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Aldeia da Cuada, cenários de mar e vento

Por Ana Isabel Mineiro | Turismo rural Açores Europa Ilha das Flores Portugal Aldeias
Atualizado em 1.09.2021 | Tempo de leitura: 5 minutos

No litoral norte da ilha das Flores, há uma aldeia por onde nunca circulou um veículo motorizado e que se mantém fiel ao traço da arquitetura rural da ilha. São quinze casas de pedra nua reabilitadas num cenário único de montanha e mar. Visita à unidade de turismo rural Aldeia da Cuada.

Aldeia da Cuada

Não é exagero algum: a Aldeia da Cuada fica numa das zonas mais remotas da Europa, no meio do Atlântico, a meio caminho das Américas. Na ilha das Flores, uma das nove ínsulas do arquipélago dos Açores, a cerca de trezentas milhas marítimas de São Miguel, o pedaço de terra habitado mais ocidental do continente europeu.

A aldeia está situada no litoral norte das Flores, entre as povoações da Fajã Grande e da Fajãzinha, e conheceu o abandono e a decadência originados pela emigração nos anos 60 do século passado, essencialmente com destino ao continente americano. A partir dos anos 70, a Cuada estava praticamente despovoada, o casario rodeado de silvas e com a garantia de um destino incerto. Mas vinte anos depois, na última década do século, apareceu um visitante interessado em adquirir uma casa para recuperar para servir de residência de férias. Carlos Silva, um florentino, estava decidido: e se bem o pensou melhor o fez. Uns anos depois, embalado pelo sossego do lugar e pela atmosfera singular da aldeia, já andava pela dezena o número de casas que foi adquirindo, a maioria em declarada ruína.

Pouco depois, a ideia de um investimento no turismo de aldeia começou a tomar forma. O desiderato era, no mínimo temerário. Grande parte das paredes das casas jazia por terra e os telhados desfizeram-se em pó debaixo das intempéries. A própria localização da Cuada parecia desaconselhar devaneios idealistas.

Situada sobre um planalto junto ao mar, a uma centena de metros da estrada que vai para a Fajã Grande, o único acesso transitável era um caminho de terra batida, além de que, no interior da aldeia, as ruas se cingiam a canadas estreitas cobertas de lajes de pedra irregulares. E assim permanecem, aliás, ainda hoje, mantendo a aldeia à margem, como sempre esteve, de qualquer trânsito motorizado, configurando um aspeto que bem pode ser tomado como simbólico do espírito que orientou a reabilitação.

Do património edificado da aldeia fazem parte quinze casas recuperadas, incluindo três palheiros que foram adaptados para novas funções habitacionais. As construções, de tipologia variada, têm pedra à vista e estão mais ou menos dispersas, separadas por prados e muros de pedra. São casas térreas, quase todas, reconstruídas com as mesmas pedras que desenhavam o cenário de ruína da aldeia, e conservam o traço arquitetónico original.

O projeto de reabilitar a povoação com o objetivo de a transformar num polo de turismo de aldeia suscitou desde início um forte ceticismo. Apresentado o projeto à Direção Regional de Turismo, no início dos anos 90, a reserva foi imediata: não seria aprovado porque não tinha viabilidade económica. Já depois da aldeia recuperada, e aberta à atividade turística (o que aconteceu em junho de 1998), Carlos Silva viu-se confrontado com um plano de eletrificação da região que previa a passagem de cabos de alta tensão sobre as casas. Vencido, à custa das habituais refregas burocráticas, mais este contratempo, o passo seguinte foi fundamental para garantir a sobrevivência do projeto com as suas singulares características. A povoação conseguiu em 2000 o estatuto de “aldeia protegida e foi classificada pelo Governo Regional dos Açores como património cultural com interesse histórico, arquitetónico e paisagístico”. Entre outros condicionamentos, a partir de então, qualquer construção a menos de trezentos metros da Cuada tem de ser previamente aprovada.

Nevoeiros e música de cagarros

A léguas do turismo de massas, o viajante pode ali colher a flor de uma aprazível solidão e deixar-se imergir nos imponderáveis caprichos dos elementos: o vento, a chuva, as névoas que abraçam as lagoas, ou o sol que irrompe ternas carícias em súbitas manhãs primaveris.

Quem ali vai parar sabe ao que vai e o que busca. Uma intimidade sem par com a natureza, com o vento, as neblinas, os bramidos dos cagarros durante a noite, os coelhos a rondarem os prados à volta das casas.

Nas ruelas estreitas, cobertas por grandes lajes, caminha-se sem outra música que a do vento, e assim se adormece. Por vezes umas bátegas fortes, a assobiada das ventanias, e logo, umas horas depois ou no dia seguinte, a surpresa de uma manhã luminosa, mesmo que breve, porque nos Açores as quatro estações desfilam no mesmo dia ao sabor do acaso, como por lá se diz. Quase tudo é elementar, até a decoração das casas, para que se não perca o timbre cénico de uma época que, embora transata, deixou vestígios materiais, arquitetónicos. Até os nomes das casas conservam sinais desses idos e homenageiam os anteriores proprietários. Casa do Fagundes, Casa da Fátima, Casa da Luciana, Casa da Esméria, Palheiro do Pimentel: assim se chamam as casas que acolhem agora hóspedes de passagem.

A aldeia, sobranceira ao mar, é vizinha de um aparatoso cenário de falésias e está ligada ao litoral, nomeadamente à Fajã Grande e à Fajãzinha, por trilhos pedestres que eram, antigamente, calcorreados pelos antigos habitantes e que se mantêm transitáveis. A costa norte das Flores oferece várias alternativas para caminhadas. O percurso de quase uma dezena de quilómetros entre a Fajã Grande e o Farol de Albernaz, perto da povoação de Ponta Delgada, ao longo de um trilho debruçado sobre impressionantes falésias, é a menina dos olhos das caminhadas açorianas. Ao longo do caminho, avista-se sempre o ilhéu de Monchique, o pedaço de terra mais ocidental da Europa.

A possibilidade de passeios de barco à volta das Flores ou de uma incursão marítima ao Corvo (com o acompanhamento de golfinhos, por vezes), a pesca de trutas na Ribeira Grande e a visita às muitas cascatas da ilha, designadamente às do vizinho Poço da Alagoa e às da Fajã Grande, que tombam sobre a beira-mar, junto à zona balnear, são outras razões que se juntam à exemplar reabilitação da aldeia como fatores de atração de visitantes e que contribuíram também para o êxito do projeto da Aldeia da Cuada.

A localização, o envolvimento natural da aldeia e o (relativo) isolamento são, sem sombra de dúvida, na sua feliz junção, os grandes méritos da Cuada. Não haverá hoje na Europa, em abono da verdade, muitos lugares onde se possa experimentar a sensação real de se estar tão radicalmente afastado da crescente agitação do mundo moderno.

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Guia prático

Como chegar à Aldeia da Cuada

A partir do Aeroporto de Santa Cruz das Flores, tome a estrada EN2-2a que atravessa a ilha em direção à costa Oeste. Depois de atravessar o planalto central, com o mar novamente à vista, irá encontrar uma placa indicando a Fajã Grande e a Fajãzinha. Vire e siga sempre em frente, em direção à Fajã Grande. No caminho deparará com uma curva à direita com indicação da Aldeia da Cuada para a esquerda. Vire, seguindo as indicações e percorra o caminho até ao estacionamento da Aldeia da Cuada.

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Sobre o autor

Filipe Morato Gomes, blogger de viagens

Olá! O meu nome é Filipe Morato Gomes, vivo em Matosinhos, Portugal, sou blogger de viagens, co-autor do projeto Hotelandia e Presidente da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses.

Tenho 51 anos e muita experiência de viagem acumulada. Já dei duas voltas ao mundo, fiz dezenas de viagens independentes e fui líder de viagens de aventura.

Mais recentemente, abracei um novo desafio chamado Rostos da Aldeia, onde se contam histórias positivas sobre as aldeias de Portugal e quem nelas habita.

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