Foram três dias de felicidade pura e plena. A Pikitim adorou tudo no mundo da Disney, desde encontrar os seus personagens preferidos até o sentir a adrenalina da velocidade e da surpresa. Mas o que mais gostou, de entre as muitas coisas que fez, foi mesmo de aprender a desenhar inúmeras personagens dos filmes Disney. Tal como com Walt, foi assim que tudo começou.
Quis o acaso que visitássemos a Disneyland da Califórnia em dias úteis após o feriado do labour day e antes das férias do Halloween, duas épocas demasiado concorridas nos parques de diversão do império Disney. E assim, os parques não estavam lotados, havia quase sempre espaço para respirar e tempo para escolher o que ver – à exceção de algumas atrações mais recentes e, também por isso, mais concorridas, como as do universo do filme “Carros”, que tem como estrela o Faísca McQueen e a imaginária cidade de Radiador Springs, na mítica Route 66.
Levávamos já um bom dia e meio gasto nos parques de Anaheim, bem pertinho de Los Angeles, quando resolvemos entrar num anfiteatro muito especial. Já tínhamos visto figurantes personificando a Ariel, a Branca de Neve, a Sininho, o Pato Donald e o Pinóquio, o Sr. Cabeça de Batata e o Mate, a Alice e o Aladino e muitos, muitos mais. Estava calor, ia saber bem um lugar fresquinho. Dentro da sala, as cadeiras apontavam para um palco onde pontuava um ecrã gigante e dezenas de peluches e bonecos da Disney. E não estariam mais de 20 pessoas no grande anfiteatro em que acabáramos de entrar. À porta, a frase mágica: “Academia de Desenho”.
A Pikitim demonstrava um entusiasmo ainda maior do que quando esperava nas filas de uma montanha-russa ou de qualquer outra atração dos parques. Estava tão ansiosa que nem conseguia decidir em qual dos lugares vazios é que seria melhor assistir à “aula” onde iria aprender a desenhar um personagem do universo da Disney. Sim, o objetivo era aprender a desenhar as caras dos personagens da Disney com um desenhador profissional – e a Pikitim é apaixonada pelas artes do desenho.
Sentámo-nos no centro da sala e pegámos nas pranchetas existentes em cada um dos lugares. “Já repararam que não há borrachas nos vossos lugares? Não nos esquecemos. É de propósito. Garanto-vos que não vão precisar delas”, disse o desenhador após as apresentações.
Estávamos todos a postos para começar a fazer uns rabiscos, mas a Pikitim parecia estar a encarar a “aula” muito a sério. Desenhámos um círculo, com um traçado leve, e continuámos a seguir as indicações dadas a partir do palco, copiando o que o desenhador ia fazendo e explicando com a ajuda de uma tela gigante onde o seu esquiço era projetado.
Cada vez mais entusiasmados com os pequenos progressos visíveis nas folhas outrora brancas, fomos criando olhos à personagem, traçando-lhe um sorriso, sombreando-lhe as bochechas, até que dos traços começou a emergir uma sorridente cara de esquilo. A Pikitim fez tudo com a maior atenção possível mas, no final, não estava feliz com o Teco que desenhou. Estava frustrada por não conseguir fazer tão bem quanto gostaria. Como qualquer “artista”, é perfecionista com os seus desenhos e, por isso, ficou tão triste que as lágrimas chegaram a ameaçar cair. “Não gosto do meu desenho. Posso tentar fazer outro?”, suplicou.
Mas não podíamos ficar na sala, porque a cada meia hora tem início uma nova sessão de desenho. A próxima “turma” iria desenhar o Mickey. Quando soube disso, ficou extasiada. “Não quero ir já embora. Eu quero tentar desenhar o Mickey”, insistiu. Não havia como recusar.
Na segunda sessão, a circunferência com que se inicia o rosto do personagem saiu mais redondinha, mas mesmo assim a Pikitim não se mostrou satisfeita. Pediu ao pai para trocar o desenho com ela logo no início da aula; e nós temíamos que a frustração reaparecesse. Mas não. O desenhador continuou os esboços, começou depois a definir traços do rosto, culminou com as orelhas e a expressão. E no final dos 15 minutos de “aula” a Pikitim estava feliz. “Consegui desenhar um Mickey! Está mesmo giro não está?”, mostrou, orgulhosa.
Quis trazer mais folhas de dentro da sala, e continuou, cá fora, a desenhar mais um Mickey. E mais outro. E mais outro. E haveríamos de repetir muitas vezes o gesto de entrar e sair do anfiteatro. Tantas quantas permitiram desenhar os rostos dos ratos Mickey e Minnie, do esquilo Teco, do urso Winnie, do cão Pateta e até dos personagens Victor e Sparky do novíssimo filme de Tim Burton, Frankenweenie.
No dia seguinte, tínhamos pela frente o terceiro e último passado nos dois parques de diversão adjacentes da Disney. Perguntámos à Pikitim o que gostaria de fazer e em que parque. Se queria ir ao parque original, a Disneyland, onde pontua o icónico castelo da Bela Adormecida, a casa do Mickey e da Minnie, uma montanha-russa que ela amou e pediu para andar uma dezena de vezes e toda a área de ToonTown, uma pequena “aldeia” onde habitam os personagens Disney; ou se queria ir antes ao California Adventure Park, onde havia, entre outros, um novo espaço dedicado ao filme “Carros” e um jogo inspirado no “Toy Story”.
Não precisámos de continuar, porque ela sabia bem o que queria: aprender a desenhar mais personagens da Disney. E assim lá voltámos ao anfiteatro da Academia de Desenho.
Esse dia marcava o arranque da época oficial do Halloween nos parques da Disney e a Academia de Desenho aperaltou-se para receber os ilustres convidados. Estava explicado porque parte da academia estivera fechada nos dias anteriores: a inauguração de uma exposição acerca do novo filme de Tim Burton, “Frankenweenie”. Vimos os esquiços originais de Burton, micro-cenários utilizados nas gravações, os “bonecos” dos personagens, filmes do making of e até oito minutos do filme de Burton em ante-estreia mundial, e tudo a Pikitim achou interessante.
Nesse dia, as restantes salas do edifício do Estúdio de Animação já estavam abertas, e ela foi percebendo as várias etapas necessárias para criar um filme de animação, frame a frame, incluindo a forma como se sonoriza um filme. E assim, por uns breves instantes, os sete anões da Branca de Neve tiveram vozes portuguesas a cantar a música de regresso a casa e, ao ter aceite o desafio de desenhar um balão em várias posições numa tira de papel conseguiu perceber como, quando rodada a grande velocidade, o balão “ganhou vida” e começou “a subir no céu”. Apesar de tudo, o seu desejo principal continuava ser voltar às “aulas” de desenho uma e outra vez.
À coleção de personagens da Disney que aprendeu a desenhar, a Pikitim fez questão de juntar os novos e dificílimos personagens saídos da imaginação de Burton: o rapaz, Victor, e o seu cão ressuscitado, Sparky. “O senhor que inventou a história do Victor e do Sparky deve ter tido um trabalhão para fazer o filme que nós vimos, não achas? Conseguir pôr aqueles bonecos a mexer e a falar, deve ter demorado para aí uns… 20 dias”, comentou.
Foram muitos, muitos mais. E, afinal, tudo começou com um pequeno esboço, um desenho, recordámos-lhe. “Como o Mickey e as suas orelhas. Tudo começa com um desenho”, continuou. E tinha razão. Nunca sabemos até onde um pequeno desenho pode chegar. No caso de Walt Disney, as orelhas do Mickey tornaram-se o símbolo maior do império de imaginação e criatividade em que o universo Disney se transformou.
“Foram os dias mais cansativos e mais felizes da minha vida; aliás, da viagem. Quero dizer, da viagem da minha vida”, concluiu a Pikitim.
Guia prático
Onde ficar
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Sobre o Diário da Pikitim
Este post pertence a uma série que relata uma volta ao mundo em família, com 10 meses de duração. Um projeto para descomplicar e mostrar que é possível viajar com crianças pequenas, por todo o mundo. As crónicas da viagem foram originalmente publicadas na revista Fugas e no blog Diário da Pikitim.
Veja também o artigo intitulado Viajar com crianças: 7 coisas que os pais devem saber.