Ainda não processei muito bem tudo o que se passou na primeira edição do National Geographic Exodus Aveiro Fest. Mais do que as palestras, quase todas verdadeiramente inspiradoras, foi o ambiente de incrível empatia entre todos – palestrantes de renome mundial acessíveis e generosos, público bem-disposto e entusiasta e organização que deu tudo, tudo, tudo – que mais me marcou nestes dias.
Sim, a boa energia. Das cadeiras do grande auditório às conversas nos corredores, das masterclasses às noitadas nos bares de Aveiro, diverti-me imenso, aprendi imenso, não tenho palavras.
Foi, principalmente, um fim de semana muito emocional – e não apenas pelas fotos de Reza Deghati, Mário Cruz e GMB Akash, que emocionaram toda a gente. Vivi o festival como se fosse meu, ajudei no que pude e, quando tudo terminou, não contive a emoção e chorei de alegria, contagiado pelo abraço do incansável Bernardo Conde.
Terminou, assim, um dos eventos mais extraordinários em que já tive oportunidade de participar. E foi em Portugal. Foi uma experiência incrivelmente emocional, difícil de transpor em palavras. Mas vou tentar.
Como foi o meu Exodus Aveiro Fest 2017
Une-me uma grande amizade e consideração pelo Bernardo, o rosto mais visível da organização do Exodus Aveiro Fest e, por isso, depois de meses a contribuir à distância para a divulgação do festival, fui no dia anterior para Aveiro. Para ajudar.
Ao final da tarde da véspera do evento, entre várias tarefas por concluir, era preciso montar os gift bags com os materiais promocionais dos patrocinadores. Apesar de não ser a mais emocionante das tarefas, prontamente me ofereci para tratar disso, juntamente com outros voluntários.
O ambiente entre a equipa de voluntários era excelente. Estavam cansados mas motivados. E mal sabiam ainda que iriam contribuir para que se fizesse história!
Eu estava entretido naquela tarefa quando, para minha surpresa, o Bernardo me pediu para acompanhar os oradores ao jantar. Eu? Sim, claro! E assim vesti a pele de líder de viagens, fui a correr deixar a minha mochila na guesthouse onde me alojei, e lá fui ter ao restaurante combinado. Sem contar, pude conhecer melhor a maioria dos grandes fotógrafos presentes no evento, num ambiente informal e bem humorado.
Jantámos, conversámos, e ainda desafiei os mais resistentes a beber um copo no Mercado Negro, um dos bares de que mais gosto em Aveiro. Foi quando privei mais de perto com Michael Clark e Konsta Punkka, dois talentosos fotógrafos com trabalhos completamente distintos mas ambos fascinantes. Começava bem o festival.
Na manhã do dia seguinte, o Exodus Aveiro Fest começou com uma homenagem. Vieram-me as lágrimas aos olhos, várias vezes, durante a palestra de Reza Deghati, o fotógrafo homenageado na primeira edição do festival. Homem de causas, Reza está associado a inúmeras ações humanitárias. “Ensina fotografia a vítimas de conflitos armados” e em locais menos favorecidos, “para que estas possam encontrar refúgio e salvação na criação de imagem”. Há duas décadas, GMB Akash, o agora multi-premiado fotógrafo do Bangladesh, também presente em Aveiro, foi seu estudante.
Entre as fotos de Reza, uma houve que me marcou de forma muito intensa, e me desarmou completamente. Num cenário de guerra, em Sarajevo, via-se uma menina numa esquina, imóvel. Ao seu lado, havia um banco com uma boneca velha. Reza contou que lhe disse que era muito perigoso estar ali por causa dos snipers, que ela deveria ir para casa, e perguntou-lhe o que estava ali a fazer. “A minha avó não come há quatro dias, estou a vender a minha boneca para a ajudar”. Estava dado o mote para o festival. Emoção, humanidade, grandes fotógrafos e muita sensibilidade.
O público presente parecia sedento pelas partilhas que iam desfilando no auditório: a celebrada e muito simpática Ami Vitale, com os seus projetos ligados à conservação da natureza; o grande ser humano que dá pelo nome de Mário Cruz, com o incrível trabalho de fotojornalismo que lhe valeu um prémio World Press Photo; o jovem “encantador de esquilos” Konsta Punkka; e o irrequieto Shams. E ainda, no segundo dia, a inspiração de Michael Clark, Pete McBride, GMB Akash, Oliver Astrologo e Elia Locardi.
Dentro do auditório, tudo foi verdadeiramente inspirador, mágico, emotivo. Mas, verdade seja dita, foi a atmosfera dos corredores que mais me marcou durante os dois dias do festival.
Vivia-se um ambiente de comunhão, de partilha, de gratidão. Havia uma boa energia indescritível por todo o lado. Os oradores sempre acessíveis, conversavam tranquilamente com o público. Só via gente a sorrir, feliz; ou de lágrima no olho, emocionada pela humanidade dos palestrantes.
Pela minha parte, participei ainda numa tertúlia de viagens, propositadamente mais inspiracional e não focada num único destino ou experiência de viagem. Chamei-lhe Como uma volta ao mundo mudou a minha vida, e nela resumi o meu percurso desde desempregado até alguém que vive do trabalho resultante do ato de viajar. Para motivar e diminuir receios. Que são muitos. Porque, como bem disse Shams na sua palestra, horas antes, “uma pessoa que fica sem emprego não se torna videógrafo; torna-se apenas desempregado”.
A julgar por todos os agradecimentos que recebi no dia seguinte, a palestra cumpriu o objetivo. “Gostei muito de o ouvir”; “obrigado”; “estava mesmo a precisar de ouvir aquilo” – foram algumas das simpáticas palavras que me vieram transmitir depois da palestra. Só por isso, já teria valido a pena ir a Aveiro!
Veja o artigo sobre o que fazer em Aveiro.
Road Trip
Findo o festival, tive ainda oportunidade de participar, ao longo de cinco dias, numa road trip com a maioria dos participantes pelo norte e centro de Portugal. Foi a oportunidade perfeita para conviver mais de perto com todos eles, e conhecer um pouco melhor a equipa organizadora do Exodus Aveiro Fest.
A seu tempo, partilharei as experiências vividas nesses dias. Por agora, resta-me agradecer a todos os que tornaram possível a primeira edição do National Geographic Exodus Aveiro Fest. Foi uma experiência inesquecível!
A próxima edição do Exodus Aveiro Fest já tem data marcada: 17, 18 e 19 de novembro de 2023. Marque na agenda, que vai (voltar a) valer a pena.
Guia prático
Onde ficar
Em termos de localização para quem participa no festival, o Meliá Ria Hotel é imbatível – fica literalmente do outro lado da rua. Dito isto, Aveiro tem muitos hotéis, guesthouses e hostels de boa qualidade e preços variados, entre os quais a Casa do Cais, o Ria View Suites & Flats, o Hotel das Salinas, o Hotel Moliceiro e o Aveiro Rossio Hostel.
Para outras opções, veja o post detalhado sobre onde ficar em Aveiro ou pesquise usando o link abaixo.
Seguro de viagem
A IATI Seguros tem um excelente seguro de viagem, que cobre COVID-19, não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos seguros de viagem do mercado. Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens.
Uma maravilha e subscrevo tudo o que escreveste sobre o Exodus.
Fiz a Mongólia com o Bernardo, onde o conheci, e gostei muito dele. Sentia-se que andava inquieto com o evento , mas saiu tudo optimamente e ele tem uma vocação de escuteiro para aquilo tudo. Muito, muito bom.
Para o ano penso ir lá outra vez!
Agora uma pergunta que me fizeram: sabes se a Nomad vai continuar com o Irão?
Um abraço muito merecido!
Maria José
Felizmente também estive presente no Exodus Aveiro Fest. Não poderia concordar mais com essas palavras. O ambiente de lá era mágico. Um evento que não querias sair do lugar para não perder a oportunidade de ouvir aquelas histórias incríveis. No entanto, sais de lá, e tudo que queres é tirar-te do sofá e ir lá para fora conhecer esse mundo e fazer a diferença.
Foram palestras inspiradoras que mostraram que devemos sempre sonhar. Mas acima de tudo, que por trás do sucesso de todas aquelas pessoas está muito esforço e dedicação. O mesmo se aplica a ti. Estás onde estás por mérito teu. E não deve haver melhor sensação.
Desejoso de ouvir essas histórias da Road Trip.
Olá André, obrigado pela mensagem, foi mesmo um evento fantástico. Venha o de 2018! :)
Muito inspirador, ainda acredito em um mundo melhor. Já está na minha agenda 2018.