
Sou fascinado por artesãos e artes tradicionais, mas não tanto pelo Turismo Industrial puro e duro, aquele que implica visitar fábricas enormes e maquinaria pesada. Gosto de pessoas e do que conseguem fazer com as suas mãos.
Foi por isso com algum ceticismo que aceitei fazer um roteiro pelo património industrial do Centro de Portugal, porque imaginava muitas máquinas e betão, mas pouca gente a trabalhar. Felizmente, enganei-me; e esta viagem foi uma bela surpresa.
O Turismo Industrial pode ter muitas faces, incluindo museus e fábricas mas também ofícios tradicionais – ainda que em ambiente fabril. Como é o caso do vidro soprado da Marinha Grande, que me proporcionou uma experiência fascinante. Já lá vamos.

Assim, partilho neste artigo um possível roteiro pelo património industrial da região centro. O roteiro foi compilado a partir de uma recente viagem de três dias feita a convite do Turismo Centro de Portugal, a que juntei outros locais já meus conhecidos que integram a sua rede de Turismo Industrial.
Como facilmente perceberá, esta não é uma seleção de lugares – sejam eles museus, fábricas ou artesãos – para visitar de uma assentada. Ao invés, encare estas sugestões como pontos para ir visitando caso se interesse pelo Turismo Industrial. E vá montando os seus próprios itinerários de acordo com os seus gostos, ritmo de viagem e tempo disponível em cada escapadinha. Vamos a isso!
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Turismo Industrial na região Centro: o que visitar
- Museu Nacional Ferroviário (Entroncamento)
- Museu do Vidro na Marinha Grande
- Fábrica Vidrexport (Marinha Grande)
- MIAT – Museu Industrial e Artesanal do Têxtil (Porto de Mós)
- Museu do Cimento da Fábrica Maceira-Liz (Leiria)
- Museu e Fábrica Vista Alegre (Ílhavo)
- Museu do Linho (Viseu)
- Núcleo Museológico da Central Elétrica de Tomar
- Burel Factory (Manteigas)
- Mapa do roteiro pelo Turismo Industrial no Centro de Portugal
- Guia prático
Turismo Industrial na região Centro: o que visitar
Museu Nacional Ferroviário (Entroncamento)
Instalado junto à estação do Entroncamento, o Museu Nacional Ferroviário “conta a história de mais de 160 anos do caminho-de-ferro em Portugal”, desde as primeiras locomotivas a vapor até aos comboios dos dias de hoje. Possui, aliás, ao que consta, “uma das melhores coleções de património ferroviário da Europa”.
O museu inclui diversos espaços emblemáticos, nomeadamente o antigo edifício do Armazém dos Víveres, onde os ferroviários faziam as suas compras; a Rotunda das Locomotivas, construída no local do edifício original demolido na década de 1970; e as antigas Oficinas do Vapor, espaço onde, até há pouco mais de uma década, se efetuavam os trabalhos de manutenção das locomotivas e carruagens.
Tudo somado, é um museu informativo e muito interessante – incluindo para crianças – e fundamental em qualquer roteiro de Turismo Industrial. Pela minha parte, que não conhecia, não creio ser um exagero afirmar que é um dos melhores museus de Portugal. Adorei!
O Museu Ferroviário Nacional está aberto de terça-feira a domingo entre as 10:00 e as 18:00. A entrada custa 6€ por pessoa, havendo descontos para jovens, estudantes e maiores de 65 anos.
Museu do Vidro na Marinha Grande
Não é segredo que a história da Marinha Grande se encontra intimamente ligada ao desenvolvimento da indústria do vidro. É, pois, sem surpresa, que ali existe um importante Museu do Vidro, que tem como missão “o estudo, a preservação e a divulgação do vidro como material e como fator identitário” da região.
O museu foi instalado num complexo de edifícios muito elegante, com destaque para a casa onde morou o empreendedor inglês Guilherme Stephens, criador da antiga Real Fábrica de Vidros da Marinha Grande – por muitos apelidado de “pai da Marinha Grande”. Alberga exemplares de criações em vidro desde o século XVII até aos dias de hoje, incluindo o vidro artístico, decorativo, utilitário e até científico.
No site do Turismo de Portugal afirma-se que “a coleção é constituída por vidraças artísticas, vidros antigos que remontam aos tempos da fundação da fábrica, admiráveis coleções de taças, jarras, jarrões e outras peças de cristal lapidado e também peças provenientes de vários centros de fabrico nacionais, produzidas entre o século XVII e o século XX”.
Além do riquíssimo acervo em exibição, o Museu do Vidro permite também aos visitantes tomar contacto com dois artesãos que demonstram in loco a arte de trabalhar o vidro. Referência ainda para a existência do Núcleo de Arte Contemporânea do Museu do Vidro, situado a dois passos do complexo, que eu desta vez acabei por não visitar.
Tudo somado, é, na minha opinião, um museu muitíssimo interessante e que retrata, por assim dizer, a evolução da indústria do vidro em Portugal.
O Museu do Vidro está aberto de terça a domingo entre as 10:00 e as 18:00. A entrada custa 1,50€ por pessoa, havendo descontos para crianças, estudantes e reformados.
Fábrica Vidrexport (Marinha Grande)
Também na Marinha Grande, tive oportunidade de visitar a única fábrica da cidade onde ainda se faz vidro de sopro. Foi, para mim, um dos pontos altos deste roteiro pelo Turismo Industrial da região centro, e um excelente complemento à visita ao Museu do Vidro.
Na Vidrexport, tive então oportunidade de observar o processo de laboração de peças em vidro soprado, feitas por artesãos especializados num ambiente fabril. Amante como sou do trabalho dos artesãos portugueses, seria impossível não sair dali fascinado. Foi uma experiência maravilhosa.
Como complemento à fábrica Vidrexport e ao Museu do Vidro, considere também visitar o estúdio Poeiras Glass.
A Vidrexport não faz atualmente parte do roteiro oficial pelo Património Industrial da região centro. No entanto, foi das experiências de que mais gostei, pelo que recomendo vivamente. A fábrica ainda não está totalmente preparada para visitas, mas prometem aceitar visitantes desde que não em número exagerado. Contacte Hermenegildo Santos pelo email geral@vidrexport.com.
MIAT – Museu Industrial e Artesanal do Têxtil (Porto de Mós)
Inaugurado em maio de 2020, o MIAT – Museu Industrial e Artesanal do Têxtil nasceu do sonho de um homem só. José Paulo Baptista, empresário de Mira de Aire na área do turismo, adquiriu o edifício de uma antiga fábrica de tapetes para ali albergar a sua coleção de maquinaria e artefactos ligados à industria têxtil.
Nas palavras oficiais, o Museu Industrial e Artesanal do Têxtil “pretende dignificar a memória das gerações que fizeram de Mira de Aire e Minde um dos maiores pólos da indústria têxtil de Portugal durante o século XX”.
Em concreto, além de inúmeros objetos ligados à industria, é possível ficar a conhecer de forma pormenorizada como se processava a lã no fabrico de carpetes e mantas, e ainda algumas curiosidades sobre o negócio têxtil propriamente dito. A exposição permanente do museu inclui maquinaria e equipamentos da indústria têxtil, com adequados painéis informativos.
Para mim, foi uma das maiores surpresas deste roteiro pelo Turismo Industrial da região. Cheguei sem expectativas e gostei muito!
O MIAT está aberto de terça-feira a domingo nos horários 10:00-13:00 e 14:00-18:00. A entrada custa 6€ por pessoa, havendo descontos para crianças e maiores de 65 anos.
As grutas de Mira de Aire distam pouco mais de 700 metros do museu. Caso se interesse por grutas, aproveite; mesmo sabendo que só pode visitar integrando grupos quase sempre numerosos.
Museu do Cimento da Fábrica Maceira-Liz (Leiria)
Localizado no interior do complexo industrial da cimenteira Secil, o Museu do Cimento é um projeto museológico ambicioso que tem por objetivo “a recolha, a conservação e a divulgação da história, cultura e património da fábrica Maceira-Liz”.
Apesar do inegável interesse do espólio, admito que é o tipo de museu que pode não empolgar parte dos visitantes. Não tem o apelo de um artesão, uma arte artesanal ou saber-fazer ancestral. É indústria pesada. Uma cimenteira. Máquinas antigas que já não funcionam. E muita história plasmada em fotografias e documentos.
Em contrapartida, as pessoas que lideram as visitas ao Museu do Cimento são de uma simpatia, conhecimento e profissionalismo exemplares, tornando interessantes até as partes teoricamente mais aborrecidas da visita.
Sobre o museu propriamente dito, destaque para o chamado Núcleo Central do Museu do Cimento, que integra uma exposição permanente da história da Empreza de Cimentos de Leiria (E.C.L.) com foco na evolução tecnológica; e onde se inclui um filme antigo muito curioso sobre o processo de fabrico, embalagem e expedição de cimento. Referência ainda para a muito interessante Central Turbo-Geradora (para quem gosta de maquinaria pesada e património industrial!) e para o Observatório da Pedreira de Calcário, uma espécie de miradouro com vista para a pedreira onde é levada a cabo a atividade extrativa da matéria-prima.
As visitas ao Museu do Cimento acontecem na primeira terça-feira de cada mês, entre as 10:00 e as 17:00; e nos primeiros sábado e domingo do mês, no horário 14:00-18:00. Existe ainda a possibilidade de abertura pontual noutros dias mediante marcação prévia – que, aliás, é sempre necessária. Utilize o telefone 244 779 900 ou o email maceira@secil.pt
Museu e Fábrica Vista Alegre (Ílhavo)
Já aqui escrevi que, estando na região, visitar o Museu da Vista Alegre é seguramente das melhores coisas a fazer em Aveiro. O museu reúne a história da empresa fundada por José Ferreira Pinto Basto, incluindo a evolução da fábrica e das suas coleções ao longo de quase dois séculos de existência – foi fundada em 1824! -, e ainda “a relação do complexo fabril com a povoação de Ílhavo”.
No terreno, existe um sumptuoso palácio, que serviu como “residência de sete gerações da família Pinto Basto”; magníficos jardins; a capela barroca de Nossa Senhora da Penha de França – fundada nos finais do século XVII pelo bispo D. Manuel de Moura Manoel -, padroeira da Vista Alegre, e em cujo interior se destacam os azulejos setecentistas, a talha dourada e as abóbadas pintadas a fresco; e ainda o chamado Bairro da Vista Alegre, mandado erigir pelos proprietários da fábrica para habitação permanente dos operários – e que eu visitei na companhia de uma antiga funcionária da fábrica e ainda hoje moradora do bairro.
Pela minha parte, não dei o tempo por mal empregado, sendo o ponto alto da visita a passagem pela oficina de pintura manual, onde é possível observar a minúcia e delicadeza do trabalho dos pintores da Vista Alegre. É incrível!
O Museu da Vista Alegre está aberto diariamente no horário 10:00-19:00 (de maio a setembro fecha às 19:30). A entrada custa 6€, havendo descontos para famílias, crianças e maiores de 65 anos. Para quem quiser aproveitar e comprar peças da Vista Alegre, saiba que há um outlet no complexo com preços reduzidos.
Veja onde ficar em Aveiro.
Museu do Linho (Viseu)
Uma das boas surpresas da minha última viagem a Viseu foi a aldeia de Várzea de Calde, localizada a uma dúzia de quilómetros de Viseu. É lá que fica o Museu do Linho, um museu etnográfico instalado num edifício de arquitetura popular e que visa a salvaguarda da tradição do linho e da lavoura tradicional da região. Recomendo vivamente que o inclua no roteiro pelo Turismo Industrial da região centro de Portugal.
O Museu do Linho está aberto ao público de quarta-feira a domingo nos horários: 10:00-13:00 e 14:00-18:00. às terças-feiras abre apenas no período da tarde.
Veja onde ficar em Viseu.
Núcleo Museológico da Central Elétrica de Tomar
Localizada no Complexo Cultural da Levada de Tomar, conjunto patrimonial constituído por estruturas hidráulicas e edifícios construídos junto ao rio Nabão, a Central Elétrica é um projeto museológico que reflete a memória do equipamento industrial da época, com especial ênfase na produção de energia elétrica.
Para mim, visitar o museu da Central Elétrica foi uma das coisas que mais gostei de fazer em Tomar; e é com naturalidade que o incluo no itinerário do Turismo Industrial. Registe-se, a propósito, a curiosidade de Tomar ter sido das primeiras cidades portuguesas a dispor de iluminação pública elétrica. Vale muito a pena.
Burel Factory (Manteigas)
Antiga Lanifícios Império, à época tida como “a fábrica de lãs mais importante da região”, a atual Burel Factory resulta da paixão de duas pessoas pela serra. “Corria o ano de 2006 quando Isabel Costa e João Tomás se deixaram cativar pela serra da Estrela. As caminhadas exploratórias pela montanha tinham-lhes revelado um antigo sanatório nas Penhas Douradas lá no topo, que acabaram por adquirir, e que hoje é o hotel Casa das Penhas Douradas. Foi o início de um longo processo de recuperação de património que continua até hoje”.
Mais tarde, apercebendo-se de que a fábrica Lanifícios Império estava em processo de insolvência, decidiram comprá-la e avançar com um processo de recuperação. Mantiveram as máquinas do século XIX a trabalhar; reciclaram alguns padrões dos antigos livros de debuxo; mostraram o produto a designers e criativos; e colocaram os antigos mestres a ensinar a arte aos mais novos para “incrementar a passagem de testemunho” e “não deixar morrer” essa arte.
E assim nasceu a Burel Factory, um espaço de design e de produção do burel – o tecido de lã mais tradicional na indústria de lanifícios local! -, atualmente utilizado de uma forma muito diferente e inovadora.
Tenho para mim que é um lugar de visita obrigatória no coração de Manteigas!
Como complemento à Burel Factory, visite também a vizinha Ecolã Portugal, uma fábrica de lã e burel que opera há quase 100 anos. E veja o projeto das Capuchinhas, na aldeia de Campo Benfeito.
Mapa do roteiro pelo Turismo Industrial no Centro de Portugal
Outras fábricas e museus a visitar
Além de tudo o que já referi, há vários outros museus ligados ao património industrial português que poderia ter incluído neste roteiro pelo Turismo Industrial na região Centro. Eis algumas sugestões adicionais, caso disponha de mais tempo:
- Museu da Pedra (Cantanhede);
- Centro de Interpretação de Arte-Xávega (Cantanhede);
- Museu Metalúrgica Duarte Ferreira (Abrantes);
- Museu Natural da Eletricidade (Seia);
- Museu do Quartzo (Viseu);
- Cerâmicas António Rosa (Alcobaça).
Como vê, não faltam atrativos ligados ao Turismo Industrial para compilar um itinerário interessante para miúdos e graúdos. Fica a sugestão para uma próxima escapadinha em território português.
Guia prático
Como se deslocar
É virtualmente impossível visitar todas estas fábricas e museus de forma eficiente recorrendo a transportes públicos, pelo que se afigura como uma enorme mais-valia dispor de carro próprio ou alugar uma viatura por alguns dias. Caso necessite de alugar carro, veja os melhores preços no link abaixo.
Quanto dias são precisos para fazer o roteiro
Depende. Nesta última incursão, fiz três dias de viagem e visitei um conjunto muito interessante de lugares associados ao Turismo Industrial. Mas alguns dos locais referidos neste artigo foram visitados em viagens anteriores.
Dito isto, não creio que alguém decida visitar de uma assentada todos os lugares referenciados como património industrial pelo Turismo do Centro de Portugal, pelo que o ideal será dividir estas fábricas e museus por, pelo menos, duas viagens distintas (com talvez três dias de duração cada uma). Ou seja, no total, uma semana dá perfeitamente para explorar o melhor que a região centro tem para oferecer em termos de Turismo Industrial.
Onde ficar
Na minha opinião, é recomendável montar três bases para explorar todos os locais do roteiro. Eis a minha sugestão:
TOMAR
Uma base mais a sul, no eixo Marinha Grande – Tomar – Abrantes, onde pode ficar pelo menos dois dias. Se quer uma sugestão, optaria por pernoitar na bela cidade de Tomar. Veja, a propósito o artigo sobre onde ficar em Tomar – e, já agora, o que fazer em Tomar para mais ideias sobre atividades na cidade. Pode também procurar alojamento no link abaixo.
VISEU (OU SERRA DA ESTRELA)
Para explorar o interior serrano e conhecer as fábricas de lã e burel, é recomendável pernoitar na serra da Estrela (Seia ou Manteigas) ou alternativamente em Viseu, mais longe da serra mas com outros atributos muito recomendáveis. Não exagero se disser que Viseu é uma cidade maravilhosa! Veja, a esse propósito, algumas sugestões de onde ficar em Viseu (talvez ajude a decidir).
AVEIRO
Por fim, mais a norte, estou certo de que Aveiro é o local indicado para explorar as atrações industriais de locais como Ílhavo, Estarreja ou Cantanhede. É outra cidade que eu adoro, e todas as desculpas são boas para voltar – incluindo o Turismo Industrial. Dito isto, se quiser ficar junto ao Museu da Vista Alegre, experimente o Hotel Montebelo (fiquei lá hospedado e é mesmo muito bom).
Seguro de viagem
A IATI Seguros tem um excelente seguro de viagem, que cobre COVID-19, não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos seguros de viagem do mercado. Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens.
Artigo publicado com o apoio do Turismo Centro de Portugal.
Gostei muito do conteúdo sobre o património industrial e tenho uma sugestão que pode ser boa pra juntar a lista de outras visitas: a fábrica de lápis da Viarco, em São João da Madeira. Não sei se eles fazem visitas ainda, quando estive lá foi em contexto estudantil, mas vale a pena!
Complementando o comentário anterior, S. João da Madeira é um polo fortíssimo no turismo industrial pois, para além da fábrica da Viarco, tem mais de uma dezena de fábricas (têxteis, calçado, chapéus, peles, colchões, etc) que podem ser visitadas. Vale muito a pena!