Gap Year: e se durante um ano não estudasse?

Por Filipe Morato Gomes
Gap year na Austrália

No passado sábado tive a oportunidade de participar no encontro anual promovido pela jovem mas dinâmica Associação Gap Year Portugal, cujo objetivo primordial é incentivar os jovens que concluíram o ensino secundário a fazerem-se à estrada, ajudando-os a planear e concretizar o tão ansiado gap year.

Para tal, e além dos habituais conselhos de planeamento, os dirigentes da associação usam uma estratégia muito interessante: chamam os pais e mães para a discussão para que, dessa forma, estando melhor informados sobre as vantagens das viagens no desenvolvimento dos seus filhos, não os impeçam de “voar”. Alguns desses progenitores estavam no evento de ontem.

Apesar de ter sido convidado para falar da Escrita em Viagens, período durante o qual partilhei a minha experiência sobre como conciliar o aproveitar das viagens com o “trabalho” de escrever e ainda algumas técnicas que ajudassem os jovens a produzir escritos mais bem conseguidos, o que achei mais interessante em todo o encontro foi a partilha de experiências por viajantes com mais traquejo (desde quem tinha terminado o seu primeiro gap year até viajantes com muitos quilómetros nas pernas, como o André Parente ou eu próprio).

Muito do que se disse, apesar de básico para quem está habituado a viajar, faz toda a diferença para quem está a planear a primeira grande viagem.

Mas o que mais me marcou foi ouvir um senhor presente na plateia com idade para ser meu pai, alegre e bem-falante que, a certa altura, pediu a palavra ao orador de serviço para dizer que tinha feito a sua primeira viagem independente há sensivelmente meio século, teria ele 18 anos, numa época onde a Poste Restante e as cartas manuscritas eram a alternativa aos telemóveis, mensagens de email e conversas via Skype dos dias de hoje.

Dizia António Valadas, da MultiWay, dirigindo-se aos jovens presentes na sala, que tratassem de preparar a viagem, que não tivessem medo de viajar sozinhos e de se aventurarem fora da sua “zona de conforto”, até porque, ele, como empregador, prefere candidatos com mundo e capacidade de se desafiarem e de arriscarem àqueles que nunca saíram da toca. “Se os pais não concordarem com a vossa viagem”, disse a certa altura, “mandem-nos para mim que eu trato deles”. Bravo!

É isso, caros pais e mães de jovens com sede de mundo. Deixem os vossos filhos partir à descoberta. Eles não vão “perder um ano” sem ir à Universidade; vão, isso sim, ganhar competências, descobrir aptidões e adquirir um autoconhecimento ímpar que lhes será benéfico para o resto das suas vidas.

E não vale a desculpa que eles “são imaturos”, porque todos nos o éramos com 17 ou 18 anos.

Por isso, caras mães e pais de jovens desejosos de fazer um gap year, se querem mesmo o melhor para os vossos filhos, não os impeçam de se fazerem ao mundo.

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Filipe Morato Gomes
Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.

2 comentários em “Gap Year: e se durante um ano não estudasse?”

  1. Caro Filipe
    Obrigado pelo relevo que deu à minha intervenção. Limitei-me a dizer o que pensava naquele momento. Os pais têm como função principal preparar os filhos para a vida, para o acesso ao mercado de trabalho, mas para isso têm que os deixar crescer. E não é a “protegê-los” de tudo e de todos que os deixam crescer.
    Sempre lidei com jovens e admiro tudo o que eles conseguem fazer com o seu esforço, por sua iniciativa. Organizações como a Gap Year Portugal irão ter-me sempre como um fervoroso apoiante. Um abraço.

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  2. O blog é realmente muito interessante, muitas dicas legais e inspiradoras. No nosso blog temos algumas dicas que complementam.

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