É um cenário de tranquilidade, Caye Caulker. Ruas de areia, um clima ameno, ambiente descontraído, peixe fresco assado na brasa, bungalows beijando as águas das Caraíbas e locais de mergulho de classe mundial ao largo do Belize fazem da ilha Caye Caulker um destino único e sedutor. Um hino à boa vida.
Caye Caulker é uma ilha pequeníssima e não tem os longos areais finos e brancos típicos das Caraíbas (na verdade, quase não tem praias dignas desse nome), mas nem isso lhe tira o charme tropical. É daqueles locais onde os problemas da vida mundana desaparecem por magia, até da mente mais stressada.
As ruas de areia, a ausência de carros (o transporte na ilha é assegurado por bicicletas e carros de golfe – táxis incluídos -, apesar de não haver campos de golfe na ilha), o ambiente descontraído, a boa comida, muito reggae e algum rum, as cabanas à beira-mar e um povo caloroso, amigável e relaxado fazem com que incontáveis viajantes prolonguem as suas estadias muito para além do inicialmente previsto (alguns para sempre).
E fazem bem! Caye Caulker é um prazer para todos os sentidos, assim o viajante dispense o automóvel, o relógio, o cinema, o centro comercial e demais comodidades da vida urbana. Os que disso carecem optam por San Pedro, a principal urbe da vizinha ilha de Ambergris Caye, a uma curta viagem de barco de distância.
Caye Caulker é para quem se “contenta” com peixe fresquíssimo grelhado na brasa e degustado em plena rua de areia sob um céu estrelado, para quem aprecia um pôr-do-sol observado a dois a partir de um pontão de madeira mar adentro, para quem gosta de andar descalço e ler um livro numa rede sem pensar em mais nada, para quem aprecia ser cumprimentado vezes sem conta com um “bom dia” sorridente, para quem os maiores prazeres residem nas coisas simples da vida. Posto numa curta e decisiva frase, Caye Caulker é um hino à boa vida.
Não por acaso, aquelas palavras estão pintadas no chão, em tons suaves, no início do pontão de madeira de acesso ao embarcadouro. É lá que atracam os ferryboats que trazem a maioria dos turistas que visitam Caye Caulker. A frase insta os visitantes a abrandarem o ritmo, a não terem pressas, a adaptarem-se à noção de tempo que, na ilha, tem uma importância pouco mais que relativa: “Go slow”. Simplesmente “Go slow”.
As boas-vindas às Caraíbas resumidas em duas palavras pintadas no chão, uma intimação a quem quer que chegue a Caye Caulker com o corpo e a mente em modo citadino, preocupado, stressado. Não era de todo o meu caso, naturalmente, pelo que, de calções de banho e havaianas no pé, e todo o tempo do mundo, abracei de imediato o espírito de Caye Caulker. Devagar.
“You better Belize it!”
Bob é uma figura. Chamam-lhe Crazy Bob. Vi-o pela primeira vez quando procurava alojamento em Caye Caulker, mal chegado ao ancoradouro principal da ilha.
Recusei amavelmente a sua ajuda, habituado que estou a lidar com todo o tipo de indivíduos que trabalham à comissão – de hotéis, empresas de transporte, restaurantes, agências de viagens – e pressionam os turistas com técnicas nem sempre limpas indicando hotéis e afins a troco de uma gratificação que, não raras vezes, acaba por sair invisivelmente do bolso dos viajantes.
Mas Bob era relaxado. Pedalava uma bicicleta de provecta idade, tinha o tronco nu e o pé descalço no chão de areia, ar de bon vivant sem dinheiro, uns cinquenta anos de espírito jovem em corpo tatuado, olhos de marijuana, sorriso do Belize, palavra fácil. Tivesse uns longos cabelos dreadlocks e uma t-shirt com a imagem de Che Guevara ou Bob Marley, e Bob resumiria na perfeição os habitantes de Caye Caulker.
Quando, um pouco mais tarde, nos voltámos a cruzar e me perguntou de novo se eu já estava instalado, acedi por fim ao convite para ver umas “cabanas simpáticas” que tinha para me mostrar, “sem compromisso”, no extremo Norte da ilha, junto ao Split de má memória – assim se chama o canal que divide a ilha em duas desde que, em 1961, a fúria do furacão Hattie chicoteou Caye Caulker – e concluí num ápice que sozinho dificilmente encontraria melhores instalações em Caye Caulker àquele preço em formato pechincha.
No final, ambos saímos a ganhar e, para mim, foi a primeira demonstração de que ideias preconcebidas não têm lugar em Caye Caulker, um pedaço de terra multicultural onde se mescla gente de todas as origens, religiões e estratos sociais.
Dos reformados aos garifuna, Caye Caulker abraça todos
Reformados norte-americanos que se apaixonaram pelo Belize e transferiram para Caye Caulker o fim das suas vidas. Gente abastada com uma segunda casa de férias. Muitos casais mistos, formados por turistas que um dia passaram por Caye Caulker e acabaram por voltar, ficar e casar com locais – como um jovem marinheiro beliziano que conheci a bordo de um veleiro e que cumpria nessa mesma embarcação uma lua-de-mel improvisada com a sua mulher holandesa e a companhia de uma dezena de turistas. Viajantes jovens de passagem pelas Américas.
E a comunidade garifuna, afro-caribenhos descendentes de escravos africanos que chegaram à América Central no século XVII e que, embora sem a expressão de outras regiões do Belize, nomeadamente em Dandriga, também se encontram em Caye Caulker.
Aparentemente, todos se adaptam ao tranquilo modo de vida destas paragens, talvez porque, para além do mais, em Caye Caulker reina a tolerância. Parece não haver discriminações de cariz racial, sexual ou comportamental. O movimento rastafari domina a cena cultural, artística e o estilo de vida, com muita música reggae todo o dia, boa disposição, pouco stress e uns quantos charros socialmente tolerados.
Caye Caulker é “boa onda”, como se usa dizer, e, tal como aparece escrito em inúmeras t-shirts, sites de promoção turística e na voz dos próprios habitantes locais, orgulhosos do trocadilho que insta os visitantes a desfrutarem da vida: “You better Belize it! ”. Era a frase favorita de Bob, que com ela terminava todas as conversas, antes de se afastar na sua bicicleta pelas ruas de areia de Caye Caulker.
Mergulhar no Blue Hole
Para os apaixonados pelo mergulho subaquático, o Belize é um dos locais mais elogiados de toda a América Central e Caraíbas, muito por “culpa” de uma cratera de forma circular com trezentos metros de diâmetro, rodeada por recifes de coral, que personifica na perfeição o imaginário mundano de paraíso.
Chama-se Blue Hole e fica no coração do atol Lighthouse Reef, a pouco mais de sessenta milhas náuticas do continente. Tal fama deve-a, antes de mais, à beleza natural do Lighthouse Reef propriamente dito, proporcionando mergulhos subaquáticos numa envolvência deslumbrante (as fotografias aéreas do Blue Hole são, aliás, a imagem de marca do turismo local, utilizadas vezes sem conta para ilustrar as belezas naturais do país).
Mas também a deve ao facto de ter sido popularizado pelo investigador, fotógrafo, cineasta, amante do mar e mergulhador francês Jacques-Yves Cousteau, que um dia considerou o Blue Hole membro de pleno direito do seu Top 10 dos melhores locais de mergulho do planeta.
Os mergulhadores descem a quarenta metros de profundidade em águas cristalinas, onde são brindados com paredes em relativa escuridão e não tanta vida marinha como em águas menos profundas das redondezas mas, ainda assim, é um mergulho mítico.
Biodiversidade protegida no Belize
Mas não é só o Blue Hole que atrai os amantes da Natureza. “A área costeira do Belize é um extraordinário sistema natural que consiste na maior barreira de coral do hemisfério Norte [a maior do mundo é a Grande Barreira de Coral da Austrália, localizada no hemisfério Sul], atóis ao largo da costa, muitas centenas de ilhotas de areia, florestas de mangue, lagoas costeiras e estuários.
O sistema ilustra de forma magnífica a evolução dos recifes de coral e é um habitat importante para espécies ameaçadas, incluindo tartarugas marinhas, manatins [mamíferos herbívoros também conhecidos por peixe-boi] e o crocodilo marinho americano”, garante a insuspeita UNESCO, que classificou em 1996 a Barreira de Coral do Belize como Património Mundial.
Toda a área no interior da barreira de coral é riquíssima em vida animal e isso facilmente se comprova sem ser necessário mergulhar, num simples passeio de veleiro até à Reserva Marinha de Hol Chan para fazer snorkelling.
Localizada a apenas quatro milhas do extremo Sul de Ambergris Caye, a Reserva Marinha de Hol Chan não é mais do que um pequeno canal que trespassa a grande barreira de coral que protege a costa do Belize. Os nativos chamam-lhe quebrada, onde estão criadas condições naturais para uma vida subaquática abundante e riquíssima.
É o local ideal para quem não mergulha mas, apesar disso, não quer perder a oportunidade de vivenciar uma experiência única de contacto com a Natureza. As águas são pouco profundas, os corais vivos e exuberantes e a vida marinha diversificada. Garoupas, tubarões-enfermeiro e várias espécies de tubarões de recife, tartarugas, moreias, jamantas, barracudas, peixes-papagaio e, de vez em quando, os desejados manatins e tubarões-martelo são alguns dos seres vivos que podem ser avistados nas águas rasas de Hol Chan. Um deslumbramento visual.
As boas notícias não terminam por aqui. Felizmente, e ao contrário de muitos outros locais do mundo, parece que as autoridades do Belize e de Caye Caulker em particular estão a levar muito a sério a questão da sustentabilidade dos recursos subaquáticos e do equilíbrio dos ecossistemas marinhos. Isto apesar do mergulho ser muito popular e uma importante fonte de rendimento – ou por isso mesmo. Um exemplo: há actualmente uma recompensa para quem capturar espécimes de peixe-leão e os entregar às autoridades “mortos ou vivos”.
Isto porque é um peixe não nativo de quem se diz consumir cerca de 80% do peixe juvenil dos recifes de coral e, como tal, não ser sustentável permitir o aumento desmesurado da sua população sob pena de serem infligidos danos irreparáveis ao ecossistema local.
Com políticas deste âmbito, turistas conscientes e instrutores de mergulho e capitães de veleiros sabedores dos riscos do turismo desregulado, augura-se um próspero futuro para Caye Caulker e para a sua biodiversidade.
Dicas para visitar Caye Caulker
Este é um guia prático para viagens a Caye Caulker, com informações sobre a melhor época para visitar, como chegar, pontos turísticos, os melhores hotéis e sugestões de atividades na ilha.
Localização geográfica
O Belize está localizado na América Central, sendo a sua costa banhada pelas águas tépidas do Mar das Caraíbas e protegida pela segunda maior barreira de coral do mundo. Faz fronteira com o México e a Guatemala.
Quando ir
Sendo uma região com um clima subtropical, a época alta do turismo no Belize vai do início de Dezembro até Abril, que coincide com os frios invernais dos Estados Unidos e Canadá. É, também, a época mais seca do ano – especialmente nos meses de Fevereiro a Abril -, com temperaturas amenas e pluviosidade residual que tornam a estadia em Caye Caulker incomensuravelmente mais agradável. Para observar manatins, ao invés, a melhor época é entre Maio e Outubro
Como chegar a Caye Caulker
É possível voar para Belize City utilizando os voos da Continental Airlines de Lisboa para Houston, nos EUA, e daí até à antiga capital do Belize, mas essa, não é, no entanto, a opção mais barata (os preços têm variado como nunca, pelo que não indicamos valores de referência). Alternativamente, sendo o orçamento mais importante que o tempo, valerá a pena verificar se não compensa voar para Cancún, via Madrid, e seguir por via terrestre ou num voo regional até Belize City. Uma vez em Belize City, as lanchas rápidas da Caye Caulker Water Taxi Association com destino a Caye Caulker e San Pedro, em Ambergris Caye, são a melhor opção.
Onde ficar
O número de unidades hoteleiras em Caye Caulker está em acelerada expansão, pelo que qualquer recomendação corre o risco de rapidamente ser ultrapassada por novas e melhores opções. Em todo o caso, no segmento mochileiro o Yuma’s House Belize (antigo Tina’s Backpackers), localizado na primeira linha da costa, perto do ancoradouro principal, parece recolher a preferência dos viajantes mais jovens; uma cama num dormitório custa 22 Bz e existem também dois quartos duplos.
Melhor e mais barato é o novíssimo Marliny’s Guesthouse 2, localizado junto ao Split, no extremo norte da ilha. Os quartos estão instalados sobre estacas de madeira e são extremamente limpos, sendo a casa de banho exterior partilhada pelos seis quartos da pousada (tratar do check-in no restaurante Happy Lobster, na Front Street).
No segmento intermédio, o Sea Dreams Hotel afigura-se como uma das melhores opções para uma estadia em Caye Caulker com conforto e estilo a um preço aceitável; o Seaside Cabanas é outra alternativa recomendável. Para viajantes mais exigentes, não haverá em Caye Caulker melhor que o Iguana Reef Inn, um resort de luxo instalado em local idílico da ilha.
Por fim, se pensa ficar na ilha uma semana ou mais, ou se viaja com crianças, considere arrendar uma das muitas cabanas e casas de férias disponíveis para o efeito. Pesquise, entre outras, as ofertas disponíveis em www.cayecaulkerrentals.com ou nos especialistas da HomeAway. Os preços começam em 500-600 USD por semana, considerando duas pessoas.
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Gastronomia
Estando numa ilha envolvida por um mar com tamanha diversidade subaquática, há que aproveitar a bondade da Natureza e deliciar-se com as oferendas que vêm do mar. Os grelhados na brasa são a opção mais autêntica, especialmente peixe, camarões e lagostas acabadas de pescar.
De resto, há inúmeras opções para uma refeição de qualidade em Caye Caulker, pelo que o melhor é percorrer as ruas de areia da ilha, escolher e ir variando ao longo dos dias. Entre os restaurantes mais elogiados pelos comensais encontram-se o Habaneros, muito agradável e com algum requinte, se bem que com preços acima da média (pratos a partir de 40Bz), e o Don Corleone, especializado em comida de inspiração italiana e pratos de peixe e marisco.
Bem mais simples mas igualmente delicioso, o peixe do dia ou camarões grelhados na brasa em plena rua pelo cozinheiro local “Jolly Roger” é absolutamente recomendável (25 Bz, incluindo 3 rum puch e uma pequena sobremesa). Para o pequeno-almoço, o muito popular Amor y Café é indiscutivelmente a escolha acertada, com deliciosas tostas de pão caseiro e batidos de iogurte (abre apenas entre as 6:00 e as 11:30 da manhã).
O que fazer em Caye Caulker
Caso descansar, ler, nadar, comer bem e beber melhor não seja suficientemente apelativo, não faltam actividades lúdicas na pequena ilha de Caye Caulker, com óbvio destaque para as actividades aquáticas.
Se é mergulhador certificado, não deixe de aproveitar a oportunidade para conhecer o Lighthouse Reef. Um dia preenchido com três mergulhos a partir de Caye Caulker, incluindo um no afamado Blue Hole, outro nas paredes do Half Moon Caye e o último no Long Caye custa 165 USD, sendo o centro de mergulho Frenchie’s Diving o mais recomendado.
Se não mergulha, saiba que o snorkelling vale mesmo a pena e que numa saída em direcção à Reserva Marinha de Hol Chan, local conhecido por “Aquário” ao largo de Ambergris Caye, quase garantidamente avistará tubarões de recife, raias e tartarugas; recomenda-se a Raggamuffin Tours um dos operadores locais mais conceituados, que cobra 45 USD pelo passeio, em veleiro, com três paragens para snorkelling (o preço inclui a taxa de entrada na reserva). A mesma empresa leva a cabo uma viagem de veleiro com três dias de duração, entre Caye Caulker e Placencia, no sul do Belize, sendo as dormidas em tendas montadas em pequenas ilhas desabitadas. A viagem custa 300 USD por pessoa.
De resto, para um curto passeio no interior de Caye Caulker sugere-se uma caminhada à reserva ecológica Caye Caulker Mini Reserve, onde se avistam diversos pássaros e se contacta com uma floresta de mangue. De volta à água, se é adepto de kitesurf saiba que a escola Kite Xplorer tem equipamento e experiência para o ajudar a desfrutar dos ventos da costa leste; se não, há caiaques para alugar, com os quais pode circunscrever a ilha com relativa facilidade.
Dinheiro
O Belize é um destino caro – não há outra forma de o dizer -, especialmente quando comparado com outros países da América Central, e mais ainda quando o poiso final é uma ilha, como é o caso de Caye Caulker. As moedas utilizadas são o dólar norte-americano e o dólar do Belize (Bz), esta última a valer metade da primeira. No que toca aos preços dos bens e serviços, a título exemplificativo, uma cerveja custa 5 Bz, uma refeição muito dificilmente menos que 25 Bz. É aconselhável levar consigo todo o dinheiro que pensa necessitar durante a estadia em Caye Caulker, pois a aceitação de cartões de crédito é limitada e não há ATMs para levantar dinheiro.
Vistos
Os cidadãos portugueses não necessitam de visto para entrar no Belize. Há, no entanto, que pagar uma taxa turística de 37,5 Bz (ou 19 dólares norte-americanos), pagos em cash à saída do país.
Seguro de viagem
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