Provavelmente, nunca teria chegado a Banaué, no norte das Filipinas, se não fosse a insistência de Titã Trillo, a senhora filipina que me acolheu durante alguns dias em Manila. Quando me despedi dela para seguir viagem até ao norte do país, lembro-me de que estava ainda mais entusiasmada do que eu. Não conseguia conter a emoção de saber que eu ia conhecer a cidade onde tinha nascido: Baguio, a porta de entrada nas cordilheiras das Filipinas. A primeira paragem a caminho dos terraços de arroz de Banaué.
“A viagem de autocarro demora muitas horas. Porque é que não apanham um avião?”, voltou a insistir nessa altura, sorrindo. Era a preocupação de mãe a falar mais alto. Expliquei-lhe que dessa forma poupava uma noite de hotel, embora sabendo que isso não a deixaria mais sossegada. “Quando chegares a Baguio liga… Ah, e não te esqueças, tens de ir ao mercado!”, recomendou, quando nos deixou no terminal rodoviário de Manila, à uma da manhã.
Alcancei Baguio à hora do almoço e, como tinha algumas horas até apanhar o autocarro seguinte, aproveitei para dar uma volta pela capital de verão filipina. Dizem que antigamente era possível sentir o cheiro dos pinheiros a vários quilómetros de distância da cidade. Hoje em dia já não, graças ao desenvolvimento. Ainda assim, a povoação consegue manter parte do seu encanto rural.
Decidi seguir o conselho de Tita e desci até ao mercado central, para sentir na pele a razão forte de tanta insistência. Jeepneys – os antigos jipes militares americanos deixados em território filipino depois da Segunda Guerra Mundial, convertidos em transportes públicos -, os mais variados artigos, gente e comida de rua misturavam-se num espetáculo de cores emocionante. No espaço de quatro ruas e um cruzamento bem congestionado era possível encontrar todos os produtos típicos da região das cordilheiras.
À medida que se ia aproximando o final da tarde, o número de pessoas no mercado ia aumentando. Era a essa hora que os filipinos vinham à procura dos melhores pulutan, os petiscos de rua que se vendem a um preço irrisório. Um dos mais populares é uma espetada de galinha frita, que se mergulha em vinagre e pimenta antes de comer. A particularidade deste petisco é que a galinha tem apenas um dia de vida.
Assim que me aproximei da banca em que a iguaria era comercializada, a vendedora estendeu-me automaticamente uma espetada. E depois de algumas horas de luta entre o cérebro e a mão para conseguir levar o petisco à boca, descobri que o exterior surpreendentemente crocante esconde um interior que faz lembrar uma gema de ovo. Foi assim que me juntei a meia centena de filipinos para jantar em pleno mercado, de onde saí diretamente para apanhar o autocarro para Banaué.
Para poder apreciar a beleza inigualável dos socalcos de arroz, implantados a mais de mil metros de altitude nas cordilheiras filipinas, eram precisas oito horas de muitas e dolorosas curvas. Primeiro, era preciso chegar a Banaué. E depois arranjar um guia que me acompanhasse durante dois dias pelas montanhas, para poder percorrer a pé os caminhos que ligavam as várias aldeias à volta de Banaué e ficar a dormir numa delas, em casa de uma família de agricultores.
Ao longo do caminho senti parte da inspiração que terá levado os ifugao a cultivar arroz nos pequenos terraços escavados em encostas de montanhas verdadeiramente vertiginosas, há mais de dois mil anos. Uma arte que transbordou do coração e ajudou a esculpir magistralmente o berço da principal fonte de alimentação familiar das aldeias. Imagino que ainda hoje seja assim. A produção de arroz dos terraços de Banaué – aquela que é considerada a oitava maravilha do mundo – era já na altura para consumo local, nunca para venda. O arroz mais bonito do mundo ficava sempre em casa.
Bibingka, bolo de arroz e coco
Dada a importância do arroz na alimentação filipina, teria sempre de inaugurar uma crónica do país com uma receita que levasse arroz. E para variar um bocadinho, apostei num doce. A bibingka filipina é uma sobremesa típica que se serve na altura do Natal (mas que não deve ser confundida com a receita goesa “bebinca”).
Na versão original, depois de juntar o queijo ralado, a tradição local manda que se adicione ovos chineses salgados. Para além de não ser fácil encontrar estes ovos em Portugal, o sabor não é dos mais consensuais, pelo que este ingrediente é opcional.
Ingredientes
- 1 chávena de açúcar
- 3 ovos
- 3 c. de sopa de manteiga
- 1 chávena de farinha de arroz
- 2 c. de chá de fermento em pó
- ½ c. de café de sal
- ½ chávena de leite
- 1 chávena de leite de coco
- 1 c. de café de manteiga (para untar a forma)
- ½ chávena de queijo parmesão ralado
- 2 ovos chineses salgados (opcional)
- Papel vegetal
Preparação
Bata o açúcar com os ovos e a manteiga até que a mistura fique bem fofa. Junte a farinha de arroz, o fermento, o sal e logo a seguir os dois tipos de leite. Envolva tudo muito bem. Pincele com manteiga uma forma (com cerca de 27 cm de diâmetro), forre com papel vegetal e verta o preparado. Leve ao forno a 180 ºC durante 30 minutos. Retire do forno e espalhe o queijo ralado por cima. Volte a levar ao forno durante mais cinco minutos. Desenforme e sirva.
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