A poucos minutos da Riviera Maya, Cozumel é considerada um dos melhores lugares de mergulho do mundo. Para além da transparência das águas e da riqueza dos fundos submarinos, vale a pena alugar uma scooter e partir à descoberta da ilha.
“Estrada do Norte. Circule à sua responsabilidade”. O cartaz escrito em letras garrafais marcava a fronteira entre a estrada de alcatrão, lisa como uma folha, e um caminho de terra esburacado que resistia a ser engolido pela vegetação tropical. Uma luta lenta mas inexorável travava-se ali, entre as plantas rasteiras atravessadas no solo, unindo as bermas, e os rodados de veículos que se atreviam a prosseguir – se insinuava riscos inimagináveis o cartaz não deixava também de ser um convite irresistível aos mais afoitos.
Que ameaças esconderia aquele território? Não consta que existam animais perigosos e mesmo as enormes iguanas, por mais assustadoras que pareçam com a sua silhueta pré-histórica, não passam de uns pacíficos répteis comedores de insetos. Talvez a alta probabilidade de um furo nos deixasse a muitos quilómetros de ajuda – alongados pelo calor, a humidade e o cansaço.
Muitas foram as hipóteses que colocámos, hesitando entre continuar pela estrada segura ou avançar para o desconhecido, que certamente abrigaria aves incríveis e praias ainda mais fabulosas do que aquelas que acabáramos de ver. O estado da scooter alugada e a lembrança de que o seguro não incluía acidentes ocorridos off road acabou por ser decisivo e lá abandonámos as ideias de aventura.
De regresso ao hotel, pensava quão distante estava afinal da “Pérola das Caraíbas” ou da “Meca do Mergulho”, lugares-comuns a que a maior parte das agências de viagens continentais reduzem Cozumel. Com efeito, as aldeias sonolentas que atravessava, os areais varridos por um sopro quente e o mar agitado não correspondiam às fotografias das brochuras. Por mais idílicas que fossem não mostravam toda a beleza da ilha, nem a sua face agreste e intocada.
Uma Cozumel escondida atrás dos cartazes turísticos
Dezasseis quilómetros separam a costa Leste, voltada ao Atlântico, e o litoral Oeste, banhado pelo Mar das Caraíbas, onde se erguem os resorts, o pequeno aeroporto e a única cidade digna desse nome. É aí, em San Miguel, que atracam as lanchas rápidas vindas de Playa del Carmen, o ferry de Porto Morelos e gigantescos paquetes, cujos passageiros se afadigam a comprar artesanato a preços tentadores. Entre um e outro lado as diferenças são abissais. A escassez de água potável e inúmeras áreas protegidas impedem que a oferta turística se expanda demasiado, para bem de todos.
A nascente encontram-se as praias desertas, onde as tartarugas vêm desovar, árvores moldadas pelo vento e os ocasionais abutres pousados no topo de postes elétricos. Nas lagoas costeiras, entre o verde intenso da vegetação, sobressaem bandos flamejantes de íbis e nuvens inquietas de garças-brancas. Deve ser por ali que se esconde também o guaxinim-anão e a carriça-de-Cozumel, duas espécies endémicas da ilha.
Mas nem tudo está entregue à natureza. Alguns bares de madeira erguem-se a largos intervalos sobre a areia. Toscos uns, um pouco mais cuidados outros, dão uma nota inesperada de civilização, saciando a fome e a sede que subitamente nos acomete depois de percorridas retas intermináveis sob um sol abrasador.
Paradise Cafe, o primeiro que encontrámos era um verdadeiro éden com mesas e redes debaixo de um teto de palhinha, boa música, muita tequila e um delicioso ceviche de caracoles – búzios marinados em sumo de lima e coentros. Nem é preciso dizer que, depois dos petiscos, adormecemos ali mesmo, embalados pelo som das ondas.
Habitada desde o século II d.C., Ah-Cuzamil Peten (nome Maia que significa Ilha das Andorinhas) era um lugar sagrado, onde se venerava Ixchel, deusa da fertilidade e mulher de Itzamna, deus do Sol e senhor supremo. Assim que engravidavam, as mulheres transpunham os vinte quilómetros que separam a costa da ilha para agradecer à deusa, sendo esperado que todas fizessem essa peregrinação pelo menos uma vez na vida.
No seu templo (agora rebatizado de San Gervasio), assim como nos mais de 40 sítios arqueológicos espalhados pela ilha, ainda hoje são encontradas pequenas bonecas usadas nesses rituais de fertilidade.
Em 1518, o espanhol Juan de Grijalva foi o primeiro europeu a pisar solo ilhéu, ancorando ao largo as quatros naus que comandava antes de partir rumo a Cuba. À sua visita pacífica segue-se a chegada de Hernan Cortez, no ano seguinte.
Quando parte, deixa uma pequena igreja e inúmeros templos arrasados. Mas não só: também um surto de varíola que haveria de dizimar milhares de índios. A população que, segundo os relatos do próprio Cortez, era de 40.000 habitantes, tinha baixado para 300 em 1570. Trinta anos mais tarde Cozumel ficaria deserta.
Piratas como Henry Morgan e Jean Lafitte chegaram a usar a ilha como base, mas esta só foi reocupada em 1848, quando violentos confrontos entre as tropas governamentais e indígenas ansiosos por recuperar as suas terras agitavam o México continental.
Longe dos conflitos, Cozumel foi durante décadas apenas mais um dos lugares paradisíacos e pacatos do Caribe mexicano. Até que em 1961 outro europeu veio agitar as suas águas, traçando-lhe o destino. Bastou que Jacques Cousteau declarasse os seus recifes como um dos melhores lugares de mergulho do mundo para que, pouco a pouco, uma multidão de mergulhadores viesse verificar com os seus próprios olhos a beleza destes fundos submarinos.
As afamadas águas de Cozumel
Com efeito, tudo parece conjugar-se para uma perfeita experiência subaquática: a limpidez das águas, que durante todo o ano ronda os 30 metros de visibilidade, chegando a atingir picos de 60 metros durante o verão; a cálida temperatura do mar (sempre entre os 24° e os 27°C); a extensão dos recifes e a leve correnteza que arrasta os mergulhadores por uma das mais ricas paisagens submarinas do planeta. Muitos afirmam que só na Austrália ou no Mar Vermelho é possível reunir condições mais favoráveis.
Nomes como Santa Rosa, Columbia, Punta Sur e, especialmente, Palancar, depressa se tornam familiares entre aqueles que demandam as incontáveis agências em busca do melhor preço ou das emoções mais extremas. Nestes recifes exibe-se uma vibrante vida oceânica.
Corais de formas fantásticas, enormes formações de esponjas e florestas de algas abrigam uma espantosa diversidade de peixes de todas as cores. Entre os cardumes, num formidável cenário de paredes profundas, pináculos e túneis, nadam tartarugas, raias e tubarões.
Apesar de alguns programas, como a descida a certas grutas, serem acessíveis só a mergulhadores experientes com muitos carimbos na caderneta, qualquer iniciado pode ter encontros surpreendentes debaixo de água. E para isso nem sequer é necessário frequentar os cursos rápidos onde se aprende a usar coletes, reguladores e outra parafernália inevitável.
Um dos melhores locais para quem apenas quer fazer snorkelling, ou seja, nadar à superfície com máscara e tubo, é o Parque Nacional Subaquático de Chankannab – Pequeno Mar, na língua Maia. A lagoa aberta ao oceano é um enorme aquário natural repleto de peixes-anjo, moreias, garoupas e um número infinito de pequenos peixes tropicais.
À superfície, a reserva conta ainda com um jardim botânico com mais de 300 espécies de plantas, onde é frequente deparar com pachorrentas iguanas deitadas ao Sol.
San Miguel depois da sesta
Durante as horas de siesta tudo pára. É imediatamente a seguir, quando as portas das lojas ainda mal abriram, que mais gostamos de passear em San Miguel. Sobretudo nas ruas mais afastadas da agitada frente litoral, descobrindo hoteizinhos baratos com buganvílias a enfeitar alpendres, uma igreja modesta, inesperadas cenas domésticas.
É por aí, em humildes restaurantes que só os locais conhecem, que são servidos os melhores tacos, as mais saborosas fajitas e os mais potentes daiquiris.
Foi Pepe quem nos levou a um desses sítios anónimos depois de mais um mergulho noturno. À segunda rodada de XX (Dos Equis), popular cerveja mexicana, já as conversas se confundiam. Alguém comentava ainda os tubarões adormecidos nos fundos arenosos quando uma canção irrompeu da mesa ao lado.
Foi então que, entre o ruído, ouvi restos de uma frase: “… ilha escondida atrás dos cartazes turísticos…”.
Aquela que tinha procurado e acabara por encontrar: naquele pequeno restaurante, ao volante de uma scooter por estradas vazias e nas redes suspensas sobre um areal deserto.
Guia de viagens a Cozumel
Este é um guia prático para viagens a Cozumel, com informações sobre a melhor época para visitar, como chegar, pontos turísticos, os melhores hotéis e sugestões de actividades na ilha.
Como chegar a Cozumel
A partir de Cancún há uma ponte aérea para Cozumel, com partidas a cada meia hora. Os voos têm uma duração aproximada de 15 minutos.
Os ferrys para automóveis partem de Puerto Morelos, um pouco mais a sul, enquanto que de Playa del Carmen saem lanchas rápidas, em viagens que demoram cerca de 35 minutos.
Onde ficar
A oferta hoteleira de Cozumel concentra-se sobretudo na costa Oeste e divide-se entre os hotéis mais modestos situados no centro da cidade de San Miguel e os resorts de praia. Abaixo encontra uma listagem completa do alojamento disponível, com possibilidade de efetuar reservas.
Gastronomia
Os tacos e burritos anunciados por toda a parte não nos deixam esquecer que estamos no México, mas existem algumas especialidades da ilha que são menos conhecidas e que vale a pena experimentar.
O ceviche de caracoles ou de pescado é uma marinada de búzios ou pequenos pedaços de peixe feita com limão, vinagre, cebola, tomate e coentros. Os pratos de peixe, normalmente grelhados, constituem algumas das mais saborosas refeições que se podem saborear em Cozumel. As carnes, de porco e vaca, são também quase sempre grelhadas e acompanhadas com molhos que oscilam entre o suave e o escandalosamente picante. Para beber, o melhor é um refrescante daiquiri de morango ou ananás, em que os cozumeleños se tornaram especialistas (a fazer e a beber).
Compras
O artesanato local é diversificado e muito bonito. Particularmente interessante são as peças em vidro azul, os tapetes com motivos maias e caixas feitas com madeira colorida. Também em madeira, vale a pena trazer um dos estranhos animais com um ar terrível e pintados ou sarapintados com as cores mais estridentes. Por mais bonitos que lhe pareçam, não compre artigos em coral – os recifes agradecem.
Seguro de viagem
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