Foi como se tivesse levado um murro no estômago quando Tiago, um português a viver em Gotemburgo há sete anos, se saiu com esta frase durante uma agradabilíssima tarde passada em conjunto na região de Gotemburgo. E disse-o com toda a naturalidade, começada com um inequívoco “tenho a certeza que…”. Para não deixar dúvidas.
Estou a terminar a minha viagem de uma semana por território sueco. Hoje, ao fim da tarde, entrarei num comboio rumo à Dinamarca e, entre escritos sobre Estocolmo e o planeamento do que aí vem, tenho tido tempo para absorver o que vi e vivi nestes últimos sete dias na Suécia. Desde o primeiro instante que ando fascinado; e saio de alma cheia.
Tal como saí de Cuba, há uns anos, a pensar nas evidentes contradições do sistema vigente no país de Fidel Castro, com gente pobre mas patriótica e acérrima defensora do regime, saio da Suécia a redefinir o conceito de qualidade de vida e a pensar no verdadeiro sentido da social-democracia. E as comparações com Portugal são inevitáveis.
Na Suécia, o sistema está montado para que a diferença entre estratos sociais seja a menor possível. O diretor de uma empresa ganha mais que um chefe intermédio e mais ainda que um seu operário fabril – como é lógico –, mas as diferenças não são obscenas como em Portugal. E todos, todos ganham o suficiente para viver com dignidade.
Os suecos incentivam a natalidade como em nenhum outro país que conheço, criando condições para que o dinheiro não seja problema na hora de decidir ou não ter um filho. Basicamente, tiram os problemas financeiros da equação na hora de decidir trazer ao mundo um descendente. As creches são totalmente gratuitas (e existem em número suficiente), bem como toda a educação é universal e gratuita. Os cuidados médicos são gratuitos.
No que toca aos estudos universitários, cada jovem tem direito a receber um subsídio mensal a rondar os 900€ – 1.000€ (sim, leu bem!), uma parte a fundo perdido e outra num empréstimo com juros muito baixos, como forma de os tornar financeiramente independentes dos pais durante a Universidade. Explicaram-me que o subsídio tem a duração do curso, mais um ou dois anos. Os jovens usam esse dinheiro para sair de casa dos pais e tornarem-se independentes, viajar durante um ano (e como é importante ganhar mundo como parte do crescimento pessoal!) e, posteriormente, pagar os seus estudos universitários. Chegam à universidade com outra maturidade e a saber o que querem. Posteriormente, uma vez com rendimentos do seu trabalho, vão pagando suavemente o empréstimo estatal.
E mesmo os menos jovens podem usufruir desse benefício: se alguém tiver 40 anos, quiser mudar de vida e voltar a estudar, tem direito ao subsídio. A ideia é que todos possam estudar, crescer, serem felizes e competentes.
A Suécia está invariavelmente entre os primeiros países do mundo a abrir as suas fronteiras a refugiados de zonas de conflito. Desde a revolução persa até hoje. Aliás, o governo da Suécia acolhe de braços abertos quem se queira mudar para o seu país para produzir – especialmente os mais qualificados. Pagam até para que os imigrantes possam aprender a língua sueca, em cursos organizados pelo Estado.
Nos condomínios suecos, ninguém tem máquina de lavar em casa. Existe uma lavandaria comunitária que os condóminos usam gratuitamente mediante marcação prévia. No condomínio onde fiquei alojado em Gotemburgo, na companhia de um casal brasileiro, até havia no pátio brinquedos comunitários para as crianças. E estamos a falar de um país rico como poucos!
Os cães não podem ficar sozinhos em casa por mais de seis horas seguidas. Há gente a recusar trabalhos a tempo inteiro – optando por part-times – por causa dos seus animais de estimação.
Quanto a preços, o álcool é caro, é certo; as refeições ao jantar também. Mas almoça-se por preços perfeitamente aceitáveis (toda a gente almoça fora) e, tendo em conta os salários, nem as contas do supermercado nem as rendas são comparativamente exorbitantes. E há até coisas realmente mais baratas que em Portugal, como os automóveis.
“Sabes, a teoria dos impostos altos na Suécia é um mito”, continuou Tiago. “Em Portugal paga-se mais impostos do que aqui”. Bum! Outro murro no estômago. E explicou-me que ganha muitíssimo bem na Suécia e que, mesmo assim, paga menos impostos do que se trabalhasse em Portugal. Factos são factos: em Portugal, o salário do Tiago seria taxado a 45%, na Suécia não paga mais de 32%. E o Tiago ainda tem todas as benesses do sistema social sueco e pode ter filhos sem fazer contas.
Contra todas as ideias preconcebidas, é muito provável que, de facto, seja “mais barato viver na Suécia que em Portugal”. E isso dá que pensar. E muito!
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