O Nemo mora em Bacuit (#23)

Arquipélago Bacuit, Filipinas
Relaxamento total numa praia ao lado da gruta conhecida como Cudnugon

As paisagens do arquipélago Bacuit inspiraram a Pikitim a improvisar uma música que tinha como refrão: “Que lugar incrível, este é um lugar incrível!”. E é mesmo. Dispõe das praias mais bonitas que já vimos nesta viagem e uma vida subaquática tão rica e variada, com infinitas espécies de corais e pequenos peixes multicolores, que tornam absolutamente inesquecíveis as horas passadas de snorkel e máscara na face. Para a Pikitim – qual cereja no topo do bolo -, foi o lugar onde finalmente encontrou o Nemo.

Estivemos em El Nido dez dias, mas choveu ininterruptamente nos primeiros quatro. A paciência da Pikitim – que não é muita – ficou completamente esgotada, e chegou mesmo a perguntar quem era o senhor com quem devíamos reclamar por causa do mau tempo. “Eu sei que é importante chover, que é bom para as plantas e para a Natureza. Chover um dia, está bem, chover todos os dias, não. Não é justo!”, exclamou.

A impaciência da Pikitim tinha uma explicação. Estávamos alojados numa pousada em pleno areal em frente à baía de El Nido, a porta de entrada no maravilhoso arquipélago Bacuit. Vista da nossa varanda de madeira, a paisagem era deslumbrante e as ilhas estavam a um pequeno barco de distância. Tínhamos contado à Pikitim que queríamos fazer passeios de barco para conhecer muitas das ilhas ao largo de El Nido; que nessas ilhas havia praias muito bonitas onde era possível dar mergulhos muito bons e quem sabe até ver tartarugas. Com apelos deste gabarito – ainda para mais para uma criança que adora água -, ficar retida numa varanda a ver chover era quase uma tortura.

Com tanto tempo para matar, houve oportunidade para incontáveis jogos de cartas, desenhos e trabalhos manuais, habituais queimadores de tempo que normalmente usamos durante as deslocações mais longas. Foi nesses dias que a Pikitim inventou um jogo novo: improvisar letras de músicas, a partir de ritmos acabados de criar. E esse novo “passatempo” haveria de dar frutos nos dias seguintes.

Se, na varanda de El Nido, as letras das músicas andavam à volta da volta ao mundo (“venham ver, o Diário da Pikitim, uma viagem divertida, para acompanhar até ao fim…”; “é uma viagem de um ano, da Inês com os pais, para descobrir o mundo, viver aventuras e muitas coisas mais”), quando finalmente entrámos num barco e chegámos à Snake Island as letras improvisadas começaram, subitamente, a mudar de tema.

Snake Island, Bacuit
Pausa para almoço na Snake Island, arquipélago Bacuit

A Snake Island possui uma finíssima língua de areia que se deixa desenhar pelos caprichos das marés, unindo duas pequenas ilhas de vegetação luxuriante. Enquanto Darwin, o “capitão” do nosso barco, preparava peixe grelhado e cortava ananás e melancia aos pedaços para aquilo que seria um almoço simples mas delicioso, a Pikitim enfiou-se dentro da água cristalina e transparente, olhou à volta e começou a improvisar: “Que lugar incrível! Este é um lugar incrível!”, repetia, ininterruptamente, procurando ritmos e melodias que melhor se adaptassem à frase. Dizia que aquela era a melhor “piscina” em que já tinha estado.

E, de facto, o lugar era mesmo incrivelmente belo e fotogénico. Já havíamos ficado rendidos à praia Las Cabanas, bem perto de El Nido, na ilha “principal” de Palawan, mas depois de ver as praias de ilhéus como Cudnugon ou Pinagbuyutan o difícil passou a ser eleger as melhores, tal a fotogenia dos areais recortados por rochedos e fileiras de palmeiras, e uma fauna subaquática surpreendentemente farta e vistosa a pouquíssimos metros do areal.

Ilha Pinagbuyutanz
Fim de tarde na ilha Pinagbuyutan

Foram precisamente os peixes coloridos que mais cativaram a Pikitim e, por isso, a ilha Pinagbuyutan ficará para sempre registada na sua memória. Saímos os três, de mão dada, passando cuidadosamente sobre os primeiros metros de areal e corais mortos.

A partir daí foi nadar até à exaustão, mesmo quando a Pikitim ainda tinha pé (ela já aprendeu que os corais não são pedras e que não devem ser pisados, senão podem morrer). Foi um “mergulho” de quase meia hora, com a Pikitim excitada e absolutamente deslumbrada com a variedade de peixes que lhe passavam diante dos olhos.

Deixámo-nos levar pela fraca corrente até uma zona em que uma parede se afunda no oceano e uma imensidão de azul toma conta dos nossos olhos. Com o seu snorkel e máscara na face, a Pikitim nadou cada vez para mais longe, embrenhando-se no azul infinito rodeada de pequenas criaturas coloridas. Não a chamássemos de volta e teria continuado a perseguir peixes, mar azul afora.

Visitar arquipélago Bacuit
Paragem numa das pequenas ilhas do arquipélago Bacuit

A Pikitim já teve tempo de aprender um pouco da linguagem básica dos mergulhadores. Quando interpelada debaixo de água sobre se estava bem, a resposta era sempre a mesma – o polegar e o indicador unidos num círculo, com os restantes três dedos em riste: “OK”. Estava visivelmente feliz.

Regressámos aos corais vivos a mais baixa profundidade, onde havia corais de todas as formas, peixes de todas as cores e tamanhos e curiosas formas de vida em miniatura. Às tantas, vimos a Pikitim subir à tona e tirar instantaneamente a máscara da cara. Quando subimos também para perceber o que se tinha passado, já ela gritava a plenos pulmões, excitadíssima: “Pai, pai, encontrei o Nemo! Viste?”. E lá estavam dois peixes-palhaço adultos, protegendo as suas crias escondidas numa anémona-do-mar.

Foi a conclusão perfeita para um de muitos dias deslumbrantes passados a navegar nas águas calmas do arquipélago Bacuit. É fácil adivinhar a banda sonora que corria nas nossas cabeças.

Guia prático

Onde ficar

Convém notar que El Nido é uma Meca mochileira, pelo que abundam hostels simples e baratos, e não tanto alojamentos de qualidade. Ainda assim, são recomendáveis espaços como o moderno Cuna Hotel, ou ainda os hostels Spin Designer e o The Cavern Pod – ambos com boa relação qualidade/preço e elogiados pelos hóspedes.

Se é conforto que procura, talvez seja melhor afastar-se um pouco da povoação El Nido. Nesse caso, dificilmente encontrará melhor do que o sumptuoso Vellago Resort. Não fiquei lá a dormir, mas os hóspedes dizem maravilhas! Boa aposta poderá também ser o Frangipani El Nido, em Coron Coron. Seja como for, não faltam excelentes hotéis em El Nido e arredores, como pode facilmente comprovar no link abaixo.

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Sobre o Diário da Pikitim

Este post pertence a uma série que relata uma volta ao mundo em família, com 10 meses de duração. Um projeto para descomplicar e mostrar que é possível viajar com crianças pequenas, por todo o mundo. As crónicas da viagem foram originalmente publicadas na revista Fugas e no blog Diário da Pikitim.

Veja também o artigo intitulado Viajar com crianças: 7 coisas que os pais devem saber.

Luísa Pinto

Jornalista e mãe, gosta de livros, vinho tinto e experimentar camas em lugares novos. Deu a volta ao mundo com um filho, gostava de repetir a dose agora que tem dois. É orgulhosa co-fundadora da Hotelandia e do Rostos da Aldeia.

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