Hoje, na série de portugueses pelo mundo, vamos até Gotemburgo pela mão do Tiago Franco. O Tiago tem 37 anos, é engenheiro eletrónico e presidente da União dos Portugueses em Gotemburgo, alimenta o blog Estação Central e está a viver em Gotemburgo há oito anos. Convidei-o a partilhar connosco as suas sugestões e dicas com o melhor da “sua” Gotemburgo.
É um olhar diferente e mais rico sobre a segunda maior cidade da Suécia – o de quem vive por dentro o dia-a-dia da realidade sueca, estando simultaneamente fora da sua “zona de conforto”, deslocado, como acontece a todos os viajantes. Este é o 31º post de uma série inspirada no programa de televisão “Portugueses pelo Mundo”.
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Em Gotemburgo com o Tiago Franco (entrevista)
- 1.1 Define Gotemburgo numa palavra.
- 1.2 Gotemburgo é uma cidade boa para viver? Fala-nos das expectativas que tinhas antes de chegar, e se a realidade que encontraste bateu certo com a ideia preconcebida que trazias.
- 1.3 E o que mais te marcou em Gotemburgo?
- 1.4 Como caracterizas as pessoas de Gotemburgo?
- 1.5 Viver em Gotemburgo implica dias de verão infindáveis e dias de inverno minúsculos. Como foi a adaptação a essa realidade?
- 1.6 Como terminarias esta frase: “Não podem sair de Gotemburgo sem…”
- 1.7 Quanto ao turismo, vamos tentar fazer um roteiro de 3 dias em Gotemburgo. Indica-nos as coisas que, na tua opinião, sejam “obrigatórias” ver ou fazer.
- 1.8 A Suécia é um destino caro. Tens algumas dicas para se poupar dinheiro em Gotemburgo?
- 1.9 Há uns tempos, publiquei um texto onde citava uma frase provocatória da tua autoria – “é mais barato viver na Suécia que em Portugal” – que originou inúmeras reações. Queres acrescentar algo?
- 1.10 Falemos de comida. A cozinha nórdica está na moda – que especialidades gastronómicas temos mesmo de provar?
- 1.11 Imagina que queremos experimentar comidas locais. Gostamos de tascas, botecos, lugares tradicionais com boa comida e se possível barato. Onde vamos jantar?
- 1.12 Gotemburgo não é propriamente conhecida pela sua movida, mas sei bem que os suecos são grandes notívagos ao fim de semana. O que sugeres a quem queira sair à noite?
- 1.13 Escolhe um café e um museu.
- 1.14 Uma das decisões críticas para quem viaja é escolher onde ficar. Em que bairro nos aconselhas a procurar hotel em Gotemburgo?
- 1.15 Tens alguma sugestão para quem quiser fazer compras em Gotemburgo?
- 1.16 Antes de te despedires, partilha o maior “segredo” de Gotemburgo; pode ser uma loja, um barzinho, um restaurante, um parque, uma galeria de arte, algo que seja mesmo “a tua cara”.
- 2 Guia prático
Em Gotemburgo com o Tiago Franco (entrevista)
Define Gotemburgo numa palavra.
Organizada e confortável. Tive que usar duas…
Gotemburgo é uma cidade boa para viver? Fala-nos das expectativas que tinhas antes de chegar, e se a realidade que encontraste bateu certo com a ideia preconcebida que trazias.
Sim, Gotemburgo é decididamente uma cidade boa para viver. Eu informei-me e visitei-a antes de me mudar para cá. Diria que o que sinto ao percorrer as suas ruas, oito anos depois, supera a melhor das expectativas.
Gotemburgo é uma cidade relativamente grande, em área, mas com um centro histórico bastante pequeno. É facílimo conhecer os cantos à cidade e sentir o conforto de quem está em casa. Por outro lado, como qualquer região sueca, a organização é uma realidade e viver aqui faz-nos sentir parte de algo que foi feito por e para pessoas. Os transportes, as escolas, os serviços públicos.
Gosto sempre de dar dois exemplos para ilustrar uma sociedade que funciona: a pontualidade dos transportes, essencial para que as pessoas não congelem enquanto esperam; e a declaração de IRS, um simples SMS. O respeito pelo PDM também é algo que me agrada. O centro de Gotemburgo mantém as ruas e as casas de outros séculos. Complica o mercado imobiliário, é um facto, mas não permite que a cidade seja engolida pelo betão. Novas zonas habitacionais são construídas fora do centro, na imensidão de verde que as envolve.
E o que mais te marcou em Gotemburgo?
As ciclovias. Tenho sempre a sensação que me estou a deslocar numa cidade da playmobil. Há estradas, semáforos, pontes, viadutos, sinais e placas com as direções. Mais pequenos que os dos carros, mas com a mesma utilidade. O cuidado que é dedicado para que as pessoas possam circular sem um carro foi algo que me surpreendeu, pois não estava habituado a tal na minha cidade de origem (Lisboa).
Como caracterizas as pessoas de Gotemburgo?
Gotemburgo é uma cidade industrial. Comparando com a realidade portuguesa seria como o Grande Porto. Diria, por isso, que a maior parte dos empregos são em áreas industriais, técnicas e afins. As pessoas são, na minha opinião, simples, educadas e cordiais. Um pouco fechadas no que toca a novas amizades, mas esse não é um traço exclusivo de Gotemburgo – é uma forma de estar muito sueca.
São pessoas que seguem um padrão e uma rotina nos dias de trabalho e que, invariavelmente, se soltam mais em períodos de descanso. É nessa altura que abrem algum espaço para convívios ou para uma vida fora do círculo familiar.
Viver em Gotemburgo implica dias de verão infindáveis e dias de inverno minúsculos. Como foi a adaptação a essa realidade?
No primeiro ano foi horrível (na parte do inverno). Lembro-me de estar colado à janela a ver todos lá fora seguindo a normalidade das rotinas. Pais que passeavam com crianças à chuva, pessoas que faziam jogging em cima da neve, gente que bebia um café numa esplanada com mantas nos joelhos. Eu nem conseguia sair de casa, queria estar sempre no conforto dos lares aquecidos.
Depois percebi que se esperasse por um dia quente de sol passaria 95% do ano em casa e fiz como os outros, fui para a rua. Pela primeira vez na minha vida percebi que existiam camadas de roupa com diferentes funções. Primeira camada para aquecer, segunda para cortar o vento e por aí fora. Em Lisboa conhecia a ”t-shirt” e o ”casaco”. Equipei-me a rigor e comecei a viver com chuva, sol, vento ou neve. Em Roma, sê romano.
Como terminarias esta frase: “Não podem sair de Gotemburgo sem…”
Visitar as ilhas e conhecer a típica paisagem da costa oeste sueca.
Quanto ao turismo, vamos tentar fazer um roteiro de 3 dias em Gotemburgo. Indica-nos as coisas que, na tua opinião, sejam “obrigatórias” ver ou fazer.
Obrigatório seria uma volta pelo centro da cidade de Gotemburgo, cruzando as ruas mais emblemáticas: Avenyn, Vasa e Linné. Ao fazer isso já ficariam com uma ideia do estilo arquitetónico da cidade. Um passeio pelo Slottskogen, o maior parque da cidade que se encontra no fim da rua Linné, também está sempre na lista. O jardim botânico (em frente ao Slottskogen) também é muito bonito.
As Gothia Towers, por serem os edifícios mais altos da cidade, proporcionam uma excelente vista a partir do sky bar (Heaven 23) e mesmo em frente está um dos meus museus preferidos, o Museu da Ciência (Universeum).
Há também a galeria nacional que concentra a maior exposição de artistas nórdicos (na Avenyn), o mercado da cidade (Saluhallen) onde se come muito bem e barato, e os passeios de barco pelos canais do Rio Göta, que banha Gotemburgo.
Um pouco mais deslocado do centro há um percurso de que gosto bastante. Apanhar o elétrico 11 até ao fim da linha (Saltholmen) e aí seguir num barco para uma das ilhas do arquipélago sul. Estender a toalha numa rocha lisa e perceber o conceito sueco de praia é uma daquelas coisas que nos alerta para a distância de casa. O Mar do Norte é uma piscina gigante, por causa da proteção natural das ihas. Gotemburgo tem centenas de sítios onde podemos ver, sentir e experimentar esta beleza natural.
Outro pequeno segredo é o Lago Sisjön. Muito perto do centro da cidade e de uma beleza arrebatadora. Ótimo para umas braçadas e para um churrasco em dias de calor.
A Suécia é um destino caro. Tens algumas dicas para se poupar dinheiro em Gotemburgo?
Uma das formas de poupar dinheiro, enquanto turista, é tentar procurar apartamentos para alugar por períodos curtos de tempo. Se não viajarem sozinhos, esta opção é quase sempre mais barata do que os hotéis convencionais, que são de facto bastante caros. O blocket.se é o sítio para encontrar tudo (o “custo justo” sueco). A comunidade portuguesa também dá uma ajuda e arranja sempre um sofá.
Outra coisa impensável para quem quer poupar é jantar fora. Ou melhor, jantar fora em restaurantes que não sejam de sushi, pizza, comida tailandesa ou de hambúrgueres / kebabs.
Apenas este tipo de restaurante mantém os preços entre refeições. Todos os outros, incluindo os de comida sueca, fazem um ótimo preço ao almoço (tipicamente um menu mais reduzido) e dobram os preços ao jantar. Portanto, se quer poupar e experimentar comida local aposte as fichas no almoço. Para o jantar tente cozinhar – ou então espero que goste de sushi!
O álcool também estraga qualquer budget, já que é taxado a valores muito elevados pelo governo sueco. Usar as bicicletas da cidade (com cartão de turista) é uma forma de poupar dinheiro. São muitas, espalhadas pela cidade e tem todas as condições para pedalar de A para B.
Há uns tempos, publiquei um texto onde citava uma frase provocatória da tua autoria – “é mais barato viver na Suécia que em Portugal” – que originou inúmeras reações. Queres acrescentar algo?
Essa frase está ligada com o que vou observando nos dois lados e com a simples matemática dos impostos.
O salário médio na Suécia é três vezes superior ao português; contudo, os bens de consumo não custam três vezes mais. Uma casa no centro de Gotemburgo não é mais cara do que no centro de Lisboa; um carro na Suécia é mais barato do que em Portugal; o custo com a educação dos filhos (creche, primária, secundário e universidade) é praticamente inexistente; o mesmo salário tem impostos mais baixos (os meus descontos chegam a 33% e em Portugal, com o mesmo salário, descontaria mais de 40%); e, por fim, a devolução do IRS é maior.
Ou seja, tudo somado, para o mesmo nível salarial, chego à conclusão que é mais barato viver na Suécia. E isto faz-me alguma confusão, confesso.
Falemos de comida. A cozinha nórdica está na moda – que especialidades gastronómicas temos mesmo de provar?
A minha especialidade nórdica preferida é a sopa de peixe da costa oeste. Feita com uma mistura de peixe e marisco, em cima de uma base de creme de natas.
O azeite é uma novidade na cozinha sueca e a tradição vem da altura em que usavam natas e outras gorduras para fazer os mais diversos molhos com que, ainda hoje, acompanham o peixe e a carne.
Imagina que queremos experimentar comidas locais. Gostamos de tascas, botecos, lugares tradicionais com boa comida e se possível barato. Onde vamos jantar?
Como expliquei acima, jantar comida local e pagar pouco é uma combinação quase impossível. Mas, se usar o almoço para provar a comida local, deixo aqui alguns dos meus restaurantes favoritos:
- Tullhuset, na ilha de Höno
- Ritz, mesmo no centro de Gotemburgo
- Saluhallen, o principal mercado da cidade
- Hagabadet (brunch)
- Hos Pelle
- Heaven 23, Gothia Towers
Gotemburgo não é propriamente conhecida pela sua movida, mas sei bem que os suecos são grandes notívagos ao fim de semana. O que sugeres a quem queira sair à noite?
Nesta coisa da noite os gostos variam muito. Eu gosto do Ritz para beber um copo num ambiente mais tranquilo, do Tranquilo para me mexer ao ritmo de sons latinos e do Yaki-Da para mudar de som em cada piso. E claro, tudo começa com uma boa Super Bock no clube dos portugueses em Gotemburgo!
Escolhe um café e um museu.
O Da Matteo é um dos meus sítios preferidos para matar as saudades de casa e beber um expresso. Não faz parte da cultura sueca e, por isso, não se encontra ao virar da esquina uma boa “bica”. Além do mais, fica numa rua muito bonita de Gotemburgo.
Um Museu? Escolho o Universeum, museu da ciência. Acho-o muito interessante e proporciona experiências várias que normalmente partilho com o meu filho.
Uma das decisões críticas para quem viaja é escolher onde ficar. Em que bairro nos aconselhas a procurar hotel em Gotemburgo?
O centro de Gotemburgo é pequeno e anda-se bem a pé. Qualquer hotel que esteja entre a estação central e o Slottskogen dará um bom acesso a qualquer lugar da cidade.
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Tens alguma sugestão para quem quiser fazer compras em Gotemburgo?
Eu sou a pior pessoa para dar dicas de compras porque fujo de lojas como o diabo da cruz. Mas, tendo em conta que a cidade só tem dois centros comerciais (não faz parte da cultura escandinava esses espaços fechados), é relativamente fácil sugerir. Nordstan, em frente à estação central, e Frölunda Torg, já mais afastado do centro, são os centros comerciais de Gotemburgo.
Antes de te despedires, partilha o maior “segredo” de Gotemburgo; pode ser uma loja, um barzinho, um restaurante, um parque, uma galeria de arte, algo que seja mesmo “a tua cara”.
O maior segredo, para mim, é ”aquela rocha” num dos lados do Sisjön (um lago), que permite entrar numa zona onde a água é cristalina e o fundo de areia. Adoro tomar banho nesse sítio e seguir a tarde com um bom grelhado, feito nas rochas lisas, usando o típico engångsgrill (grelhador descartável), muito usado pelos locais.
Obrigado Tiago, vemo-nos novamente numa próxima viagem a Gotemburgo.
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