Está a ponderar fazer a viagem pelas paisagens do Douro a bordo do Comboio Presidencial? Pois bem, eu fui convidado a participar numa das edições do programa Comboio Presidencial by Chakall, uma viagem gastronómica feita na companhia do chef Chakall ao longo da linha do Douro, com paragem na Quinta de Vargellas para provar alguns extraordinários vinhos da Taylor’s.
É, nas palavras dos organizadores, “uma experiência imersiva a bordo de um verdadeiro museu sobre carris”, uma “celebração viva da história ferroviária de Portugal”. Com ênfase na gastronomia, acrescentaria eu. Não poderia recusar.
Em suma, é uma viagem gastronómica num ambiente requintado a bordo e um comboio histórico, tendo as paisagens do Douro Vinhateiro como pano de fundo. É isso! A gastronomia está a cargo do chef Chakall, há provas de vinhos excelentes com assinatura da Taylor’s e uma visita à Quinta de Vargellas, no Douro Superior.
Eis, pois, o relato da minha experiência a viajar no Comboio Presidencial no Douro, com o chef Chakall. Vamos a isso.
Viajar no Comboio Presidencial: a minha experiência
Partida da Estação de São Bento
Cheguei à estação de São Bento, na Baixa do Porto, com bastante antecedência. O Comboio Presidencial da CP – Comboios de Portugal, propriedade do Museu Nacional Ferroviário, já estava estacionado na Linha 1, com os funcionários sorridentes e impecavelmente fardados no exterior da composição.
Mas o que é afinal o Comboio Presidencial? Bem, trata-se de uma verdadeira relíquia; uma peça de museu. Antes de partir rumo ao Douro Vinhateiro, vou tentar explicar um pouco melhor.
O histórico Comboio Presidencial
O Comboio Presidencial foi construído em 1890 e, ao que consta, transportou Chefes de Estado e as suas comitivas nas suas deslocações pelo país, entre 1910 e 1970. Nas últimas décadas de vida útil, em que serviu os Presidentes da República do Estado Novo, era composto por seis veículos: o Salão do Chefe de Estado, o Salão dos Ministros, o Salão da Comitiva e Segurança, o Salão Restaurante, a Carruagem dos Jornalistas e o Furgão.
Ficou depois sem qualquer uso até que, entre finais de 2010 e fevereiro de 2013, o Comboio Presidencial foi alvo de um projeto de conservação e restauro. Nas palavras oficiais, foram “repostas as condições de circulação e aparência da composição histórica e, assim, pôde voltar aos carris da rede ferroviária nacional”.
Por toda a sua relevância histórica, é uma das peças mais emblemáticas do acervo do Museu Nacional Ferroviário. E das mais bonitas, acrescentaria eu!
Veja este roteiro pelo Turismo Industrial no Centro de Portugal para mais detalhes sobre o Museu Nacional Ferroviário.
Estava, dizia, estacionado na Linha 1 da Estação de São Bento, pronto para o início da viagem a bordo do Comboio Presidencial pelas paisagens do Douro Vinhateiro.
Assim que entrei no comboio ao som delicado de duas violinistas, deu para perceber que estava num meio de transporte de certa forma especial. Lá dentro, respirava-se um ambiente histórico e de requinte. Os pormenores de madeira e pele; as cadeiras almofadadas; os antigos símbolos da CP – Comboios de Portugal cravados nas portas; as louças das casas de banho; tudo me transportou para uma outra época.
Mas, e apesar do Comboio Presidencial ser de facto uma relíquia, a verdade é que o meio de transporte é apenas uma parte da experiência. Há os vinhos, há as paisagens do Douro e, claro, há a mestria do chef Chakall nesta cozinha em movimento.
Como disse, o projeto Comboio Presidencial by chef Chakall é, acima de tudo, uma viagem gastronómica. Para quem gostar de alta cozinha e de novas experiências.
A gastronomia do chef Chakall
Antes de mais, dizer que me pareceu um desafio sobre-humano cozinhar e empratar na pequena cozinha de um comboio histórico em movimento. Tive oportunidade de entrar na cozinha do comboio e não deve ser nada fácil trabalhar naquelas condições. Mas até por isso o chef Chakall e sua equipa merecem rasgados elogios.
De resto, posso garantir que boa parte do tempo que passei no comboio estive precisamente no vagão-restaurante. Tanto à ida para o Douro como no regresso ao Porto. Vá preparado, porque é lá que a magia acontece. O vagão-restaurante é o epicentro da experiência.
Ao longo de toda a viagem comi muito bem. Mas comecemos pelo pão, deliciosos, produzidos na Dibia Pastelaria, de Vila Real, com o chef Aníbal Morais ao leme. Ele estava também no comboio e apresentou os seus produtos com indisfarçável orgulho. E tinha razões para isso.
Aníbal Morais não era o único convidado. Para além das criações do confecionados pelo chef Chakall – de que já falarei! -, os passageiros puderam provar um arroz de cabrito preparado pela chef Maria da Graça, do restaurante Toca da Raposa, em Ervedosa do Douro. Creio, aliás, que há sempre um cozinheiros da região do Douro a participar no Comboio Presidencial, mas não sei dizer se vai variando em todas as viagens.
Quando ao chef Chakall, não sabia bem o que esperar, até porque nunca almocei ou jantei num restaurante com a sua assinatura. Mas posso garantir que foi uma agradável surpresa. O chef levou-me para uma viagem gastronómica pelos produtos portugueses – não só do Douro Vinhateiro! -, incluindo vinhos maravilhosos a fazer pairing.
Caso tenha curiosidade, aqui fica o que fui comendo a bordo do Comboio Presidencial, incluindo entradas, vários pratos, um gelado para limpar o palato e três sobremesas.
- Vamos – Let’s go. Bye bye Francesinha, uma reinterpretação da iguaria portuense.
- Apeadeiro. Focaccia com Zaatar; variedade de pães da Dibia; manteiga queimada; azeitonas do Douro temperadas.
- Entre estações. Sopa de castanhas e pato confitado. (absolutamente deliciosa – um dos meus pratos preferidos!)
- Segunda estação. Duo de croquetes de rabo de boi, maionese de mostarda e croquete de polvo de Matosinhos com escabeche.
- Terceira estação. Tártaro de carne mirandesa da Fortuna, couve assada das encostas do Douro.
- Quarta estação. Alheira caseira com marmelo em Vinho do Porto. (adorei!)
- Quinta estação. Polvo Nipotuga em tempura servido com migas de tomate e coentros.
- Tira gosto. Gelado de tangerina e espumante.
- Sexta estação. Arroz de cabrito. (aplausos para a chef Maria da Graça!)
- A vida é doce. Três sobremesas maravilhosas. Mini cheesecake de queijo com marmelada do Vinho do Porto; bolo de peras e amêndoas do Douro; bolo de chocolate servido com coulis de morangos e Vinho do Porto branco.
Se tivesse que escolher os meus pratos favoritos, talvez elegesse a sopa de castanhas, a alheira com marmelo e o arroz de cabrito. Mas na verdade é tudo delicioso!
E assim, de prato em prato, já depois da passagem pelas estações da Régua e do Pinhão, lá chegámos ao apeadeiro de Vargelas, em São João da Pesqueira, preparados para visitar a Quinta de Vargellas.
Dica Alma de Viajante. Quando visitar a região de São João da Pesqueira noutro contexto, aproveite para conhecer o Museu do Vinho. É muito bom!
Visitar a Quinta de Vargellas
A última paragem do Comboio Presidencial aconteceu, como disse, no apeadeiro de Vargelas. É lá que a composição inverte a marcha para a viagem de regresso ao Porto. Mas, antes disso e de me voltar a sentar à mesa do vagão-restaurante para continuar a desfrutar da mestria do chef Chakall, houve tempo para visitar a excelsa Quinta de Vargellas. E ainda bem que assim foi.
Propriedade da Taylor’s, a Quinta de Vargellas associou-se ao projeto Comboio Presidencial by chef Chakall para proporcionar aos viajantes uma experiência vinícola de excelência. Estando no Douro Vinhateiro, não poderia ser de outra forma.
Depois de várias horas a bordo, soube bem sair do Comboio Presidencial, caminhar e conhecer a riqueza da Quinta de Vargellas.
E assim tive oportunidade de visitar uma propriedade que tem vistas deslumbrantes sobre o rio Douro e é, nas palavras dos próprios, “considerada um dos grandes vinhedos do mundo”. Além disso, vi um filme sobre a história da quinta; visitei a adega e os lagares; assisti à abertura a fogo de um delicioso Porto Vintage; e pude provar alguns dos vinhos mais emblemáticos ali produzidos com a assinatura da Taylor’s.
O vinho que representa a quintessência do terroir de Vargellas é o raro Vinho do Porto Vintage Quinta de Vargellas Vinha Velha, produzido em quantidades muito pequenas a partir das videiras mais antigas na propriedade.
in site da Quinta de Vargellas
Terminada a visita à Quinta de Vargellas, era então tempo de empreender a caminhada até ao apeadeiro de Vargelas, onde o Comboio Presidencial aguardava os passageiros para a viagem de regresso até à estação de São Bento, no Porto.
Veja também o artigo Explorando o Douro, da Régua ao Pinhão.
Pela linha do Douro de regresso ao Porto
Apesar do regresso ser feito por paisagens já conhecidas dos passageiros, a verdade é que o extenso menu do chef Chakall ainda ia a meio. Ou seja, havia ainda muitas experiências gastronómicas para deleite de quem aprecia boa comida. Incluindo o delicioso arroz de cabrito da chef Maria da Graça, do restaurante Toca da Raposa (Ervedosa do Douro), e várias sobremesas para terminar em grande.
Confesso que o regresso passou bem mais rápido. Comi, saboreei, voltei a apreciar as paisagens do Douro, cheguei ao Porto. Tudo somado, viajar no Comboio Presidencial foi uma belíssima experiência, que nem o dia chuvoso conseguiu estragar.
A terminar, deixo aqui um vídeo da CP que encontrei no Youtube sobre a experiência, para complementar o relato da minha experiência no Comboio Presidencial.
Mais fotos da viagem no Comboio Presidencial
Dicas para fazer o Comboio Presidencial no Douro
Como chegar à Estação de São Bento
A forma mais prática de chegar ao ponto de partida da viagem no Comboio Presidencial é utilizando o metro. Isto porque há uma estação da linha amarela do Metro do Porto precisamente em São Bento e, assim sendo, evita ir de carro para o centro do Porto.
Note que a partida está marcada para as 10:40 na Estação de São Bento, com chegada ao mesmo local prevista para as 21:00. Na minha viagem, foi possível sair na estação de Campanhã no regresso ao Porto (houve uma paragem de um minuto), coisa que fiz por me facilitar o regresso a casa.
Onde comprar os bilhetes para o Comboio Presidencial
Para fazer a viagem no Comboio Presidencial na companhia do chef Chakall deve reservar no site oficial. A experiência custa 750€ por pessoa, com várias datas ainda disponíveis em setembro e outubro 2024. Não é barato mas, lá está, é uma experiência gastronómica única num ambiente histórico e requintado.
Onde ficar
No Porto
Caso necessite de um hotel antes ou depois viajar no Comboio Presidencial, veja o artigo sobre onde ficar no Porto para dicas sobre os melhores hotéis e regiões para pernoitar na cidade. Em concreto, recomendo sem qualquer dúvida a maravilhosa pousada InPatio Guest House. Mas há muitas outras possibilidades, como a belíssima pousada Armazém Luxury Housing ou, num segmento de luxo, o boutique hotel Maison Albar – Le Monumental Palace.
Para conhecer outras unidades hoteleiras na cidade invicta, utilize o link abaixo.
No Douro
E, caso esteja a ponderar explorar a região do Douro Vinhateiro com mais calma, espreite também o artigo sobre onde ficar no Douro. Encontrará dicas dos melhores hotéis e quintas vinícolas da região duriense. Em resumo, a minha principal sugestão é a Quinta de Ventozelo, um espaço absolutamente maravilhoso, mas há muitas outas quintas de grande qualidade, como facilmente comprovará no link abaixo.
Seguro de viagem
A IATI Seguros tem um excelente seguro de viagem, que cobre COVID-19, não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos seguros de viagem do mercado. Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens.
Que bela e óptima experiência de viajar sobre carris, Filipe! Como sempre, excelente registo fotográfico. Só tenho pena que Portugal, e em particular a CP, não aposte mais no Turismo Ferroviário!