando uma guerra contra um exército chinês, mandou construir os jarros para aí colocar vinho para a festa. Outro, que servia para colocar utensílios agrícolas e depois o produto, como arroz, farinha, cereais. Ainda outro, que eram objetos fúnebres nos quais eram depositados os restos mortais dos habitantes da região. Mas como a história pertence a quem a conta, eu acho que eram apenas vasos com flores dum qualquer extravagante apaixonado, dando asas à sua imaginação. Gosto!

A paisagem é surreal e vasta, sendo cortada pelo meio com crateras criadas pelas bombas lançadas pelos americanos que, durante anos, massacraram o Laos e que ainda hoje continuam a somar mortos, provocados por explosões de material que nunca chegou a ser ativado e que explode quando, na sua maior parte, novos campos agrícolas são explorados. A guerra.

Pormenor de um templo budista em Luang Prabang
Pormenor de um templo budista em Luang Prabang

Dali partimos para mais um dia azarento: a viagem para Luang Prabang, de carrinha, esse transporte no qual já não entrávamos há muito tempo. A estrada, lemos, provoca mau estar a oitenta por cento das pessoas que a fazem e nós podemos confirmar que se em três centenas de quilómetros existir uma reta com mais de cem metros, é filha única.

Eu, que não me julgava humano até agora, por nunca ter enjoado, não resisti e a seguir a dois ou três passageiros mal dispostos, houve que fazer uma paragem de emergência para que eu pudesse ir deitar cá para fora tudo o que até aí me alimentava o estômago.

À minha frente, uma francesa foi atirada ao chão, para os pés dum alemão sentado ao seu lado. A mulher ao meu lado agarrava-se com todas as suas forças para não me cair em cima. Pobre de mim, que ela era bem grande. No fim, já em Luang Prabang, só de pensar que tínhamos de regressar na mesma estrada, enjoávamos. Porém, no regresso o condutor era outro. Conclusão: o problema era o pedal, não a estrada.

De Luang Prabang, fica-nos uma recordação estranha. É uma cidade pacata, bloqueada entre dois rios, com alguma arquitetura colonial, muito turismo mas, ao mesmo tempo, muito calma. Um mercado noturno que brilha nos olhos dos turistas, sandes e comida ao preço da chuva e hotéis em cada casa.

Ao fim de três dias, no entanto, estamos já fartos. Já tudo vimos, tudo fizemos e a Luang Prabang falta-lhe uma dinâmica natural, falta-lhe atividade, falta-lhe alma laosiana. Os templos são lindíssimos, os monges às centenas, vindo para as ruas todas as manhãs receber a comida dos habitantes e que já entrou na rota turística, mas nada que já não tivéssemos visto em templos espalhados pelo país e onde dormimos por sete noites.

Atravessar um rio de bicicleta
Foram muitas as dificuldades a superar rumo à Planície dos Jarros

Já em Phonsavanh outra vez, limpámos as nossas bicicletas, carregámos os sacos e partimos para o Vietname, prometendo voltar a este país que, apesar de tudo, adorámos. A estrada foi perfeita e a ideia de entrar num país que tanto amor/ódio suscita, deixava-nos curiosos. Amigos temos que adoram. Outros que detestam. Não há um meio-termo, um assim-assim, uma escala de cinzentos.

Os primeiros dias, depois de passarmos a fronteira mostraram-nos um país que estamos a adorar, um sítio onde se come muito bem, pessoas sorridentes, paisagens bonitas e os preços mais baixos do “mercado” do sudeste asiático. Estamos ainda nas pequenas aldeias, calcorreando locais desconhecidos dos turistas, pessoas que ainda não sabem o que são dólares, mas queremos acreditar que continuará assim. Quero, mais uma vez, mudar o rumo aos provérbios. Os azares, leva-os o vento!

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Sobre o autor

Filipe Morato Gomes, blogger de viagens

Olá! O meu nome é Filipe Morato Gomes, vivo em Matosinhos, Portugal, sou blogger de viagens, co-autor do projeto Hotelandia e Presidente da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses.

Tenho 51 anos e muita experiência de viagem acumulada. Já dei duas voltas ao mundo, fiz dezenas de viagens independentes e fui líder de viagens de aventura.

Mais recentemente, abracei um novo desafio chamado Rostos da Aldeia, onde se contam histórias positivas sobre as aldeias de Portugal e quem nelas habita.

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