Christiania, a “cidade livre” de Copenhaga

Por Filipe Morato Gomes
Mural à entrada de Christiania, Copenhaga
Mural à entrada de Christiania, Copenhaga

Decidi visitar Christiania, o autoproclamado “bairro autónomo” desde 1971, com um amigo dinamarquês que a conhece bem. A sua história recente cruza-se com drogas. Todas as drogas. Da cocaína à brutalmente viciante crystal meths (julgo que a tradução em português seria metanfetamina), passando por outras mais leves e quase inofensivas. Habita em Copenhaga e é frequentador de Christiania, pelo que me pareceu a companhia ideal para visitar a “free town” dinamarquesa.

A minha visita a Christiania

À entrada de Christiania, as regras estão bem explícitas num enorme placard, ao cuidado das quinhentas mil pessoas que anualmente visitam a comunidade:

  1. Divirta-se
  2. Não fotografe – comprar e vender haxixe continua a ser ilegal
  3. Não corra – causa pânico

Consta que moram cerca de 900 pessoas em Christiania. Não é muita gente, mas há escolas, cafés, artesãos e pequenas mercearias. É na comunidade, por exemplo, que se produzem as famosas Christiania Bikes, bicicletas com compartimento frontal para carga muito utilizadas pelos habitantes de Copenhaga. Vi-as com crianças, com compras e até um modelo semelhante conduzido por um carteiro-ciclista no coração de Copenhaga.

Mural em Christiania, Copenhaga
Artista terminando um mural no bairro de Christiania, Copenhaga

O espírito é comunitário – há um local onde os habitantes deixam roupa usada que já não precisam, para quem precisar poder usar – e o aspeto é uma mistura de degradação com liberdade artística – a maioria dos edifícios são velhos e deteriorados, embelezados por grafitis interventivos. Havia muita gente nas margens dos canais de Copenhaga junto a Christiania, com crianças, a desfrutar de uma bela tarde de calor. O ambiente é, pois, ambíguo, numa onda muito “make love, not war“. Não há dúvida de que se respira liberdade, mas é impossível não sentir um certo peso no ar.

No início de Pusher Street, epicentro da venda de droga em Christiania, dois homens musculados e de corpo tatuado estavam sentados em cadeiras colocadas ostensivamente no meio da rua. Eram spotters, pessoas que fiscalizam os movimentos na rua, “tiram a pinta” aos visitantes e, claro, anunciam a chegada da polícia. Era impossível ignorar a sua presença e a mensagem parecia muito clara: “estamos a controlar tudo o que se passa, porta-te bem”.

Sentimos esse controlo na pele. Ao entrar na Pusher Street, o meu amigo pegou no telemóvel para fazer uma chamada. De imediato, um homem veio ter com ele a dizer que não podia usar o telefone, deduzo que pelo medo de que a chamada fosse um subterfúgio para fotografar ou filmar a rua. Apesar de não ser o caso, foi mais um sinal evidente de que as regras são mesmo para levar a sério. Isto apesar da venda de droga ser, agora, mais dissimulada.

Ventos de mudança em Christiania

Mural em Christiania, Copenhaga
Mural em Christiania, Copenhaga

Há pouco mais de três anos, numa visita a Christiania encontraria bancas de venda de haxixe e outras drogas leves em Pusher Street, à vista de todos, como numa qualquer feira de rua. Mas – conta-me o meu amigo -, a polícia decidiu fazer um raid em Christiania para erradicar os vendedores de droga. “Os resultados foram contraproducentes: muitos dealers saíram de Christiania e espalharam-se por Copenhaga, e a venda ficou menos controlada”. E, ao que consta, os conflitos entre os gangues rivais pelo controlo da venda de droga aumentaram. Em Pusher Street, o negócio está toscamente dissimulado por camuflagens de guerra, mas continua lá, à vista de todos. É um negócio ilegal, mas tolerado.

À saída, o resumo do espírito de Christiania numa frase escrita num arco sobre a rua, em jeito de desafio: “you are now entering the European Union“.

Gostei de visitar Christiania, bebi umas cervejas, não fumei porque não me apeteceu, respirei o ambiente livre de regras convencionais e passei um par de horas muito agradável. Não há, no entanto, como ignorar a desconfiança que paira no ar. Como me confidenciou o companheiro de ocasião: “gosto de cá vir, mas não conseguiria viver em Christiania”. É isso.

Dicas para visitar Christiania

Como chegar a Christiania

Se tem dúvidas sobre como se deslocar em Copenhaga, esteja tranquilo porque o metro e o autocarro funcionam na perfeição. E, mesmo que ande maioritariamente a pé quando visitar Copenhaga vezes, precisará de apanhar transportes públicos para economizar tempo ou ir até lugares mais distantes – como o mercado Reffen.

No caso de Christiania, a forma mais prática de lá chegar é de metro. Saia na estação de Christianshavn e só terá de caminhar cerca de 500 metros até à entrada do bairro.

Se tiver o Copenhagen Card – Discover todos os transportes estão incluídos. Caso contrário, poderia comprar os bilhetes em locais como as estações de metro; mas é muito mais prático instalar a aplicação DOT no teu smartphone e comprar os bilhetes diretamente na app. Note que há bilhetes muito úteis para turistas, incluindo um válido durante 12 horas em todos os transportes da região.

Onde ficar em Copenhaga

Antes de mais, veja o artigo sobre onde ficar em Copenhaga para todas as dicas dos melhores hotéis onde se hospedar na cidade. Eu já fiquei a dormir em vários hotéis de Copenhaga, mas sem dúvida que o melhor foi o Scandic Front. Tem uma localização fantástica junto ao canal de Nyhavn mas, como seria de esperar, não é barato.

Num registo bem mais económico, o Generator é um caso raro de um hotel em Copenhaga bem localizado e relativamente barato (destinados aos viajantes jovens de espírito). Outro exemplo simples mas em conta (para os padrões dinamarqueses) é o Cabinn City. É um dos hotéis mais populares do centro de Copenhaga, por causa do preço simpático. Mas, se procura algo um pouco melhor, recomendo o Motel One Copenhagen e o Hotel Danmark, dois hotéis com excelente relação custo / benefício.

Por fim, caso prefira ficar no vibrante bairro de Christianshavn, a dois passos de Christiania, atente no excelente NH Collection Copenhagen. É mesmo muito bom! Para outras opções de hospedagem, pesquise no link abaixo.

Pesquisar hotéis em Copenhaga

Seguro de viagem

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Filipe Morato Gomes

Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.

4 comentários em “Christiania, a “cidade livre” de Copenhaga”

  1. Por experiência própria parece-me que não é assim tão complicado tirar umas quantas fotografias. Em Pusher Street, efectivamente, nem sequer é uma recomendação. É uma ordem. E quem não a cumprir, não tenho qualquer dúvida em como vai ter problemas. Já no resto dos becos e ruelas, é tudo muito pacífico :)

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    • É uma questão de atitude. Eles pedem para não tirar fotos em Christiania, não apenas em Pusher Street…

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      • Só se mudou alguma coisa no último ano. Em Junho do ano passado, um desses fulanos que controlam a Pusher Street, abordou-me para eu colocar a tampa frontal na objectiva e manter a camara a tiracolo. Disse-me ainda qualquer coisa do tipo: “se tentares tirar fotos aqui vais ter problemas, mas fora da Pusher estás à vontade”. Assim foi e nunca senti ninguém incomodado com as fotos que fiz. Na volta tive sorte em não levar uma pêra ;)

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        • Visitei em Abril de 2010 e também só senti a proibição mais a sério na Pusher Street (a minha própria amiga dinamarquesa me disse, antes de lá chegarmos, para guardar a máquina). Mas, fora dessa zona, foi tranquilo, tirei várias fotos e não vi quaisquer sinais de proibição!

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